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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

CONIVENTE COM A FASCISTIZAÇÃO, O PT SERÁ POR ELA TRAGADO

Texto de Celso Lungaretti*


"O que o PT parece perder de vista é que, como sempre acontece na história com os partidos fracos, gelatinosos, dispostos a todas as concessões e vilanias, a sua política policial se voltará, mais cedo ou mais tarde, contra ele mesmo. E isso pode acontecer logo que, despido de sua auréola e credibilidade por força da violência que criou e tem gerido, deixe de ser um instrumento útil nas garras da fauna de bilionários que hoje se alimenta do Estado. Nesse momento, o criador será entregue como repasto para sua criatura."


A advertência é do filósofo Bajonas Teixeira de Brito Jr., num extenso artigo que deve ser lido e avaliado com muita atenção pelos cidadãos que não aceitam viver debaixo das botas: O Brasil reinventa o totalitarismo – a nova máquina policial, publicado no Congresso em Foco (ver íntegra aqui).

Eis os trechos principais:

Não é fácil compreender como o ovo da
serpente pôde ser chocado no governo do PT
"Há muitos sintomas que hoje indicam a eclosão de uma forma peculiar de totalitarismo no Brasil... [e] ainda temos que descobrir o que está por trás dos traços totalitários que se avolumam.

Observamos esses traços se ramificarem em diversas direções: nas alterações (sempre para cima) dos contratos bilionários das empreiteiras; nas concessões inconstitucionais para as obras da Copa e outros megaeventos esportivos, que (...) assumem a forma de um efetivo Estado de Exceção, com as garantias constitucionais anuladas em benefício da especulação imobiliária e outros grandes interesses econômicos; o mesmo aparece nos projetos colossais, como o do Plano Nacional de Banda Larga, em que salta aos olhos o modo com que, como faca quente sobre a manteiga, os 'parceiros' do governo federal infringem ou denunciam os acordos no mesmo dia em que os firmam e obtém os privilégios que Estado algum concederia.

Por fim, o que provoca estremecimento e pavor, temos as operações policiais destinadas aos pobres e aos movimentos sociais, cada vez mais aparatosas em que se pode admirar a pujança do aparelhamento da repressão: helicópteros blindados em sobrevôo rasante, enormes carros blindados, viaturas novinhas em folha, armaduras articuladas com proteção amortecedora e design futurista, semelhantes às dos soldados americanos no Iraque, veículos especiais para transporte rápido de grande quantidade de cavalos, utilização da cavalaria como técnica de cerco e perseguição, etc.

"...estamos dentro de uma espiral
de violência e repressão..."
Uma atenção especial merece esse último aspecto, a força repressiva, em vista da escalada da violência policial que se cristalizou em diversos acontecimentos repulsivos nos últimos tempos.

Os fatos (...) deixam pouca margem a dúvidas. Sua concentração em janeiro de 2012, é sintomática. Estamos dentro de uma espiral de violência e repressão policial que ultrapassa a média histórica, já extremamente alta, que caracterizou sempre a história de um país elitista e discriminador. Um tripé repressivo, que envolve o judiciário, a polícia e a política, manipulando uma consciência pública cada vez mais debilitada (...) está bem montado e, tudo indica, atuará daqui para frente sempre com maior ferocidade. Estamos já muito além de acontecimentos episódicos e passageiros. Há por trás de tudo isso um comércio de armamento, viaturas, blindados, helicópteros, munições, armas, etc. O Rio de Janeiro já é palco de uma das maiores feiras mundiais, a Feira Internacional de Segurança, para a aquisição de armamentos destinados à repressão pública.

O que já está em prática é um projeto [de  superpolícia], que foi articulado pelo então ministro da defesa, Nelson Jobim, que evocou à época a 'expertise' adquirida pelo exército em conflitos urbanos na missão do Haiti... Uma conclusão que se pode tirar nessa altura é a seguinte: se um ministro da defesa é quem articula um projeto policial, em que o exército, a marinha e aeronáutica são peças decisivas, então o inimigo contra o qual o país pretende se defender é um inimigo interno. Ao longo da história, nos regimes totalitários, o ponto crucial foi sempre o domínio sob o aparato policial visando a liquidação do 'inimigo interno'.

A repressão direcionada contra o "inimigo
interno" é característica do totalitarismo
O que não é fácil de compreender é como, no governo de um partido que sempre se disse comprometido com as causas populares, foi chocado o ovo da serpente. Enquanto há pouco mais de uma década discutia-se ainda o absurdo da existência de duas polícias, a militar e a civil, e se falava na extinção de uma delas para a consolidação do sistema democrático, o que acompanhamos nos últimos tempos foi o reforço de toda a maquinaria policial: o uso da Polícia Federal contra mobilizações sociais (...), a criação da Força Nacional de Segurança Pública, a mobilização das Forças Armadas para operações em favelas, o fortalecimento da divisão da polícia em Civil e Militar, a quase que autonomia dos batalhões especiais, como o Bope.

O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) disse (...) que a Policia Militar transformou em 'praça de guerra' a ação de reintegração de posse da área invadida do Pinheirinho...

Mas como é possível tanto cinismo, se os instrumentos dessa guerra foram criados por esse governo e por sua base política?"
(*) Jornalista e escritor
Disponível em: http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2012/01/conivente-com-fascistizacao-o-pt-sera.html

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Comentário de LUTA TOTAL:

O PT de hoje já era previsível desde a muito tempo.

Sua façanha futurística ficou escrita com a formação de suas lideranças junto ao Iadesil (Instituto Americano de Desenvolvimento do Sindicalismo Livre) e sua adesão à CIOLS (Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres), vide CUT/PT.

Na verdade, esse encontro histórico na rota política de suas lideranças, moldou-os para o exercício daquilo que estamos vivendo.

A criminalização dos movimentos sociais e, o uso permanente do aparato repressivo militarizado é a tarefa que terão de cumprir diante de suas opções passadas.

Infelizmente, diante deste quadro quase irreversível, o PT já foi tragado pela sua face ideológica fascistizada. Boa parte dos movimentos sociais sob a sua tutela, já estão ficando órfãos.

Por isso, passa a ser uma tarefa histórica aos partidos e aos movimentos de esquerda se fazerem presentes, mais do que nunca, na defesa e no apoio sistemático aos movimentos sociais organizados.

Essa tarefa histórica ficou evidente aos camaradas que atuaram junto a comunidade de Pinheirinho em São José dos Campos em São Paulo.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Quem ganhou com o massacre do Pinheirinho?



Leia artigo de Guilherme Boulos* e Valdir Martins (Marrom)**


"A movimentação que levou o Pinheirinho da regularização ao despejo teve três atores principais: o Judiciário paulista, a prefeitura do município e o Governador Geraldo Alckmin. A sintonia desta orquestra macabra varreu todas as tentativas de acordo e solução negociada ao problema dos moradores."





editorial anterior

Há poucos meses atrás, em setembro, as manchetes dos jornais de São José dos Campos estampavam a notícia de um acordo para regularizar o bairro do Pinheirinho. Após sete anos, as 1.600 famílias dessa comunidade teriam sua situação de moradia resolvida. O secretário estadual de habitação e representantes do Ministério das Cidades vistoriaram pessoalmente a área para fechar o acordo. Houve muita festa entre os moradores.

Quatro meses depois, em 22 de janeiro, a polícia militar de São Paulo - a mando do governador e legitimada pelo Tribunal de Justiça - inicia uma operação de guerra, que terminou com o despejo da comunidade, dezenas de presos e feridos e 7 desaparecidos. Um massacre do Estado contra trabalhadores que queriam apenas o elementar direito de permanecer em suas casas. Quanto à dimensão e covardia das agressões nem é preciso insistir, pois as imagens que circularam nos jornais e na internet falam por si. A questão é: como se deu esta reviravolta?

A movimentação que levou o Pinheirinho da regularização ao despejo teve três atores principais: o Judiciário paulista, a prefeitura do município e o Governador Geraldo Alckmin. A sintonia desta orquestra macabra varreu todas as tentativas de acordo e solução negociada ao problema dos moradores.

E contou ainda com a silenciosa e discreta omissão do Governo Federal. "Em nome do pacto federativo"... Que pacto? Aquele que os tucanos e o TJ rasgaram ao desconsiderar a corajosa decisão da Justiça Federal, que impedia a desocupação? Pois é, porque havia uma decisão judicial do TRF a favor dos moradores do Pinheirinho. De fato, percebemos nossa ingenuidade em acreditar que decisões judiciais sejam cumpridas, quando favorecem os mais pobres e prejudicam gente como Naji Nahas, dono-grileiro do terreno do Pinheirinho.

Mas o que unia aqueles que trabalharam em favor do despejo? A juíza de São José, Marcia Loureiro, foi uma combatente incansável: validou e revalidou liminares, recusou-se a receber autoridades e representantes dos moradores, dentre outras proezas. Se houvesse um "Prêmio Naji Nahas" certamente seria ela a ganhadora deste ano. Tem lá os seus interesses, que infelizmente não temos provas suficientes para expô-los. Acusar sem provas? Pois é, o judiciário brasileiro é aquele em relação ao qual Paulo Maluf costuma orgulhar-se de não ter qualquer condenação. Bom bandido é aquele que não deixa rastro.

