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sábado, 29 de maio de 2010

Qual é a sua? Ontem foi massacrado e oprimido, hoje protesta, e amanhã vai aliar-se novamente com os opressores levando a luta coletiva para alianças com os algozes?. Este ano lutamos novamente pela redução das tarifas e o seu projeto continua? (zé povo pergunta)

GUERRILHA DO ARAGUAIA

Em 2006 a então relatora do tema “Defensores de Direitos Humanos” na Organização das Nações Unidas (ONU), Hina Jilani, realizou uma série de audiências no Brasil para ouvir as denuncias dos Movimentos Sociais sobre casos de violações dos direitos humanos no país. Este vídeo foi produzido para a ocasião de sua passagem por Santa Catarina.

O filme aborda três episódios recentes da história de Santa Catarina, são eles: a manifestação de repúdio ao “Relógio dos 500 anos” instalado pela Rede Globo nas capitais do país em 2000; a luta do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no ano de 2005 e as manifestações de resistência ao aumento das tarifas do transporte público em Florianópolis, episódio que ficou conhecido como “Revolta da Catraca”.

Nestes três casos, a violência da repressão e criminalização dos movimentos sociais, marcou o papel da Policia Militar catarinense na violação dos Direitos Humanos e dos Direitos civis básicos da livre manifestação e expressão, nos quais se sustenta o “Estado democrático de Direito”. A partir da denuncia, “Democracia Militar” busca fomentar o debate sobre a qualidade e, no limite, sobre a possibilidade de um regime democrático no qual a ação dos aparelhos repressivos pauta-se pelo total desrespeito aos direitos básicos dos cidadãos.

*A foto "estudande desarmado" é de Jorge Minella.
*Errata: a música do Sepultura utilizada no vídeo chama-se Refuse / Resist, e não Chaos A.D.


Democracia Militar from Vinicius Possebon (Moscão) on Vimeo.

Carlão...
É, mas depois de tudo isso, eu fico pensando...
O que leva certas lideranças a terem um fome desesperada pelo poder ao ponto de barganharem o prestígio obtido em meio as lutas populares e, equivocadamente beijam a mão dos seus algozes?

Será o distanciamento das lutas passadas provocadas pelo tempo?

Do Araguaia ao Passe Livre e as lutas populares pela redução das tarifas exorbitantes do transporte coletivo, vendido como "mote" e, do Araguaia ao serrar de fileiras com a bancada de um suposto nacionalismo/ruralista que massacra os trabalhadores do campo, e expandem os lucros privados em parcerias com o capital financeiro internacional de ocupação territorial, pré internacionalização das florestas nacionais.

 Em síntese, vendilhões pelas migalhas do poder e pela ambição capitalista.


Aldo Rebelo no Congresso Nacional e o PCdoB negociando apoio a mumia sobrevivente do periodo mais obscuro da historia politica do Brasil, ou seja, a ditadura militar remanescente estava vestida com a toga do PCdoB "Por amor a Florianópolis".


Relembrando... Faça uma reflexão antes de pensar em alianças com a burguesia.



Aquí vamos refrescar a memória...



 Quem te viu e quem te vê...  "Nosso amor por Florianópolis"



Há uma chamada histórica dos movimentos socialista de lutas que diz:
"Vc poderá até doar a medula óssea para salvar a filha de um burguês, mas na primeira oportunidade, ele te mata pelas costas"

Nós comunistas, socialistas e , marxistas revolucionarios, nunca devemos esquecer.

Amém!

Em debates na comunidade Florianópolis do Orkut.

Eis minha resposta diante do questionamento que fiz referente ao posicionamento político daqueles que se utilizaram das lutas contra o aumento abusivo das tarifas do transporte coletivo e, do uso da revolta popular e estudantil como "mote" político em barganha com aqueles que eram contra a democracia, ou seja, participantes, e ferrenhos defensores do período do ostracismo politico que viviamos. Além disso, também os maiores responsáveis pelo enterro permanente da possibilidade concreta de implantação do transporte coletivo público com uma empresa pública municipal. Neste caso, a aliança esdrúxula entre o outrora partido da resistência e o seu algoz durante o regime militar:

...Eu jamais iria perder esta oportunidade. Acabou-se o mito, missão cumprida. Diferente de muitos 171 e de beneficiários diretos da dinastia, eu viví a história por dentro, e pra mim o maior paradoxo é vc votar naquele que era contra a democracia e ainda tem as mão sujas de sangue. Quem compactua também é criminoso, do tipo assim: ladrão e receptador apenas como exemplo. O tempo tem sido o maior aliado dos criminosos da ditadura militar, por dois motivos, o primeiro a prescrição que não existe (crime de genocídio e de lesa-humanidade/tortura/golpe de estado/assassinatos/ocultação de cadáveres/desaparecidos/formação de quadrilha/esquadrão da morte/operação condor/grupos para-militares/ comando delta/CCC/fechamento do Congresso Nacional/cassação de militares/Deputados/Vereadores/fechamento da UNE/prisão de milhares e tortura de centenas de estudantes/ atentados terroristas/OAB-RJ/Rio Centro /roubo/pilhagens/falsidade ideológica/crimes contra a ordem pública/corrupção passiva e ativa/crimes de lesa-pátria/etc.), e o segundo, apostam no esquecimento e, também contam com um STF que age como verdadeiros fascistas, o aliado que validou a "auto-anistia" do tipo assim, eu mato a tua mãe e depois me perdo-o (apenas como exemplo) Essa cambada que fez o que quis na ditadura ainda vai cair nas barras de uma condenação judicial, nacional e internacional. Aliás, lá fora o Brasil já está sendo condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos e pela Anistia Internacional e aqui ainda vai acontecer uma reviravolta.

Quem viver verá!

Meu nome é Brasil
... Fui preso e torturado em 1964, desde 1985 a sociedade procura o meu corpo.


Será que esta tortura nunca vai acabar?




 
Refrescando a cabeça de alguns ali no orkut...
 







 

 
E ainda tem cabeças de porongo que defendem certas alianças...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O que está acontecendo na internet? Removeram os blogs do escritor e jornalista Celso Lungaretti - Um dos principais porta-vozes da esquerda na rede, é ex preso politico e anistiado. Os blogs são bastante combativos e...



É lamentável que isto esteja acontecendo, a censura e o fascismo são irmãos siameses do autoritarismo que ronda a mídia alternativa brasileira. Temos de ficar atentos, e isto prenuncia dias mais difíceis para os blogueiros combativos. Não é a primeira vez que acontece esta truculência contra o combativo Celso Lungaretti.

Nos últimos dias Lungaretti tem sido um dos maiores críticos da decisão do STF de validar a “auto anistia” dos torturadores que agiram durante o regime militar. Esta decisão do STF está levando o Brasil ao repúdio e a condenação internacional diante de autoridades do mundo inteiro. O Brasil é considerado o único país da America do sul e do Caribe que está indo na contra mão da historia ao não permitir o julgamento daqueles que cometeram crimes de tortura e lesa-humanidade.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos abriu o processo contra o Brasil por tortura, assassinato e desaparecimento de pelo menos 70 pessoas que foram capturadas pelo Exército em uma operação realizada entre 1972 e 1975 na região sul do Pará.


TRUCULÊNCIA, EXECUÇÕES E TORTURAS* - O relatório anual da AI (Anistia Internacional) também fez pesadas críticas ao comportamento das forças policiais e de segurança no combate à criminalidade, ressaltando que, "por todo o país, houve relatos persistentes de uso excessivo da força, de execuções extrajudiciais e de torturas cometidas por policiais".

Mais: os "autos de resistência" fajutos com que a Polícia encobre seus excessos, lembra o documento, contrariam tanto o PNDH-3 quanto as recomendações do relator especial da ONU sobre execuções sumárias, arbitrárias ou extrajudiciais.

Por conta da aceitação automática da versão policial, diz a AI, "centenas de homicídios não foram devidamente investigados e houve poucas ações judiciais, se é que houve alguma".

O quadro é assustador no Rui de Janeiro:

"Um estudo do Instituto de Segurança Pública, ligado à Secretaria de Segurança Pública (...), constatou que, entre janeiro de 1998 e setembro de 2009, 10.216 pessoas foram mortas no estado em incidentes registrados como 'atos de resistência'.

E a situação também se agrava em São Paulo, onde "as mortes cometidas por policiais militares tiveram um aumento de 41%". (*) Comentários de Celso Lungaretti



























Celso Lungaretti também tem se destacado como um dos baluartes na defesa do camarada Cesare Battisti que está preso a mais de três anos por decisão também do STF que contraria a vontade e os preceitos constitucionais que dão esta prerrogativa unicamente ao Presidente da Republica Lula da Silva. Lamentavelmente os Blogs de Celso Lungaretti foram tirados do ar de forma autoritária e criminosa.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

ANISTIA INTERNACIONAL VÊ CONIVÊNCIA DO BRASIL COM CRIMES DA DITADURA E ATUAIS

Texto de Celso Lungaretti*

Mesmo a "limitada proposta" de apenas investigar os abusos cometidos pela ditadura de 1964/85, sem a instauração de processos contra quem violou direitos humanos no passado, "foi duramente criticada pelos militares brasileiros, com o ministro da Defesa tentando enfraquecê-la ainda mais".

Esta é a avaliação que, no capítulo referente ao Brasil do seu relatório anual sobre a situação dos DH no mundo inteiro, a Anistia Internacional faz da grita histérica dos setores conservadores e reacionários contra a terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos.

O documento foi divulgado nesta 4ª feira (26) pela mais respeitada e influente ONG do planeta dedicada à defesa dos DH.

Destaca que o PNDH-3 "recebeu uma boa acolhida da sociedade civil", mas foi "foi duramente criticado pelos militares, pela Igreja Católica e pelos grupos de defesa dos interesses dos proprietários rurais".

Segundo a AI, tais contestações constituíram "uma séria ameaça para a proteção dos direitos humanos no país".

Por ser recente, a decisão do STF, de considerar plenamente válida uma Lei de Anistia gerada em ditadura, só entrará no relatório do ano que vem.

Mas, logo após a contestadíssima decisão do Supremo, o pesquisador Tim Cahill, responsável pelos estudos da AI sobre o Brasil, já declarou que ela contrariara "qualquer entendimento de leis internacionais ou mesmo nacionais sobre situações em que agentes do Estado podem ser anistiados quando cometem crimes de lesa-humanidade, tortura, extermínio e execuções sumárias contra seus próprios cidadãos".

E concluiu com uma afirmação contundente, mas verdadeira:

"É uma mensagem forte do Brasil, de que, quando o Estado tortura e mata seus próprios cidadãos, ninguém é responsável".

