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sábado, 29 de novembro de 2008

Lev Davidovitch Bronstein, o Leon Trotski










(1879 - 1940)
Político soviético nascido em Ianovka, Ucrânia, considerado o intelectual mais brilhante da revolução russa (1917). 

Filho de um fazendeiro judeu, estudou por pouco tempo na Universidade de Odessa, por participar da criação da clandestina União de Trabalhadores do Sul da Rússia, de tendência socialista, pelo que foi encarcerado (1898) e mais tarde desterrado para a Sibéria, de onde fugiu (1902) com um passaporte falso em nome de Leon Trotski, que adotou como pseudônimo revolucionário. 

Refugiou-se em Londres, onde se ligou ao grupo de social-democratas russos, e trabalhou com Lenin na redação da revista Iskra. 

No segundo congresso do Partido dos Trabalhadores Social Democratas Russos, realizado em Bruxelas e Londres (1903), aderiu aos menchevique, facção de oposição a Lenin e seus bolcheviques. 

Regressou à Rússia (1905) e participou ativamente dos movimentos promovidos pelo Soviete (conselho) dos Trabalhadores de São Petersburgo. 

Detido e enviado novamente à Sibéria, conseguiu fugir novamente (1907) e estabeleceu-se em Viena, onde se manteve como correspondente nas guerras dos Balcãs (1912-1913). 

No início da primeira guerra esteve França, na Espanha e nos EEUU, onde colaborou com o jornal em língua russa Novy Mir (1917). 

Regressou à Rússia em maio e assumiu a liderança de uma ala esquerdista dos mencheviques. Depois da tentativa fracassada de tomar o poder em julho, foi preso. 

Em agosto, ainda na prisão, ingressou no Partido Bolchevique e foi eleito membro de seu Comitê Central. 

Libertado em setembro, foi eleito presidente do Soviete de Petrogrado e desempenhou papel essencial nas lutas pela tomada do poder como chefe do Comitê Militar Revolucionário. 

Nomeado comissário de Assuntos Exteriores do primeiro governo soviético, dirigiu as negociações de paz com a Alemanha e seus aliados que resultaram no Tratado de Brest-Litovsk.

 Tornou-se comissário de Guerra (1918), conseguindo organização do Exército Vermelho e a política econômica do comunismo de guerra. 

Após a vitória definitiva sobre os contra-revolucionários (1920), passou a ser considerado como o autêntico substituto de Lenin. Porém após a morte de Lenin (1924), Stalin tomou o poder e ele foi destituído do Comissariado de Guerra (1926). 

Também perdeu os cargos no Politburo e no Comitê Central do Partido Comunista, foi expulso do Partido Comunista (1927) e, após um ano de desterro em Almaty, foi obrigado a abandonar a União Soviética (1929).

 Refugiado na Turquia, escreveu extraordinários livros, como Permanentnaia revolutsia (1930) e Istoriia russkoi revolutsi (1930-1933).

 Depois morou na França (1933-1935) e, após breve estada na Noruega, fixou residência em Coyoacán, perto da Cidade do México (1936). Fundou a Quarta Internacional, movimento antiestalinista e, por isso, foi julgado à revelia como o principal conspirador nos julgamentos dos líderes da oposição comunista realizados em Moscou (1936-1938) e condenado à morte. Em 1940, o agente stalinista de origem espanhola Ramon Mercader matou Trotsky em sua casa na Cidade do México.