A juíza Marcia Loureiro contou com a aprovação irrestrita do presidente do TJ, desembargador Ivo Sartori, que autorizou a PM a "reprimir força policial federal que eventualmente se opusesse à ação". Ambos pertencem ao Tribunal que está assolado de denúncias de corrupção, super-salários e sonegação fiscal por parte de vários de seus desembargadores. Que moral e legitimidade têm eles para definir o destino de famílias trabalhadoras brasileiras?
Encontraram, porém, ombro amigo no governador e no prefeito de São José, ambos do PSDB. Vale lembrar, o mesmo partido do então governador do Pará que, em 1996, ordenou o massacre de Eldorado dos Carajás.


Articularam e autorizaram a operação de guerra que, na calada da noite, tomou de assalto o Pinheirinho. O que ganharam com isso? A resposta está na lista de seus financiadores de campanha, recheadas de empreiteiras, incorporadoras, especuladores imobiliários e das empresas de Naji Nahas - que, junto com Daniel Dantas, esteve na vanguarda das privatizações do governo tucano de FHC.

Assim, o que uniu os agentes que trabalharam pelo despejo do Pinheirinho foi a prestação de um valioso serviço ao capital imobiliário. Essa ocupação representava uma verdadeira pedra no sapato, não apenas de Nahas, mas dos "empreendedores" imobiliários de São José dos Campos. Está localizada numa região de expansão imobiliária, onde ainda restam muitas áreas vazias, sob um forte assédio de construtoras e incorporadoras. Ora, nem é preciso dizer que pobres morando no entorno desvalorizam os futuros empreendimentos, em especial os condomínios para alta renda.

Por isso, o despejo do Pinheirinho era uma reivindicação antiga do capital imobiliário daquela região. Permitiria não só liberar a própria área da ocupação, como também valorizar as áreas dos bairros vizinhos. E principalmente no atual momento, em que São José passa por um processo especulativo de valorização de terras inédito, por ter sido contemplado pelo "Pacote Copa-2014", por meio do trem bala, que passará por esta cidade.

Convenhamos então que nem o governador Alckmin, nem o prefeito Cury, nem mesmo os honoráveis magistrados do TJ-SP poderiam negar um pedido tão importante de amigos tão valiosos. A presidenta Dilma, que também teve sua campanha eleitoral fartamente financiada por construtoras, nada fez para impedir. Poderia ter desapropriado o terreno, mas não o fez. As cartas estavam marcadas.

Os editoriais de grandes jornais se apressaram em condenar os invasores de terra alheia e atribuir o conflito a interesses de partidos radicais, que teriam contaminado os pobres moradores. É preciso recordar àqueles que concordam com estes argumentos que a imensa maioria das periferias urbanas brasileiras resultou de processos de ocupação. Pela inexistência de política pública para a moradia, parte expressiva dos trabalhadores brasileiros nunca tiveram outra alternativa. Pretendem então despejar dezenas de milhões de famílias que vivem em áreas ocupadas?

Além disso, não é demais lembrar que a idéia dos "maus elementos radicais manipulando uma massa ingênua" foi o argumento preferido da ditadura militar para desqualificar os movimentos de resistência. Parte da tese conservadora de que o povo brasileiro é naturalmente pacato e resignado, só se movendo por influência externa.

Suponhamos, porém, juntamente com a Secretária de Justiça de São Paulo, Heloísa Arruda, que declarou que "a legalidade está acima dos direitos humanos", que os "invasores" tivessem mesmo que ser despejados. Mesmo neste cenário, a questão poderia ter sido conduzida de forma muito diferente.

Basta tomarmos um exemplo recente, que ocorreu em Taboão da Serra, município da região metropolitana de São Paulo. No início de 2011, foi determinado o despejo de uma área ocupada por 900 famílias organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. Encarregado de fazer a desocupação, o Coronel Adilson Paes exigiu simplesmente que a lei fosse cumprida para os dois lados: exigiu do Poder Público a garantia de um local de alojamento para as famílias despejadas, bem como todos os meios necessários para o tratamento humano daquelas pessoas.

Logo após, por algum motivo obscuro, o Coronel Adilson foi afastado do comando do batalhão. Mesmo assim, sua postura foi suficiente para permitir que houvesse uma solução pacífica e negociada neste caso. Não estranharemos se o Coronel Messias, que comandou com mão de ferro e uma boa dose de sadismo, a operação de guerra do Pinheirinho receber - não um afastamento - mas alguma medalha ou promoção ao Comando Geral da polícia militar. É assim que as coisas funcionam.

É triste constatar que o que ocorreu no Pinheirinho não foi um fato isolado. Trata-se de expressão de uma política, conduzida pela especulação imobiliária e seus amigos no Estado, que coloca a valorização das terras e os lucros com os empreendimentos bem acima da vida humana. Este processo, aliás, tem se tornado cada vez mais cruel com as obras da Copa do Mundo 2014. Infelizmente, outros Pinheirinhos virão.

* Guilherme Boulos, membro da coordenação nacional do MTST, militante da Resistência Urbana - Frente Nacional de Movimentos e da CSP Conlutas.

**Valdir Martins (Marrom), liderança da comunidade do Pinheirinho (MUST), militante da Resistência Urbana - Frente Nacional de Movimentos e da CSP Conlutas.

Disponível em: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2012/01/502954.shtml

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O Pinheirinho é do povo!!!


Vai bater na tua mãe gambé fdp, covarde e oportunista!


Nenhum apoio as greves de policiais civis e militares em todos os tempos!

Fora os bate-pau da burguesia!


Lamarca dizia: O Exercito e a Policia Militar ensinam o filho do operario a odiar o povo...



A Policia Militar faz parte da superestrutura do estado burguês, por isso, gambé não é povo!!!



                                        

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O AVANÇO DA FASCISTIZAÇÃO EM SP E A OMISSÃO DO PT

Texto de Celso Lungaretti*

Passando por cima de uma decisão da Justiça e antecipando-se à solução negociada que estava bem encaminhada e possibilitaria um desfecho pacífico, o Governo Alckmin novamente deu demonstração estúpida de força, desta vez contra os coitadezas escorraçados da Ocupação Pinheirinho.





Tudo que havia a ser dito sobre a fascistização em curso no estado de São Paulo, balão de ensaio e ponta de lança do golpismo em escala nacional, eu já disse no recente artigo Terrorismo na USP: tentaram mandar o Sintusp pelos ares.

O novo episódio vem exatamente na esteira dos anteriores, intensificando a escalada de agressões aos movimentos organizados e aos sacos de pancada de sempre, os excluídos.

Só me resta renovar o alerta aos petistas: seu partido, como bem notou o colunista Melchiades Filho (vide aqui), está acomodatício e condescendente diante da sucessão de descalabros autoritários da dupla Alckmin-Kassab. Age segundo as conveniências da política menor, sem perceber que está em jogo algo muito maior e extremamente preocupante.

Os versos de Brecht caem como uma luva nesta situação:


Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.


(*) Jornalista e escritor






terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Gráfico de visitas no blog de acordo com o Google...

Agradeço a todos pelas visitas neste blog.
Sejam bem vindos. Estarei sempre tentando mante-lo atualizado

Os “brancaleones” do Pinheirinho e a luta pelos sonhos impossíveis



Wilson H. Silva


da redação do Opinião Socialista

Hoje, 14 de janeiro, a Folha de S. Paulo estampou em mais de um quarto de sua capa uma foto mostrando uma tropa, no mínimo, inusitada, formada por algumas dezenas de pessoas, “armadas” com pedaços de pau, vestindo capacetes de motocicleta e empunhando escudos claramente feitos de material reciclado.

Abaixo da foto, o editor de um dos principais jornais do país, acrescentou outras imagens, detalhando alguns dos objetos: caneleiras construídas com cano de PVC, escudos de barril de plástico, um escudo feito de antena-parabólica, uma lança com uma coroa de bicicleta e uma faca na ponta. Na legenda abaixo da foto, explicava-se a cena: o grupo era formado por “moradores de uma área invadida desde 2004, em São José dos Campos”, em “trajes de guerra” para enfrentar uma possível reintegração de posse, pela polícia.

Todos nós, envolvidos na luta contra toda forma de exploração e opressão, ao contrário de enxergarmos invasores – ou ficarmos apavorados, ou vermos a história como uma “bizarrice” (como, certamente, pretendiam os editores da Folha) –, com certeza reconhecemos os valorosos lutadores do Pinheirinho e nos empolgamos e nos comovemos com sua disposição de luta em defesa do mais do que justo direito à moradia.

Contudo, os mais antigos na militância revolucionária, com certeza, também tiveram sua atenção chamada para uma comparação que a Folha e outros órgãos da grande mídia fizeram entre a imagem e o personagem central de um filme italiano, de 1966: O incrível exército de Brancaleone, de Mario Monicelli.

“Branca, branca, branca... aqui estão os soldados de Leon”

Na matéria da Folha, os repórteres Giba Bergamini e Jorge Araújo afirmam que, como no filme italiano, que mostra um “grupo de soldados maltrapilhos que se arma para defender suas terras, tudo é improviso”.

O que eles não disseram, mas que, certamente, ecoou na cabeça de muita gente que militou entre o final dos anos 1970 e o início dos 80, é que o filme excepcional também inspirou o grito de guerra de milhares de ativistas, principalmente jovens, que, na época, militavam influenciados pelas ideias e posições políticas do líder da Revolução Russa, de 1917, Leon Trotsky.

