Por Liga Bolchevique Internacionalista
Nesta quarta-feira, 12 de fevereiro, ocorreu o protesto o mais intenso contra Maduro desde que ele sucedeu Hugo Chávez. Os enfrentamentos de rua provocaram conflitos durante várias horas. Três pessoas morreram, dezenas ficaram feridas e quase 80 foram detidas. “Lamentável o assassinato de um membro combativo da Revolução Bolivariana perto da Praça Candelária (a 200 metros de onde os opositores protestavam).
Foi assassinado de forma vil pelo fascismo", disse o presidente da Câmara, Diosdado Cabello, ao anunciar o primeiro morto dos protestos, em um ato transmitido pela televisão oficial. O primeiro morto durante as manifestações era um simpatizante do chavismo, identificado como morador do bairro popular 23 de Janeiro, reduto do governo. Em um discurso exaltado transmitido por rádio e televisão, Maduro denunciou um “golpe de Estado em desenvolvimento”, mas prometeu que “a revolução bolivariana vai triunfar”. O presidente, que assistiu a um grande desfile militar, com exibição de mísseis em rampas de lançamento móveis e blindados, disse ter dado “instruções muito claras às forças de segurança: quem sair para tentar exercer violência sem permissão para mobilização será detido”.
A Venezuela, com gigantescas reservas de petróleo, tem uma inflação anual de 56,3% e um índice de escassez que, em janeiro, alcançou um em cada quatro produtos básicos, enquanto a violência provoca entre 39 e 79 homicídios a cada 100 mil habitantes por ano, segundo estatísticas oficiais e de várias ONGs. O quadro social, político e econômico reflete a investida do imperialismo e da direita golpista contra o governo Maduro. Frente a esta situação defendemos a unidade de ação com o “chavismo” para derrotar a reação burguesa pró-imperialista, forjando uma alternativa de direção revolucionária para os trabalhadores!
A inteligência venezuelana recebeu ordem para prender um líder da oposição na madrugada desta quinta-feira (13), depois que o presidente Nicolás Maduro chamou de “tentativa de golpe de Estado” os conflitos que deixaram três mortos durante protestos estudantis na quarta-feira (12). A juíza Ralenys Tovar ordenou ao Serviço Bolivariano de Inteligência a detenção do opositor Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular (um dos maiores da oposição) e acusado de homicídio, lesões graves e associação para cometer delitos, informou o site do jornal “El Universal”, que publicou uma imagem da ordem de apreensão. Uma porta-voz de López afirmou que não tinha informações a respeito.
Na quarta-feira, estudantes de classe média alta e de cunho fascista, acompanhados por líderes da oposição, protestaram nas ruas de Caracas e de outras cidades contra a “insegurança” em uma nova etapa da mobilização de jovens registrada há 10 dias. Leopoldo López, agora com ordem de captura, é um dos três dirigentes que estimulam a tática de ocupar as ruas com protestos antigovernamentais com o lema “A saída”. Os outros dois líderes do movimento são o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, e a deputada Maria Corina Machado, que tem imunidade parlamentar. Os três dirigentes ratificaram a estratégia na noite de quarta-feira. “Diante de uma tirania a resposta é a rua e a mobilização”, disse a deputada Maria Corina Machado, que chama o governo de “ditadura Castro-Comunista”. “Seguiremos com nossa agenda de luta nas ruas”, completou o prefeito Ledezma.
Maduro foi eleito em abril de 2013 por pequena margem de 1,5% ante Henrique Capriles. Mas 8 meses depois, nas eleições municipais de dezembro de 2013, os candidatos do governo receberam 55% dos votos. Com uma diferença de apenas 235 mil votos, venceu as eleições presidenciais na Venezuela em dia 14 de abril de 2013. Enquanto o candidato do PSUV alcançou os 7,51 milhões de votos, o fascistizante Henrique Capriles obteve a marca de 7,27 milhões, ou seja, o resultado foi 50,66% a 49,07%, uma vantagem de apenas 1,59% para o chavismo.
Sem dúvida alguma, houve um avanço da contrarrevolução na Venezuela, com a burguesia nativa e a Casa Branca partindo para uma dura ofensiva diante da aberta polarização política e social, que definitivamente não se revolverá no terreno eleitoral. Este quadro político dramático que dividiu a Venezuela ao meio e que polariza todo o continente (Brasil, Argentina, Equador...) confirmou plenamente o acerto da posição principista da LBI de convocar o apoio crítico a Maduro, com total independência do chavismo e seu programa nacionalista burguês.
Longe de patrocinar ilusões na candidatura do PSUV afirmamos na época que ela expressava deformadamente o sentimento e a tendência política das massas de lutar contra o imperialismo e seus marionetes. Por esta razão, apontamos já em plena campanha eleitoral, que era necessário combater centralmente nas ruas, fábricas e no campo os inimigos de classe do proletariado, perspectiva que só se reforçou agora com a ofensiva fascista em curso.
O chavismo é consciente que a burguesia venezuelana está indo para a direita perante o aprofundamento da crise e a perspectiva do ascenso independente das massas. Por sua vez, diferente de Chávez que conseguiu manter uma margem de 10% de distância do MUD em outubro, um Maduro defensivo, que quase se limitava a reivindicar a figura mítica de Chávez, não conseguiu centralizar sua base com propostas concretas de enfrentamento com a burguesia e de mobilização direta do povo trabalhador por suas demandas imediatas e históricas.