TRUCULÊNCIA, EXECUÇÕES E TORTURAS - O relatório anual da AI também fez pesadas críticas ao comportamento das forças policiais e de segurança no combate à criminalidade, ressaltando que, "por todo o país, houve relatos persistentes de uso excessivo da força, de execuções extrajudiciais e de torturas cometidas por policiais".

Mais: os "autos de resistência" fajutos com que a Polícia encobre seus excessos, lembra o documento, contrariam tanto o PNDH-3 quanto as recomendações do relator especial da ONU sobre execuções sumárias, arbitrárias ou extrajudiciais.

Por conta da aceitação automática da versão policial, diz a AI, "centenas de homicídios não foram devidamente investigados e houve poucas ações judiciais, se é que houve alguma".

O quadro é assustador no Rui de Janeiro:

"Um estudo do Instituto de Segurança Pública, ligado à Secretaria de Segurança Pública (...), constatou que, entre janeiro de 1998 e setembro de 2009, 10.216 pessoas foram mortas no estado em incidentes registrados como 'atos de resistência'.

E a situação também se agrava em São Paulo, onde "as mortes cometidas por policiais militares tiveram um aumento de 41%".

Esquadrão da Morte - Vídeo 1

Esquadrão da Morte - Vídeo 2


Esquadrão da Morte - Vídeo 3


Esquadrão da Morte - Vídeo 4


Na verdade estes vídeos complementam outro texto de Celso Lungaretti publicado hoje dia 27/05/2010 que denuncia a impunidade como força motriz que perdura desde os tempos da ditadura militar. Na minha opinião (Carlão) o STF deixa bem claro o sua insanidade e seu  intuito golpista (não teria poder pra isso),  incentivando a manutenção do estatus vigente do período obscuro da história politica recente do Brasil. A ditadura, neste momento está vestida de Toga (O nome dessa roupa preta do verbo tegere que significa: cobrir, vestir. Veste talar de uso obrigatório pelos magistrados em todas as instâncias. Utilizada em Roma, a toga servia tanto para homens quanto para mulheres, podendo ser usada de dia e de noite (vestimentum diurnum et nocturnum et muliebre et virile), porém apenas os que tinham direito de cidadão romano é que podiam usar tal vestimenta, por esta razão escravos e subordinados a penalidades não podiam usá-la, uma vez que não eram considerados cidadãos. E, é assim que o Supremo Tribunal Federal está tratando a sociedade brasileira que pede esclarecimentos, a abertura dos arquivos e punição dos torturadores pelos crimes cometidos durante o Regime Militar.

Disponível em: http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/

Acompanhe abaixo:

STF CRIA "CULTURA DA IMPUNIDADE", ACUSA BICUDO

D. Paulo Evaristo Arns, Hélio

Bicudo e o jornalista Audálio

Dantas, em 2004, na PUC/SP.

 
 
 

 
Tudo que você queria saber sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal a respeito da anistia dos torturadores e não tinha quem esclarecesse, está na entrevista Bicudo: “Luta contra tortura prossegue na OEA”, um magnífico trabalho jornalístico da companheira Ana Helena Tavares.

Escrevi recentemente sobre Bicudo, então não vou chover no molhado: basta dizer que foi um dos personagens mais importantes da resistência à ditadura de 1964/85 pelos caminhos legais que ainda restavam.
Irmanados pelos ideais e pela fé, ele e D. Paulo Evaristo Arns aproveitaram a relativa proteção que o prestígio mundial lhes proporcionava, para travarem uma luta épica contra a repressão ditatorial, golpeando duramente o terrorismo de estado, principalmente com dois feitos emblemáticos: os processos contra o Esquadrão da Morte e a missa de sétimo dia de Vladimir Herzog.

Foram verdadeiros divisores de água, a partir dos quais o poder aberrante dos porões entrou em colapso.

Eis os principais trechos da entrevista:

"O texto da Lei de Anistia, não permite que os torturadores fiquem impunes, muito pelo contrário. Não acho que haja necessidade de modificar o texto. Basta aplicá-lo como ele é, segundo uma interpretação jurídica e não ideológica.

"[sobre a alegação do relator Eros Grau, de que os crimes cometidos pelos torturadores seriam conexos e, portanto, abrangidos pela anistia de 1979] É lamentável que um juiz da Suprema Corte não saiba o que são realmente delitos conexos. (...) Os 'crimes conexos' são aqueles cujas finalidades são as mesmas do ato principal praticado. P. ex., um ladrão entra na sua casa, rouba, e, para evitar que existam provas, incendeia a casa. São dois crimes conexos: o roubo e o incêndio da casa. Há uma identidade de fins: a finalidade era roubar e não ser punido.

"Mas se o ladrão entra na casa, rouba, é preso e depois morto pela polícia, não há nenhuma ligação entre um fato e outro, do ponto de vista das suas finalidades. (...). É como nesse caso da Anistia. Os opositores do regime cometeram crimes que a lei diz que, depois de algum tempo, não podem ser punidos. Mas se trata de crimes praticados contra o Estado repressor. Ideologicamente, eles não têm nada a ver com os crimes praticados pelos agentes do Estado.

"A finalidade dos crimes praticados pelas pessoas que eram contrárias ao regime era política. Os crimes praticados pelos agentes do Estado não têm finalidade política. São crimes contra a humanidade e, por esse motivo, imprescritíveis. Quando a Lei de Anistia fala em 'crimes conexos', você não pode interpretar a conexidade senão de um lado e de outro. Quer dizer, você pode ter pessoas que cometeram crimes contra o Estado conexos entre si, mas você não pode ligar estes crimes aos cometidos pelos agentes do Estado para beneficiar a si próprios. Ou seja, os agentes do Estado agem por outra finalidade. No caso, para manter a ditadura.

"[sobre a alegação de que a anistia de 1979 reconciliou o País] É um absurdo falar em 'conciliação' quando os militares detinham o poder Executivo e o comando do Legislativo. (...) Num contexto como esse, você não pode encontrar consenso da sociedade civil com relação à lei que foi promulgada.

"[sobre se a revisão da Lei de Anistia seria inconstitucional, por prejudicar um direito adquirido] Existem tratados internacionais, dos quais o Brasil é signatário, que dizem que os crimes contra a humanidade são imprescritíveis. Veja bem: não são crimes que se esgotam naquele momento. O homicídio se esgota, mas outros crimes não, como, p. ex., o sequestro. Você tem pessoas que despareceram e até hoje não se sabe seu paradeiro. Podem ter sido mortas, mas você precisa provar que elas foram mortas para desaparecer o crime de sequestro. É um crime continuado: persiste no tempo. Foi praticado ontem, continua existindo hoje e continuará amanhã. Não existe prescritibilidade desses crimes.

"[leis brasileiras x cortes internacionais] Em 1998, o Brasil reconheceu a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Ela não tem o poder de revogar a decisão do STF. Mas, desde o momento em que o Brasil reconheceu a jurisdição, tem que se submeter à Corte. Porque reconheceu de boa fé, não foi obrigado a isso. Esse reconhecimento vale para todos os crimes que forem a julgamento pela Corte Interamericana e forem imputados ao Brasil. Acho que a Corte Interamericana, de acordo com a sua jurisprudência e conforme já julgou com relação a outros Estados, mostrará que não existe auto-anistia.

"Porque o que se busca hoje no Brasil é o reconhecimento da auto-anistia. Um governo que cometeu crimes pode anistiar a si próprio? Isso não existe! Anistia existe para proteger pessoas que num dado momento, por motivos políticos, cometeram crimes. Para pacificar a sociedade, você considera este crimes inexistentes.

"Mas não os crimes praticados pelo Estado. Isso já se constituiu numa jurisprudência pacífica da Corte Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos. Não tenho dúvida nenhuma de que a corte vai condenar o Estado brasileiro. Não pela manutenção de uma lei — mas pela interpretação errada dada a ela pela justiça brasileira, que vem acudindo os torturadores e aqueles que, a serviço do Estado, eliminaram pessoas durante o período da ditadura militar.

"A corte [Interamericana de Justiça] não aplica sanções. Caso o Brasil não cumpra uma decisão, ela relata esse fato à Assembléia Geral dos Estados Americanos. Esta, sim, pode punir os países-membros com sanções. Ou pode não punir, porque a OEA é um órgão eminentemente político. De qualquer maneira, acho que a situação do Brasil no que diz respeito aos direitos humanos na área internacional vai ficar muito ruim. Como é que fica o STF? É está agindo contra os direitos humanos e isso poderá ter consequências futuras.

"Uma sociedade que se diz contra a tortura, mas não pune quem a pratica, está se expondo a riscos. Se, num momento político qualquer, houver restrições à democracia (...) haverá mais possibilidades de a tortura contra adversários políticos também voltar, porque criou-se a cultura de impunidade".

Celso Lungaretti é Jornalista e escritor.
Integrante da VPR foi preso político durante o regime miliar. Atualmente é anistiado
Disponível em: http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Crimes da ditadura militar brasileira julgados na Costa Rica






Pela primeira vez o Brasil está no banco dos réus da Corte Interamericana de Direitos Humanos para responder por crimes cometidos durante a ditadura militar. Hoje é o segundo dia do julgamento que acontece em San José, na Costa Rica.










A Corte Interamericana de Direitos Humanos abriu o processo contra o Brasil por tortura, assassinato e desaparecimento de pelo menos 70 pessoas que foram capturadas pelo Exército em uma operação realizada entre 1972 e 1975 na região sul do Pará.









Na quinta-feira, foram ouvidas as testemunhas e peritos indicados pelos representantes das vítimas da Guerrilha do Araguaia. Após o fim das audiências, as partes terão mais um mês para encaminhar à Corte considerações por escrito.

A sentença pode levar até seis meses para ser conhecida, mas deve determinar entre outras medidas, uma revisão da Lei da Anistia. Michele Corbi, cientista política do Instituto de Ciências Políticas de Paris, declarou, em entrevista à repórter Ana Rita Cunha, que o Brasil está na contramão da justiça latino-americana.

