“Carinhosamente” apelidada de “Dama de Ferro” pelos soviéticos
durante a Guerra Fria, a ex-primeira-ministra Margaret Thatcher é uma
das figuras mais controversas do século 20. Única mulher a alcançar o
mais alto cargo político do Reino Unido, Thatcher dividiu e divide
opiniões até hoje sobre seu legado: ela foi responsável por planos
econômicos que privilegiaram privatizações e a rédea solta no mercado
financeiro – o que, para muitos, salvou a Inglaterra da recessão. Para
outros, no entanto, sua conduta aumentou a divisão entre ricos e pobres e
marcou um retrocesso nas reformas sociais e nos serviços públicos.
Heroína ou vilã, “A Dama de Ferro”, novo filme de Phyllida Lloyd (“Mamma
Mia!”, de 2008), não tem a menor pretensão de encontrar o lugar
histórico da personagem.
A ideia de alguém repressor ou agressivo, provocado pelo irônico
título, cai por terra já na cena inicial, que mostra Thatcher nos dias
de hoje, aos 80 anos e anônima, tentando comprar leite num mercadinho. A
fragilidade da personagem é ainda mais evidenciada na cena seguinte,
quando ela chega em casa e começa a reclamar do preço do produto ao seu
marido, Denis (Jim Broadbent), e imediatamente é revelado que ele não
existe – Thatcher sofre de Alzheimer, com perda da memória e frequentes
alucinações. E é este o caminho escolhido pelo roteiro de Abi Morgan
(“Shame”): explorar a vulnerabilidade da protagonista e abster-se de
comentários políticos mais incisivos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário somente será publicado se estiver dentro do contesto desta publicação.