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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

91 anos da morte de V. I. Lenin: Nossa reverência militante ao chefe exemplar do Partido Bolchevique!


Por Liga Bolchevique Internacionalista


No próximo 21 de janeiro completa-se 91 anos da morte de nosso grande chefe Bolchevique, Vladimir Lenin, o dirigente marxista que lançou as bases do Partido Revolucionário centralizado como um exército do proletariado para demolir violentamente as instituições do Estado capitalista. Lenin é sobejamente a liderança da esquerda, em toda a história da humanidade, mais odiada (e com toda justiça!) pelas classes dominantes e o imperialismo. Se vivo estivesse seria considerado hoje o "terrorista" mais perigoso para os interesses da Casa Branca. O aniversário de morte de Lenin celebra-se poucos dias após o atentado em Paris à revista Charlie Hebdo, acontecimento que abre uma correlação de forças bem mais defensiva na conjuntura mundial, fundamentalmente contra a esquerda revolucionária que combate vigorosamente a sanha imperial contra os povos travestida na defesa da "liberdade de expressão" e da democracia. Esta realidade exige dos Leninistas a mesma firmeza que nosso mestre teve para enfrentar tempos de reação na Rússia e na Europa durante o século XX quando afirmou "Os capitalistas chamam ‘liberdade’ a dos ricos de enriquecer e a dos operários para morrer de fome. Os capitalistas chamam liberdade de imprensa a compra dela pelos ricos, servindo-se da riqueza para fabricar e falsificar a opinião pública”. Não temos a menor dúvida que nas atuais circunstâncias Lenin seria o primeiro a denunciar a "União Sagrada" que se forma desde Paris contra os povos oprimidos utilizando-se do pretexto o combate ao terrorismo, desmascarando-a vigorosamente. Como parte do combate político e ideológico pela construção do Partido Revolucionário, Lenin delimitou-se com os oportunistas sociais-democratas e também com aqueles que acreditavam que o terrorismo individual poderia colocar abaixo as estruturas do regime tzarista, como seu próprio irmão Alexandre Ulianov. Em 1887 Alexandre foi preso e condenado à morte por enforcamento após o fracasso de um atentado contra o czar Alexandre III. O irmão de Lenin pertencia à Narodnaia Volia (Vontade do Povo), organização secreta populista, que congregava elementos da "intelligentsia" russa e que, sob o regime de opressão encarava o terror como a única forma de ação imediata contra a autocracia czarista. A morte do irmão levaria o jovem Lenin a desenvolver uma reflexão crítica sobre o terrorismo como método impotente de luta proletária contra a opressão política e buscar na organização e mobilização das massas exploradas o caminho para a derrubada do regime czarista. Esta compreensão correta jamais serviu como pretexto para que Lenin se perfilasse em uma frente burguesa “contra o terrorismo” como fazem hoje setores da esquerda, incluindo os que se reclamam trotskistas e leninistas diante do atentado à revista Charlie Hebdo. Como afirmou Trotsky, discípulo de Lenin, quando soube da morte do grande chefe: Perdemos Lenin, mas sem o Leninismo não somos absolutamente nada! Desde a LBI estamos certos dessa lição fundamental e os recentes acontecimentos de Paris provam sua plena vigência!

OS PRIMEIROS PASSOS NA FORMAÇÃO DO DIRIGENTE REVOLUCIONÁRIO

Lênin concretizou o ideal de Marx e Engels, instaurando o primeiro Estado operário a partir da vitória da Revolução de Outubro, e ampliou o marxismo. Coube a ele formular a teoria de um partido revolucionário rigorosamente centralizado, disciplinado e conspirativo da vanguarda consciente do proletariado; consolidar o conceito de Estado como uma máquina de dominação de classe, defendendo a ditadura do proletariado — instrumento indispensável para a construção do socialismo — e caracterizar o imperialismo como última etapa do desenvolvimento capitalista. Sem Lênin, o proletariado russo não teria conquistado o poder político, dando início à era da revolução mundial.

Vladimir Ulianov, nasceu em Simbirsk, a 10 de abril (22 pelo calendário atual) de 1870 em uma família de classe média. Seu pai, Ilya Nikolaievitch Ulianov, exercia o cargo de inspetor e, mais tarde, diretor das escolas públicas. Sua mãe, Maria Alexandrovna Blank, era filha de um médico da província de Kazan. Dos seis irmãos que tinha, foi Alexandre Ulianov quem mais influenciou a trajetória política de Vladimir. Aos vinte anos, Alexandre começara a estudar as obras de Marx, chegando a traduzir para o russo a Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel.

Em 1887, aos 21 anos, Alexandre foi preso e condenado à morte por enforcamento após o fracasso de um atentado terrorista contra o czar Alexandre III. O irmão de Lênin pertencia à Narodnaia Volia (Vontade do Po-vo), organização secreta populista, que congregava elementos da intelligentsia russa e que, sob o regime de opressão, encarava o terror como a única forma de ação imediata contra a autocracia czarista. Essa organização já havia sido quase que completamente esmagada pelo governo após o assassinato do czar Alexandre II (1 de março de 1881). A morte do irmão levaria o jovem Lênin a desenvolver uma reflexão crítica sobre o terrorismo como método impotente de luta contra a opressão política e buscar na organização e mobilização das massas exploradas o caminho para a derrubada do regime czarista.A primeira manifestação dessa crítica foi o folheto “Quem são os Amigos do Povo e como lutam contra os social-democratas?”, escrito em 1894, quando Lênin surgiu no cenário político atacando os narodnikis (populistas), principalmente K. Mikhailovsky (1842-1904) e Nikolai F. Danielson (1844-1918). Em seus primeiros anos, a social-democracia russa não hostilizava o movimento narodniki. A partir de 1894, a social-democracia entrou em um processo de diferenciação definitiva com os populistas e de consolidação como tendência política no movimento revolucionário russo. Nesse documento, Lênin reafirmava os princípios fundamentais do socialismo científico, da sociologia e da economia política de Marx, contra a subjetividade dos chamados populistas - narodnikis. Enfatizava que o capitalismo convertera os mais importantes ramos da atrasada indústria russa em grandes indústrias mecanizadas e, socializando a produção, criou ao mesmo tempo a força social capaz de destruí-lo: o proletariado urbano. A nova realidade russa revelava-se na organização burguesa da sociedade e no caráter de classe do Estado, que não era mais que um órgão de dominação a serviço dos capitalistas, deixando, portanto, como principal conflito social “a luta de classes do proletariado contra a burguesia”.

Para defender a doutrina de Marx e Engels, além dos narodnikis, teve de combater também os inimigos internos,  partidários do marxismo legal, os intelectuais burgueses, liderados por Peter Struve, que de dentro da social-democracia procuravam transformá-la em um produto aceitável pelas classes dominantes. Em fevereiro de 1894, Lênin conheceu Nadezhda Konstanti-nova Krupskaia com quem, em 1898, ao se reencontrarem na Sibéria condenados à pena de desterro pelo regime czarista, se casaria. Devido aos contatos que mantinha com os operários, como professora, Krupskaia pôde colaborar com Lênin na formação de diversos grupos social-democratas, em Petersburgo.