sábado, 22 de novembro de 2008

Os Sindicatos na Época da Decadência Imperialista


Leão Trotsky
1940


A Integração das Organizações Sindicais ao Poder do Estado
Há uma característica comum no desenvolvimento ou, para sermos mais exatos, na degeneração das modernas organizações sindicais de todo o mundo: sua a aproximação e sua vinculação cada vez mais estreitas com o poder estatal. Esse processo é igualmente característico dos sindicatos neutros, social-democratas, comunistas e anarquistas. Somente este fato demonstra que a tendência a "estreitar vínculos" não é própria desta ou daquela doutrina, mas provém de condições sociais comuns a todos os sindicatos.
O capitalismo monopolista não se baseia na concorrência e na livre iniciativa privada, mas numa direção centralizada. As camarilhas capitalistas, que encabeçam os poderosos trustes, monopólios, bancos etc., encaram a vida econômica da mesma perspectiva como o faz o poder estatal, e a cada passo exigem sua colaboração. Os sindicatos dos ramos mais importantes da indústria, nessas condições vêem-se privados da possibilidade de aproveitar a concorrência entre as diversas empresas. Devem enfrentar um adversário capitalista centralizado, infimamente ligado ao poder estatal. Daí a necessidade que os sindicatos têm - enquanto se mantenham numa posição reformista, ou seja, de adaptação à propriedade privada - de adaptar-se ao estado capitalista e de lutar pela sua cooperação. Aos olhos da burocracia sindical, a tarefa principal é "liberar" o estado de suas amarras capitalistas, de debilitar sua dependência dos monopólios e voltá-los a seu favor. Esta posição harmoniza-se perfeitamente com a posição social da aristocracia e da burocracia operárias, que lutam por obter algumas migalhas do sobrelucro do imperialismo capitalista. Os burocratas fazem todo o possível, em palavras e nos fatos, para demonstrar ao estado "democrático" até que ponto são indispensáveis e dignos de confiança em tempos de paz e, especialmente, em tempos de guerra. O fascismo, ao transformar os sindicatos em organismos do estado, não inventou nada de novo: simplesmente levou até às últimas conseqüências as tendências inerentes ao imperialismo.
Os países coloniais e semicoloniais não estão sob o domínio de um capitalismo nativo, mas do imperialismo estrangeiro. Mas este fato fortalece, em vez de debilitar, a necessidade de laços diretos, diários e práticos entre os magnatas do capitalismo e os governos que deles dependem, nos países coloniais e semicoloniais. À medida que o capitalismo imperialista cria nas colônias e semicolônias um estrato de aristocratas e burocratas operários, estes necessitam o apoio dos governos coloniais e semicoloniais, que desempenhem o papel de protetores, de patrocinadores e às vezes de árbitros. Esta é a base social mais importante do caráter bonapartista e semibonapartista dos governos das colônias e dos países atrasados em geral. Essa é também a base da dependência dos sindicatos reformistas em relação ao estado.
No México, os sindicatos transformaram-se por lei em instituições semi-estatais e assumiram, por isso, um caráter semitotalitário. Segundo os legisladores, a estatização dos sindicatos fez-se em benefício dos interesses dos operários, para lhes assegurar certa influência na vida econômica e governamental. Mas enquanto o imperialismo estrangeiro dominar o estado nacional e puder, com a ajuda de forças reacionárias internas, derrubar a instável democracia e substituí-la por uma ditadura fascista declarada, a legislação sindical pode transformar-se facilmente numa ferramenta da ditadura imperialista.
Palavras de Ordem pela Independência dos Sindicatos
À primeira vista, poder-se-ia deduzir do que foi dito que os sindicatos deixam de existir enquanto tal na época imperialista. Quase não dão espaço à democracia operária que, nos bons tempos em que reinava o livre comércio, constituía a essência da vida interna das organizações operárias.
Não existindo a democracia operária não há qualquer possibilidade de lutar livremente para influir sobre os membros do sindicato. Com isso desaparece, para os revolucionários, o campo principal de trabalho nos sindicatos. No entanto, essa posição seria falsa até à medula. Não podemos escolher por nosso gosto e prazer o campo de trabalho nem as condições em que desenvolveremos nossa atividade. Lutar para conseguir influência sobre as massas operárias dentro de um estado totalitário ou semitotalitário é infinitamente mais difícil que numa democracia. Isto também se aplica aos sindicatos cujo destino reflete a mudança produzida no destino dos estados capitalistas. Não podemos renunciar à luta para conseguir influência sobre os operários alemães simplesmente porque ali o regime totalitário torna essa tarefa muito difícil. Do mesmo modo, não podemos renunciar à luta dentro das organizações trabalhistas compulsórias, criadas pelo