Por Liga Bolchevique Internacionalista
A crise na Ucrânia se acelerou a passos largos nestes
últimos dias. Após a Rússia ter enviado o comboio de ajuda humanitária a
Donetsk e Lugansk, a resistência empreendeu uma ofensiva militar retomando
várias cidades do Leste ucraniano e impondo o recuo das forças regulares e dos
bandos fascistas de Kiev que ficaram cercadas em várias localidades. Diante da
temporária derrota dos capachos da Casa Branca, as potências capitalistas
acusaram a Rússia de ter armado os “separatistas” e convocaram reuniões de
emergência no CS da ONU e da OTAN. A aliança militar imperialista inclusive se
reuniu hoje a pedido do servil governo ucraniano, o qual “pediu ajuda militar
de envergadura diante da entrada de tropas russas no leste do país” (G1,
29/08). Trata-se da tática de provocar uma guerra na fronteira com a Rússia que
englobe a OTAN, o imperialismo ianque e europeu (particularmente a França, já
que a Alemanha não tem de fato FFAA desde a derrota na Segunda Guerra Mundial)
para iniciar futuramente um enfrentamento de grandes proporções com Moscou, a
fim de quebrar a Rússia e por fim à possibilidade de que Putin consolide um
eixo burguês político-econômico-militar alternativo a OTAN e aos EUA. Como se
observa, estamos diante de um quadro geopolítico estratégico frente à luta de
classes mundial, o que exige uma posição clara e justa dos
Marxistas-Revolucionários: ao lado da resistência contra o imperialismo e os
bandos fascistas, inclusive estabelecendo frentes únicas de ação com o exército
russo para derrotar a ofensiva da OTAN em sua fronteira! Esta perspectiva abre
caminho para que os trotskistas façam propaganda revolucionária nas trincheiras
de combate para construir o verdadeiro Partido Comunista na Rússia e nas
ex-Repúblicas Soviéticas, retomando as tradições internacionalistas revolucionárias
de Lênin e Trotsky que neste momento se condensam na palavra de ordem de
derrotar o imperialismo para edificar uma nova revolução de Outubro!
A OTAN acaba de acusar a Rússia de participar diretamente do
conflito armado no leste da Ucrânia com o envio de armamento aos separatistas
pró-Rússia, instrução de seus milicianos e inclusive ataque a posições das
forças governamentais ucranianas. A Aliança imperialista reforçou sua presença
no leste da Europa com embarcações, aviões e tropas adicionais e incrementará a
manutenção dessa presença nos próximos meses. O Secretário-geral da OTAN,
Anders Fogh Rasmussen, qualificou a reunião ocorrida hoje como um ponto de
inflexão para a Aliança e assinalou que os planos de defesa dos aliados estão
em revisão devido à suposta intervenção da Rússia na Ucrânia. Em contrapartida,
Moscou alertou que qualquer tentativa da OTAN de reforçar sua presença militar
nos países que fazem fronteira com a Rússia terá uma resposta que será
contraproducente para a segurança na Europa: “Uma demonstração de força contra
a Rússia debilitará a segurança da própria OTAN e dos países que tomarem parte
nessas tentativas. Os interesses da segurança comum pan-europeia sofrerão
seriamente. Tenho certeza que a maioria dos países da Europa entendem que por
mais que se reforce a OTAN, as tentativas de criar uma estrutura de segurança
sem a Rússia ou inclusive contra a Rússia estão condenados ao fracasso”,
ressaltou o embaixador russo perante a Aliança Atlântica, Aleksandr Grushko, em
entrevista concedida à agência Interfax às vésperas da cúpula da Aliança, que
acontecerá no País de Gales em 4 e 5 de setembro. Sem dúvida, o imperialismo
ianque e seus aliados da OTAN dispõem do maior e mais avançado aparato bélico
do planeta, são capazes de devastar as forças militares de um país sem sequer
precisar “sujar” as botas de seus Marines em solo inimigo, como aconteceu
recentemente na Líbia. A capacidade de atacar com absoluta precisão alvos muito
remotos e até mesmo “neutralizar” eletronicamente equipamentos militares
adversários é uma característica muito particular da “extraordinária” máquina
de guerra dos EUA, isto é, claro sem mencionar seu colossal arsenal nuclear.