Aos 25 anos, em abril de 1895, Lênin saiu da Rússia pela primeira vez. Esteve na Suíça, França e Alemanha, estabelecendo contatos com os núcleos de marxistas na emigração. Nesta viagem houve o primeiro encontro com Plekhanov. Apesar de Lênin o ter com uma grande simpatia, o jovem Ilitch não se resignou em polemizar com o velho revolucionário. Lênin defendia que o desenvolvimento do capitalismo cria o proletariado urbano que, aliado ao campesinato, deve protagonizar a luta pela revolução democrática, derrotando o czarismo e a burguesia. Enquanto Plekhanov caracterizava a burguesia liberal como força motriz de uma futura revolução democrática, cabendo ao proletariado segui-la como mero coadjuvante.Ao retornar, em setembro de 1895, Lênin deu um passo fundamental para transformar profundamente a social-democracia russa ao criar a “União de Luta pela Emancipação da Classe Operária”. Dirigida por Lênin, a “União” seria o embrião do partido por ele preconizado. A rigorosa disciplina e a estreita ligação com os operários se baseavam no princípio do centralismo. O centralismo permitiu subordinar as lutas grevistas da classe  operária a uma pequena e jovem vanguarda, demonstrando a necessidade da construção de um partido revolucionário que utilizasse as vitais reivindicações das massas, educando-as politicamente para derrubar o czarismo e o sistema capitalista. Como forma de desenvolver a unificação desse trabalho e estender a sua influência, Lênin e os dirigentes da “União” resolveram editar um jornal que ligasse os vários círculos social-democratas que estavam dispersos pelo país. Porém em 8 de dezembro de 1895, Lênin e os dirigentes da “União” foram presos pela polícia, sendo apreendidos os materiais do jornal.

A experiência da “União” foi um exemplo para vários círculos operários que iniciaram sua unificação, servindo de base para a futura criação do Partido Operário Social-Democrata Russo e de sua fração leninista. Lênin passou mais de um ano no cárcere, de 1895-1897, sendo em seguida deportado para a Sibéria. Na prisão, iniciou um rigoroso estudo sobre a economia e a sociedade russa. Precisava demolir as concepções dos populistas, que ainda mantinham ilusões no agrarismo, acreditando no papel fundamental do camponês e da comuna rural no processo de transformação social, não enxergando as mudanças nas relações de produção, que alteravam os lineamentos feudais da sociedade russa.

A obra de Lênin, “O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia”, iniciada em 1896, foi publicada em 1899, quando ele ainda se encontrava na Sibéria. Analisava a formação do mercado interno e sua estreita ligação com o desenvolvimento da grande indústria na Rússia; mostrava as características da evolução capitalista na agricultura, onde o campesinato cada vez mais se dividia em grandes latifundiários, camponeses pobres e proletários rurais, favorecendo o êxodo rural e substituindo as relações servis do sistema feudal pelas relações capitalistas de produção. Ressaltava o caráter progressista do capitalismo no país, sem que isto significasse sua apologia. Esse caráter progressista consistia no aumento das forças produtivas do trabalho social a partir da introdução da grande indústria mecanizada, concentrando o jovem proletariado russo nos principais centros urbanos, aumentando sua socialização nas grandes plantas industriais. A existência da Rússia enquanto semicolônia das grandes potências imperialistas, com seu desenvolvimento desigual e combinado, permitindo a coexistência dos mais adiantados ramos da indústria com formas semifeudais da agricultura, plantou as bases para que as tarefas históricas da revolução burguesa só pudessem ser resolvidas através da revolução proletária.

“SEM TEORIA REVOLUCIONÁRIA NÃO HÁ MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO”

Tendo em vista a necessidade de combater o revisionismo que se difundia no movimento social-democrata e superar o amadorismo, o culto ao espontaneismo e o tradeunionismo (sindicalismo) nas questões da agitação política e nas tarefas de organização, Lênin propôs um plano para a criação de uma organização de combate de revolucionários profissionais para a toda a Rússia.

No outono de 1901, começou a escrever o livro “Que Fazer?”, onde faz um vigoroso ataque contra os defensores da “liberdade de crítica”, palavra-de-ordem lançada pelos que pretendiam, como Bernstein2, proceder à revisão dos princípios fundamentais do marxismo, ou seja, rejeitar a luta pelo socialismo, a revolução e a ditadura do proletariado. Aquela tendência, para Lênin, não passava de mais um matiz do oportunismo. Publicada em março de 1902, a obra denunciava os revisionistas de todos os matizes, a exemplo dos adeptos da “liberdade de crítica” na Rússia, que corrompiam a consciência socialista aviltando o marxismo, pregando a atenuação das contradições sociais, proclamando que é absurda a idéia da revolução social e da ditadura do proletariado e limitando o movimento operário à luta por algumas reformas graduais com o fim de melhorar as condições econômicas dos operários sob o capitalismo.

Nela, Lênin clarificava as divergências, não permitindo que persistisse o clima nebuloso, confuso, vago, ideal para o florescimento do revisionismo oportunista e ressaltava a importância da teoria revolucionária: “Sem teoria revolucionária não pode haver também movimento revolucionário. Nunca se insistirá demasiadamente nesta idéia num tempo em que a prédica em voga do oportunismo aparece acompanhada de uma atração pelas formas mais estreitas da atividade prática” (“Que Fazer?”).

O partido revolucionário precisa, portanto, conformar sua própria fisionomia, delimitando-se politicamente de todas as tendências que traficam as concepções políticas e ideológicas da burguesia dentro do movimento de massas e ameaçam desviar o proletariado de seu objetivo histórico. Neste terreno, a função do partido é combater particularmente as correntes oportunistas e demagogas que são “os piores inimigos do proletariado” (Idem), sobretudo, porque apresentam maiores possibilidades de enganar e arrastar as massas para outro caminho que não o da revolução social. Nesse sentido, “um erro, ‘sem importância’ à primeira vista, pode levar às mais deploráveis conseqüências e é preciso ser míope para considerar como inoportunas as discussões de fração e a delimitação rigorosa dos matizes. Da consolidação deste ou daquele ‘matiz’ pode depender o futuro da social-democracia russa por muitos longos anos” (Idem).

A importância da luta ideológica e da teoria revolucionária torna-se fundamental para a vanguarda do proletariado e “tudo o que seja inclinar-se perante a espontaneidade do movimento operário, rebaixar o papel do elemento consciente, a importância da social-democracia, afastar-se da ideologia socialista, equivale – independente da vontade de quem o faz – a fortalecer a influência da ideologia burguesa sobre os operários” (Idem). Por isto repelia a idéia de rebaixar as tarefas políticas e de organização ao nível dos interesses imediatos, à luta pelas reivindicações meramente econômicas, perdendo a perspectiva revolucionária.

Para Lênin o movimento operário espontâneo não poderia ultrapassar o mero tradeunionismo (sindicalismo), “isto é, a convicção de que é necessário agrupar-se em sindicatos, lutar contra os patrões, conseguir do governo a promulgação de tais ou quais leis necessárias para os operários, etc” (Idem). No máximo, como demonstraria a experiência da revolução de 1905, a luta espontânea das massas poderia chegar à constituição de sovietes. Mesmo assim, a luta operária, por si mesma, não pode levar o proletariado a romper com a política e a ideologia burguesas.

Visto que sob o capitalismo a ciência constitui um monopólio da classe dominante, não se pode falar de uma ideologia independente, elaborada pelas próprias massas proletárias no curso do seu movimento espontâneo. Portanto, “a consciência política de classe não pode ser levada ao operário senão do exterior, isto é, de fora da luta econômica, de fora da esfera das relações entre operários e patrões” – insistia no Que Fazer? – para concluir que o portador desta consciência é o partido.

A doutrina do socialismo científico surgiu de teorias filosóficas, históricas e econômicas elaboradas por intelectuais revolucionários, a exemplo de Marx e Engels. Constitui, portanto, a ciência do movimento operário, fundamentada num profundo conhecimento das leis gerais do desenvolvimento da sociedade humana.