Naqueles anos em que, pouco a pouco, punhados de gente e movimentos foram se levantando contra a monstruosa da ditadura e o sistema que havia se beneficiado com ela; onde houvesse uma luta, em qualquer assembléia ou nas passeatas dos movimentos estudantis e sindical, não era incomum que, do nada, irrompesse, a plenos pulmões, em uníssono, o aviso de que os “troscos” estavam na área: “É Branca, Branca, Branca…Leon, Leon, Leon…aqui estão os soldados de Leon”.

A adoção pelos trotskistas do grito de guerra se dava porque a relação entre o anti-herói de Monicelli e o líder revolucionário era inevitável. Trotsky foi um dos principais líderes da primeira onda revolucionária na Rússia, ainda em 1905; depois, organizou o liderou o Exército Vermelho, que garantiu a vitória da Revolução. E, como isso não bastasse, dedicou o resto de sua vida à luta contra a burocratização e degeneração do Estado Operário, sob a batuta sanguinária de Josef Stalin.

Assassinado a mando de Stalin, em 1940, no México, Trotsky deixou como sua principal herança a Quarta Internacional, um partido internacional da Revolução, que desde então (pelo menos entre aqueles que, realmente, se mantiveram fiéis às idéias do revolucionário russo), de forma sempre minoritária, mas incansavelmente aguerrida e coerente, tem dado continuidade à luta contra o capitalismo e os contra-revolucionários.

No processo de democratização, ao se identificarem com o filme, aqueles militantes não estavam fazendo nada mais do que incorporar (de forma genial) a essência da comédia satírica de Monicelli. Uma essência que, em grande medida, foi traduzida pelo jornalista Paulo Moreira Leite, em uma crônica que escreveu para a Revista Época, em 30 de novembro de 2011, quando Monicelli faleceu, aos 95 anos.

Como lembra Moreira Leite, o que fazia com que os “soldados de Leon” se vissem como parte do incrível exército de Brancaleone era o fato de que eles haviam reconhecido a si próprios naqueles maltrapilhos, que, nas palavras do jornalista, “atravessam cidades destruídas pela peste, enfrentam o frio e a fome, perseguem sonhos e miragens — mas seguem fiéis a si mesmos e a seu modo de vida, com aventuras e risco. Não perdem o humor nem a capacidade de auto-ironia. Sabem que em algumas situações é mais importante não desistir do que vencer”.

Tirando a conclusão, a descrição não só caia (e sempre há de cair) como uma luva para os “troscos”, como também é a tradução fiel do povo do Pinheirinho e, hoje, particularmente, do seu aguerrido “batalhão anti-choque”. A começar, inclusive, pelo alto grau de ironia que há nos “uniformes” dos companheiros e companheiras. Mas, com uma diferença: desta vez, em S. José, também como no filme, é possível vencer.

Os “sonhos impossíveis” de brancaleones, quixotes...

No filme, Monicelli escracha o sistema e todas as instituições de poder vigentes na época em que a história se passa (a Idade Média) através de uma ácida sátira, na qual o anti-herói Brancaleone e seus homens (um bando de pobres e marginalizados recolhidos pelo caminho) enfrentam a peste negra, a violência do exército sarraceno, as imposições da igreja bizantina e os bárbaros, em defesa de um pedaço de terra.

Exatamente por ser contrária à própria lógica do sistema econômico medieval (o feudalismo, baseado no monopólico das terras pela Igreja e pelos nobres), a luta do exército de Brancaleone é tida como um sonho impossível, um delírio utópico, uma fantasia alucinada, assim como eram as ações do protagonista do clássico da literatura no qual o filme foi assumidamente inspirado: Dom Quixote de La Mancha, escrito por Miguel de Cervantes, entre 1605 e 1615.

Se Quixote era um nobre falido que, inspirado pela excessiva leitura de romances, parte em busca de aventuras num mundo idealizado, Brancaleone é sua versão mais ácida, já influenciada pelos ventos libertários e rebeldes que vagavam pelo mundo em 1966 e, em breve, iriam populizar o “sonho” da juventude: “Seja realista, exija o impossível”.

Brancaleone é um pobre, ultra atrapalhado, que, marginalizado pela sociedade, vive de pequenos expedientes que, no fim das contas, só afetam as instituições e moral da época. O fato é que seu sonho e daqueles que o acompanham (ter um pedaço de terra) é tido como impossível. Tal qual o de Dom Quixote e o título de uma belíssima música de Chico Buarque, feita para um musical escrito com Ruy Guerra, em 1972, no auge da ditadura e da perseguição política, quando muitos sonhavam com a “impossível” liberdade.

Versão de um musical norte-americano, também inspirado na obra de Cervantes, Sonho impossível tem uma das mais belas e inspiradas das letras de Chico, desde seus cortantes versos de abertura: “Sonhar / Mais um sonho impossível / Lutar / Quando é fácil ceder / Vencer o inimigo invencível / Negar quando a regra é vender”. Uma letra que também tem tudo a ver com os nossos Brancaleones e Quixotes que hoje resistem no Pinheirinho.

Por trás de cada capacete, por trás de cada prego que foi colocado na ponta de um “tacape” (rústico, mas eficiente), ao lado de cada um dos integrantes do “batalhão anti-choque” do Pinheirinho, estão os sonhos de um exército cuja força é gigantesca, apesar de todos os pesares. Homens e mulheres que, até mesmo no seu dia-a-dia são capazes de provar que há como transformar o impossível em realidade.

Gente que foi muito bem definida pelo companheiro que a reportagem da Folha identificou como “chefe da tropa” e, por razões óbvias, recusou-se a dar seu nome: “É um exército de pedreiros, metalúrgicos, ajudantes. Pessoas que acordam às 5h para trabalhar e voltam para casa”. Um verdadeiro, digno e heróico exército de Brancaleone.

Um exército que ao desafiar a lógica da propriedade privada e exercer seu legítimo direito de autodefesa em relação às ações sempre violentas e criminosas das forças de repressão que estão a serviço desta lógica, está, mesmo sem saber, entoando uma das partes mais bonitas e significativas da canção de Chico: “É minha lei, é minha questão / Virar esse mundo / Cravar esse chão / Não me importa saber / Se é terrível demais / Quantas guerras terei que vencer / Por um pouco de paz”.

Mas não é só isto que ecoa da imagem e das ações criadas pelos companheiros e companheiras do Pinheirinho. Há nelas, também, a lembrança dos ensinamentos, muitas vezes poéticos, de um outro sujeito sobre o qual muita gente do Pinheirinho (mas, nem todos) certamente nunca ouviu falar: Vladimir Lênin, outro “Quixote” que, a sua maneira, acreditava em sonhos.

“Sonhos: acredite neles”

Em um de seus mais memoráveis escritos, Lênin nos lembra: “É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho, de observar com atenção a vida real, de confrontar a observação com nosso sonho, de realizar escrupulosamente nossas fantasias. Sonhos, acredite neles”.

E é exatamente isto que os moradores do Pinheirinho e seu exército estão fazendo: transformando sonho em realidade. São heróicos e corajosos maltrapilhos que decidiram se defender diante da real possibilidade de verem seus sonhos destruídos, suas casas derrubadas, seus filhos e filhas, irmãs e irmãos, pais e mães e, acima de tudo, companheiras e companheiros, serem agredidos e presos.

Se, no mundo da ficção, a tropa anti-choque do Pinheirinho é, sim, herdeira do incrível exército de Brancaleone, no mundo real, as Marias e Zezinhos, os da Silva, os Souzas e os muitos anônimos que, hoje, formam o comitê de defesa em São José dos Campos devem estar ainda mais orgulhosos por terem conquistado o direito de, para sempre, integrarem a verdadeira tropa de elite da História: o Exército dos Lutadores.

A disposição de luta, a garra, a coragem e a sede por justiça demonstradas na forma como estão defendendo sua comunidade lhes dá o direito de figurarem entre uns tantos outros brancaleones que não fugiram da raia, mesmo quando todos diziam que o “sonho era impossível”.

“Maltrapilhos” destemidos, todos os escravizados, explorados e oprimidos que já se levantaram contra seus senhores, patrões ou algozes. Negros, brancos, nordestinos e desterrados valentes como os marinheiros de João Cândido que baniram a chibata dos navios. Mulheres guerreiras como Dandara, que organizou o exército do Quilombo dos Palmares, ou Luiza Mahin, que liderou a Revolta dos Malês, em Salvador.

E, por fim, distante dos motivos insinuados pela mídia, os brancaleones do Pinheirinho também merecem esse codinome por terem conseguido reavivar e fazer vibrar em cada um de nós, comprometidos com a luta contra toda forma de exploração e opressão, uma sensação que a classe dominante (e seus muitos aliados, inclusive aqueles que hoje se encontram nas esferas governamentais) jamais conseguirá entender ou sentir.

Ao criarem seu pequeno exército, os moradores do Pinheirinho nos fizeram lembrar daquilo que alguns podem chamar de quixotesco, mas que se torna real em cada ação como a que está em curso em São José dos Campos: a certeza de que vale a pena lutar; a crença determinada de que não há risco, perigo ou ameaça que possam se colocar entre os explorados e a conquista de tudo a que temos direito, a confiança inabalável que esta luta sempre terá, ao lado de cada um de nós (ou daqueles que nos sucederem), gente com a disposição brancaleônica dos moradores do Pinheirinho.



Gente que, agora, com certeza, não hesitará a se alistar no batalhão do Pinheirinho para impedir que seus direitos sejam violados. Até a vitória!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

ZUMBIS DO CRACK: O HORROR, O HORROR!