fascismo. Menos ainda podemos renunciar ao trabalho sistemático no interior dos sindicatos de tipo totalitário ou semitotalitário somente porque dependam, direta ou indiretamente, do estado operário ou porque a burocracia não dá aos revolucionários a possibilidade de trabalhar livremente neles. Deve-se lutar sob todas essas condições criadas pela evolução anterior, onde é necessário incluir os erros da classe operária e os crimes de seus dirigentes. Nos países fascistas e semifascistas é impossível concretizar um trabalho revolucionário que não seja clandestino, ilegal, conspirativo. Nos sindicatos totalitários ou semitotalitários é impossível ou quase impossível realizar um trabalho que não seja conspirativo. Temos de nos adaptar às condições existentes nos sindicatos de cada país para mobilizar as massas não apenas contra a burguesia, mas também contra o regime totalitário dos próprios sindicatos e contra os dirigentes que sustentam esse regime.
A primeira palavra de ordem desta luta é: independência total e incondicional dos sindicatos em relação ao Estado capitalista. Isso significa lutar para transformar os sindicatos em organismos das grandes massas exploradas e não da aristocracia operária.
A segunda é: democracia sindical. Esta palavra de ordem deduz-se diretamente da primeira e pressupõe para sua realização a independência total dos sindicatos em relação ao estado imperialista ou colonial.
Em outras palavras, os sindicatos atualmente não podem ser simplesmente os órgãos da democracia como na época do capitalismo concorrencial e já não podem ser politicamente neutros, ou seja, limitar-se às necessidades cotidianas da classe operária. Já não podem ser anarquistas, quer dizer, já não podem ignorar a influência decisiva do estado na vida dos povos e das classes. Já não podem ser reformistas, porque as condições objetivas não dão espaço a nenhuma reforma séria e duradoura. Os sindicatos de nosso tempo podem ou servir como ferramentas secundárias do capitalismo imperialista para subordinar e disciplinar os operários e para impedir a revolução ou, ao contrário, transformar-se nas ferramentas do movimento revolucionário do proletariado.
A neutralidade dos sindicatos é total e irreversivelmente coisa do passado. Desapareceu junto com a livre democracia burguesa.
Necessidade do Trabalho dentro dos Sindicatos
De tudo que foi dito, depreende-se claramente que, apesar da degeneração progressiva dos sindicatos e de seus vínculos cada vez mais estreitos com o Estado imperialista, o trabalho da degeneração progressiva dos sindicatos e de seus vínculos com o Estado imperialista, o trabalho neles não só não perdeu sua importância, como é ainda maior para todo partido revolucionário. Trata-se essencialmente de lutar para ganhar influência sobre a classe operária. Toda organização, todo partido, toda fração que se permita ter uma posição ultimatista com respeito aos sindicatos, o que implica voltar as costas à classe operária, somente por não estar de acordo com sua organização, está destinada a acabar. E é bom frisar que merece acabar.
Nos Países Atrasados
Como nos países atrasados quem joga o papel principal é o capitalismo estrangeiro e não o nacional, a burguesia nacional ocupa, quanto à sua situação social, uma posição muito inferior à que deveria ocupar em relação ao desenvolvimento da indústria. Como o capital estrangeiro não importa operários, mas proletariza a população nativa, o proletariado nacional começa muito rapidamente a desempenhar o papel mais importante na vida nacional. Sob tais condições, na medida em que o governo nacional tenta oferecer alguma resistência ao capital estrangeiro, vê-se obrigado, em maior ou menor grau, a se apoiar no proletariado. Por outro lado, os governos dos países atrasados, que consideram inevitável ou mais proveitoso marcharem lado a lado com o capital estrangeiro, destroem as organizações operárias e implantam um regime mais ou menos totalitário. De modo que a debilidade da burguesia nacional, a ausência de uma tradição de governo próprio, a pressão do capital estrangeiro e o crescimento relativamente rápido do proletariado cortam pela raiz toda possibilidade de um regime democrático estável. O governo dos países atrasados, ou seja, coloniais ou semicoloniais, assume, no seu conjunto, um caráter bonapartista ou semibonapartista. Diferem entre si porque enquanto alguns tratam de se orientar para a democracia, buscando o apoio de operários e camponeses, outros implantam uma rígida ditadura policial-militar. Isso determina também a sorte dos sindicatos: ou estão sob tutela do estado ou estão sujeitos a uma cruel perseguição. Essa tutela corresponde a duas tarefas antagônicas às quais o estado deve encarar: em primeiro lugar atrair a classe operária para assim ganhar um ponto de apoio para a resistência às pretensões excessivas por parte do imperialismo, e ao mesmo tempo, disciplinar os mesmos operários colocando-os sob o controle de uma burocracia.