A tarefa do partido é elevar ao máximo possível o nível de consciência dos operários em geral, a fim de que eles consigam dominar a ciência do marxismo. A imprensa do partido, seus quadros de propagandistas, agitadores e organizadores devem explorar cada acontecimento da luta de classes para educar as massas para a atividade revolucionária.

O capitalismo cria, em seu desenvolvimento, as condições objetivas materiais para a revolução, que dependerá da ação consciente e organizada das massas. Mas só o partido revolucionário poderá assegurar a vitória da insurreição, a tomada do poder político pelo proletariado.

A estrutura de partido que Lênin propunha era uma organização de revolucionários profissionais, que superasse os métodos artesanais de trabalho, empregados pelas organizações isoladas e locais, a fim de dar estabilidade e continuidade ao movimento. Somente uma organização de combate, forjada no centralismo e na disciplina hierárquica, constituída por “agentes” preparados por uma longa aprendizagem nas diversas artes da atividade revolucionária, pode preservar o movimento de sua degeneração e destruição, ao mesmo tempo em que o prepara para uma ofensiva que obtenha a vitória sobre a burguesia.

A luta por organizar a tomada do poder e edificar a revolução socialista, ao contrário da luta econômica contra os patrões e o governo, exige qualidades especiais, requer pessoas, que tenham como profissão a atividade revolucionária, uma organização de revolucionários profissionais que dediquem ao trabalho cotidiano do partido todo o seu tempo e não apenas seus momentos de folga. Trata-se de um partido, cujos membros são rigorosamente selecionados. Como sentenciava Lênin, “é muito mais difícil [à polícia política] caçar uma dezena de homens inteligentes do que uma centena de patetas” (Que Fazer?).

Lênin concebia que o caráter das organizações de massas, sindicais, devia ser o mais amplo e o menos clandestino possível. Enquanto a organização da vanguarda, ou seja, o partido, devia ser composto fundamentalmente por militantes cuja profissão fosse a atividade revolucionária, regido pelo centralismo democrático.

Por revolucionários profissionais entende-se aqueles que consagram a vida à construção do partido da revolução. E se, como é freqüente, faz-se necessário outro ofício para viver, é o de revolucionário o que preenche a vida e o outro não passa de algo acessório. Era assim que viviam os dirigentes do POSDR. O próprio Lênin fazia traduções, escrevia artigos e recebia uma pequena ajuda da mãe para viver. As cotizações dos militantes nunca foram suficientes para cobrir as atividades do partido. Só muito depois do surgimento do Iskra o partido obteve algumas finanças para sustentar seus profissionais, através da assinatura do jornal, da contribuição de burgueses liberais e expropriações. Os profissionais do partido recebiam no máximo de 3 a 30 rublos por mês, e passavam às vezes vários meses a espera do salário, mas os que obtinham dinheiro às custas ou donativos da família nada recebiam e, pelo contrário, destinavam ao partido um pouco de suas economias.

Em resposta aos seus opositores que exigiam uma “ampla democracia” como princípio de organização da social-democracia russa, Lênin postulava, como únicos princípios sérios de organização, o mais severo segredo conspirativo, a seleção rigorosa dos membros e a preparação de revolucionários profissionais, qualidades que asseguram a plena e fraternal confiança mútua entre os revolucionários. Sob a base dessa confiança mútua se assentam as relações de camaradagem, em que está inserida a verdadeira democracia.

O plano de organização de  Lênin incluía a criação de um jornal clandestino, destinado a toda a Rússia, como ferramenta de construção partidária, desempenhando o papel de agitador e organizador coletivo. Com esse objetivo, criara o Iskra (Centelha) em 1900. Quando encontrava-se em Londres, em 1902, dedicado à publicação do Iskra, a ele se juntou outro jovem revolucionário que acabava de fugir da Sibéria, Leon Trotsky, brilhante e dinâmico orador, que se tornou um dos mais ardorosos partidários de Lênin. Entretanto, o Iskra esteve sob a direção  leninista somente até 1903, quando caiu em poder dos mencheviques.

A CISÃO ENTRE BOLCHEVIQUES E MENCHEVIQUES: DUAS TÁTICAS, DUAS ESTRATÉGIAS

No II congresso do Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR) que se iniciou a 17 de julho de 1903, em Bruxelas e, depois, devido às perseguições por parte da polícia se transferiu para Londres, ocorreu o fato que dividiria definitivamente a social-democracia russa. Os debates sobre o estatuto causaram logo de início as primeiras divergências. No primeiro artigo, que definia o conceito de militante, Lênin propôs uma definição que refletia toda a doutrina do “Que fazer?”: “Considera-se membro do partido todo aquele que aceita seu programa e apóia o partido tanto materialmente como por meio da participação pessoal em uma de suas organizações”. Martov opôs-se a Lênin, apresentando outra fórmula: “Considera-se membro do partido todo aquele que aceita seu programa, paga suas cotizações e coopera regularmente no trabalho do partido, sob a direção de uma de suas organizações”.

As divergências, no fundo, exprimiam profunda diferença de concepção da estrutura partidária. Um setor desejava o partido restrito a militantes profissionais, preparados para as situações mais adversas da luta de classes. O outro, defendia o partido aberto a todos que aceitassem seu programa.

A partir de então se formaram as duas frações no interior do POSDR, os bolcheviques liderados por Lênin e os mencheviques chefiados por Martov. Os leninistas obtiveram a maioria dos votos e aprovaram a nova concepção de organização. O congresso elegeu para o comitê de redação do Iskra, Plekhanov, Lênin e Martov. Inicialmente, Lênin havia proposto a ampliação do comitê de seis membros para sete com o intuito de incluir Trotsky. Como Plekhanov não aceitou, preferiu sugerir um comitê de três membros. Martov, entretanto, não aceitou o cargo, contrariando a decisão do congresso.

Os mencheviques se recusaram a cumprir as decisões do congresso, não aceitaram a nova concepção de partido, boicotaram o Iskra e formaram um comitê central para dirigir sua fração. Influenciaram simpatizantes e colaboradores a negar qualquer auxílio à direção de Lênin. Plekhanov, vacilando diante da pressão de seus antigos camaradas, resolveu convocá­los novamente para a redação do jornal. Lênin não aceitou essa manobra e abandonou a redação do jornal em 1o de novembro de 1903. A partir do nº 52, o Iskra tornou-se órgão de imprensa dos mencheviques.

No Comitê Central do POSDR, Lênin continuaria sua luta contra o oportunismo menchevique. As divergências no campo organizativo evoluiriam para o terreno político logo no primeiro teste da social-democracia russa na arena da luta de classes.

A revolução  de 1905, o “Ensaio Geral” para a revolução de 1917, demonstrou o papel que cada classe possuía no contexto político, sendo possível avaliar sua força e expressão social, indicando o comportamento que deveria adotar a vanguarda do proletariado. As frações do POSDR, mencheviques e bolcheviques, traçariam suas estratégias de revolução a partir daquelas experiências. Os delegados bolcheviques reuniram-se em abril daquele ano no III Congresso do POSDR em Londres, enquanto os sabotadores mencheviques, ao mesmo tempo, realizaram sua conferência em Bruxelas.

O congresso aprovou a palavra-de-ordem “ditadura democrática do proletariado e do campesinato” lançada por Lênin desde fevereiro, que traduzia sua análise do processo revolucionário russo, diferenciada da que faziam os mencheviques e a maioria dos social­democratas no Ocidente.