Texto de: Celso Lungaretti*

Mãe de 38 anos foi presa em Goiânia sob a acusação de haver tentado trocar a filha de 2 meses por pedras de crack. Policiais militares a encontraram num terreno baldio, depois de receberem denúncia anônima.

Testemunhas afirmaram que ela ofereceu a criança a várias pessoas num bar por 20 reais, além de haver proposto a barganha a um traficante.


Uns 15 anos atrás, morei próximo a um local onde uma instituição católica distribuía alimentos, roupas e cobertores aos viciados. Muitos acabavam ficando por lá mesmo.

Era deprimente ao extremo: fumavam seus cachimbos com a maior naturalidade, tinham acessos de violência contra transeuntes e motoristas, berravam frases desconexas, faziam sexo e defecavam em público.

Episódio grotesco. Certa vez, uma dessas moradoras de rua (como são ridículos tais eufemismos!) entrou no prédio e roubou uma colcha do varal do zelador.

Este alcançou a mulher na rua, mas ficou com vergonha de usar violência. Puxava a colcha e a fulana resistia. Os bêbados do boteco se deliciaram, zoando o Reginaldo com gracejos tipo "aposto na mendiga"...

Na sexta-feira passada, a caminho da rua Santa Ifigênia (centro velho de São Paulo), cruzei com uns 20 seres que pareciam tudo, menos humanos. Provavelmente, estavam procurando novo local para instalar-se, afugentados pela operação policial na Cracolândia.

Incrivelmente, seu aspecto era pior, bem pior que o de meus vizinhos indesejáveis do passado. Pareciam os zumbis dos filmes do George Romero: mortos se arrastando em câmera lenta, sem forças para mais nada. Duvido que algum deles veja o ano de 2013.

Por mais que me repugne a colocação de qualquer ser humano, contra a sua vontade, sob a tutela do Estado, os viciados em crack estão além de qualquer possibilidade de salvarem-se por si mesmos. Ou são recolhidos na marra e submetidos a tratamento na marra, ou morrem. É simples assim. É doloroso assim.

O horror, o horror!

P.S.: notícia de hoje do Agora, nos revela o que acontece com os que ainda querem salvar-se e aceitam ajuda médica. "Levados em vans da Secretaria Municipal da Assistência Social para a Assistência Médica Ambulatorial Boracea, usuários de crack esperaram ontem por oito horas para serem transferidos para clínicas de tratamento. Como não conseguiram vaga, voltaram para a cracolândia". Sem comentários.

(*) jornalista e escritor

Disponível em: http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2012/01/zumbis-do-crack-o-horror-o-horror.html

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

EX-RESISTENTES DEVEM FICAR FORA DA COMISSÃO DA VERDADE?

Texto de: Celso Lungaretti*

No meu artigo Comissão da Verdade: por que parou, parou por quê?, afirmei que "mais do que a mim mesmo, gostaria de ver na Comissão o companheiro Ivan Seixas, por sua atuação incansável contra os carrascos da ditadura e pelo magnífico papel que desempenhou no episódio das ossadas de Perus".






A companheira Tânia Veiga, participante destacada de fóruns de discussão da internet como o Portal Luis Nassif, levantou, nos comentários, uma objeção que deu ensejo à troca de idéias abaixo sobre a participação de ex-resistentes e figuras ligadas à ditadura na Comissão Nacional da Verdade.

Acredito que, no mínimo, sirva para lançar algumas luzes sobre o assunto --o que já justifica sua reprodução.





TÂNIA: IVAN SEIXAS NÃO

PODE, POR SER ATINGIDO





Ivan Seixas não pode, por ser atingido. Mas há muitos outros nomes interessantes.






CELSO: UM GOVERNANTE PRECISA

MOSTRAR CORAGEM POLÍTICA





Eu discordo totalmente do critério de que vítimas não possam participar. Carrascos, sim, têm de ser impedidos.

É uma daquelas ocasiões em que um governante precisa mostrar coragem política --como o Lula, quando não se vergou às pressões italianas no Caso Battisti.

E eram pressões bem maiores do que as de parlamentares reacionários.





 TÂNIA: DEVEMOS ENTENDER AS
REGRAS DA JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO


Justiça de Transição é uma área do direito recente, mas muito bem sedimentada, nascida no Tribunal de Nuremberg.


Se queremos que a Comissão da Verdade seja respeitada por que podemos vetar a participação dos carrascos e podemos aceitar a participação das vítimas? Essas devem relatar suas histórias e não participar das decisões. Isso que se deve entender! Como podemos pedir isenção se um dos participantes for atingido?





Se queremos que toda a sociedade aceite e respeite as decisões da Comissão devemos entender essas regras da Justiça de Transição!



CELSO: JAMAIS SERÍAMOS CAPAZES

DE LINCHAR MORALMENTE ALGUÉM



Não se pode igualar carrascos e vítimas, nem dar aos primeiros os direitos de réus.





Por um motivo óbvio: não se trata de um julgamento, mas sim de uma investigação histórica, para produzir um veredicto oficial sobre o período de exceção.





E não há hipótese nenhuma de que as autoridades e os agentes da ditadura sejam inocentes: são, de antemão, culpados. Conspiraram e derrubaram um governo legítimo, governaram sob terrorismo de estado e cometeram atrocidades de todo tipo.


A própria instituição das comissões de Anistia e de Mortos e Desaparecidos Políticos já implicou o reconhecimento de que houve arbítrio, houve vítimas do arbítrio e, consequentemente, culpados do arbítrio.


O que está agora em pauta é definir-se exatamente o que foi cometido e por quem, com finalidades históricas e não punitivas.


Neste sentido, cabe, sim, a participação de antigos resistentes, insuspeitos de tendenciosidade ou ânimo linchador.


P. ex., existe qualquer dúvida quanto à imparcialidade e espírito de justiça de Jacob Gorender, ex-dirigente do PCBR?


Você colocaria em dúvida minha imparcialidade e espírito de justiça?


Evidentemente, nós dois condenaremos esses carrascos, EM BLOCO, até o dia da nossa morte.


Mas, quanto às responsabilidades individuais, jamais seríamos capazes de linchar moralmente alguém. Talvez até lhes concedêssemos mais o benefício da dúvida do que quem não foi resistente.




E por que nós poderíamos participar da Comissão e não eles?


Pelo mesmo motivo que os nazistas foram julgados por seus inimigos em Nuremberg: em razão da monstruosidade dos crimes que cometeram.





Sendo que, lá, produziram-se condenações à morte.

Aqui se produzirá apenas um relatório.


Por tudo isto, eu repudio enfaticamente a falácia de parlamentares direitistas, viúvas da ditadura ou corvos que ela criou --pois foram eles que primeiramente impugnaram a participação de antigos resistentes na Comissão.

Faz sentido na lógica deles, de considerarem que os dois lados cometeram crimes.


Não faz sentido na lógica da civilização, que condena os crimes dos déspotas, mas reconhece o direito dos cidadãos de resistirem à tirania, inclusive pela via armada.


Então, faço um veemente apelo à presidente Dilma, que num dia longínquo de 1969 conheci como companheira Vanda: não cooneste tal falácia dos inimigos de ontem, de hoje e de sempre.


Sabendo que as práticas ditatoriais são indefensáveis numa democracia, já desistiram de eximir-se de suas culpas.


Tentam, isto sim, igualar-nos a eles, puxar-nos para baixo, para seu esgoto moral e para a lixeira da História.

É hora de dar-lhes a resposta digna e altaneira que merecem.

(*) Jornalista e escritor

Disponível em: http://ousarlutar.blogspot.com/2012/01/ex-resistentes-devem-ficar-fora-da.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+blogspot%2FvhpL+%28Ousar+Lutar%21%21%21+Ousar+Vencer%21%21%21%29

domingo, 1 de janeiro de 2012

A Moral e a Atividade Revolucionária - Parte II

 (Moral Bolche ou Moral Espontaneísta?)



Nahuel Moreno

Como Encaramos o Problema Moral

Terminamos a primeira parte de nosso trabalho rendendo nossa homenagem à moral guerrilheira. Quando criticamos as outras morais, assinalamos de passagem, que em alguns pontos e em determinados momentos podemos coincidir com a moral espontaneísta, sem deixar de criticá-la. Trata-se de ver porque razões e com que métodos encaramos nossa análise do problema moral, que expliquem estas contradições formais.

A chave de toda nossa analise e das soluções que propugnaremos, radicam no fato de que para nós a moral é relativa e adequada a determinadas relações objetivas entre os homens. Dessas relações cremos que há uma que é privilegiada, a relação como militantes do partido. Mas, que seja privilegiada não quer dizer que seja a única, que é a única relação enquanto homem, membro de uma classe, operário ou estudante de tal fábrica ou tal faculdade, noivo ou esposo de tal mulher, sócio de tal clube e membro de tal família, afiliado a tal sindicato, ativista de uma greve, estabelecemos uma série de relações e formamos parte de uma série de estruturas sociais. Concretamente o militante não é somente militante, homo politicus, mas homem de tal sociedade e localizado em tais setores.

Isto cria uma situação contraditória, já que tantas morais como estruturas sociais existem, segundo vimos anteriormente.

É a principal contradição que sofremos neste aspecto de nossa vida e conduta: a pressão de morais distintas sobre cada um de nós.