Michele Corbi, é cientista política do Instituto de Ciências Políticas de Paris
Disponível em: http://www.portugues.rfi.fr/brasil/20100521-crimes-da-ditadura-brasileira-julgados-na-costa-rica

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O CASO CESARE BATTISTI - PROVADA A ARMAÇÃO CONTRA BATTISTI

O GOLPE DA EXTRADIÇÃO


















Dalmo Dallari é Jurista renomado

Texto de Celso Lungaretti*

O nosso maior jurista vivo, Dalmo Dallari, já apontou como "obstáculo intransponível" à extradição do escritor Cesare Battisti o fato de que a promessa italiana de reduzir a pena de prisão perpétua a que ele está condenado para detenção de 30 anos, adequando-a à exigência brasileira, é impossível de ser cumprida:
"...a Constituição brasileira (...) dispõe que 'não haverá pena de caráter perpétuo'. Ora, o tribunal italiano que julgou Battisti condenou-o à pena de prisão perpétua. Essa decisão transitou em julgado, e o governo italiano não tem competência jurídica para alterá-la, para impor uma pena mais branda, como vem sendo sugerido por membros daquele governo. A Constituição da Itália consagra a separação dos Poderes e assim como o presidente da República do Brasil está obrigado a obedecer a Constituição brasileira o mesmo se aplica ao governo da Itália, em relação à Constituição italiana".

Trocando em miúdos, simplesmente não existe dispositivo legal que permita à Itália alterar uma sentença que já se tornou definitiva. Ponto final.

Mas, o relator do caso no Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, aceitou a promessa vazia italiana. E nem sequer levou em conta o fato de que o próprio ministro da Justiça daquele país, Clemente Mastella, admitiu o logro ao conversar com integrantes da Aiviter, organização que reúne parentes de reais ou supostas vítimas de ações armadas da esquerda nos anos de chumbo.
Encostado na parede por esses inimigos figadais dos ultras, Mastella confessou ter prometido às nossas autoridades que a pena máxima seria de 30 anos "apenas para acalmar os brasileiros, para que deixem de criar problemas e o extraditem de uma vez".
E foi além o boquirroto Mastella:

"O palhaço vai ficar na cadeia a vida toda. Eu falei isso apenas para f... os brasileiros".

Peluso não leu nada disso? Ignora, candidamente, que a Itália tenta tornar o Brasil cúmplice do SEQUESTRO de Cesare Battisti, impondo-nos terrível humilhação? Que cada um tire suas conclusões.

O certo é que, enquanto os italianos tentam nos fazer de tolos, os chilenos agem com correção e transparência.
Pediram a extradição de Mauricio Hernández Norambuena, que está preso no Brasil por haver liderado o sequestro do publicitário Washington Olivetto em 2001.

Foram informados de que só obteriam a extradição caso a pena de Norambuena no Chile não ultrapassasse 30 anos.

Confirmaram nesta 4ª feira (19) sua condenação à prisão perpétua.

Ou seja, o Chile mantém a decisão de sua Justiça, mesmo que isto implique a impossibilidade de Norambuena cumprir a pena.

Mas, claro, a dignidade chilena é simplesmente inalcançável para os Berlusconis da vida.

(*) É jornalista e escritor

Disponível em: http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/2010/05/extradicao-chile-joga-limpo-italia.html