Lênin dava uma demonstração de como se deve utilizar o marxismo de forma criadora e não como dogma. Marx e Engels haviam previsto a revolução proletária como conseqüência do desenvolvimento capitalista nos países mais avançados. Entretanto, a Rússia, no início do século XX, ainda era um dos países mais atrasados da Europa, embora combinasse o seu atraso econômico com as formas mais adiantadas do capitalismo, que se desenvolveram naquele país mantendo intacta a estrutura fundiária herdada do feudalismo e o Estado absolutista. O caráter da revolução que deveria se processar era, portanto, democrático, ou seja, uma revolução burguesa pelo conteúdo de suas tarefas: o fim da autocracia czarista e do latifúndio. Porém essas tarefas já não podiam ser realizadas sob a direção da impotente burguesia russa. Assim a revolução só poderia se concretizar sob a base de uma aliança entre o proletariado e o campe-sinato, através do estabelecimento de uma ditadura dessas duas classes, que abria caminho para o socialismo.

Os mencheviques, por outro lado, acreditavam que, estando a revolução ainda na sua etapa burguesa, o regime autocrático só poderia dar lugar a uma república democrática, parlamentar e constitucional. A luta pelo socialismo só poderia ter início depois de ultrapassada a etapa de desenvolvimento do capitalismo. Defendiam que enquanto durasse a ilegalidade política – para evitar que a burguesia se assustasse diante da ameaça do proletariado e passasse abertamente para o campo da reação czarista – não se deveria mencionar a luta direta do proletariado pelo poder político, e que as condições históricas colocavam o proletariado russo em colaboração inevitável com a burguesia. Dessa forma, dividiam a revolução em duas etapas.

A fórmula de Lênin, “ditadura democrática do proletariado e do campesinato”, apesar de contrapor-se à colaboração com a burguesia liberal, posição reivindicada pelos mencheviques, não precisava, entretanto, qual das duas classes, proletariado ou campesinato, teria o papel determinante na condução do processo revolucionário.

Trotsky viria a responder essa incógnita através de sua caracterização de que seria necessariamente a ditadura do proletariado que realizaria as tarefas democráticas, arrastando sob sua direção o campesinato. Segundo a teoria do desenvolvimento desigual e combinado, a Rússia necessariamente passaria por uma revolução proletária sem a obrigação de uma revolução democrática, mesmo que liderada pelos setores oprimidos. Desenvolvia a partir dessas premissas a sua teoria da Revolução Permanente.

A política que o partido seguiu de seu III congresso até abril de 1917 se baseou na palavra-de-ordem da “ditadura democrática do proletariado e do campesinato”, que segundo Lênin, cumpriu sua fase histórica e envelhecera sob o governo provisório de Kerensky, com a dualidade de poder entre este e os sovietes. Em abril de 1917, Lênin elabora as “Teses de Abril” onde proclama que o governo democrático surgido da revolução de fevereiro não responde às tarefas essenciais para o proletariado, devendo-se,  então, passar definitivamente para a revolução socialista e a ditadura do proletariado.

MATERIALISMO DIALÉTICO VERSUS EMPIRIOCRITICISMO

Após a derrota da Revolução de 1905, uma onda de abatimento atingiu as massas. O governo czarista dissolveu a II Duma3, em 1907, promulgando uma nova lei eleitoral ainda mais reacionária e desencadeou uma violenta perseguição aos social-democratas, enchendo os cárceres de militantes. Para escapar dessas perseguições, Lênin refugiou-se clandestinamente em Kuokalla (fronteira da Finlândia), de onde partiu para o exílio em Genebra (Suíça), em dezembro de 1907.

A repressão atingiu profundamente o partido, seus militantes foram perseguidos e presos, suas organizações desmanteladas pela polícia. Após os extraordinários esforços das lutas de 1905, as massas estavam cansadas. Muitos perdiam a fé na revolução e capitulavam diante da reação ideológica burguesa, que se manifestou como uma onda de religiosidade e misticismo sobre a sociedade russa.

Lênin teve que enfrentar o refluxo revolucionário dentro das fileiras de seu próprio agrupamento político. Dessa vez a ofensiva ideológica contra o marxismo partia de dirigentes bolcheviques como Alexandre A. Bogdanov, que em 1908 dirigiu uma tendência revisionista, inspirada nas idéias de Ernst Mach4, para ressuscitar o idealismo filosófico contra o materialismo dialético. Dentre vários escritos sobre o assunto, destacou-se uma coletânea de artigos intitulada “Ensaios sobre a Filosofia do Marxismo”, como a mais importante obra dos adeptos da “nova” filosofia “machista” contra os ensinamentos de Marx e Engels.

Empiriocriticismo era como se chamava essa filosofia. Para os empiriocriticistas, a consciência é que imprime qualidades à matéria – tamanho, forma, cor, odor, etc. Era essa completa refutação dos princípios mais elementares da doutrina de Marx e Engels [de que é a existência quem determina a consciência] que queriam apresentar como a última palavra sobre o marxismo.

Lênin combateu os “machistas” em sua obra “Materialismo e Empiriocriticismo: notas críticas sobre uma filosofia reacionária”, escrita entre fevereiro e outubro de 1908. Em junho de 1909 se realizaria uma conferência ampliada da redação do jornal Proletári5, ocasião em que poderia demolir as posições de Bogdánov e de sua corrente.

Através de “Materialismo e Empiriocriticismo”, Lênin revela a sua capacidade como filósofo marxista, reafirmando e consolidando os princípios elementares do materialismo dialético. Seguindo o método materialista, deixava claro que as coisas existem fora e independentemente da consciência do homem, que é também produto da matéria. De pleno acordo com a evolução das ciências da natureza, o materialismo considera a matéria como o elemento primário e a consciência, o pensamento, as sensações, como o elemento secundário. A matéria – expunha – “suscita a sensação, atuando sobre os nossos órgãos dos sentidos” (Materialismo e Empiriocriticismo). São essas sensações que uma determinada parte da matéria, o cérebro humano, capta e produz a partir delas todas as idéias e a consciência sobre o mundo que nos cerca.

No debate sobre qual é o critério da verdade Lênin concebia que a verdade objetiva, absoluta, independentemente do homem, conhecida através dos órgãos dos sentidos, não é senão uma soma de verdades relativas. “Cada etapa do desenvolvimento das ciências acrescenta novas parcelas de conhecimentos a essa soma de verdade absoluta.” Logo, “o  critério fundamental da verdade é a prática” (Idem).

A QUESTÃO NACIONAL E O INTERNACIONALISMO PROLETÁRIO

Pouco antes de eclodir a I Guerra Mundial, Lênin dirigiu suas atenções para o problema das nacionalidades. O Império russo era um Estado que controlava um vasto território, onde as nacionalidades oprimidas, não russas, constituíam 57% da população.

A autodeterminação das nações, defendida por Lênin, consiste no direito das nações oprimidas de formarem um estado nacional independente. Os revolucionários devem emprestar seu apoio aos movimentos nacionais, democráticos, de uma nação oprimida pelo direito à sua autodeterminação contra a nação  capitalista opressora. Entretanto, essa atitude não pode ser confundida com o apoio ao nacionalismo militante da burguesia, que embrutece, engana e submete os operários aos interesses dos capitalistas.

O direito à autodeterminação nacional subordina-se aos interesses gerais da luta de classes do proletariado, que deve buscar a união dos operários de todas as nações, desenvolvendo o sentimento internacionalista em oposição ao nacionalismo burguês e ao chauvinismo.