À solução pluralista do problema - "cedamos à moral de cada um desses setores" -, nós respondemos com uma solução unitária dessas contraditórias pressões. Todas elas devem ser mediadas pela moral e nossa condição de militantes do partido. Somos, então, afiliados ao sindicato-militante; esposo-militante; estudantes-militantes; operário-militante, etc. Todas essas diferentes localizações com suas pressões morais e das outras, nós as combinamos e tratamos de conseguir uma síntese neste caso moral, com nossa condição de militantes.

Nossa intervenção na vida da sociedade tem três níveis, poderíamos considerar talvez quatro. Um nas estruturas objetivas, externas ao partido e ao nosso círculo: a classe, o setor, a vizinhança, o sindicato, a tendência sindical ou artística a que pertençamos. A outra, a privilegiada, é nossa participação na estrutura partidária. A última, são as relações intimas com nossos amigos, companheiros, família, etc., incluindo as relações conosco mesmo como indivíduos biológicos e culturalmente condicionados. Em cada um desses níveis e setores, deve-se estabelecer uma solução dialética do problema, como o que encontramos para o homem-militante. É por outro lado, a mesma questão vista desde um outro ângulo.

Entre todos esses níveis, que vão do mais objetivo ao mais intimo e subjetivo, existe uma relação dialética, tudo esta mediado pelo nível partidário, base, principio e fim de toda nossa conduta, incluída a moral, em todos os níveis. Na classe, tanto como no sindicato ou na vizinhança, atuaremos como militantes do partido e tratando que nossa atuação, incluída nossa atitude moral, ajude ao desenvolvimento do partido e da revolução. O mesmo no terreno mais subjetivo, pessoal, nossas relações íntimas. O grande mediador de nossa moral, em seus distintos níveis, é o partido. Isto não quer dizer que não haja tendência à choques e que cada um de seus níveis tenha problemas, necessidades, princípios específicos, que possam provocar e provocam tensões, contradições agudas às vezes. Justamente quando dizemos mediador, queremos dizer que há uma relação dialética, ou seja, contraditória entre os distintos níveis que devem ser sintetizados pela moral e a conduta como militantes do partido.

Nossa Moral Frente à Classe Operária, as Outras Classes Exploradas e as Lutas do Movimento de Massas

As classes exploradas, nossa classe operária entre elas, têm de acordo com seu nível de consciência e organização, diferentes morais. Isso para nós é um fato objetivo. Inclusive diferentes setores dessas classes podem ter diferentes níveis morais. É muito diferente a moral de uma categoria que vive de obter muitos triunfos de grandes lutas, de outra categoria que suportou derrota após derrota. O mesmo com relação aos camponeses de uma região a outra.

As diferenças morais, assim como ideológicas, organizativas e políticas entre o guerrilheirismo e o espontaneísmo obedecem a essas razões objetivas, o diferente nível de suas lutas, como de sua consciência. Enquanto o espontaneísmo reflete a primeira grande onda de ascenso do movimento de massas na Europa Ocidental, depois de quase duas décadas de estancamento e retrocesso, o guerrilheirismo reflete uma situação pré-revolucionária, uma consciência e organização que se lança à guerra civil, a máxima expressão da luta de classes. O primeiro, ao contrario, expressa somente as primeiras etapas da luta.

Dai suas profundas diferenças e a proximidade entre o guerrilheirismo e nós no problema moral, como frente a outros problemas, sem chegar a ser o mesmo. Essa proximidade esta provocada por nosso acordo na continuidade e organização da ação revolucionária, dos métodos de guerra civil. Depois desse acordo, nossas diferenças em todos os terrenos se acentuam.

A moral de nossa classe operária, por exemplo, é muito diferente tanto do guerrilheirismo, como do espontaneísmo. Seu nível de consciência e organização foi, e seguem sendo em grande medida, essencialmente sindical. Desenvolveu uma moral adequada à sua conduta de varias décadas: alto grau de disciplina sindical, apoio e sacrifício por suas organizações sindicais e todas as outras características da moral sindicalista. Tem muito pouco de guerrilheira e espontaneísta, ainda que agora alguns setores juvenis, ligados à vanguarda do movimento estudantil, começam a ter outra conduta e logicamente outra moral que se aproxima objetivamente a certas características espontaneístas e guerrilheiras e que podem ser caldo de cultura para o desvio guerrilheiro urbano.

Como militante e como partidos nacionais de um partido mundial, não podemos deixar de militar nesses movimentos, ao nível que se dêem, observando sua moral. Mas nossa atuação política e moral tem um objetivo, mostrar que a nossa é superior, tender a eleva-los não só politicamente, mas também moralmente. Para isso, impõe-se que sejamos os melhores na própria moral deles. Isto já o disse Trotsky em uma famosa fórmula: devemos ser o melhor soldado, operário, ativista sindical. Na simplicidade dela, sintetizou tudo o que vimos dizendo: somos os melhores na moral das classes exploradas em todos os seus níveis, desde os mais baixos até os mais altos. Nas fábricas, os preguiçosos são mal vistos, vai contra a moral dos setores operários mais responsáveis, melhores; Trotsky tirou uma conclusão moral lógica, temos que ser os melhores operários, os que mais trabalhamos, para ser os que melhor representamos a moral deles. Se em um determinado momento da luta de classes, um setor importante do movimento considerar que não há que produzir nada para o patrão, nós trocaremos pela raiz nossa moral e deixaremos de ser o melhor operário para nos transformarmos, desde o ponto de vista produtivo, no pior. A forma de nossa moral estará mudada, mas seu conteúdo e objetivos não, já que seguimos sendo os melhores representantes da moral da classe operária ou dos explorados em seu nível.

Mas, se nossa moral parasse aí, estaríamos fazendo seguidismo moral. Nosso objetivo moral é estabelecer uma ponte desde essa conduta moral comum até nossa moral. Cada militante do partido não só tem essa moral, mas a combina com a partidária e, portanto, em cada momento trata de superar, principalmente essa moral sindical ou de base operária, até uma moral superior, de classe e internacionalista. Seremos não só os melhores operários, os ativistas sindicais mais disciplinados, sacrificados e lutadores, mas também os que colocaremos que temos que parar por Che Guevara, e que temos que ser solidários moralmente com os guerrilheiros vietnamitas ou nossos próprios mártires. É que cada um de nossos militantes, reflete moral e politicamente o partido em sua conduta diária e não só o setor de classe ao qual pertence.

Nossa Moral Frente ao Partido

Chegamos assim, da moral que temos em nossa vida exterior objetiva, à partidária. Esta é a decisiva, já que como vimos anteriormente, a moral e a política do partido é a intermediária de todas nossas ações. Toda nossa moral, tanto objetiva como subjetiva, está condicionada por nossa condição de militante do partido.

A obrigação moral número um, fortificar o partido, responder-lhe com a própria vida, considerar o dever moral mais sagrado, valha a expressão neste caso, a vida partidária e o desenvolvimento da organização. Todos os sacrifícios são poucos: vivemos por e no partido, para o partido.

Essa colocação tem seus reflexos em nossas relações morais com os companheiros do partido. Com um camarada do partido se estabelece uma relação moral de tipo único, nova, não conhecida por nenhuma das morais tradicionais, que chegaram ao máximo nas seitas religiosas revolucionárias ou nas relações familiares da burguesia na época de ascenso. O princípio que não há nada superior entre os homens como indivíduos que um camarada do partido. É o princípio superior de nossa moral neste terreno das relações pessoais dentro do partido. Portanto, lhe devemos franqueza, a sinceridade mais absoluta salvo por razões de segurança do próprio partido. Mas muito mais que isto, o camarada do partido merece todos os cuidados e considerações. Não há nada nem pode haver sacrifício em favor do camarada que não façamos. Somos, devemos ser, muito mais que sua família, irmãos, filhos ou pais, na etapa de ascenso da moral familiar. Pelo companheiro do partido se arrisca a vida, se faz qualquer sacrifício. O princípio moral é que a vida, a consciência e o próprio corpo físico do camarada do partido valem muito mais que qualquer um. É uma relação abstrata concreta de tipo pessoal única, justamente o que a faz superior a todo o conhecido até o momento. Os camaradas do partido, em sua ampla maioria não se conhecem, mas as obrigações morais não são por isso menos peremptórias. São companheiros e basta, todo o dito anteriormente sobre os nossos princípios valem. Um camarada boliviano perseguido pela repressão, chega a nosso partido e cada um de nós jogará a vida, se for necessário, para protege-lo, ainda que jamais haja ouvido falar dele. A nível interpessoal, este dever moral é a outra cara do principal dever moral a nível de todo o partido, fortalece-lo, desenvolve-lo. Isto não se consegue só com uma boa linha política, mas, de forma concreta, levantando e fortificando, salvaguardando e enriquecendo a moral física, a personalidade, o nível dos companheiros do partido. Nossa obrigação moral é fazer todos os sacrifícios para consegui-lo. Por isso nosso acordo de princípio com a moral guerrilheira, esse alto nível da luta de classes, com respeito ao camarada de luta. Opinamos a esse respeito o mesmo que eles, com a diferença que eles o aplicam de forma específica, em relação fundamentalmente à sua vida e seu corpo, dado o caráter unilateral de sua luta, enquanto nós o desenvolvemos em relação a todos os aspectos da personalidade dos companheiros.