quarta-feira, 19 de maio de 2010

192 ANOS DO NASCIMENTO DE KARL MARX



Karl Marx nasceu em cinco de maio de 1818 em Trier, a mais antiga cidade da Alemanha, no seio de uma família culta de classe média. Seu pai era advogado e conselheiro de justiça que, sendo filho de rabinos, converteu-se do judaísmo ao protestantismo para fugir das restrições impostas aos judeus no serviço público, quando Marx ainda tinha seis anos. Sua mãe era uma judia holandesa.
Marx foi o gênio que desvendou a lei do desenvolvimento da história humana. Descobriu também os mecanismos específicos da exploração do trabalho humano através da mais-valia, sobre o qual se assenta a dominação da maioria da humanidade pela minoria, e formulou a estratégia revolucionária da luta das classes trabalhadoras para a sua emancipação.
Não por acaso, foi o homem mais odiado e falsificado desde então por governantes da classe dominante, burgueses, liberais e não menos pelos que buscaram apropriar-se de seu imenso prestígio junto aos trabalhadores e povos oprimidos. Viveu no final da era progressista do capitalismo e contra os que acreditavam no seu desenvolvimento pacífico em direção ao socialismo, prognosticou o agravamento das contradições que preparariam o terreno de sua decadência futura.
A RUPTURA COM O IDEALISMO E COM O SOCIALISMO UTÓPICO
Aos 17 anos escreve: “Se tivermos escolhido a posição na vida na qual mais podemos fazer pela humanidade, não haverá dificuldades que nos possam vergar, porque são sacrifícios para o bem de todos; não desfrutamos de pequenas alegrias limitadas e egoístas, pelo contrário, a nossa felicidade pertence a milhões de homens.” (Reflexões de um jovem perante a escolha de uma profissão, 1835). E dificuldades não faltaram para Marx durante toda sua vida. Embora tenha nascido em uma família abastada, a miséria material foi a regra em toda sua vida adulta de perseguido político, constantemente obrigado a exilar-se de país em país, tendo cada um dos jornais dirigidos por ele sido censurados e fechados devido ao perigo que representavam seus escritos para os governos e classes dominantes. Três de seus filhos morreram ainda crianças, por enfermidades diretamente vinculadas à miséria que a família vivia como bronquites, tuberculoses e convulsões. Foi expulso da Alemanha, França e Bélgica, obrigado a exilar-se por várias vezes e a nunca mais voltar para sua terra natal, tendo morrido em Londres em 1883.
Ao tomar a posição de combater com todas as armas ao lado das classes trabalhadoras, Marx fez mais pelo progresso da humanidade do que todos os ideólogos que venderam seus serviços às classes possuidoras. Em seus funerais, Engels, seu maior amigo e colaborador, destacou que Marx faleceu reverenciado, amado e pranteado por milhões de companheiros trabalhadores revolucionários em todo mundo e prognosticou que seu nome atravessaria os séculos assim como sua obra. Apesar do momento de reação ideológica anticomunista que vivemos, as palavras proféticas de Engels demonstram plena vigência, sobretudo depois de mais uma crise do capitalismo em que se impõem com todo vigor as teses marxistas de que o capitalismo tende ao colapso e não ao desenvolvimento pacífico das forças produtivas, que as crises econômicas convulsivas fazem parte do modo de produção burguês de provocar cada vez mais concentração monopolista de riquezas, crescimento da miséria e do exército industrial de reserva, etc.
Como gostava de ressaltar Lenin, o marxismo é o sucessor legítimo do que de melhor criou a humanidade no século XIX: a filosofia alemã, a economia política inglesa e o socialismo francês. Na universidade, onde cursou direito, história e filosofia, Marx torna-se um hegeliano de esquerda - como se denominavam os que se agrupavam em torno do círculo de jovens discípulos do professor de teologia Bruno Bauer (que uma geração depois também viria a ter como aluno o adolescente F. Nietzsche) - mas logo inicia a superação dos limites da dialética idealista hegeliana, acompanhando a evolução teórica do professor Ludwig Feuerbach em direção ao materialismo.
Dialeticamente e por aproximações sucessivas, Marx evolui em suas concepções ideológicas e políticas para converter-se no fundador de uma nova ciência capaz de dar uma explicação global ao conjunto dos fenômenos da sociedade burguesa. Na introdução ao artigo “Contribuição para a Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”, escreve: “A arma da crítica não podia evidentemente substituir a crítica das armas, porque a força material não pode ser derrubada senão pela força material; mas, logo que penetra nas massas, a teoria passa a ser, também ela, uma força material”.
Em 1842, junto a outros hegelianos de esquerda, como Bruno Bauer, passa a fazer parte da redação de um jornal burguês radical, a “Gazeta Renana”. Em um de seus primeiros artigos, defende os interesses dos vinhateiros do vale do Mosela e da “massa pobre, política e socialmente sem posses”. Mas, na atividade de jornalista sente que os seus conhecimentos de economia política eram insuficientes e por isso lançou-se a estudá-la com afinco. Em outubro, torna-se chefe de redação do jornal que assume cada vez mais uma tendência democrática revolucionária, passando a ser censurado e em seguida fechado pelo governo alemão. Em 1843, Marx casou-se com Jenny von Westphalen, amiga de infância, que viria a transcrever seus textos e ser sua companheira por toda vida.
Marx foi para Paris para editar no estrangeiro uma outra revista radical intitulada “Anais Franco-Alemães” que teve de ser suspensa por causa das dificuldades com a sua difusão clandestina na Alemanha. Em 1844, na capital francesa, Marx freqüenta reuniões de operários e começa sua parceria militante com Engels, escrevendo sua primeira obra conjunta “A Sagrada Família, ou a Crítica da Crítica Crítica contra Bruno Bauer e Consortes", fazendo uma dura crítica aos hegelianos de esquerda.
Na mesma época, tomaram parte ativa na vida dos grupos revolucionários de Paris, de socialistas utópicos como Louis Blanc e anarquistas como Bakunin, influenciados por Proudhon, cuja obra “Filosofia da Miséria” (1846) criticava a grande propriedade capitalista a partir de posições pequeno-burguesas, sonhava com perpetuar a pequena propriedade privada, propunha que fossem organizados os bancos “do povo” e de “troca”, que, segundo a mesma teoria, permitiriam aos operários obter meios de produção próprios, tornar-se artesões e garantir a venda “justa” dos seus produtos. Proudhon não compreendia o papel histórico do proletariado, negava a luta de classes, a revolução proletária e a ditadura do proletariado. Partindo de posições anarquistas, negava também a necessidade do Estado.
Numa árdua luta contra as diversas doutrinas do socialismo pequeno-burguês, Marx submeteu Proudhon à crítica impiedosa na sua obra “Miséria da Filosofia” (1847), considerada por Lenin uma das “primeiras obras do marxismo maduro”. Muito mais conhecido que Marx, o anarquista impressionava por sua fórmula radical com a qual ficou conhecido, como com a afirmação “a propriedade é um roubo!”, frase que Marx comprovou ter sido tomada de Brissot e que por trás da radicalidade aparente acabava por pressupor a propriedade uma vez que aponta o roubo como a violação da mesma. Neste momento, Marx também formula que “nas mesmas relações nas quais se produz a riqueza se produz também a miséria”.
A LIGA DOS JUSTOS TORNA-SE LIGA DOS COMUNISTAS
A pedido do governo prussiano, Marx é expulso da França como “revolucionário perigoso” e vai para a Bélgica, onde redige as famosas “Teses sobre Feuerbach”, que Engels considerará o “primeiro documento onde está consignado o germe genial da nova visão do mundo”. É nesta obra que Karl Marx afirma que “os filósofos limitam-se a interpretar o mundo; o importante é transformá-lo”. Marx e Engels começam então a escrever “A Ideologia Alemã”, formulando a tese de que o Estado “é a forma de organização que a burguesia possui para garantia mútua da sua propriedade e dos seus interesses”. Em 1845, os revolucionários viajam para a Inglaterra, onde estabelecem contatos com os dirigentes londrinos da Liga dos Justos com a qual já haviam tomado contato três anos antes em Paris. A Liga dos Justos, fundada na década de 1830, foi a primeira organização internacional comunista do proletariado, era clandestina e conspirativa. Sua evolução programática sofreu influência direta de Marx e Engels. Todavia, em 1846, os dois camaradas fundam o Comitê de Correspondência Comunista de Bruxelas, mas acabam aceitando o convite para filiar-se a Liga dos Justos. No ano seguinte, Engels participa do I Congresso desta organização a que Marx não vai por falta de dinheiro. Já influenciado pelas idéias de Marx, o Congresso muda o nome da organização para Liga dos Comunistas e passa a adotar a divisa “Proletários de todo mundo uni-vos!”.
Ainda no mesmo ano de 1847, realiza-se o II Congresso da Liga (do qual Marx participa) que responsabiliza a dupla de alemães por redigir o programa da organização e que viria a ser o primeiro documento programático do marxismo. No ano seguinte, Marx (29 anos) e Engels (27) elaboram a obra mais importante da literatura mundial, o “Manifesto do Partido Comunista”, redigido a partir de um texto escrito por Engels denominado de “Princípios do Comunismo”, escrito na forma de perguntas e respostas que sintetizavam as concepções defendidas pelos dois. Marx aprimora os escritos de Engels, delimita-se com toda forma de socialismo que concebe a colaboração pacífica entre as classes e que sofre a influência da burguesia liberal, da pequena burguesia idealista, da filantropia religiosa, e redige o Manifesto que nos surpreende ainda hoje pela sua atualidade. Os jovens alemães antevêem o futuro como ninguém antes e como poucos depois deles.
A TRAIÇÃO BURGUESA ÀS INSURREIÇÕES POPULARES DE 1848 E O NASCIMENTO DA TEORIA DA REVOLUÇÃO PERMANENTE
A publicação do Manifesto coincide com uma séria de insurreições populares por toda a Europa contra as monarquias e o clero que viriam a ser conhecidas como as revoluções de 1848. Aproveitando-se desta situação, Marx e Engels voltam à Alemanha e fundam a Nova Gazeta Renana. Temendo a revolução proletária que se anunciava como um fenômeno potencial e internacional pela primeira vez na história, a burguesia trai a luta anti-absolutista e trata de desmontar os processos insurrecionais. Marx tira como conclusão que a luta democrática contra o absolutismo só poderia triunfar com métodos proletários revolucionários.
Nascem as primeiras lições da luta de classes em favor da teoria da Revolução Permanente: “Mas essas reivindicações não podem satisfazer de nenhum modo ao partido do proletariado. Enquanto os pequenos burgueses democratas querem concluir a revolução o mais rapidamente possível, (...) os nossos interesses e as nossas tarefas consistem em tornar a revolução permanente até que seja eliminada a dominação das classes mais ou menos possuidoras, até que o proletariado conquiste o Poder do Estado, até que a associação dos proletários se desenvolva, não só em um país, mas em todos os países predominantes do mundo, em proporções tais que cesse a competição entre os proletários desses países, e até que pelo menos as forças produtivas decisivas estejam concentradas nas mãos do proletariado. Para nós, não se trata de reformar a propriedade privada, mas de aboli-la; não se trata de atenuar os antagonismos de classe, mas de abolir as classes; não se trata de melhorar a sociedade existente, mas de estabelecer uma nova” (Mensagem à Liga dos Comunistas, 1850).
Logo, Engels tem que fugir ameaçado de ser preso e pouco depois Marx é novamente expulso da Alemanha. A Liga não ficou imune à reação que se estendeu e retrocede ao período de confusão política pré-marxista. Foi então que Karl escreveu ao amigo: “À parte isso, agrada-me muito essa isolação pública e autêntica, na qual nós dois, tu (Engels) e eu, encontramo-nos atualmente. Ela corresponde inteiramente ao nosso posicionamento e aos nossos princípios. O sistema de concessões recíprocas, de respeito a medianidades toleradas e o dever de assumir diante do público sua parte de ridículo, no Partido com todos esses burros, isso agora deixou de existir” (Carta a F. Engels, 11/02/1851). Como se verá em todos estes 192 anos de história, a predominância da política principista será uma excepcionalidade extremamente minoritária nas organizações marxistas, por vezes, coincidindo com períodos de ascensão revolucionária das massas.
A Liga dos Comunistas existiu até Novembro de 1852 e foi antecessora da Associação Internacional dos Trabalhadores (I Internacional) que viria a ser fundada em 1864 por Marx. A Comuna de Paris adotou uma política de caráter socialista, influenciada pelos socialistas utópicos como Lassale e em certa medida pela I Internacional, mas existiu apenas de 26 de março a 28 de maio de 1871. Foi considerada a primeira República Proletária da história; da qual, Marx e Engels tiraram como lição que não basta a classe operária apoderar-se do Estado burguês para adaptá-la aos seus próprios fins, é preciso também quebrar a máquina burocrática e militar do Estado.
Apesar de que também possuem como estratégia a dissolução da máquina estatal, em polêmica com os anarquistas que reivindicam a utopia reacionária da dissolução imediata de todo poder estatal, de toda hierarquia e autoridade após a revolução, o marxismo defende que para quebrar a resistência pós-revolucionária da burguesia mundial é necessário um novo tipo de Estado, de caráter soviético, operário e transitório que exerça a ditadura revolucionária do proletariado e estenda a revolução internacionalmente. Em meio à reação policialesca na Europa e a cisão anarco-bakuninista que se seguiu à derrota da Comuna de Paris, o Conselho Geral da Internacional foi transferido para Nova York e por fim deixa de existir.
O SURGIMENTO DO MATERIALISMO HISTÓRICO
Ao fundir dialética com o materialismo, Marx e Engels criaram o materialismo filosófico que concebe a natureza como matéria em movimento a partir da luta constante de forças em conflito. O contato com a luta proletária e com o socialismo levou Marx e Engels a estender esta metodologia da natureza em geral à sociedade humana, descobrindo a lei do desenvolvimento da história do homem. Os homens exigem antes de tudo comida, bebida, moradia e vestuário, antes de poder praticar a política, ciência, arte, religião. A existência determina a consciência.
Os jovens revolucionários entenderam que assim como não se deve julgar um indivíduo pela ideia que ele faz de si próprio também é totalmente impossível encontrar as causas dos fenômenos da sociedade capitalista nas intenções (doutrinas filosóficas, religiosas, políticas) ou nos planos de seus membros. O pensamento da classe dominante é completamente incapaz de abarcar o processo econômico em seu conjunto, descobrir suas leis e perspectivas. Foi em busca das condições objetivas que norteiam as relações entre os homens que Marx descobriu também a lei específica que governa o presente modo de produção da vida material capitalista e a sociedade burguesa por ele criada.
O vínculo principal entre os homens é a troca. Para comer, beber, morar, transportar-se e suprir outras necessidades materiais por eles criadas, os homens precisam trocar entre si os produtos de seu trabalho, as mercadorias. Sendo assim, a força de trabalho humano, que é uma mercadoria, está na base da produção de todas as mercadorias.
As mercadorias são trocadas entre si numa proporção determinada. Mas não é "a mão invisível do mercado" quem regula esta proporção como pensam os economisas burgueses, mas o trabalho humano. A propriedade essencial das mercadorias, que cria uma medida comum de valor entre elas é o tempo de trabalho humano necessário para a sua produção.
E como surge a desigualdade entre os homens? Surge porque um punhado cada vez menor dos homens possui a propriedade privada sobre os meios de produzir as mercadorias, os capitalistas, que compram a mercadoria força de trabalho. Além de ser a medida para o valor das outras mercadorias e de criar as outras, a força de trabalho possui outra característica especial: detém uma margem de diferença entre o que produz e o que necessita para se reproduzir. O trabalho humano produz mais valores do que precisa para se manter, ou seja, fornece ao criar mais valores do que recebe para se reproduzir. Então o dono dos meios de produção compra a força de trabalho para explorá-la. Esta exploração é a fonte da desigualdade. A parte do produto que contribui para a subsistência do trabalhador é chamada por Marx de “produto necessário”; a parte excedente que o trabalhador produz é chamada de “produto excedente” ou “mais-valia”, o tempo de trabalho não pago, a mola mestra do capitalismo.
Sendo assim, Marx compreende que a perspectiva do capitalismo é o agravamento das desigualdades e da ditadura capitalista sobre o conjunto da população laboriosa, e não a resolução pacífica de suas contradições. Portanto, é preciso lutar pela supressão da propriedade privada burguesa através de uma revolução violenta em que os trabalhadores tomem o poder político estatal para estabelecerem seu próprio governo e planificação socialista da economia.
É no terreno da estratégia proletária que reside a maior contribuição de Marx, como o próprio modestamente assinalou: “Historiadores burgueses já haviam, muito antes de mim, apresentado o desenvolvimento histórico dessa luta de classes e os economistas burgueses, a anatomia econômica das classes. O que fiz de novo foi demonstrar : 1. que a existência das classes está vinculada meramente a determinadas fases históricas de desenvolvimento da produção ; 2. que a luta de classes conduz necessariamente à Ditadura do Proletariado ; 3. que essa Ditadura mesma constitui apenas a transição rumo à abolição de todas as classes e a uma sociedade sem classes” (Carta a J. Weydemeyer, 05/03/1852). Contribuições tão caras ao pensamento humano, como a necessidade inexorável da revolução social violenta assim como da ditadura do proletariado para que a sociedade humana avance desta fase para a abolição de todas as classes são os legados de Marx mais abominados pelos revisionistas oportunistas de todos os matizes que se dizem marxistas, desde Bernstein até os pseudotrotskistas de nossos dias.
MARX E A LUTA PELA MAIS-VALIA NO SÉCULO XXI
Desde o início da divisão de classes entre proprietários e despossuídos existe mais-valia. A evolução tecnológica e o avanço das forças produtivas fez com que o operário assalariado atual produza mais-valia numa dimensão nunca antes tão grande. “A luta de classes não é outra coisa senão a luta pela mais-valia. Quem possui a mais-valia é o dono da situação, possui a riqueza, possui o poder do Estado, tem a chave da igreja, dos tribunais, das ciências e das artes” (Leon Trotsky, O marxismo do nosso tempo, 04/1939).
Após cada derrota proletária e, sobretudo, em derrotas históricas de proporções globais como a restauração do capitalismo na URSS, Leste Europeu e China e mais recentemente através da crise econômica mundial de 2008-2009, a burguesia trata de aumentar a mais-valia imposta à classe vencida. Não por acaso, para cobrir o rombo nos caixas estatais que transferiram ¼ do PIB mundial para os bolsos do grande capital monopolista para “salvá-lo” da crise, os “comitês gestores dos negócios da burguesia” da Grécia ao Brasil querem agora impor congelamento e até redução de salários. Na outra ponta, sem querer, a Forbes, a revista dos magnatas, comprova a tese de Marx de maneira cristalina, durante o ano de 2008 a 2009 marcado pela crise econômica as grandes fortunas triplicaram de valor.
Todavia, como já vimos anteriormente, em épocas reacionárias como a atual, o pensamento político da vanguarda retrocede em muitas décadas ou séculos, recorrendo muitas vezes a utopias reacionárias pré-marxistas. A confusão reinante entre os que se autoproclamam marxistas é tão grande que a esmagadora maioria da esquerda trotskista passou a festejar as derrotas históricas como o fim dos Estados operários e as crises econômicas, que só agravaram as condições de vida das massas, como vitórias que abririam uma nova era revolucionária. Esta política euforizante nociva vem servindo para encobrir a impotência política dos mesmos na luta de classes e para criar ilusões nas novas gerações militantes sobre o futuro político destes partidos desmoralizados.
Nos últimos 20 anos avançou a influência da ideologia burguesa em suas formas variadas sobre a vanguarda de esquerda, e isto tem representado o baluarte mais poderoso do regime capitalista. Como concluiu o dirigente trotskista James P. Cannon sobre “Os primeiros dez anos do Comunismo Americano”: “A força do capitalismo não reside em si mesma nem em suas instituições, sobrevive porque tem bases de apoio nas organizações dos trabalhadores. Como vemos agora à luz do que aprendemos da Revolução Russa e seus efeitos, 90% da luta pelo socialismo é a luta contra a influência da burguesia nas organizações dos trabalhadores, incluindo sobre o partido”.
Marx fundamentou as bases teóricas econômicas, políticas e metodológicas da ciência para a emancipação do proletariado, o marxismo. Lenin, revolucionário do início da era senil do capitalismo, o imperialismo, deu forma política ao marxismo através da concepção de que é necessário um partido comunista de vanguarda do proletariado, aprimorando o que Marx concebera na Liga Comunista e na I Internacional através do bolchevismo e a seu momento da III Internacional. Vale destacar que Lenin completou recentemente 140 anos de nascimento, e que foi vasta e hipocritamente homenageado pelas organizações que hoje fazem do centro de sua atividade militante uma política tradeunista, parlamentarista, de seguidismo aos aparatos sindicais e partidários corrompidos pela colaboração de classes, ou seja, tudo que fora encarniçadamente combatido por Lenin em vida.
A REVOLUÇÃO PROLETÁRIA COMO UMA NECESSIDADE HISTÓRICA
Trotsky, companheiro de Lenin à frente da Revolução Russa de 1917, aprimorou os conceitos de Marx e Engels acerca da Revolução Permanente e deu continuidade à luta pela organização política dos marxistas após a degeneração burocrática do primeiro Estado operário da história, a URSS, e da III Internacional stalinizada, fundando a IV Internacional.
Cabe aos revolucionários atuais que, devido ao retrocesso na consciência da vanguarda proletária das últimas décadas, encontram-se mais uma vez reduzidos a ligas de propaganda, reagrupar os núcleos dispersos e reconstruir a IV Internacional, o partido mundial da revolução sobre bases principistas. Para isto não há atalho, mas um necessário combate sem tréguas ao imperialismo, governos centro-esquerdistas burgueses como o de Lula, Evo, Lugo, Corrêa, Chávez e sua V Internacional, aos revisionistas de todos os matizes que trilham o rumo da colaboração de classes. Estes quase dois séculos desde o nascimento de Marx comprovam historicamente que somente construindo partidos bolcheviques internacionalistas capazes de fundir o genuíno marxismo revolucionário com a heróica resistência das massas é possível enfrentar a barbárie imposta pela decadência imperialista.