A guerra mundial, deflagrada em agosto de 1914, dividiu a social­democracia e arrastou a grande maioria dos líderes da II Internacional para o completo servilismo diante da burguesia de seus países, fato que assinalou a morte da Internacional social-democrata. Dirigentes históricos como Plekhanov (Rússia), Guesde (França), Vandervelde (Bélgica), Scheidemann (Alemanha) capitularam ao patriotismo e defendem os governos de seus respectivos países na guerra interimperialista, são os “defensistas” ou “social-chauvinistas”. Outros se acovardaram adotando uma postura conciliadora. Dentre estes pacifistas se encontra Karl Kautsky6. Uma pequena minoria critica o pacifismo sentimental pequeno-burguês e convoca os trabalhadores à guerra revolucionária pela derrota de suas respectivas burguesias. Estes últimos, denominados “der-rotistas”, agrupam Lênin e os bolcheviques, Trotsky, Martov e alguns mencheviques (Rússia) e Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht e Franz Mehring (da ala revolucionária da social-democracia alemã) que chamam a construção de uma nova Internacional. Esta posição irá frutificar na Revolução de Outubro, onde os bolcheviques de fato transformaram a guerra imperialista em guerra civil contra a sua burguesia.

A guerra de 1914 resultava das próprias necessidades do capitalismo, da sua luta pelos mercados e pelas fontes de matéria prima. A luta contra a guerra não pode ser colocada na base de simples manifestações de protesto pacifistas ou de apelos sentimentais. Apenas pela via revolucionária, o proletariado poderá libertar-se – e a toda humanidade – do sangrento e contínuo caos imposto pelo capitalismo decadente. A única política justa para os trabalhadores consiste, portanto, na transformação da guerra imperialista de rapina em guerra civil revolucionária.

Lênin liderava, a partir daquele momento, não apenas uma facção da social­democra-cia russa (os bolcheviques), mas uma minoria valorosa da Internacional que se manteve fiel ao marxismo. Confrontava-se com Kautsky,  que através de seu pacifismo conciliara com os social-chauvinistas traidores do internacionalismo proletário.

Entre 5 a 8 de setembro de 1915, realizou-se na pequena aldeia suíça de Zimmerwald, a Conferência Socialista Internacional, onde reuniram-se 38 delegados internacionalistas de  12 países. Em minoria na conferência, Lênin e Trotsky se aproximam, compreendendo que a reivindicação de paz só adquire sentido quando se reivindica a luta revolucionária. Formou-se, então, a Esquerda de Zimmerwald.

O IMPERIALISMO E A GUERRA

O caráter imperialista daquela guerra foi vigorosamente denunciado por Lênin. Mas era ainda necessário esclarecer à vanguarda sobre o significado do imperialismo na história da humanidade. Em junho de 1916 concluiu a mais importante contribuição para o desenvolvimento da economia política depois de “O Capital” de Marx, o livro “O Imperialismo – etapa superior do capitalismo”.

O imperialismo é, na definição de Lênin, “o capitalismo no seu mais alto grau” (O imperialismo...), quando os grupos monopolistas (cartéis, sindicatos, trustes) repartem entre si, em primeiro lugar, o mercado interno, apoderando-se da produção dos seus países de origem e, em seguida, impulsionados pela elevada concentração de capitais e pela sede incessante de lucros, buscam a partilha do mundo.

Na fase imperialista do capitalismo, que se consolidou entre o fim do século XIX e princípio do século XX, os cartéis estabelecem entre si acordos sobre preços, condições de venda, prazos de pagamentos, áreas do mercado, etc, monopolizam as fontes de matéria-prima, a mão-de­obra especializada, os meios de transporte e de comunicação, convertendo-se em base de toda a vida econômica. O capital financeiro surgiu a partir da fusão do capital bancário com o capital industrial, sob essa base, nasceu a oligarquia financeira. Ao lado da exportação de mercadorias que caracterizava o capitalismo da livre concorrência, surgiu com maior intensidade a exportação de capitais excedentes dos países imperialistas.

A disputa por colônias entre os grupos monopolistas visa arrancar do adversário todas as possibilidades de concorrência. Apropriam-se do solo, das jazidas de ouro, ferro, petróleo, etc. O poder da oligarquia financeira subordina “inclusive os Estados que gozam de uma independência política completa” (Idem), mantendo estreitas relações com os governos dos países semicoloniais e coloniais. Para impedir que uma fonte de matéria­prima caia nas mãos de um concorrente, um truste pode levar o governo do país a nacionalizá-la, estabelecendo o monopólio do Estado. A luta encarniçada entre as potências imperialistas pelo domínio das colônias provoca inevitavelmente a guerra. Nos países imperialistas, a oligarquia financeira, às custas da exploração dos trabalhadores das colônias e semicolônias, corrompe um setor do proletariado, aburguesando-o e formando uma aristocracia operária, base social do reformismo, do oportunismo e do social-chauvinismo que infestaram a II Internacional.

Travando o desenvolvimento das forças produtivas, o capitalismo monopolista produz crises cada vez mais profundas. A cada crise reduzem-se as possibilidades de solução nos marcos do próprio sistema. O imperialismo é o “capitalismo parasitário ou em decomposição” (Idem). Como última etapa de desenvolvimento do modo de produção capitalista, o imperialismo é a época de guerras, revoluções e contra-revoluções, torna-se, também, na acepção de Lênin, a “ante-sala do socialismo”.

ABAIXO A POLÍTICA DE COLABORAÇÃO DE CLASSES: “TODO PODER AOS SOVIETES”

No início de 1917, o descontentamento generalizado causou a queda do czarismo. Lênin estava em Zurich quando soube da Revolução de Fevereiro. Começou imediatamente a articular o seu retorno à Rússia através da Alemanha.

O governo do kaizer Guilherme II, que tinha interesse que a Rússia saísse da guerra, aprovou a passagem de Lênin pelo território alemão. Várias organizações operárias e socialistas de diversos países divulgaram uma declaração de apoio à atitude de Lênin. Porém, os seus adversários aproveitaram a sua jogada para caluniá-lo, acusando-o de estar a serviço de Guilherme II. Lênin chegou à estação da Finlândia, no dia 3 de abril (16 de abril no calendário gregoriano adotado na Europa ocidental), e é recebido por uma grande multidão de operários e soldados. Logo subiu em um carro de combate e, dirigindo-se aos operários, soldados e marinheiros, pronunciou um discurso que denunciava o governo provisório e conclamava o proletariado à revolução socialista.

Antes de chegar à Rússia, ainda no exílio, Lênin já vinha defendendo, através de uma série de artigos intitulados “Cartas de Longe”, a linha política que o partido deveria adotar: denunciar o caráter de classe do governo provisório; impulsionar a criação de milícias operárias cuja missão seria converter-se em órgão executivo dos  sovietes, organismos de poder do futuro Estado operário e preparar imediatamente a tomada do poder pelo proletariado.

Essas  posições provocaram a reação dos dirigentes locais do partido, que compunham a redação do Pravda: Kalinin, Muranov, Olminsky, Stalin e outros. Lênin abandonava a palavra-de-ordem de “ditadura democrática de operários e camponeses” e advogava a passagem para a revolução socialista. O Pravda, publicando a primeira dessas cartas, cortou  parágrafos essenciais, que definiam o caráter contra­revolucionário do governo provisório e a traição dos líderes mencheviques. Stalin, Kamenev, Olminski e os demais integrantes da redação do Pravda inclinavam-se para o apoio condicional ao governo provisório, julgavam que pela pressão poderiam modificar a sua política e articulavam a unificação com os mencheviques.