Mas outra característica marcante das tropas ianques é a sua extrema covardia,
própria de um corpo militar composto hoje majoritariamente por elementos
mercenários, sem uma “bandeira” para lutar, que ingressam nas forças armadas
através de um contrato comercial (temporário) de trabalho, no caso de cidadãos
norte-americanos, ou de vantagens jurídicas como vistos de permanência (Green
Card) no caso de imigrantes. A rotunda derrota militar do imperialismo na
guerra do Vietnã, convulsionando internamente os EUA, impôs todo um
reordenamento de seu exército e marinha, chegando mesmo a ter que separar a
legendária corporação de “vanguarda” dos Marines de uma de suas armas militares
regular, transformando-a institucionalmente em um corpo de mercenários como foi
a Legião Estrangeira da França que atuava em suas colônias na África. Estas
características atuais do aparato militar ianque explicam em grande parte a
covardia do governo Obama em enfrentar adversários de real potencial de
resistência, como Coreia do Norte, Irã, Síria e o mais “perigoso” a Rússia. Os
“falcões” do Pentágono se mostram muito “valentes” quando se trata de atacar
países quase indefesos militarmente, quando uma primeira investida aérea de
seus caças já consegue destruir completamente as defesas da nação oprimida. Por
isso, na crise internacional deflagrada pela separação da Crimeia do governo
fascista instalado em Kiev, os chefes militares dos EUA “aconselharam” Obama a
usar o peso econômico do Império e refugar qualquer “aposta” em uma aventura
bélica contra a Rússia. Por enquanto resta a Obama coordenar com seus “colegas”
imperialistas, como Merkel e Hollande, uma retaliação econômica a Rússia, no
sentido de uma gradual retração das importações de gás e commodities agrícolas
por parte do continente europeu e se preparar em médio prazo para uma futura
ação militar. Não por acaso, o capacho primeiro-ministro britânico, David
Cameron, voltou a ameaçar a com sanções: “Conclamamos a Rússia a seguir outro
caminho e encontrar uma solução política para a crise. Se a Rússia não o fizer,
então, sem dúvida, serão novas consequências” (BBC, 29/08).
Fustigando a situação, o governo golpista da Ucrânia enviou
nesta sexta-feira (29/08) ao Parlamento um projeto de lei para renunciar a seu
status neutro atual e recuperar o processo de aproximação com a OTAN iniciado
pelo ex-presidente Viktor Yushchenko após a chamada “Revolução Laranja” made in
CIA de 2004: “De acordo com a decisão do Conselho de Segurança Nacional e
Defesa, o governo da Ucrânia enviou para trâmite do parlamento o projeto de lei
para cancelar o status à margem de blocos do Estado ucraniano e recuperar o curso
da Ucrânia rumo à entrada na OTAN”, anunciou o primeiro-ministro ucraniano,
Arseni Yatseniuk. Em seu anticomunismo tradicional, o chefe do governo destacou
que se a lei for aprovada, a Ucrânia não poderá ingressar nas organizações
patrocinadas e lideradas por Moscou, como é o caso da União Aduaneira, que em
palavras de Yatseniuk não é outra coisa que “a União Soviética da Federação da
Rússia”. Não resta dúvida de que a Casa Branca e a OTAN, via seus marionetes
neofascistas de Kiev, estão provocando o governo Putin, que até agora apostou
em uma solução negociada a fim de ganhar tempo. Aparentemente, o script escrito
por Washington é instigar as tropas russas estacionadas na fronteira leste da
Ucrânia para que no caso de uma invasão militar russa estas sejam atormentadas
por guerrilhas fundadas e apoiadas pelos Estados Unidos e por neonazistas, com
a mídia “murdochiana” apresentando ao mundo Putin como um invasor e tirano. A
questão a saber é como reagirá a Rússia nos próximos dias, já que os
trabalhadores do Leste ucraniano reivindicam apoio político e militar para
enfrentar a reação fascista e as tropas enviadas por Kiev. No campo
diplomático, o governo russo declarou na ONU nesta quinta-feira, 29/08 que “os
EUA não se metessem na vida interna de outros países” e mais uma vez convocou a
ONU a encontrar uma “solução política para o conflito”, inclusive propondo que
a resistência abrisse um “corredor humanitário” para a saída das tropas
ucranianas agora cercadas em diversas cidades do Leste do país. Este caminho
tem se mostrado absolutamente estéril, tendo em vista que este covil de