Capitalismo Monopolista e os Sindicatos
O capitalismo monopolista é cada vez menos capaz de conviver com a independência dos sindicatos. Exige que a burocracia reformista e a aristocracia operária, que juntam as migalhas que caem de sua mesa, transformem-se em sua polícia política aos olhos da classe operária. Quando não consegue isso, suprime a burocracia operária, substituindo-a pelos fascistas. E, diga-se de passagem, todos os esforços que a aristocracia operária faça a serviço do imperialismo não poderão salvá-la por muito tempo da destruição.
A um certo grau de intensificação das contradições de classe dentro e cada país, dos antagonismos entre um país e outro, o capitalismo imperialista não pode tolerar (ao menos por certo tempo) uma burocracia reformista, a não ser que esta lhe sirva diretamente como um pequeno, mas ativo acionista de suas empresas imperialistas, de seus planos e programas, tanto dentro do país como no plano mundial. O social-reformismo deve transformar-se em social-imperialismo para poder prolongar sua existência, mas para prolongá-la e nada mais. Esse caminho em geral não tem saída.
Isso significa que na era do imperialismo a existência de sindicatos independentes é, em geral, impossível? Seria basicamente incorreto colocar assim esta questão. O que é impossível é a existência de sindicatos reformistas independentes ou semi-independentes. É perfeitamente possível a existência de sindicatos revolucionários, que não somente não sejam agentes da política imperialista mas que também se coloquem como tarefa a destruição do capitalismo dominante. Na era da decadência imperialista, os sindicatos somente podem ser independentes na medida em que sejam conscientes de ser, na prática, os organismos da revolução proletária. Nesse sentido, o programa de transição adotado pelo último congresso da IV Internacional não é apenas um programa para a atividade do partido, mas, em traços gerais, é o programa para a atividade dos sindicatos.
O desenvolvimento dos países atrasados define-se por seu caráter combinado. Em outras palavras: a última palavra em tecnologia, economia e política imperialistas combinam-se, nesses países, com o primitivismo e o atraso tradicionais. O cumprimento dessa lei pode ser observado nas esferas mais diversas do desenvolvimento dos países coloniais e semicoloniais, inclusive na do movimento sindical. O capitalismo imperialista opera aqui de maneira mais cínica e explícita. Transporta para um terreno virgem os métodos mais aperfeiçoados de sua tirânica dominação.
No último período pode-se notar no movimento sindical mundial uma virada à direita e a supressão da democracia interna. Na Inglaterra foi esmagado o Movimento da Minoria dos sindicatos (não sem a intervenção de Moscou); os dirigentes sindicais são hoje, especialmente no terreno da política exterior, fiéis agentes do Partido Conservador. Na França não havia condições para a existência independente de sindicatos stalinistas; uniram-se aos chamados anarco-sindicalistas sob a direção de Jouhaux, e o resultado dessa unificação não foi uma virada geral à esquerda, mas sim à direita. A direção da CGT é o agente mais direto e aberto do capitalismo imperialista francês.
Nos Estados Unidos, o movimento sindical passou nos últimos anos, por seu período mais tempestuoso. O crescimento do CIO (Congresso de Organizações Industriais) é uma evidência irrebatível da existência de tendências revolucionárias nas massas operárias. No entanto é significativo e muito importante assinalar o fato de que a nova organização sindical "de esquerda", nem bem se fundou, caiu no férreo abraço do estado imperialista. A luta nas altas esferas entre a velha e a nova federação reduz-se, em grande medida, à luta pela simpatia e o apoio de Roosevelt e seu gabinete.
Não menos significativo, se bem que num sentido diferente, é o desenvolvimento ou degeneração dos sindicatos na Espanha. Nos sindicatos socialistas todos os dirigentes, que em alguma medida representavam a independência do movimento sindical, foram afastados. Quanto aos sindicatos anarco-sindicalistas, transformaram-se em instrumentos da burguesia republicana. Seus dirigentes converteram-se em ministros burgueses conservadores. Que essa metamorfose tivesse acontecido em condições de guerra civil não atenua sua significação. A guerra não é mais que uma continuação da política. Acelera processos, deixa à mostra seus traços essenciais, destrói o corrompido, o falso, o equívoco e deixa o explícito, o essencial. A virada à esquerda dos sindicatos deve-se à agudização das contradições de classe e internacionais. Os dirigentes do movimento sindical sentiram, entenderam (ou os fizeram entender), que não é momento de brincar com a oposição. Todo movimento de oposição dentro do movimento sindical, especialmente nas altas esferas, ameaça provocar uma tempestuosa mobilização das massas e criar dificuldades ao imperialismo nacional. Daí a virada à direita e a supressão da democracia operária nos sindicatos, a evolução para um regime totalitário, característica fundamental do período.