Ao chegar em Petrogrado, Lênin reorienta o partido, expondo aos delegados bolcheviques da Conferência Panrussa dos Sovietes suas famosas “Teses de Abril”, em que defendia que o Governo Provisório, por seu caráter burguês, não podia realizar nenhuma das reivindicações das massas trabalhadoras. Era inconcebível “exigir” que aquele governo assinasse a paz e renunciasse às anexações, como fazia o Pravda (dirigido por Kamenev e Stalin). A situação política peculiar no país consistia no fato de que a Revolução de Fevereiro havia dado o poder à burguesia, em função da imaturidade de consciência e organização do proletariado para tomar todo o poder em suas mãos. Portanto, a orientação correta para o partido deveria ser o “desmascaramento, em vez da ‘exigência’ inadmissível e semeadora de ilusões de que este governo, governo de capitalistas, deixe de ser imperialista” (Teses de Abril). Suas teses sustentavam que os sovietes de operários eram a única forma possível de governo revolucionário, mas enquanto os bolcheviques ali estivessem em minoria, só poderiam desenvolver um trabalho de crítica e esclarecimento. Tratava-se de desmascarar a direção menchevique e socialista-revolucionária (Cheidze, Tseretelli, etc.) como cúmplices da contra-revolução e mostrar a necessidade de que todo o poder de Estado passasse para os Sovietes de deputados operários.

Stalin e Kamenev se opunham a Lênin, dizendo que este estava mal informado e que as Teses exprimiam opiniões pessoais, contrárias à política adotada pelo Pravda até então. Para combater estas posições centristas e rotineiras, Lênin teve que recorrer às bases do partido, à discussão aberta, para derrotar os apologistas do governo provisório e conseguir a aprovação de suas concepções. As bases, que desde o início, reagiam à orientação direitista e semimenchevique desses dirigentes, aprovaram toda a linha das Teses de Abril. Lênin conseguiu ainda o ingresso no Partido Bolchevique da Organização Interdistrital, cujo líder era Leon Trotsky, que desde 1905 afirmava que somente a revolução proletária na Rússia poderia concluir as tarefas democráticas burguesas e iniciar as tarefas de construção do socialismo.

Também em suas Teses, Lênin declara a bancarrota de Zimmerwald e convoca a sua Esquerda a fundar a III Internacional. No mesmo documento propõe a mudança do nome do partido, de social-democrata para comunista, como se definiram Marx e Engels em seu Manifesto.

 “O ESTADO E A REVOLUÇÃO”: DESTRUIR A MÁQUINA DE DOMINAÇÃO BURGUESA, CONSTRUIR O PODER PROLETÁRIO

Com a queda do czarismo, estabeleceu-se a dualidade de poderes: de um lado, o governo da burguesia, o Governo Provisório do príncipe Lvov, Miliukov, Kerensky & Cia; de outro, o Soviete de Operários e Soldados de Petrogrado, apoiado na maioria do povo e nas milícias operárias. Essa dualidade de poderes era característica de uma situação revolucionária que não se definira, revelando um impasse na luta de classes. Um dos poderes teria que triunfar sobre o outro.

Diante de tal situação, as massas agitavam-se, procurando realizar suas reivindicações. Na frente de batalha, os soldados desertavam; nas fábricas e oficinas, os operários chocavam-se com os patrões e os camponeses apossavam-se das terras.

Em maio, a primeira crise eclodiu. Miliukov, líder da burguesia liberal, renunciou ao cargo de ministro das Relações Exteriores e o Soviete de Petrogrado votou por um governo de coalizão, onde os socialistas (mencheviques e socialistas revolucionários, os SR´s) possuiriam cinco membros num total de quinze. Kerensky assumiu o Ministério da Guerra. O povo continuou sem paz, sem pão, sem terra. A inquietação crescia entre as massas que para Lênin, “estavam mil vezes à esquerda dos socialistas-revolucionários e dos mencheviques e cem vezes à esquerda dos bolcheviques”.

Nos dias 3 a 5 de julho (16 a 18), milhares de operários e soldados realizaram espontaneamente manifestações armadas que o Partido Bolchevique considerou prematuras. O partido interveio, organizando uma retirada ordenada, evitando assim, a derrota das massas como resultado de um assalto precoce ao poder, que à época limitar-se-ia à “Comuna” de Petrogrado, preservando a revolução do isolamento e dos erros que levaram ao estrangulamento da Comuna de Paris.

Após as “jornadas de julho”, o governo Kerensky desencadeou as perseguições aos bolcheviques. Trotsky, Kamenev e outros são detidos, mas a maioria dos militantes, portando documentação falsa, volta à clandestinidade em que se encontrava até fevereiro. Lênin foi acusado de estar a serviço do governo alemão e o Comitê Central do Partido Bolchevique decide preservá-lo, escondendo-o na Finlândia, onde ficará até início de outubro. O líder bolchevique sabia de sua importância vital para o partido, não podia deixar-se cair nas mãos da repressão.

Neste momento, Lênin avalia que: “‘Todo poder aos sovietes!’ era palavra-de-ordem de desenvolvimento pacífico da revolução, que de 27 de fevereiro até 4 de julho foi possível e, como é natural, o mais desejável a todos, porém hoje já é absolutamente impossível” (A respeito das palavras-de-ordem). Após a reação subseqüente às jornadas de julho, manter esta palavra-de-ordem “significaria enganar o povo” (idem). Não seriam os sovietes dirigidos por partidos que conspiravam contra a revolução proletária e conciliavam com a burguesia que tomariam o poder. Para isto, era preciso derrotar os mencheviques e os SR´s nos Sovietes e fortalecer as milícias armadas, construindo na fusão destes organismos um Estado maior da Revolução sob direção bolchevique.

Na Finlândia, traçou o plano de assalto ao poder estatal para realizar imediatamente a revolução, estudando como estabelecer a ditadura do proletariado e qual seria a estrutura que viria a ter o futuro Estado operário. Escreveu, então, “O Estado e a Revolução”. Baseado nas observações de Engels, Lênin concluía que o Estado é um órgão de dominação e opressão de uma classe sobre outra, constituído, antes de tudo, de destacamentos de homens armados com certos suplementos materiais, como, por exemplo, os cárceres. Expunha assim, a essência da questão do Estado que separaria definitivamente os revolucionários dos reformistas.

Todo Estado, independentemente da forma de governo, mantém o monopólio da violência e a repressão organizada a serviço da ditadura de uma classe. Embora possa revestir-se das mais distintas formas (república democrática, monarquia, etc.) a ditadura da burguesia será sempre a imposição da vontade social da burguesia sobre o proletariado.

A democracia burguesa “é o melhor invólucro do capitalismo e por isso o capital, depois de se ter apoderado desse invólucro, alicerça o seu poder tão solidamente, tão seguramente, que nenhuma substituição, nem de pessoas, nem de instituições, nem de partidos na república democrática burguesa pode abalar este poder” (O Estado e a Revolução), afirmava Lênin para concluir que o sufrágio universal, que tanto seduz os democratas pequeno-burgueses e reformistas e embeleza a democracia burguesa, é mais um instrumento de dominação burguesa, servindo, no melhor dos casos, para os revolucionários medirem o grau de maturidade da classe operária. O proletariado não pode apossar-se simplesmente do velho aparelho de dominação da burguesia, precisa destruí-lo e instaurar a sua própria ditadura, o seu próprio Estado: “A substituição do Estado burguês pelo proletário é impossível sem revolução violenta” (Idem).

A Ditadura do Proletariado é uma forma de Estado, uma forma de “violência organizada e sistemática” (Idem). Porém, enquanto a democracia capitalista serve a uma insignificante minoria, é a “democracia para os ricos”, a ditadura do proletariado realiza, pela primeira vez, a democracia para os pobres, impondo uma série de restrições à liberdade dos antigos opressores e exploradores, para libertar a humanidade da escravidão assalariada. “Democracia para a imensa maioria do povo e repressão, pela força, isto é, exclusão da democracia, para os exploradores, para os opressores do povo, eis a modificação que sofrerá a democracia na transição do capitalismo para o comunismo” (Idem).