Nossos Deveres Frente a Amizade, o Amor, o Parceiro e a Família Como Retaguarda do Partido

Se a vida no mundo e dentro do partido nos impõe obrigações morais específicas, o mesmo ocorre com as relações subjetivas, íntimas e ao mesmo tempo mais concretas: a amizade, o amor, o parceiro e a família. Estas são nossas relações diárias, de pessoa para pessoa. São as relações sociais mais atomizadas, mas não por isso deixam de ter, como toda relação social; sua moral. Esta também mediada pela condição de militante, mas com suas características específicas.

Antes de mais nada essas relações não têm porque ser relações entre militantes. Ainda que isso possa provocar, melhor dito, provoca situações conflitivas, estas podem ser superadas, inclusive conseguindo-se que o pólo não militante da relação se transforme em militante, rompendo a relação ou conseguindo um equilíbrio relativo. Cada uma destas relações têm suas obrigações morais bem precisas. Todas elas se caracterizam por estabelecer relações que ligam o individual, cultural e, em algumas delas, o biológico. Por isso é o setor mais isolado da macro sociedade, como dizem os sociólogos. A relação não é essencialmente política como no partido, nem as relações objetivas que nos são impostas, como as da luta de classes.

A primeira destas relações é a da amizade. É a de um militante com outro militante ou com quem não o seja. Esta relação se estabelece por um passado, afinidades, desejos ou atividades comuns, muitas vezes por combinação de todos estes fatores. Se consegue assim um vínculo muito mais estreito e concreto que o existente entre militantes. Se a amizade é entre estes, o ideal moral, é a relação já histórica entre Engels e Marx. Tudo o que dissemos entre as relações de companheirismo dentro do partido adquirem aqui uma nova dimensão, porque já não somente a vida e a personalidade do outro é muito mais que o de si mesmo, como também seus próprios problemas pessoais, seus anseios ou muitos deles, valem tanto ou mais que os nossos. Se estabelece um vínculo de anseios, preocupações comuns, em todos os níveis, que obrigam quase a considerar o amigo mais que a si mesmo. Tenho dado o exemplo de Marx e Engels, porém poderia dar a nível partidário a relação entre duas camaradas amigas que é um magnífico exemplo do que venho dizendo. É não ter segredos para o amigo, consultar e resolver juntos os problemas mais íntimos, é uma das obrigações morais principais.

O amor é um grau superior das relações interpessoais, já que complementa ou enriquece a amizade em seu nível mais alto, com as afinidades sexuais e sentimentais.

Se não se dá a nível de militantes, pode ocasionar contradições parecidas às existentes entre os amigos que estão na mesma situação. Porém se é entre militantes me dá pena não ser um bom escritor para refletir tudo o que ele significa de grandioso, profundo, valioso. Creio que aqui começamos a conseguir as mais altas relações interpessoais que tem dado a história, porque o amor entre companheiros, supera todos os níveis dessa categoria humana que recém foi descoberta na Idade Média, e que tem tido um desenvolvimento infeliz através da história.

Em nosso movimento, graças a ele, esta categoria pode conseguir seu pleno e total desenvolvimento. É uma unidade, equilíbrio muito delicado de tipo biológico, sentimental, pessoal e político-partidário. A principal obrigação moral frente ao amor é ser consciente que ele se constrói e reconstrói permanentemente, que não é algo estático, mas dinâmico, uma unidade dinâmica que sempre está se desenvolvendo.

Temos frente a ele todas as obrigações da amizade, com os complementos sentimentais e individuais, que nos coloca o caráter específico desta unidade. Porém o amor é um equilíbrio delicado, como já dissemos. Quando se solidifica surge a parceria e a família, como uma estrutura muito mais sólida.

A parceria é a estrutura monogâmica cujo embasamento é o amor. A parceria é o ideal como moral e estrutura interpessoal, a máxima expressão. É o surgimento de uma unidade que fortalece e estabiliza aos dois componentes, que multiplicam suas forças como conseqüência dessa unidade superior. As obrigações morais entre os membros da parceria são quase totais. É a síntese de todas as outras obrigações morais interpessoais, porém enriquecidas e aprofundadas. A família, os filhos, é a ampliação desta parceria e coloca problemas de outro tipo que seria longo analisar aqui.

Todas estas estruturas interpessoais, se são autênticas, fortificam a militância partidária, porque fortalecem a personalidade e o desenvolvimento do militante. Que é melhor ter uma companheira estável, militante, totalmente integrada consigo mesmo, que nos permita consultar-lhe todos os problemas, como ela faz conosco, que nos permite solucionar todos os problemas individuais, de toda ordem, desde os biológicos aos culturais para ter a moral e o tempo suficiente para militar. Não são estruturas antagônicas, mas complementares.

Porque entre o partido com seus militantes e estas relações se estabelece uma relação única, específica e diferente. É o terreno da moral subjetiva a que tem que ver com nossa militância objetiva, nos sindicatos e na classe.

O partido cuida e intervém diretamente nos aspectos morais objetivos: expulsa sem nenhuma consideração o companheiro que fura uma greve. No terreno interpessoal, a intervenção partidária é indireta e muito mais sutil, cuidadosa, através da opinião ou reprovação partidária, já que justamente por serem relações interindividuais, a dinâmica e as relações que se estabelecem são únicas, concretas, que requerem apreciações também únicas. Isto quer dizer, que o partido tem mais que normas, que também devem tê-las, tendências, consensos.

Por isso o partido, seus militantes, devem defender com todas as suas forças casais que se vão construindo, e fazendo pressão pela via do convencimento moral, da necessidade destas parcerias. Somente em situações excepcionais estas tendências morais em favor do amor e da parceria, podem transformar-se em normas estritas de tipo objetivo. Por exemplo, a norma moral dos guerrilheiros vietnamitas de impedir as relações sexuais entre guerrilheiros para impedir a gravidez das guerrilheiras, é perfeitamente lícita. A de evitar o "adultério" burguês em situações críticas, como prisão ou perseguição do companheiro, utilizando justamente essa situação, principalmente por companheiro de direção do partido, também pode ser transformado em norma ou pelo menos que haja consenso moral de falta grave. Porém em linhas gerais neste terreno a moral é mais subjetiva que objetiva, atua por pressões e tendências mais que normas estritas.

Temos precisado a linha partidária e dos militantes frente ao aspecto moral que devemos observar com referência a uma série de estruturas interpessoais que o partido considera muito úteis, progressivas e necessárias. Nos falta precisar que linha deve ter o militante interessado que constitui essas estruturas.

Este companheiro, deve ser mais cuidadoso que tudo, já que tem além de suas obrigações como militante, as morais que derivam de seu caráter de companheiro ou amante de uma companheira ou de uma mulher. Sua relação está mediada também por seu caráter de militante. Tratar de elevar a sua parceira, se a relação entra em crise, tratar de evitar que frustre o progresso de cada um dos integrantes, evitar a promiscuidade antes de começar uma relação, fazendo com que esta seja a mais séria possível desde seu início, com perspectivas. Cuidar antes de começar esta relação amorosa se a outra parte sairá beneficiada ou prejudicada. Sempre, a todo o momento, como militante, não pensar em si mesmo, mas na outra parte, respondendo as perguntas: a ajuda?, a prejudica?, que faço para que se supere? são desejos o que tenho e a observo e considero como um objeto ou pelo contrário, meus desejos estão mediados por minha moral de militante e, além disso e principalmente, creio que pode se estruturar algo sério, que a beneficie e a mim, que nos supere a ambos? Estas perguntas morais são as decisivas e só o fato de que as coloque significa um começo de solução a este problema.

Porque atentar para todos estes aspectos por parte de todos, o partido, seus militantes e as partes interessadas, é parte essencial ainda que muito sutil de nossa militância.

Trotsky chamava as famílias dos revolucionários de "a retaguarda da revolução". Me parece um acerto do Velho, ainda que o tenha definido em uma situação histórica distinta da nossa, que restringe o conceito.

Ele se referia essencialmente à família ampla, patriarcal russa, as mães, pais, irmãos. Na pátria de Don Leon a família patriarcal era muito forte. Todas as classes russas, desde a burguesia até a baixa nobreza, passando por todas as exploradas, estavam em luta contra o czarismo. Era lógico que as famílias patriarcais considerassem e ajudassem seus filhos como vanguarda da luta geral e comum de todos contra o czarismo.

Porém na família moderna, a família patriarcal já não existe mais, e governos como o russo, tampouco. Vejamos a realidade de nosso partido. O comum é que os familiares dos companheiros presos, perseguidos, lavem as mãos ou dêem uma ajuda muito pequena, salvo exceções. Nem por essa nova realidade o conceito de Trotsky perde sua riqueza, pelo contrário, adquire uma nova magnitude. O papel que cumpria a família russa de apoiar em todos os aspectos desde o não político ao lutador, desde sentimental até material, o pode e deve cumprir agora relações interpessoais adquiridas e não herdadas, como a amizade, o amor, a companheira, a família. Somente os que estivemos presos ou perseguidos sabemos bem o que significa essa retaguarda moral e sentimental. Fortificar essa retaguarda é uma obrigação partidária de primeira ordem.

O companheiro ou companheira preso ou perseguido não deve sentir somente a solidariedade política e organizativa do partido ou do movimento de massas. Nem só de política vive o homem, mas também deve sentir o apoio amoroso, mais amoroso que nunca de seu amor, parceira e como do partido, mais carinhoso que nunca, de seus filhos e amigos. Quem não atua assim ou trata que não se atue assim é um traidor moral, se é um velho companheiro, ou um inconsciente se é um companheiro novo.