Disponível em:
http://www.lbiqi.org/lbi-noticias/o-maior-pensador-da-humanidade-nos-deixou-como-principal-legado-a-estrategia-revolucionaria-do-proletariado-vigente-ate-nossos-dias


terça-feira, 4 de maio de 2010

Um breve esboço da história da Liga Internacional dos Trabalhadores

INTRODUÇÃO

Desde a década de 40 desenvolvemos uma longa e difícil batalha para construir partidos revolucionários com influência de massas em todos os países, e por construir a Internacional. Consideramos que a nossa é a continuação da luta travada por Marx, Engels, Rosa de Luxemburgo, Karl Liebknecht, Lenin e Trotsky por construir a I, a II, a III e a IV Internacionais.

Reivindicamos a I e a li Internacionais como pane de nosso passado, mas assumimos como modelo de partido mundial a terceira, conhecida como Internacional Comunista. Ele responde às necessidades da época imperialista que ainda estamos vivendo, tanto nas propostas programáticas de seus quatro primeiros congressos, como no seu regime interno, o centralismo democrático.

A III Internacional foi degenerada e depois dissolvida pelo stalinismo. A Oposição de Esquerda e depois a IV Internacional nuclearam os revolucionários que mais consequentemente enfrentaram a degeneração stalinista. Hoje, muitas organizações se reivindicam da IV, fazem fóruns, ações conjuntas, mas não existe a IV Internacional como organização centralizada. Os revezes da luta de classes e os desvios de seus dirigentes, depois do assassinato de Trotsky, provocaram sua dispersão. Por isso defendemos sua reconstrução.

Muitos perguntam: "por que reconstruir a IV, se ela é sinônimo apenas de trotskismo?" Trotsky sempre foi contra o termo "trotskista", porque ele não considerava ser o seu um setor diferenciado do marxismo. O nome "trotskista" foi imposto pelo stalinismo aos que apoiavam Trotsky em seu enfrentamento com Stalin. A corrente de Trotsky se autodenominava bolchevique leninista. Ela deu origem à Oposição de Esquerda e depois à IV Internacional. Nasceu para defender os princípios do marxismo e do leninismo - o internacionalismo, a democracia e o poder operário...- e dar uma política ofensiva para enfrentar o nazismo e a Segunda Guerra Mundial diante da capitulação de Stalin.

A IV Internacional é continuidade da III Internacional dirigida por Lenin, e é sinônimo da luta consciente contra a contra-revolução stalinista. É necessário reconstrui-la, e não construir uma Internacional diferente, porque seus princípios e bases teórico-programáticas, expressas no Programa de Transição e na Teoria da Revolução Permanente, continuam vigentes, independentemente das óbvias atualizações que devem ser feitas. O Programa de Transição sistematiza as resoluções dos quatro primeiros congressos da III Internacional: controle operário, frente única operária, milícias, soviets, governo operário e camponês, ditadura do proletariado. Além disso, incorpora a necessidade de fazer uma nova revolução na URSS, a revolução política contra a burocracia. O Programa de Transição, seguindo a orientação do IV Congresso da III Internacional, supera a divisão entre o programa mínimo e o programa máximo. Dá o método para elevar as massas ao programa da revolução socialista, através da elaboração de um sistema de reivindicações transitórias que pana das necessidades e do nível de consciência atual, e leve à conquista do poder pelo proletariado.

A teoria da Revolução Permanente afirma que ocorre a combinação de tarefas democráticas e socialistas no processo da revolução, ressalta a necessidade de que a classe operária dirija esse processo e que ele se desenvolva na esfera internacional.

A atualidade destas colocações faz com que hoje seja impossível elaborar um programa revolucionário que não pana do Programa de Transição e da teoria da Revolução Permanente. Por isso, todo revolucionário que queira lutar pela derrota do imperialismo, da burocracia e pelo triunfo do socialismo a nível mundial se aproxima, ainda que inconscientemmente, das posições centrais da IV Internacional.

Hoje, por exemplo, quando vemos , as lutas no México, Bolívia. Venezuela, Argentina, Brasil..., todas como resposta aos planos neo-liberais do imperialismo, sentimos a impotência de não contar com um partido revolucionário mundial que possa dirigir a luta de massas a nível da América Latina. Portanto, a reconstrução da IV Internacional é a tarefa central para avançar na luta contra o imperialismo.

Essa reconstrução não é tarefa exclusiva dos chamados "trotskistas", e sim de todos os que concordam com suas bases programáticas. Trotsky encarou a construção da IV Internacional não como uma tarefa exclusiva dos membros da Oposição de Esquerda (os "trotskistas" daquela época), mas de todos os que concordavam com os princípios leninistas e em encarar uma luta mortal contra a burocracia. O avanço do nazismo e do stalinismo na década de 30 provocou a capitulação das organizações e dirigentes com os quais Trotsky trabalhava para construir a nova Internacional. Por isso, e pela necessidade urgente de materializar uma organização centralizada que conservasse os princípios marxistas revolucionários, a IV Internacional foi fundada apenas por aqueles que fizeram pane da Oposição de Esquerda Internacional. Trotsky, no entanto, nunca abandonou seu objetivo de lutar por uma IV Internacional de massas, onde os "trotskistas" estavam dispostos a ficar em minoria.

Nós nunca nos consideramos os únicos revolucionários do mundo. Tampouco acreditamos que a solução da crise de direção revolucionária passa só pelo crescimento vegetativo da nossa corrente. Pelo contrário, sempre tivemos quase uma obsessão por chegar a acordos revolucionários, tanto em nível nacional como internacional. Por isso, a nossa é uma história de fusões, tentativas de fusões e também das rupturas que os principais fatos da luta de classe provocaram.

Nesta longa e difícil batalha por construir a Internacional tivemos alguns acertos e muitos erros. Em janeiro de 1982, quando se fundava a LIT-QI, Nahuel Moreno dizia: "... Os dirigentes do movimento trotskista se consideravam colossos que não erravam nunca. No entanto, o trotskismo dirigido por eles era lastimável..." "... Essa chata experiência de andar sempre entre "gênios" nos levou a fazer propaganda indireta sobre nossa base para convencê-la de que nos equivocamos muito, que devem pensar e pensar por sua própria conta, já que nossa direção não é garantia de genialidades. Queremos por todos os meios inculcar o espírito autocrítico, marxista, e não uma fé religiosa em uma modesta direção, provinciana por sua formação e bárbara por sua cultura. Por isso, acreditamos na democracia interna e a vemos como urna necessidade imprescindível... Avançamos através de erros e golpes e não temos vergonha de dizê-lo...".

"... O problema é como cometer menos erros, qualitativa e quantitativamente. A meu ver, a tendência é cometer cada vez menos erros se estamos em urna organização internacional, e sobre a base do centralismo democrático. Isso sim, para mim, é um fato. Afirmo categoricamente que todo partido nacional que não esteja em uma organização internacional bolchevique, com uma direção internacional, comete cada vez mais erros e um erro qualitativo: por ser trotskista nacional termina, inevitavelmente, renegando da IV Internacional e adotando posições oportunistas ou sectárias para, em seguida, desaparecer..."