bandidos é controlado pelo imperialismo ianque que tende a responder aos apelos
da Rússia com novas sanções, a fim de preparar no futuro a guerra contra
Moscou! Já passa da hora a necessidade de responder à altura as provocações do
imperialismo e cabe ao proletariado destas regiões estar à cabeça desta
iniciativa. Sabemos que uma guerra na fronteira russa é um verdadeiro barril de
pólvora que pode tomar conta de toda a região e fomentar um “novo Afeganistão”
em pleno século XXI, provocando possíveis enfrentamentos entre as tropas russas
com forças políticas e militares patrocinadas pela OTAN na fronteira entre a
Ucrânia e a Rússia. Ainda que agora estejam neste possível enfrentamento atual
duas forças burguesas já que houve a restauração capitalista na URSS, os
revolucionários se colocam no campo oposto do imperialismo e de sua aliança
militar, ou seja, ao lado da Rússia e do governo burguês de Putin, em apoio à
“repúblicas populares” do Leste ucraniano. Somente se colocando neste lado da
trincheira os marxistas leninistas poderão, ombro a ombro com o proletariado e
o campesinato desta região, apontar uma perspectiva comunista proletária para o
conflito, indo, portanto, além de suas direções burguesas. A palavra de ordem
de “Todo apoio às milícias de autodefesa para derrotar a reação fascista e os
golpistas impostos em Kiev! Armas para os revoltosos expulsarem os
neocolonialistas!” está a serviço de forjar um programa revolucionário que coloque
na ordem do dia a construção de verdadeiras “repúblicas soviéticas” com a
expropriação dos bandos burgueses restauracionistas, chamando inclusive a
solidariedade ativa do proletariado russo em sua defesa.
Na Ucrânia, Putin vem colocando novamente o governo Obama em
situação extremamente delicada e que está deixando às claras a covardia do
império em enfrentar inimigos com pelo menos alguma capacidade de “resposta”
militar. Primeiro foi o recuo na Síria, logo após a Casa Branca anunciar que
iria atacar o país em poucos dias, a Rússia anunciou que apoiaria Assad em caso
de uma agressão externa, Obama vergonhosamente desistiu do bombardeio abrindo
um precedente muito perigoso para a nação mais “poderosa do planeta”. Novamente
as bravatas do imperialismo ameaçando Moscou no caso da “anexação” da Crimeia
caíram como um castelo de cartas, deixando como opção “militar” para o
Pentágono a humilhante via de armar bandos fascistas em Kiev, além de tentar
organizar uma oposição fundamentalista islâmica entre o povo tártaro que habita
a península do Mar Negro. Esta tem sido a “tática” preferencial do imperialismo
ianque diante dos regimes nacionalistas burgueses que busca derrocar em todo
mundo, ou seja, impulsionar hordas neofascistas e grupos muçulmanos raivosos
contra o comunismo, que consideram como o satã na terra. Por mais inacreditável
que possa parecer, são estes setores alimentados pelos EUA, ultrarreacionários
e de extrema-direita, os que são considerados como “revolucionários” pelos
revisionistas da LIT/ PSTU.
Os seguidos refugos da Casa Branca diante de Putin tem
incrementado com muita força o retorno do nacionalismo russo, que neste momento
tenta novamente delinear sua “zona de influência” como nos tempos soviéticos.
Desde a destruição contrarrevolucionária das conquistas operárias na antiga
URSS, o bando restauracionista, inaugurado por Yeltsin, vinha desestimulando
qualquer atrito político ou militar com o imperialismo europeu e ianque, e
neste sentido as parcas manifestações nacionalistas russa eram duramente
reprimidas pelo Kremlin. Mas a chamada “revolução laranja” ocorrida em 2004 na
Ucrânia ascendeu o “alerta vermelho” para os restauracionistas, era necessário
parar de se “agachar” perante os EUA ou se transformariam em mais um “quintal”
do imperialismo ianque. Neste período este setor estatal já convertido em
burguesia russa (a restauração capitalista havia terminado por completo) era
comandado por Putin, um ex-dirigente da KGB e simpatizante distante do velho
stalinismo. Com o fortalecimento econômico da Rússia no final da década
passada, produto das exportações de Gás e Petróleo para a Europa, os projetos
da poderosa indústria bélica foram reiniciados, tendo como marco o lançamento
do moderno caça Sukhoi, único supersônico do planeta com capacidade de
enfrentar os F-18 norte-americanos.