Ao final, Lênin evoca os ensinamentos de Marx e Engels no que diz respeito ao destino do Estado operário. Após a ditadura proletária, a expansão mundial da revolução socialista suprime as diferenças de classes, resultando então na própria extinção do Estado a partir do desenvolvimento da sociedade comunista. “O proletariado toma o poder de Estado e começa por transformar os meios de produção em propriedade do Estado. Mas, com isto, suprime a si próprio como proletariado, com isto suprime também o Estado como Estado. (...) O Estado não é ‘abolido’, extingue-se”7.

A VITÓRIA DA REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE

A reação às Jornadas de Julho animaram a burguesia e um setor do Exército a concluírem que chegou o momento de aplicar um golpe decisivo ao processo revolucionário. O responsável pela missão de organizar o golpe de Estado bonapartista contra o governo provisório e instaurar um governo decidido a afogar em sangue a revolução é o próprio general de Kerensky, Kornilov. Mas em uma das lições mais brilhantes da revolução, os bolcheviques derrotam o golpe de Kornilov sem, no entanto, apoiar Kerensky, ao qual acusam de propiciar o golpe. Com esta política principista, os bolcheviques organizam dentro dos sovietes a reação proletária armada ao golpe, constituindo destacamentos de guardas vermelhos, a greve dos ferroviários e o motim dos soldados contra seus generais. Esmagam o bonapartismo e enfraquecem ainda mais o governo provisório.

A partir daí os bolcheviques conquistam a maioria nos sovietes de soldados e operários de Moscou e Petrogrado, elegendo Trotsky presidente deste último no dia 9 de setembro (22). Chegara o “momento da viragem da história da revolução ascendente, em que a atividade revolucionária do povo é mais forte, em que as hesitações são mais fortes nas fileiras do inimigo e nas dos amigos vacilantes da revolução” (Carta ao CC do Partido Bolchevique, Marxismo e a Insurreição). Mas o fato de estarem dadas as condições objetivas para a revolução não significa que os bolcheviques que dirigiam os sovietes pudessem se furtar da imprescindível tarefa de organizar a tomada efetiva e imediata do poder, rompendo com as ilusões que este viesse a ser transferido pacificamente para os sovietes.

A decisão de realizar a insurreição armada havia sido tomada pelo Comitê Central do Partido Bolchevique, em reuniões realizadas em 10 de outubro (23), por proposta apresentada por Lênin. A partir das resoluções do CC, criou-se dois dias depois o Comitê Militar Revolucionário, junto ao Soviete de Petrogrado, sob o comando de Trotsky. A situação de dualidade de poderes alcançara o seu limite. Lênin via a necessidade imperiosa da insurreição, sob pena de triunfar a contra-revolução.

Na madrugada de 24 para 25 de outubro (6 e 7 de novembro), operários, soldados e marinheiros deslocaram-se sob o comando do Comitê Militar Revolucionário do Soviete de Petrogrado, ocupando usinas de energia elétrica, centrais telefônicas, estações ferroviárias, armazéns, arsenais, tipografias, o banco oficial, enfim, transferindo todas as bases materiais do Estado e da ordem burguesa, que foram tomadas para o controle do Soviete.

O partido precisava passar imediatamente ao ataque decisivo. A demora na insurreição equivale à morte da revolução.Pela manhã do dia 7, o Partido Bolchevique declarou ao mundo que havia tomado o poder em nome do proletariado. O governo provisório fora deposto. Seu principal representante, Alexandre Kerensky fugira, enquanto seus ministros o esperavam atônitos no Palácio de Inverno, último reduto do governo burguês que cairia sob o poder dos bolcheviques nas próximas horas.

A ofensiva final sobre o Palácio de Inverno teve início durante a noite do dia 7 com os disparos de festim do cruzador Aurora, que Trotsky ordenara para intimidar os ministros ali refugiados. No Smolny, ao mesmo tempo, se iniciava o II Congresso dos Sovietes e os mencheviques, assustados, ouviam os tiros. Estavam inquietos. Trotsky subiu à tribuna e incisivamente denunciou-os:"Sois uns miseráveis indivíduos isolados. Estais em bancarrota. Desempenhastes o vosso papel. Ide para o lugar que vos pertence: para a lata de lixo da história”.

Lênin só subiu à tribuna na sessão do dia seguinte. Leu a Proclamação aos Povos e aos Governos de todos os Países Beligerantes, propondo a abertura de negociações para o estabelecimento de uma paz democrática, justa, imediata e sem anexações. Anunciou o fim da diplomacia secreta e que publicaria todos os decretos feitos pelo Governo Provisório até 7 de novembro, denunciando todas as suas cláusulas que visavam a proporcionar vantagens aos grandes capitalistas e latifundiários.

A República dos Sovietes não proferia ultimatos. Estava disposta a examinar todos as propostas que se lhe fizessem para uma saída do conflito. Lênin sabia que os governos das potências imperialistas se oporiam à sua proposta. Seu objetivo, na verdade, era ganhar politicamente os operários das três nações mais adiantadas: Inglaterra, França e Alemanha, de quem esperava obter apoio incondicional ao nascente governo soviético.

A insurreição bolchevique havia triunfado, mas o governo dos sovietes ainda precisava consolidar seu poder e estendê-lo ao resto do país. Mencheviques e socialistas-revolucionários exigiam um governo de coalizão com os bolcheviques, sem Lênin e Trotsky. A burocracia de dezesseis ministérios entrou em greve. Sabotagem e boicote ameaçavam a existência do Estado operário. Os junkers, filhos da aristocracia que estudavam na academia militar, promoveram a luta contra-revolucionária nas ruas de Petrogrado. A imprensa venal imperialista desenvolvia em nível mundial uma campanha de calúnias e de mentiras contra a nascente República dos Sovietes. Disseminavam grotescamente que a insurreição não passava de um jogo político do kaizer para que a Rússia se retirasse da guerra para favorecer a Alemanha. Lênin e Trotsky seriam agentes do imperialismo alemão! Kerensky e Kaledin, chefe dos cossacos na região do Don, começam a articular a guerra civil.

A LUTA PELA REVOLUÇÃO PROLETÁRIA MUNDIAL

A guerra imperialista impunha às massas a morte em defesa dos interesses dos capitalistas e da decadente nobreza russa. A simples possibilidade de aliviar uma frente de batalha, para concentrar as forças onde a contra-revolução ameaçava, justificaria a política de Lênin para obter a paz de Brest-Litovsk. A defesa intransigente de sua posição salvou o Estado operário. A República Soviética pôde reorganizar suas forças e triunfar heroicamente sobre os exércitos de 14 países que a invadiram.

O sucesso da revolução e do socialismo na Rússia, entretanto, dependeria da vitória da revolução mundial. Na Alemanha, somente o pequeno grupo de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht apoiou a revolução de Outubro.Uma frente reacionária foi erguida pelos chefes social-chauvinistas da II Internacional, que através de Karl Kautsky, passaram a atacar abertamente o bolchevismo, o Estado soviético e a ditadura do proletariado. Lênin tinha, então, de combater a contra-revolução não apenas nas frentes da guerra civil, mas, também, no campo político e ideológico.