NOSSAS ORIGENS

A corrente que hoje se denomina LIT-QI existe com diferentes nomes desde 1953. Surgiu em 1944 como um pequeno grupo dirigido por Moreno, o GOM (Grupo Operário Marxista), na Argentina. O objetivo central era ir à classe operária tentando superar o caráter marginal, boêmio e intelectual do movimento trotskista argentino. Durante os primeiros tempos tivemos um desvio obreirista, sectário e propagandista. Não se fazia trabalho entre os estudantes e o eixo da atividade era dar cursos sobre Manifesto Comunista e outros textos clássicos. Entre 1944 e 1948 tivemos também um desvio nacional trotskista: acreditar que havia solução para os problemas do movimento trotskista dentro de seu próprio país. Só em 1948 começamos a intervir na vida da IV Internacional, participando em seu Segundo Congresso.

A intervenção nas lutas operarias e na Internacional tomou possível a superação dos desvios e o fortalecimento do grupo. A participação, em 1945, nas grandes greves dos trabalhadores dos frigoríficos (principal categoria na Argentina nesse momento) foi muito importante e nos permitiu ganhar quase todos os companheiros do Comitê de Fábrica. Superamos nosso sectarismo e propagandismo, mas caímos num desvio sindicalista, que depois começou a ser superado graças à nossa participação na Internacional.

Assim, nos fortalecemos em outras fábricas. Dirigimos fábricas de tubos de cimento, de couro e até o clube de um bairro operário (Villa Pobladora). Apesar de ainda sermos um pequeno grupo de cerca de loa militantes, nos afirmamos no movimento operário e construímos nossos principais quadros operários, que hoje são parte de nossa tradição.

O partido argentino chegou a ser, junto com o SWP criado sob a orientação de Trotsky, o partido mais operário do movimento trotskista.

A PARTICIPAÇÃO NA IV INTERNACIONAL

A direção da IV Internacional depois da II Guerra, integrada pelo SWP (EUA), Pablo (Grécia), Mandel (Bélgica) e Frank (França), era muito jovem e inexperiente e não conseguira superar o debilitamento qualitativo provocado pelo assassinato de Trotsky em 1940. A característica central da IV Internacional naquela época era o sectarismo. O II Congresso se realizou num momento de grandes mudanças: ocorria a Revolução Chinesa, na checoslováquia os ministros burgueses eram afastados do governo e tinha início a expropriação da burguesia e na Iugoslávia ocorria um processo similar desde 1947. O congresso ignorou esses fatos e centrou a discussão no caráter de classe da URSS e se se devia ou não defende-la frente aos ataques do imperialismo. Polêmica essa que já havia sido resolvida no partido americano em vida de Trotsky, em 39 e 40.

Apesar do caráter sectário e propagandístico desse congresso, a participação nele foi qualitativa para o GOM. Passou-se a dar muito peso ao imperialismo e à relação com as burguesias nacionais nas análises políticas, e também se deu muita importância às definições internacionais, como foi o caso da posição a favor da Coréia do Norte em seu enfrentamento com a Coréia do Sul.

A DISCUSSÃO SOBRE OS NOVOS ESTADOS DO LESTE

Em 1949 começa a discussão sobre o caráter de classe desses estados. Moreno reivindica a forma como seu deu a discussão, dando um grande exemplo de centralismo democrático. Existiram duas posições. Para Mandel e Cannon (EUA), esses estados eram capitalistas. A posição de Pablo, apoiada, ainda que com considerações distintas por Hansen (EUA) e Moreno, sustentava que haviam nascido novos estados operarias. A polêmica se resolveu relativamente rápido. Mandel e Cannon reconheceram que havia ocorrido um verdadeiro processo revolucionário no Leste europeu e que novos estados operários deformados haviam surgido. Este êxito político aumentou muito o prestígio de Pablo nas fileiras da Internacional, e assim se chegou ao Terceiro Congresso em 1951.

A LUTA CONTRA O PABLISMO

Em 1951, em plena guerra fria, todos os comentaristas internacionais afirmavam ser inevitável o choque armado entre os EUA e a URSS. Pablo e Mandel, seguindo a imprensa burguesa, chegaram a uma conclusão funesta para a IV Internacional: a terceira guerra mundial seria inevitável. Os partidos comunistas, no seu afã de defender a Rússia, adotariam métodos violentos para enfrentar o imperialismo e tomar o poder. O mesmo aconteceria com os movimentos nacionalistas nos países dependentes.

Baseados nessa análise, Pablo e Mandel propuseram o "entrismo sui generis" nos partidos comunistas e partidos nacionalistas burgueses, aos quais teríamos de acompanhar sem críticas, até que se desse a tomada do poder. A maioria do trotskismo internacional; encabeçado pela maioria da seção francesa, se negou a implementar essa política. Nós, baseados no POR argentino (o antigo GOM), denunciamos que essa posição, que deixava de considerar a burocracia stalinista como contra-revolucionária e abandonava a luta contra ela, era uma revisão de pontos essenciais do programa trotskista. Afirmávamos que essas posições eram motivadas pelo caráter pequeno-burguês e intelectual dos dirigentes europeus.

A REVOLUÇÃO BOLIVIANA - A DIVISÃO DA IV INTERNACIONAL

Com essa caracterização, Pablo se opôs a exigir a retirada dos tanques russos quando ocorreu o levante dos trabalhadores de Berlim em 1953, apoiando de fato a burocracia soviética. No entanto, a conseqüência mais trágico dessa política foi a traição à revolução boliviana.

Em 1952, na Bolívia ocorre uma clássica revolução operária; os trabalhadores organizam milícias, derrotam militarmente a polícia e o exército e surge a COB (Central Operária Boliviana) como organismo de poder dual. Em 1953 ocorre a revolução camponesa, que invade os latifúndios e ocupa terras.

Desde a década de 40 a organização trotskista (POR) vinha ganhando enorme influência no movimento operário. Tinha em suas fileiras importantes dirigentes mineiros, [abris e camponeses. Seu principal dirigente, Guillermo Lora, foi o redator das Teses de Pulacayo, uma adaptação do Programa de Transição à realidade boliviana, adotadas pela Federação de Mineiros. Lora foi eleito senador por uma frente dirigida pela Federação de Mineiros nas eleições de 1946. Na revolução de 52, o POR co-dirigiu as milícias e foi co-fundador da COB. Tinha peso de massas na Bolívia.

Infelizmente, o POR, seguindo a orientação do SI de Pablo, não levantou a política de que a COB tomasse o poder. Pelo contrário, deu apoio crítico ao governo do MNR (movimento nacionalista burguês). Sem uma orientação revolucionária, o movimento de massas foi sendo desmobilizado e desarmado. Além disso,- essa traição à revolução provocou a deterioração do trotskismo boliviano, que entrou era um processo de sucessivas divisões.

Repudiando a linha do "entrismo sui-generis", a maioria dos trotskistas franceses (dirigidos por Lambert) e ingleses (dirigidos por Healy) , o SWP (EUA) e também os trotskistas sul-americanos (com exceção do POR boliviano e do grupo de Posadas na Argentina), rompemos com o SI dirigido por Pablo, e em 1953 criamos o Comitê Internacional (CI).

O SLATO: A REVOLUÇÃO PERUANA

Na América do Sul, a partir do POR argentino, junto com trotskistas do Chile e Peru, vínhamos numa polêmica contra a política para a Bolívia. Em abril de 1953, Moreno escreveu o texto "Duas Linhas" afirmando que o apoio crítico ao MNR era uma traição e que se devia exigir que a COB tomasse o poder. Ao mesmo tempo, exigíamos que o Comitê Internacional atuasse como organização centralizada, única forma de derrotar o revisionismo pablista. A negativa das forças majoritárias do Comitê Internacional a atuar de forma centralizada e com uma política ofensiva provocou o avanço das posições pablistas, apesar de que a maioria dos trotskistas estivessem contra elas. Diante disso, começamos a atuar como tendência em nível latino-americano e em 1957 formamos, junto com dirigentes peruanos e chilenos, o SLATO (Secretariado Latino-Americano do Trotskismo Ortodoxo).

A existência do SLATO permitiu que participássemos de forma centralizada no processo de revolução agrária no Peru. Enviou-se Hugo Blanco, estudante peruano militante do POR argentino, para participar do processo de Cuzco. Hugo Blanco, orientado pelo SLATO, encabeçou o processo de ocupação de terras e de organização sindical no campo. O SLATO enviou vários quadros para apoiar esse trabalho. Nesse processo se construiu a FIR (Frente de Esquerda Revolucionária), orientada pelos trotskistas, e que deu origem à nossa atual seção peruana. Em 1963, Hugo Blanco foi capturado pelo exército. De 1963 a1967 ficou incomunicável. Em 1967 foi processado pela justiça militar. Diante do perigo de que fosse condenado a morte, fez-se urna campanha internacional com a adesão de Sartre, Simone de Beauvoir, Issac Deutscher, sindicatos da França, Inglaterra, Índia, parlamentares franceses, ingleses e outros. Essa campanha impediu que fosse condenado a morte. Pegou 25 anos de prisão. Outra campanha internacional conseguiu sua liberdade em 1970. Durante esse período, os camponeses peruanos continuavam elegendo Blanco como seu principal dirigente em todos os seus congressos.

A REVOLUÇÃO CUBANA E A REUNIFICAÇÃO DE 1963

Foi o reconhecimento e apoio à revolução cubana a base da reunificação da IV Internacional em 1963. Nasce o SU (Secretariado Unificado), encabeçado por Mandel e pelo SWP (Pablo tinha ficado por fora da IV). No SU ingressaram todas as forças trotskistas que reconheciam que em Cuba havia nascido um novo estado operário. De fora ficaram os trotskistas ingleses e franceses que não reconheciam o mesmo significado na revolução Cubana. Nós demoramos um ano para entrar porque tínhamos muitas diferenças com Mandel e pedíamos um balanço do método impressionista que levou à traição da revolução boliviana, para evitar os mesmos desvios no futuro. No entanto, em 1964 resolvemos entrar, convencidos de que, apesar das divergências, uma reunificação em tomo ao apoio a uma revolução era positiva.

A LUTA CONTRA OS DESVIOS GUERRILHEIRISTAS. O DESENVOLVIMENTO DO PARTIDO ARGENTINO. A REVOLUÇÃO PORTUGUESA

O método impressionista de Mandel não estava superado e veio uma nova capitulação no final da década de 60. Desta vez ao castrismo, ao aceitar a concepção guerrilheira do foquismo.