Ademais, o dramático quadro econômico e social após 14 anos de governo “bolivariano”, com o agravamento da inflação, a continuidade da dependência ao petróleo e a necessidade de importar 40% dos alimentos fizeram um setor do eleitorado chavista duvidar das perspectivas de “aprofundar a revolução” como apregoou Maduro. Esses dados mostram que há um claro desgaste da via eleitoral para manter o chamado “Socialismo do Século XXI” que vem limitando o ascenso de massas e a luta direta pela ampliação das pequenas conquistas sociais, porque teme justamente que os trabalhadores avancem para além de seu programa nacionalista burguês, colocando na ordem do dia a expropriação das transnacionais, a nacionalização da terra e a destruição revolucionária do Estado burguês, o que significaria um choque aberto com as FFAA, pilar de sustentação do regime capitalista, ainda que vendida tragicamente pelos quatro ventos como “fiel à revolução bolivariana”.
A luta de classes dos últimos meses demonstrou, vide a radicalização das massas nas marchas multitudinárias no enterro de Chávez e, agora, com as respostas dos trabalhadores aos ataques fascistas dos bandos criminosos da oposição golpista, que para avançar o proletariado deve focar sua luta revolucionária recorrendo aos seus próprios métodos de combate (greves com ocupações de fábricas e terra, comitês de autodefesa, combate a mídia burguesa reacionária, criação de organismo de poder popular). O proletariado deve responder a reação fascista com uma demonstração de força em defesa da ampliação das conquistas sociais da classe operária e de repúdio aos golpistas, forjando no calor da batalha um programa genuinamente comunista de completa ruptura com o nacionalismo burguês. Devemos convocar a vanguarda classista para a ação direta, contemplando uma plataforma de ocupações de fábricas, nacionalizações de grupos econômicos sob o controle dos trabalhadores e socialização do latifúndio.
A tarefa que se impõe nesta polarizada conjuntura, acompanhando a evolução política das massas, é a construção do partido operário revolucionário, única forma de combate consequente ao Estado capitalista, cabendo à vanguarda do proletariado adotar uma política de “estimular” as tendências de radicalização do setor popular e camponês do nacionalismo burguês para que se choque com os limites impostos pelo próprio Maduro e a direção do PSUV a frente do governo!
Se o golpe de 2002 fracassou pela falta de respaldo de setores do imperialismo, agora com a oposição tendo ampliado sua base social e eleitoral, gestam-se as premissas para a Casa Branca impor uma alternativa ao “Socialismo do Século XXI” pela chamada via democrática, sempre fustigando o governo nas ruas. O povo venezuelano que apesar da mediação chavista, se confrontava com os fundamentos do establishment capitalista, deverá agora enfrentar mais duramente a oligarquia “crioula”, pela qual responde a chamada oposição liderada pelo multimilionário fascistizante Henrique Capriles, o herdeiro político dos golpistas de 2002. Por isto, diante do ascenso multitudinal das massas venezuelanas após a morte provocada de Chávez (desde a Guerra Fria a CIA vem trabalhando com afinco para desenvolver substâncias que podem matar líderes “inconvenientes” de países não-alinhados sem deixar qualquer vestígio ou provas de envenenamento), as ameaças declaradas do monstro imperialista e da “oposição” golpista a soldo da Casa Branca e uma possível “mobilização democrática” organizada pela CIA foi correto em 2013 os genuínos revolucionários lançarem a palavra de ordem de acompanhar o apoio a Maduro sem capitular ao chavismo.
Os grupos pseudotrotskistas (PTS, LIT, UIT, PCO), os mesmos que se aliaram a OTAN na Líbia e a seus “rebeldes” na Síria chamara o voto nulo em 14 de abril, alegando que Maduro era candidato de um partido burguês nacionalista, portanto apoiá-lo seria "capitular ao chavismo"! Esses estúpidos revisionistas, que não se cansam em afirmar que estamos à beira da “revolução” e que apoiaram os mercenários da CIA na Líbia, na época das eleições fingiram ser “puros” marxistas ortodoxos! Ao contrário desses embusteiros que se aliam a Obama e ao imperialismo mundial em nome da farsesca “revolução árabe”, apoiamos nas eleições criticamente a Maduro não porque depositamos confiança ou ilusões nele, ao contrário, compreendemos perfeitamente seus limites programáticos.
Por esta razão reafirmamos que é preciso derrotar com os métodos de luta da classe operária a direita golpista sem capitular ao “chavismo” e seu projeto nacionalista burguês! Para os trabalhadores venezuelanos e latino-americanos, que acompanham o desenrolar dos últimos acontecimentos e buscam intervir de forma independente na crise venezuelana fica claro que é preciso preparar uma alternativa política dos explorados tanto ao chavismo decadente como à direita reacionária. Devemos chamar pela derrota da direita golpista com manifestações populares que expressem os métodos de luta e as reivindicações imediatas e históricas dos trabalhadores em unidade de ação com Madura, porém sem prestar nenhum apoio político ao PSUV e ao chavismo!
O exemplo de Honduras, onde a Frente Nacional de Resistência (FNRP) avalizou a política de legitimação do governo golpista e mesmo a passividade de Lugo e da “centro-esquerda” burguesa do continente diante do golpe no Paraguai, demonstra que não se deve confiar nas direções “bolivarianas ou progressistas”, é preciso denunciá-las vigorosamente e preparar o terreno para a construção de um genuíno partido revolucionário capaz de enfrentar a onda de reação “democrática” ou mesmo a direita fascista. Cabe aos trabalhadores participarem e encabeçarem as manifestações convocadas pelo chavismo não para prestar apoio político ao seu governo nacionalista burguês, mas para defenderem com um próprio programa e independente suas conquistas operárias, a fim de forjar entre a vanguarda um partido comunista proletário cuja estratégia seja a conquista do poder político pelos explorados!
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