Como Solucionar as Necessidades Biológicas de Cada Militante

O militante, pelo fato de sê-lo, não deixa de ser homem ou mulher, com necessidades biológicas e culturais bem precisas e prementes

Chegamos ao primeiro escalão da sinceridade moral do militante com ele mesmo, de olhar-se no espelho e tirar conclusões de como atuar com ele mesmo. Começando com as grandes necessidades, a comida, o vestido, o sexo, principalmente este, a grande moda entre alguns setores partidários "antidogmáticos".

Aqui como em todos os outros níveis, a mediação para solucionar essas necessidades biológicas passa pelo caráter de militante. A solução biológica de tal forma, beneficia ou prejudica o partido e a revolução? É a pergunta moral que tem que ser formulada, dando uma resposta adequada.

Era um costume de alguns setores do movimento latino americano em velhas épocas, principalmente quando iam ao Chile, solucionar esse problema através dos bordéis, falando claro, através das prostitutas, por exemplo. Sempre considerei essa solução do problema escandalosa moralmente, já que a prostituição também é uma relação, e não um ato individual, no qual intervém dois elementos: o que paga e o que cobra; dos dois, o culpado é um só, o que paga. Os companheiros que pagavam uma prostituta estavam cometendo um ato repugnante de tipo moral, desenvolvendo uma das instituições mais repugnantes da sociedade de classes.

Porém este caso extremo não elimina os outros, os intermediários, os que se dão dentro do partido. Existem companheiros que têm ou tiveram a moral dos Combos: aproveitar as festas partidárias ou reuniões, para ver com quem se podia ir dormir. Isto tinha sido transformado, pela atual direção dos Combos, em uma religião: se faziam festas especiais para praticar a promiscuidade, que terminavam com "trepadas" quase coletivas, com uma divisão, reconheçamos o mérito, bastante eqüitativa de possibilidades, não ficava ninguém de fora. Em nosso partido, pela campanha da direção e em especial das companheiras dirigentes estudantis, que foram as primeiras a se levantarem indignadas contra as acusações que estes canalhas, que praticavam justamente esta moral, e lhes faziam, o assunto é mais dissimulado, mas sob a pele de cordeiro se escondem muitos lobos.

A essência dessa moral é: tenho uma necessidade biológica e tenho que satisfaze-la como posso, dentro ou fora do partido. Esta moral produz dois comportamentos estanques, totalmente separados, entre o biológico e o militante. Todo tempo livre, e se não há o busca, deve ser destinado à satisfação dessa necessidade biológica. Desde o ponto de vista psicológico, não sabe que assim não se satisfaz nunca a própria necessidade biológica porque transformada em um objetivo em si mesma, separada do companheirismo, do respeito mútuo, do acordo ou coincidência sentimental, cultural, partidário, militante e de atividade, o ato sexual por si só não soluciona absolutamente nada, é uma variante da masturbação ou muito pior que ela. Somente satisfaz quando se parte de uma relação total ou quase total.

Mas o problema não é somente psicológico mas, muito mais que isso, político, de militância. A relação sexual ou a possibilidade dela beneficia a outra parte, ao militante que está frente a uma, ou pode prejudica-lo se não há possibilidade que seja parte de uma relação mais estável, dinâmica e duradoura? É a pergunta que todo companheiro deve fazer antes de encarar essa relação. Concretamente, nem neste, nem em nenhum terreno, podemos atuar sem uma linha prévia, ainda que seja provisória. O militante, o marxista, também deve continuar sendo-o quando encara a solução deste problema.

Porque existem extremos onde a condição de marxistas nos exige a não satisfação das necessidades biológicas, como a fome ou o sexo ou as culturais mais primárias como a vestimenta ou a moradia. Quando os presos revolucionários fazem uma greve de fome, quando o companheiro, revolucionário vai preso, tanto ele como sua companheira, deixam de satisfazer algumas das mais prementes necessidades biológicas, mas esta repressão à sua personalidade esta totalmente justificada pelas necessidades da luta. Porque nossa moral não é uma moral de imediatez biológica, fazemos o que as necessidades biológicas nos exigem e nós damos os gostos de vida, mas com uma moral mediada por nosso método e nossa militância, que nos exige antes de qualquer ato, muito mais se este ato se situa no campo moral ou político, que tenhamos linha ainda que seja provisória.

Indivíduo e Partido

Nada disso quer dizer que em nome de nossa moral neguemos as necessidades biológicas ou culturais. Os jovens e os velhos companheiros do partido têm todo o direito moral e individual de encarar as soluções destes problemas como quiserem, experimentando, equivocando-se, fazendo múltiplas experiências, etc., etc. Porém todas elas devem estar mediadas pela condição de militante e pelas tendências metodológicas e morais que assinalamos: ter uma linha e cuidar sempre da outra parte mais do que de si mesmo, considerar sempre as tendências ao amor e à parceria seja no terreno sexual, como para a amizade ou as necessidades do partido. Com a vestimenta ocorre o mesmo. Nós estamos a favor da elegância e que nossas companheiras façam todas as experiências no modo de se vestir, inclusive algo distante dela como a maquiagem que queiram, porém levando em conta a situação e que essa tendência à experimentação, em última instância para a beleza, não vá contra as necessidades partidárias: gastar todo o dinheiro em maquiagem ou em roupas. São tendências contraditórias, todas lícitas, mas que devem ser sintetizadas de forma concreta em cada caso partindo das tendências mais nobres e necessárias, uma delas premente, o caráter de militante do partido.

Nossa moral não é a moral dos lumpens, da imediatez, mas das infinitas mediações, com uma principal, a de militante.

Concretamente, entre o desenvolvimento e experimentação individual, em todos os terrenos, e o partido se estabelece também uma relação. O partido está à morte por esta grande conquista da humanidade que a personalidade e o individualismo que cada qual vá formando e desenvolvendo sua personalidade. Porém esta tendência progressiva não pode, nem deve atuar no vazio, como tendência determinante. Não se trata de que alguém que esteja atuando numa greve se coloque: minha maior necessidade para meu desenvolvimento cultural é aprender idiomas principalmente o inglês (necessidade política premente para quase todos os quadros partidários segundo minha opinião). Se abandonasse a direção da greve por esta razão seria um crime político e moral. É que aqui também se dá uma mediação no desenvolvimento individual, não é abstrato e sim mediado pelo desenvolvimento e necessidade do partido e da luta de classes.

O partido por sua vez, dentro de suas necessidades, deve tender, tende a que cada companheiro alcance o maior desenvolvimento individual possível, que reflitam as necessidades do próprio partido por um lado, as possibilidades do companheiro por outro. Como nos deixou dito a companheira de Cannon, o partido sempre nos dá muito mais que nós a ele. Dentro desta relação existe um amplo campo para o desenvolvimento individual frutífero, para equivocar-se, experimentar, sem prejudicar o andamento do partido e o progresso dos companheiros próximos a nós, porque são nossos camaradas, amigos, amantes, companheiros e filhos.

Uma Moral Para a Liberdade e o Gozo ou da Necessidade da Revolução

Existem companheiros dentro do movimento revolucionário que sustentam ou praticam uma moral: a da liberdade e o gozo. "Enquanto for um bom militante, tudo o que faço que me permita gozar a vida, especialmente as mulheres ou os homens, esta bem, ou como mínimo tenho direito a optar, provar, ser livre, totalmente livre neste terreno". A moral existencialista tão bem definida por seus ideólogos.

Nossa moral não é, nem pode ser uma moral socialista, ainda que tenha alguns elementos dela (a solidariedade e o amor pelo companheiro, superior ao que nós devemos ter para conosco mesmo). Dito de outra forma, não é uma moral para gozar racionalmente e mediada por toda a sociedade (o partido neste caso), todas as possibilidades artísticas, instintivas, corporais ou intelectuais que nos brinda abstratamente a sociedade e a natureza, neste aspecto também nossa própria natureza. Nossa moral é uma moral para a luta implacável para derrotar a um inimigo não menos implacável, os exploradores e o imperialismo.

O espontaneísmo moral é a intenção, por setores juvenis, de gozar como indivíduos da sociedade neocapitalista, ou seja, da sociedade de consumo, sem ajustar-se aos fetiches e reflexos condicionados dessa mesma sociedade.

Nós acreditamos justamente o contrário, que nossa moral não é a da opção, como os existencialistas, nem para o gozo como os espontaneístas, mas sim o da necessidade da revolução.

Isto de necessidade não é uma categoria filosófica, mas bem real. Nossa moral deve nos preparar para suportar as torturas, privações biológicas e culturais, terríveis pressões a que nos submete e continuara submetendo o implacável inimigo de classe que estamos enfrentando. Quem não assimila esta moral não é apto, nem útil para a luta. Nossa moral é para a fome, a abstenção, a de ficar com pouca roupa ou maquiagem ou diretamente sem roupa e sem maquiagem, é uma moral que tende a nos afastar da sociedade de consumo, nos opormos a ela em todas as suas facetas, incluído o do gozo, uma categoria neste momento histórico da própria sociedade neocapitalista.