O SWP, o PST argentino (antecessor do MAS) e todos os outros grupos sul-americanos lideramos uma corrente que travou uma grande batalha contra essas posições. Dizíamos que a teoria do foco era uma política elitista, isolada do movimento de massas e que provocaria grandes desastres.

Infelizmente, os fatos nos deram razão. O trotskismo perdeu inúmeros valiosos militantes que seguiram essa linha equivocada, principalmente na Argentina, mas também em outros países. A partir deste mo mento o SU começou a se converter numa federação de tendências. Cada uma aplica, O ascenso aberto em 1968 abre novas oportunidades e a existência de uma organização mundial unificada (o SU) permite aproveitá-las. Na França, por exemplo, onde o trotskismo tinha praticamente desaparecido por causa do entrismo sui-generis, surge a LSR, que chega a organizar 5 mil militantes e a publicar um jornal diário. Na América Latina se dá um grande desenvolvimento do PST argentino e nos EUA o SWP se fortalece enormemente com sua participação contra a guerra de Vietnã.

Mas, infelizmente, tivemos de enfrentar uma nova capitulação de Mandel. Agora a numerosa vanguarda surgida com o Maio Francês, influenciada pelo maoísmo. Nossa polêmica com Mandel está desenvolvida em '"O Partido e a Revolução", de Nahuel Moreno.

No transcurso dessa batalha contra o guerrilheirismo e o vanguardismo, nosso partido argentino, o PST (surgido da fusão com um setor que rompeu com a social-democracia) se desenvolveu como um forte partido de vanguarda. Esse fortalecimento se deu justamente com uma política oposta a de Mandel: intervindo no ascenso aberto com o '"Cordobazo" e participando do processo eleitoral. Neste período organizamos o partido no Uruguai e na Venezuela.

Quando estoura a Revolução Portuguesa em 1974 o PST envia quadros para participar do processo. Impulsionamos uma política para a tomada do poder centrada no chamado ao desenvolvimento e centralização dos organismos de duplo poder que tinham surgido. Ganhamos um setor de estudantes secundaristas e organizamos o partido português, que acabou por fornecer importantes quadros para a Internacional.

Essa revolução mais uma vez mostrou a capitulação de Mandel que, seguindo o maoísmo, deu apoio ao MFA (Movimento das Forças Armadas) que co-governava o império português.

Esse processo também provocou a ruptura em 1975 da FLT (fração que tínhamos formado com o SWP para enfrentar o mandelismo), frente a impossibilidade de termos uma mesma política para a revolução. Para eles, a tarefa central era levantar palavras de ordem democráticas e editar obras de Trotsky.

A maioria das organizações e militantes da Colômbia, Brasil, México, Uruguai, Portugal, Espanha, Itália e Peru se retira da FLT e junto com o PST argentino constituem uma tendência que em seguida se declara fração do SU, a FB -Fração Bolchevique- que mais tarde daria origem à LIT-QI. A participação na revolução portuguesa e a polêmica com o mandelismo e o SWP nos fez avançar na elaboração teórica sobre a construção do partido em processos revolucionários, expressa em "Revolução e Contra-Revolução em Portugal".

O PARTIDO NO BRASIL

Um grupo de jovens brasileiros exilados no Chile entra em contato com nossa corrente. Depois do golpe dirigem-se à Argentina e começam militar no PST. Em 1974 , voltam ao Brasil para construir o partido. Surge a Liga Operária e depois a Convergência Socialista. O grupo começa a se desenvolver e, em contato com a direção da FB, elabora a política do chamado à um Partido dos Trabalhadores.

A jovem organização brasileira desenvolveu-se durante 12 anos sem dissolver-se nem capitular à direção burocrática. Isso foi possível porque pertencia a uma corrente internacional que orientou a se fazer entrismo no PT, a centrar o trabalho nas oposições sindicais na CUT e que lhe deu clareza sobre o caráter burocrático da direção lulista.

Com isso, a CS pode sair do PT qualitativamente mais forte do que entrou e com uma política de frente única revolucionária dirigida aos setores de vanguarda que rompiam com o partido de Lula.

O PARTIDO COLOMBIANO

Em 1976 ocorre o golpe militar na Argentina, que dá origem à ditadura semi-fascista de Videla. O PST teve de tirar do país importantes dirigentes, e aproveitou-se para reforçar o trabalho internacional. Neste período construímos nossas organizações na Bolívia. Chile, Equador, Costa Rica, Panamá e reforçamos o trabalho em Portugal e na Espanha. Mas o processo mais importante é o da Colômbia, onde entramos em contato com o Bloco Socialista, uma organização que vinha se aproximando de posições revolucionárias, com quadros oriundos da Igreja e do castrismo. Daí surge o PST colombiano, que rapidamente se consolida como uma forte organização de, vanguarda e passa a ser um dos pilares de nosso trabalho internacional.

A LUTA CONTRA A DITADURA ARGENTINA

Enquanto isso, na Argentina o PST joga um papel heróico na resistência à ditadura genocida. Quando começou a Guerra das Malvinas, o ódio à ditadura não impediu que o partido tivesse uma política principista de identificar e atacar o imperialismo invasor como o principal inimigo. Desde o primeiro momento, sem deixar de denunciar a ditadura, o PST se colocou no campo militar argentino e militou pela derrota do imperialismo. O PST saiu da ditadura com grande prestígio na vanguarda e com 800 quadros sólidos, que se voltaram para a construção do MAS, incorporando na tarefa um grupo de quadros que vinham de outra corrente socialista.

A REVOLUÇÃO NICARAGUENSE. A BRIGADA SIMON BOLIVAR

Em 1979, quando estoura a revolução nicaragüense, nossa corrente, apesar das diferenças políticas com o sandinismo, resolve participar fisicamente da luta contra Somoza. Através do PST colombiano realiza uma grande campanha para construir a Brigada Simón Bolivar. Ela se forma com militantes de nossa corrente e revolucionários independentes, da Colômbia, Panamá, Costa Rica, EUA e Argentina. Mantendo sua total independência política, a Brigada ingressa no Exército Sandinista e cumpre um heróico papel na liberação da região sul da Nicarágua, o que lhe custa mortos e feridos. Com o triunfo da revolução os brigadistas são recebidos como heróis em Manágua. Nós vínhamos exigindo que o sandinismo rompesse com a burguesia e tomasse o poder juntamente com os sindicatos operários. O sandinismo, seguindo a política de Castro, estava num governo de coalizão com Violeta Chamorro. A Brigada impulsiona a criação de sindicatos e em uma semana organiza mais de 70. Isso provoca a reação da direção sandinista, que a expulsa da Nicarágua. Vários brigadistas são presos e torturados pela polícia panamenha, aliada ao governo sandinista.

O SU envia uma delegação a Manágua para dizer que éramos um grupo ultra-esquerdista com o qual não tinham nada a ver, e vota uma resolução proibindo a construção de partidos por fora do sandinismo. A negativa em defender militantes revolucionários torturados pela burguesia e o fato de terem votado essa resolução interna que na prática era um decreto de expulsão de nossa corrente obrigaram nossa ruptura definitiva com o SU.

Esses fatos revelaram a verdadeira polêmica dentro do SU. Nós defendíamos a necessidade de construir um partido revolucionário na Nicarágua e eles não. A mesma discussão existiu em relação a Cuba, tanto sobre a construção do partido, quanto a necessidade da revolução política. Tudo isto demonstrava a crescente capitulação do SU ao castrismo e ao sandinismo.

NOSSA RELAÇÃO COM O LAMBERTISMO

Quem deu sua solidariedade à Brigada Simón Bolivar foi a corrente dirigida por Pierre Lambert. Assim começou nossa relação política com o lambertismo, com o qual não tínhamos contato desde 1963. Inicia-se um processo de discussão, com grandes acordos principistas e programáticos expressos nas "Teses para a Atualização do Programa de Transição", de Nahuel Moreno. Nesse trabalho se define o stalinismo e o castrismo como agentes contra-revolucionários; reconhecem-se como revoluções os processos do pós-guerra (Leste europeu, China, Cuba) apesar de não terem sido encabeçados pela classe operária e seu partido revolucionário.

Ao mesmo tempo, se coloca a necessidade de impulsionar a revolução política contra os estados operários degenerados surgidos desses processos; analisa-se a guerra de guerrilhas e a política oportunista de suas direções; dá-se especial importância à defesa do direito de autodeterminação das nacionalidades oprimidas e às tarefas democráticas; identifica-se o inicio do processo de crise dos aparatos contra-revolucionários, em especial o stalinismo, o que abre possibilidades de lutar por partidos trotskistas e uma IV Internacional de massas. Constitui-se um Comitê Paritário que culmina em 1980 com a formação de uma organização conjunta: a Quarta Internacional - Comitê Internacional - (QI-CI). Realizamos a campanha de apoio a "Solidariedade" na Polônia. Tudo indicava que se podia dar um grande passo no caminho da reconstrução da IV.

Mas essa tentativa se frustrou. Nossa pouca inserção na Europa nos fez cometer um grave erro. Não vimos que o lambertismo tinha fortes laços com a burocracia sindical, o que o levou a capitular ao governo de Frente Popular assim que ocorreu a vitória de Mitterrand na França Lambert se nega a discutir a política para a França e começam as expulsões de militantes que se colocam contra essa política Isso provoca a ruptura da QI-CI.

A polêmica com o lambertismo nos obrigou a avançar na elaboração sobre a Frente Popular, o que se refletiu no livro "A Traição da OCI", de Nahuel Moreno.

A FUNDAÇÃO DA LIT-QI

Em janeiro de 1982 realizou-se uma reunião internacional com os partidos da FB e dois importantes dirigentes do lambertismo: Ricardo Napurí, do Peru e Alberto Franceschi, da Venezuela. Um dos pontos centrais da reunião era organizar uma campanha em defesa da honra revolucionária de Napurí, atacado moralmente por Lambert por expressar diferenças políticas com este. Outro grande ponto era como avançar na construção da Internacional.

A reunião, depois de aprovar a campanha, resolveu por unanimidade converter-se na Conferência de Fundação de uma nova organização internacional. Aprovam-se então as Teses de Fundação e os Estatutos da LIT-QI. A LIT-QI não é somente a FB com outro nome, já que a ela se integra Franceschi e seu partido, o MIR Proletário, que romperam com o lambertismo. Pouco depois Napurí se incorpora, junto com a metade do partido peruano, que também rompem com Lambert.