Ainda é muito cedo para fechar uma caracterização rigorosa
sobre a dinâmica política que vem assumindo o “novo” nacionalismo russo, sob a
égide de Putin, mas já podemos afirmar que se trata de um fenômeno radicalmente
distinto do nacionalismo neofascista ucraniano, por exemplo. Também seria uma
completa tolice para o marxismo caracterizar este vetor nacionalista como uma
expressão do “neo-imperialismo russo”. A Rússia, desde sua “reconstrução”
capitalista (favor não confundir com a destruição da URSS), vem se configurando
como uma semicolônia do imperialismo europeu, fornecedora de commodities
agrominerais de baixo valor agregado. Sua avançada indústria bélica (herança do
Estado operário soviético) sofre um duro bloqueio comercial dos EUA, sendo que
poucos países tem a “ousadia” para comprar as armas russas, Venezuela e Síria
fazem parte deste “seleto” grupo. Como não pode se basear na venda de
equipamentos bélicos para acumular divisas cambiais, a Rússia tem organizado
sua economia em torno da Gazprom, principal empresa exportadora do país. Seria
tão estúpido, do ângulo científico do Leninismo, considerar a Rússia
imperialista tanto como qualificar politicamente seu atual curso nacionalista
burguês de enfrentamento com o imperialismo como “reacionário”. A história
mundial tem demonstrado que a movimentação social de setores das burguesias
nacionais pode oscilar politicamente de acordo com a etapa da luta de classes.
Podemos citar o exemplo do nacionalismo “getulista” no Brasil, que transitou da
aberta simpatia do fascismo a um tímido anti-imperialismo latino americano, o
que lhe custou o segundo governo e a própria vida.
Não seria nenhum absurdo teórico prognosticar que no atual
período histórico, de profunda ofensiva neoliberal do imperialismo, venha a
ocorrer o deslocamento de setores da burguesia nacional em alguns países, para
o campo político do anti-imperialismo. Este foi o caso da Venezuela do coronel
Chávez e poderá ser também uma possibilidade para a Rússia do ex-agente da KGB
Putin, somente a evolução da luta de classes dará a última palavra. Alertamos
mais uma vez que aqueles setores de “esquerda” que colocam um sinal de igual
entre o imperialismo ianque e a Rússia para defender um suposto “derrotismo”,
negando-se a formar uma frente única de ação anti-imperialista com o governo
Putin fazem neste momento o jogo da reação burguesa. Eles se somam aos canalhas
revisionistas que apoiaram o golpe fascista de fevereiro vendendo-o como uma
“revolução”, seguindo a mesma política pró-imperialista que tiveram na
“Primavera Árabe” em apoio aos “rebeldes” pró-OTAN na Líbia e na Síria. Na
Ucrânia os “revolucionários” da Praça Maidan em Kiev, amantes de Mussolini e
Obama, não tiveram muita dificuldade para afugentar do governo o covarde
Yanukovich, apesar das mortes que ocorreram em ambos os lados, mas quando Putin
anunciou que não deixaria isolados os compatriotas da Crimeia, logo as milícias
fascistas foram pedir ajuda ao Tio Sam que, além de “espernear” e ameaçar a
Rússia com sanções econômicas, não se mostrou disposto mais uma vez a enfrentar
militarmente os remanescentes do antigo Exército Vermelho.
Com a operação militar da OTAN em curso a situação volta a
se agravar na Ucrânia, neste cenário somente os ratos decompostos da LIT/PSTU,
que ainda se reclamam de esquerda, podem afirmar que apoiarão os neonazistas
ucranianos em caso de um enfrentamento concreto com as forças militares de
Putin, em nome de uma suposta “revolução” em Kiev. Os Bolcheviques Leninistas
em caso de uma guerra deflagrada na região de influência geopolítica da antiga
URSS saberão levantar as “bandeiras de outubro”, tão sentidas para o
proletariado soviético, e na mesma trincheira militar dos restauracionistas
russos contra o imperialismo acertarão suas “contas” históricas com aqueles que
ajudaram a destruir as conquistas operárias da revolução socialista de 1917!
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