Para condenar a Revolução de Outubro, Kautsky desenvolveu uma falsificação grosseira do marxismo, afirmando que Marx, ao utilizar a expressão ‘ditadura do proletariado’, referia-se a uma situação que deveria decorrer da “democracia pura”. Se o proletariado constituísse a maioria política estaria assegurada a transformação social “pacificamente, portanto, por via democrática”. Lênin em seu livro “A Ditadura do Proletariado e o Renegado Kautsky” desmascara o chefe da II Internacional como um renegado do marxismo ao demonstrar que este “deturpou de forma mais inaudita o conceito de ditadura do proletariado, transformando Marx num vulgar liberal, isto é, desceu ele próprio ao nível do liberal que lança frases vulgares acerca da ‘democracia pura’, escondendo o conteúdo de classe da democracia burguesa, opondo-se acima de tudo à violência revolucionária por parte das massas oprimidas”.

Enquanto existirem classes diferentes, é claro que não se pode falar de “democracia pura”, na verdade, uma frase vazia que revela uma profunda ignorância da luta de classes e da essência do Estado, pois “na sociedade comunista a democracia, modificando-se e tornando-se um hábito, extiguir-se-á, mas nunca será uma democracia pura” (A Ditadura do Proletariado e o Renegado Kautsky). O Poder Soviético, baseado na organização direta dos trabalhadores possibilita que as próprias massas organizem o Estado e participem da sua administração. Portanto, a democracia proletária, “é um milhão de vezes mais democrática que a mais democrática república burguesa” (Idem).

O que o social-chauvinista Kautsky temia, na verdade, era o surgimento de sovietes na Alemanha e em outros países europeus, ou seja, o desenvolvimento da revolução mundial. Para evitar isso, copiava servilmente as lamentações dos mencheviques (Martov, Axelrod, Stein, etc.) de que os sovietes não deveriam aspirar a tomar o poder e tornar-se organizações estatais.Entretanto, enquanto os oportunistas russos podiam fundamentar suas súplicas, afirmando que a Rússia era um país atrasado que necessariamente teria de passar por uma etapa democrática, burguesa, Kautsky não podia dizer o mesmo da Alemanha, de capitalismo desenvolvido.

A vitória do proletariado na Rússia favoreceu o desenvolvimento da revolução proletária mundial, que amadurecia a olhos vistos não só na Europa, mas em todo o mundo. Em 9 de novembro de 1918, Lênin tomou conhecimento do início da revolução na Alemanha, com a formação de sovietes em várias cidades. Porém, o poder foi usurpado pelos social-democratas de direita que, liderados por Scheidemann8, aliaram-se aos militares do antigo regime e enterraram a revolução. Em 15 de janeiro de 1919, liquidaram a insurreição de Berlim, assassinaram Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, que haviam rompido com a social-democracia e fundado a Liga Spartacus, e três meses depois, derrotaram e massacraram os combatentes da jovem República Soviética de Munich, na Baviera.

Na etapa revolucionária que se seguiu ao pós-guerra, a experiência vitoriosa do bolchevismo no processo revolucionário russo apontava o caminho a ser seguindo pelo proletariado mundial. A Internacional Comunista, nasceria após a vitória bolchevique na Revolução de Outubro, em março de 1919, quando se instalou em Moscou o congresso de fundação da III Internacional, mais um importante passo na vida do velho militante bolchevique em sua luta pela revolução proletária internacional.

Além de delimitar-se com o oportunismo, era necessário que a jovem internacional, impulsionada pelo bolchevismo, também combatesse os desvios dos esquerdistas influenciados pelo anarquismo. Em 1921, Lênin escreve “Esquerdismo: doença infantil do comunismo” contra os que se opunham por princípio a fazer qualquer tipo de compromisso, a intervir nos sindicatos burocratizados, nas eleições e no parlamento burguês, levando o movimento à esterilidade. Recomendava, porém, consagrar “todos os esforços para que a cisão dos esquerdistas não dificulte, ou dificulte o menos possível a fusão necessária, inevitável, num futuro próximo, num só partido de todos que tomam parte no movimento operário e são partidários sinceros e de boa-fé do Poder dos Sovietes e da ditadura do proletariado” (idem).

LENIN CONTRA A BUROCRACIA STALINISTA

A última batalha de Lênin em defesa do partido e da revolução dirigiu-se contra a burocratização do Estado soviético, o enfraquecimento do monopólio do comércio exterior e o fortalecimento das tendências nacionalistas no partido. Dirigiu-se, então, contra Stalin que como secretário-geral do Partido Comunista concentrara em suas mãos um enorme poder. Nas páginas de sua Carta ao XII Congresso do PC, que ficaria conhecida como seu Testamento, deixou clara a sua posição: “Stalin é demasiado rude e este defeito, perfeitamente tolerável nas relações entre comunistas, é intolerável no posto de secretário-geral. Proponho, portanto, aos camaradas que vejam o modo de retirar Stalin desse posto e nomeiem outro homem que o supere em todos os sentidos, isto é, que seja mais paciente, mais leal, mais afável e mais atento com os camaradas”. Após a morte de Lênin, em 21 de janeiro de 1924, sob a direção de Stalin, operou-se na URSS uma contra-revolução política baseada nas concepções antimarxistas de “socialismo num só país” e de “coexistência pacífica” com o imperialismo. Para concretizar esta política, a burocracia perseguiu e assassinou milhares de bolcheviques. Em 1943, Stalin liquidou a III Internacional, fundada por Lênin e Trotsky, para tranqüilizar os blocos imperialistas beligerantes, dando uma demonstração efetiva de seus propósitos de deter a revolução mundial.

A VIGÊNCIA DO LEGADO TEÓRICO LENINISTA

A defesa da revolução proletária internacional e a luta para construir o partido mundial do proletariado – objetivos que orientaram toda a vida de Lênin – ficaram inteiramente sob a responsabilidade de Leon Trotsky que, em 1938, fundou a IV Internacional, contrapondo-se à degeneração stalinista que impôs sucessivas derrotas ao proletariado mundial com sua desastrosa política de Frente Popular, uma reedição da política de colaboração de classes da social-democracia e do menchevismo.

Hoje, passados 91 anos da morte de Lênin, a sua principal obra, o Estado operário soviético, já não existe mais. Foi destruído pelo golpe contra-revolucionário e pró-imperialista encabeçado por Boris Yeltsin, em 1991, que restaurou o capitalismo na URSS, abrindo uma etapa histórica de profundo retrocesso ideológico e político, marcada pela quebra das conquistas sociais dos trabalhadores em todo o mundo e por um processo de ofensiva imperialista cada vez mais amparado na agressão militar contra os povos e as nações oprimidas.

Para os Marxistas Revolucionários, que não se curvaram diante da ofensiva ideológica do imperialismo, cabe a tarefa de resgatar o legado teórico e político de Lênin como ferramenta elementar na construção do partido revolucionário para libertar o proletariado da influência dos agentes da burguesia (reformistas e revisionistas) e do imperialismo, colocando o movimento operário internacional novamente sob a bandeira da revolução proletária mundial e do socialismo. Nos dias atuais essa tarefa se concentra em enfrentar uma conjuntura mundial contrarrevolucionária, pois sem sombra de dúvidas o atentado em Paris fortalecerá um curso político conservador em toda a Europa e no planeta. A resposta do proletariado, seguindo as melhores tradições do legado nos deixado por Lênin, deve se apoiar nas camadas mais exploradas da população, que conhecem muito bem o terrorismo estatal contra os bairros pobres e povoados por imigrantes. Diante da ofensiva reacionária e xenófoba, colocar de pé a bandeira da construção do partido revolucionário leninista que marche pela emancipação política e social do conjunto do proletariado!

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