Em 1985, o partido dominicano se integra à LIT-QI. Esse grupo não vem do trotskismo, mas de uma ruptura da Igreja. Em 1987 se integram o grupo de Bill Hunter da Inglaterra, que não é de tradição morenista, e um grupo de jovens trotskistas independentes do Paraguai, que dão origem ao PT paraguaio, a maior organização de esquerda nesse país.

Em 1985 o Manifesto da LIT-QI faz um chamado a construir a FUR a partir de um programa mínimo revolucionário para enfrentar a frente contra-revolucionária mundial do imperialismo, burguesias nacionais, igreja, stalinismo, castrismo, sandinismo e as burocracias sindicais.

AS PRINCIPAIS CAMPANHAS POLÍTICAS DA LIT-QI

A primeira é pela vitória da Argentina na Guerra das Malvinas, com a qual intervimos no processo anti-1mperialista que se abriu na América Latina. A campanha pelo Não Pagamento da Dívida Externa nos permitiu empalmar com as grandes mobilizações bolivianas que obrigaram o governo da Frente Popular a suspender o pagamento da dívida. Teve grande importância a campanha contra os Acordos de Esquípula e Contadora, impulsionados pelo imperialismo e apoiados pelo castrismo e sandinismo para deter o processo revolucionário centro-americano. Em 1991 realizamos a campanha pela derrota do imperialismo na Guerra do Golfo.

A CRISE DE 90

Depois da queda da ditadura argentina, a direção da LIT resolve priorizar o trabalho nesse país, onde se abriu a possibilidade objetiva e subjetiva de que o MAS se convertesse num partido com influência de massas. Nas lutas do movimento de massas e na participação eleitoral, o MAS se transforma no partido mais forte da esquerda argentina. Ganha grande inserção nas principais fábricas e bairros operários, encabeça chapas de oposição à burocracia nos principais sindicatos, realiza atos com 20 e 30 mil pessoas, elege o primeiro deputado trotskista argentino, chegando a impulsionar e dirigir um ato de oposição ao governo com 100.000 pessoas.

Em meio a esse processo, a LIT-QI recebe, em 1987, um terrível golpe com a morte de seu fundador e principal dirigente, Nahuel Moreno. Sua ausência provocou um debilitamento qualitativo em nossa direção internacional. A nova direção dá respostas equivocadas aos processos do Leste de 89-90. Define corretamente estes processos como revolucionários, mas não ;ê suas contradições, fazendo assim uma caracterização unilateral. Surge então para o Leste e todos os países uma atitude autoproclamatória e uma política com traços oportunistas de capitulação à reação democrática.

Paralelamente, se cai em um desvio nacional-trotskista: a direção internacional havia ficado, de fato, monopolizada pela direção do partido mais forte, o argentino, que passa a atuar como partido-mãe.

Tudo isto provoca a maior crise de nossa história que terá como conseqüências a ruptura e retrocesso do partido argentino, a ruptura do partido espanhol e a saída do partido colombiano da LIT-QI. Chega-se quase à destruição da LIT-QI

O V CONGRESSO MUNDIAL DA LIT-QI

A partir do V Congresso da LIT-QI (julho de 1994) são dados os primeiros passos para reverter esse processo. Nesse congresso se combinam uma situação objetiva favorável (Chiapas, a resistência do povo bósnio, o "Santiaguenhaço", o ascenso do mo;1mento operário europeu, o processo de reorganização no Brasil que dá origem ao PSTU) com a disposição subjetiva do conjunto dos dirigentes de fazer todos os esforços para tirar a LIT-QI da paralisia.

Nesse congresso se resolve assumir a Campanha de Ajuda Operária à Bósnia, a regularização de Correio Internacional, a construção de um Secretariado Internacional com dirigentes de diversos países, priorizar o trabalho no Brasil e na Europa, impulsionar o processo de elaboração e de rearme programático. Todas essas medidas tendem a reconstruir a LIT-QI com o objetivo de que ela possa encabeçar a tarefa de reconstrução da IV Internacional.

Em relação a essa tarefa estratégica, o congresso dá um primeiro passo votando o Comitê de Enlace com Workers International (organização com presença na Inglaterra, África do Sul, Namíbia e alguns países do Leste europeu). A vitoriosa campanha de Ajuda Operária à Bósnia, nossa participação no processo revolucionário mexicano, na construção do Partido Operário Internacionalista da Ucrânia, a fusão de nosso partido na Espanha, a regularidade da revista internacional em espanhol, inglês e português, os avanços na construção do PSTU, o fortalecimento de nosso trabalho europeu, o fato de que tenhamos feito uma proposta programática para o Comitê de Enlace com WI, que estejamos avançando na elaboração sobre Cuba, Bósnia, África do Sul, a discussão sobre as novas formas de trabalho, sobre os estados do Leste europeu..., tudo isso mostra que estamos cumprindo as resoluções do último congresso mundial. E que a LIT-QI avança na superação da paralisia e dá os primeiros passos para superar a crise aberta em 1990

NOSSO PROJETO ATUAL

Uma estreita ligação com a classe operária e uma permanente relação com a Internacional foi o que nos permitiu sempre superar os erros que cometemos durante nossa história. Além do mais, nossa corrente sempre se caracterizou por atuar com grande flexibilidade nas táticas e extrema rigidez nos princípios.

Essa permanente relação com a Internacional se demonstra no fato de nunca termos sido abstencionistas em relação ao movimento trotskista. Pelo contrário. Demos uma grande batalha para corrigir a política do POR boliviano, os desvios , vanguardistas da LCR francesa, o desvio guerrilheirista que provocou a morte de tantos trotskistas argentinos... Queriamos evitar a destruição desses partidos e dirigentes, importantes conquistas do movimento operário mundial. Essa batalha teve frutos. Conseguimos resgatar importantes quadros desses desvios e ao calor desse combate e da participação na luta de classes fomos construindo nossa corrente, a LIT-QI, que hoje tem partidos, grupos ou militantes na Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Peru, Venezuela, Costa Rica, República Dominicana, México, EUA, Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Polônia, ex- URSS, Austrália e Alemanha.

Essa construção foi feita buscando a melhor forma de nos relacionar com o movimento de massas, adaptando nossas bandeiras a seu nível de consciência para conseguir a mobilização. No entanto, nunca rebaixamos nosso programa ou hesitamos em enfrentar a consciência das massas quando se trata de defender uma política principista. Enfrentamos a consciência pró-castrista da vanguarda latino-americana na campanha contra Contadora, e hoje fazemos o mesmo ao defender nosso programa e nossa política para Cuba, centrada na luta pela revolução política contra a burocracia de Castro. Nossos pequenos grupos da Europa enfrentaram a consciência pró-imperialista da vanguarda européia durante a Guerra das Malvinas, respeitando o princípio marxista de colocar em primeiro lugar a derrota de seu próprio imperialismo. Por isso também é que mantemos nossa política para a Bósnia, já que é um princípio do marxismo revolucionário se opor a qualquer genocídio e estar ao lado da nação oprimida diante do ataque da nação opressora.

Por isso, apesar dos erros cometidos, estamos orgulhosos de nossa história. Obviamente, não pretendemos que todos os militantes do PSTU concordem com tudo o que fizemos nestes quase 50 anos. Temos trajetórias diferentes e, provavelmente, teremos divergências na interpretação de muitos fatos. Com certeza existirão também diferenças em algumas definições teóricas, as que também existem na LIT-QI, já que têm a ver com fatos que mudaram a face do mundo e estão provocando grandes polêmicas no marxismo mundial. Além disso, não queremos , uma Internacional onde haja unanimidade sobre tudo. Queremos uma organização centralizada nos aspectos programáticos centrais, porém viva, com polêmicas sobre diversos aspectos teóricos e políticos que possibilitem um avanço constante.

O que queremos é chegar, com os militantes do PSTU, a um acordo em torno das tarefas colocadas daqui para a frente. Nosso projeto se baseia, em primeiro lugar, na constatação de que a definição de Trotsky: "A crise histórica da humanidade se reduz à crise de sua direção revolucionária", adquire uma dramática atualidade. A falta de uma direção revolucionária mundial é o que permite ao imperialismo, apesar da sua crise crônica e das grandes lutas de resistência, continuar avançando terrivelmente sobre o nível de vida das massas. Por exemplo, a ausência dessa direção explica os avanços da restauração no Leste e coloca o' perigo de que as ações revolucionárias das massas cubanas contra a burocracia castrista sejam capitalizadas pela burguesia gusana, acelerando o processo de restauração capitalista já iniciado por Fidel Castro. Em segundo lugar, consideramos que a derrubada do stalinismo, apesar de todas as suas contradições, é um fato revolucionário. A queda do aparato central stalinista provocou dois efeitos opostos. Por um lado, as direções tradicionais giram à direita e se integram cada vez mais ao regime burguês. Por outro, isso origina desprendimentos (ainda minoritários) pela esquerda, em busca de uma nova organização revolucionária. Este fenômeno também ocorre no trotskismo, onde as correntes mais fortes e tradicionais (o SU e o lambertismo) avançam na sua integração aos aparatos contra-revolucionários, provocando rupturas de setores que se enfrentam a essa capitulação.

A construção do PSTU é fruto desse processo de reorganização provocado pela queda do stalinismo. Também é parte desse processo a construção do POI na Ucrânia, a fusão na Espanha, o Comitê de Enlace com WI entre outros. Este processo de reorganização também explica o fato de que a LIT-QI, apesar de sua crise, hoje tenha um número de relações com dirigentes e organizações revolucionárias como nunca antes teve em sua história. Tudo isso nos leva a afirmar que a queda do stalinismo abriu melhores possibilidades para reconstruir a IV Internacional. O que não significa que esta seja uma tarefa fácil, da mesma forma que não foi nem será fácil o processo de construção do PSTU.

Nosso projeto, portanto, é avançar nas relações com os diversos dirigentes e organizações a partir da discussão programática e a atuação conjunta na luta de classes. Dessa forma, testamos se existem os acordos de princípios, programáticos e metodológicos para construir uma nova organização internacional que supere a LIT-QI e avance na reconstrução da IV Internacional. Não pretendemos criar essa nova organização somente com trotskistas nem com todos os que se reivindicam trotskistas, mas com aqueles com os quais, independente de sua origem, cheguemos a esse acordo revolucionário.

Assumimos a tarefa de impulsionar a reconstrução da IV Internacional. Temos uma história, uma experiência acumulada, um programa e o embrião de uma organização revolucionária internacional, a LIT-QI. Colocamos tudo isso a disposição do movimento de massas para avançar na tarefa de reconstrução da IV Internacional. Para ganhar forças na realização dessa difícil e histórica tarefa, chamamos os militantes da LIT-QI e todos aqueles que concordem com nosso projeto a fortalecer esse embrião revolucionário.

Disponível em: http://www.pstu.org.br/