Nada disto significa, tampouco, que nós praticamos a necessidade por princípio. Vivemos na sociedade de consumo em muitos países, sem situação pré ou revolucionaria, pode estabelecer-se então entre o gozo ou o consumo relativo e nossa militância, a necessidade de uma mediação, um equilíbrio. Seria ilógico, por exemplo, que nossos companheiros não tirassem férias porque há guerrilhas no Vietnã ou Venezuela. Dissolveríamos uma situação concreta, a de nossos companheiros na atual etapa da luta de classes de nosso pais, em uma lei geral abstrata: que temos uma moral de necessidade. Porque é da necessidade essencialmente da revolução e do partido no próprio país. Essa é a mediação principal. Por isso, seria um crime que o companheiro responsável da campanha pelo Vietnã, durante o verão abandonasse sua atividade porque tem que tirar férias. Ou que não apoiasse a campanha financeira pela mesma razão e além disso porque tem que comprar roupa de verão. Mas se chegasse ao extremo de não tirar férias no verão por princípio, seria uma grave erro como já assinalamos.

As Soluções Sectárias e Oportunistas

Como em todos os campos, também neste terreno há um enfoque sectário ou oportunista. É bom que o analisemos.

O sectarismo elimina as mediações e contradições, nos coloca uma moral abstrata, baseada em normas rígidas e permanentes, no lugar de concretas, principalmente na mais concreta dela, a interpessoal. Este sectarismo pode se dar em qualquer dos níveis: pode haver uma moral sectária de imediatez, a dos lumpens. Pode haver a das necessidades partidárias: tudo se subordina, desenvolvimento individual, aprendizagem e solução do biológico, o amor, a amizade e a parceria ao que o partido legisla, ou melhor, a direção.

Voz Proletária [2*] levou ao limite estas duas tendências ao mesmo tempo durante um bom tempo de sua existência. Toda a velha guarda partidária sabe do nosso sofrimento há alguns anos, quando tínhamos que discutir com eles, principalmente com sua direção, pelos cheiros nauseabundos provocados pela teoria-práxis que tinham naquela época: que as mais primárias necessidades biológicas deveriam ser feitas "in situ", porque conter as necessidades era um prejuízo burguês.

Paralela a esta defesa absurda de um nível do imediato, que nos provoca imenso incômodo olfativo, havia outra não menos apaixonada (que continua até hoje) e absurda do mediato, das necessidades do partido: havia que vestir, se arrumar, casar e relacionar-se como o indicava o partido. Se descartava toda possibilidade de opção, desenvolvimento, experimentação, ou seja, de conseguir, através de um processo sumamente contraditório e mediado, amigos, amores, parcerias, estilo de se arrumar e maquilar. A parceria escolhida por um ultimato partidário era policialmente vigiada pela direção, assim como suas roupas e costumes. Concretamente, entre o imediato e mediato, o partido e sua necessidades, não deixavam margens para as contradições lógicas, necessárias e positivas.

A oportunista, como sempre, é pluralista. A corrente Viñas (corrente nacionalista argentina, organizada como Movimento de Libertação Nacional), assim como distintas tendências socialistas de esquerda, têm sustentado que o problema moral é um problema individual, de cada pessoas, de cada grupo, que cada um soluciona como quer e tem vontade.

As fofocas, estes comentários de tipo pessoal, são a outra face desta moral. "Cada um faz o que quer, mas sabe que fulano fez tal farra?" É que esta moral é idêntica à dos lumpens e portanto coincide com a espontaneidade de alguns de nossos companheiros.

Nossa solução do problema está a quilômetros tanto de uma como de outra saída. Para nos há uma rígida moral, que o que tenho tratado de definir, mas ela é concreta e não abstrata, relativa e não absoluta, em uma palavra é dialética. Nossa moral não ignora, e não poderia ignorar, porque é uma parte importante da realidade, as necessidades biológicas ou culturais, o desenvolvimento individual, nem a liberdade e o prazer, mas exige que os subordine e os assimile à mediação de nossas normas morais que têm um objetivo central: a revolução e o partido.

Por Um Programa de Transição Moral

Temos assinalado sistematicamente neste trabalho que podemos ter alguns pontos em comum com o espontaneísmo no terreno moral. Aparentemente é uma contradição, mas o é somente para quem tem uma concepção formal e abstrata da moral, não para nós que acreditamos que ela seja relativa. Concretamente, não somente coincidimos em alguns momentos com o espontaneísmo no terreno político, como também no moral.

Isto obedece tanto a razões de método como de programa. Sabemos que a aplicação programática da teoria da revolução permanente é o programa de transição. Programa esse que é político, para a ação do movimento de massas, mas que também serve como técnica para qualquer ação como ocorre com a teoria que lhe deu origem, a da revolução permanente. A ação moral não é uma exceção.

O que caracteriza o programa de transição não é somente as tarefas mínimas, transicionais e máximas. Nem tampouco o caráter dessas consignas: democráticas, econômicas, políticas, de poder, militares, etc., mas sim que algumas são negativas e outras positivas. Há anos que levantamos este problema das consignas negativas e positivas. Como tantas outras questões teóricas nunca tive a possibilidade de explora-las a fundo e desenvolvê-las. Entretanto a idéia geral simples: há consigna de caráter negativo, vão contra algo, e outras positivas, por alguma coisa. Um exemplo: Abaixo Onganía, é negativa; Por uma Constituinte, é positiva. A que mais abarca é a negativa, por isso é a que muitas vezes provoca uma mobilização revolucionária ou multitudinária. No fundo não dá saída, somente abre o caminho para as soluções positivas.

No terreno moral existem não somente consignas mínimas e de transição como também negativas e positivas. Dizemos tudo isto justamente para compreendermos nossa posição frente ao espontaneísmo. Este é um fenômeno e uma consigna relativamente positiva no político, porque suas consignas vão contra os aparatos que controlam o movimento de massas e pela independência e livre mobilização deste. Portanto entram dentro de nosso programa de transição. O "lutemos independentemente dos grandes aparatos, lutemos e lutemos como bem queremos", é a essência programática o espontaneísmo, entra como uma consigna de transição relativamente correta dentro do movimento de massas num dado momento, quando estas começam ou já estão mobilizadas por cima dos grandes aparatos. Seria um pedantismo sectário que em nome de todo nosso programa de transição não compreendêssemos, apoiássemos e incorporássemos estas consignas e movimento ao nosso próprio programa e ação neste momento.

Moral de Chiqueiro ou Uma Forte Moral Partidária?

Todas estas considerações parecem muito gerais e conhecidas. Entretanto não é assim. Existem setores no partido hoje em dia, incluindo a direção, que opõem a esta moral partidária e revolucionária, sua moral de chiqueiro. Muito mais importante que cuidar da moral dos companheiros do partido, começando pelos que devem merecer maiores considerações, os presos e feridos, está o gozo espontâneo de sua própria individualidade, de seu desenvolvimento, suas experiências, de fazer tudo que tenham vontade, de não ser esquemático, ir para frente com tudo. O grave do caso é que não é uma posição teórica, mas todo um programa moral, pelo qual se faz grande campanha e toda a prática possível.

Como todo fenômeno é total. Nesta etapa de pressões da sociedade de consumo essa moral se reflete essencialmente no terreno sexual, numa moral de consumo sexual, porém suas implicações são muito maiores e profundas. A medida que a luta de classes se agudiza, que a perseguição policial nos alerte para a realidade de que vivemos em um mundo de implacável necessidade, que exige uma moral idêntica, aparecerão as outras manifestações desta moral do gozo ou chiqueiro. Os companheiros que assumem essa moral, do gozo, que pode ser sexual ou alimentar, também demonstrarão diante da própria policia seu amoralismo, sua moral de porcos e a falta de uma moral revolucionária.

Nosso partido tem uma moral oposta. Nossos companheiros, frente às torturas policiais, têm sido os primeiros, o exemplo não só em nosso país, mas em toda a América Latina. São muitas as histórias a esse respeito. Existem graves sintomas, no momento muito débeis, de que essa moral, justamente quando mais à necessitamos, começou a mudar. Já há exemplos, muito poucos, de que somos mais paradigmas de conduta moral frente a polícia. É a outra face desta moral de chiqueiro. O que temos desenvolvido neste trabalho é a faceta interna, para dentro do partido, a outra, devido a pouca perseguição, recém começa a se manifestar, que é a moral para enfrentar a repressão.

Porque a questão de fundo saber se alguns companheiros têm se dado conta que ao entrar para o partido entram em uma confraria de perseguidos, parias da sociedade, que estão contra todos os seus valores e falta de valores, por outros valores que consideramos muito mais sólidos, dinâmicos, ricos, estáveis e em desenvolvimento. Se trata de perguntar se sabem que os espera a morte , a mutilação, a perseguição, a tortura e que estão rodeados por companheiros que esperam, por sua concepção revolucionária, tranqüilamente por todas estas perspectivas. Se trata de saber se sabem que pouco tempo para o gozo e que este tem que ser conseguido como em uma cidade sitiada por um inimigo implacável, a que nos exigem ser sumamente cuidadosos, porque todos devem sacrificar-se para manter a moral alta de nossa confraria, sitiada, esfomeada, perseguida. Se trata, enfim, de saber se dão conta que queremos relações interpessoais entre aqueles que coincidem nesta guerra e nesta situação, porque senão se tornam sumamente perigosas porque podem atentar contra o desenvolvimento dessa luta implacável, que não dá chance. Se trata de saber se são conscientes de que não temos nada a ver com a moral dos porcos, das ovelhas e do gado, que nossa moral é uma moral límpida, revolucionária, que exige tudo do militante, e que às vezes em casos extremos, até a frustração de suas necessidades biológicas e sempre a máxima consideração para com o companheiro, o irmão de luta. Se trata, por último, de saber se se dão conta de que temos uma moral revolucionária.