Deveríamos também considerar a Holanda, onde não apenas o movimento sindical reformista era o mais seguro suporte do capitalismo imperialista, como também a chamada organização anarco-sindicalista estava na realidade sob o controle do governo imperialista. O secretário dessa organização, Sneevliet, apesar de sua simpatia platônica pela IV Internacional, estava muito preocupado, como deputado do parlamento holandês, em que a cólera do governo não caísse sobre sua organização sindical.
Nos Estados Unidos, o Departamento do Trabalho, com sua burocracia esquerdista, tinha como tarefa a subordinação do movimento sindical ao estado democrático, e é preciso dizer que até agora a realizou com êxito.
A nacionalização das estradas de ferro e dos campos petrolíferos no México não tem, certamente, nada a ver com o socialismo. É uma medida de capitalismo de estado, num país atrasado, que busca desse modo defender-se, por um lado do imperialismo estrangeiro e por outro de seu próprio proletariado. A administração das estradas de ferro, campos petrolíferos etc., sob controle das organizações operárias, não tem nada a ver com o controle operário da indústria, porque em última instância a administração se faz por meio da burocracia trabalhista, que é independente dos operários, mas que depende totalmente do estado burguês. Essa medida tem, por parte da classe dominante, o objetivo de disciplinar a classe operária fazendo-a trabalhar mais a serviço dos "interesses comuns" do Estado, que superficialmente parecem coincidir com os da própria classe operaria. Na realidade, a tarefa da burguesia consiste em liquidar os sindicatos como organismos da luta de classes e substituí-los pela burocracia, como organismos de dominação dos operários pelo estado burguês. Em tais condições, a tarefa da vanguarda revolucionária consiste em empreender a luta pela total independência dos sindicatos e pela criação de um verdadeiro controle operário sobre a atual burocracia sindical, que foi transformada em administração das estradas de ferro, das empresas petrolíferas e outras.
Os acontecimentos dos últimos tempos (antes da guerra) demonstraram muito claramente que o anarquismo, que em teoria não é mais que um liberalismo levado às últimas conseqüências, não era na prática mais que propaganda pacífica dentro da república democrática, cuja proteção necessitava. Se deixarmos de lado os atos de terrorismo individual etc., o anarquismo, como movimento de massa e de ação política, não exerceu mais que uma atividade propagandística sob a proteção da legalidade. Em situações de crise os anarquistas sempre fazem o contrário do que pregam em tempos de paz. Isso o próprio Marx já havia assinalado, referindo-se à Comuna de Paris. E se repetiu em muito maior escala na experiência da Revolução Espanhola.
Os sindicatos democráticos, no velho sentido do termo - de organismos no quadro dos quais lutavam no seio da mesma organização de massas, mais ou menos livremente, diferentes tendências -, já não podem mais existir. Do mesmo modo que não se pode voltar ao estado democrático burguês, tampouco é possível voltar à velha democracia operária. O destino de uma reflete o da outra. Na realidade, a independência de classe dos sindicatos quanto às suas relações com o Estado burguês somente pode garanti-la, nas condições atuais, uma direção revolucionária, isto é, a da IV Internacional. Naturalmente, essa direção deve e pode ser racional e assegurar aos sindicatos o máximo de democracia concebível sob as condições concretas atuais. Mas sem a direção política da IV Internacional a independência dos sindicatos é impossível.


Agosto-1940

...O Homem Não Vive Só de "Política"


Leão Trotsky

Esta idéia muito simples, é preciso que a compreendamos duma vez por todas e que nunca a esqueçamos na nossa propaganda oral ou escrita. Cada época tem a sua divisa. A história pré-revolucionária do nosso partido foi uma história de política revolucionária. A literatura de partido, as organizações de partido tudo se encontrava submetido à palavra de ordem de "política" no sentido mais estreito do termo. A revolução e a guerra civil aumentaram ainda mais a acuidade e a intensidade das tarefas dos interesses políticos. Durante esse período, o partido reuniu nas suas fileiras os elementos politicamente mais ativos da classe operária. No entanto, as conclusões políticas fundamentais desses anos são claras para a classe operária no seu conjunto. A repetição mecânica dessas conclusões nada lhe trará de novo; antes poderá desvanecer na sua consciência as lições do passado. Após a tomada do poder e a sua consolidação em seguida à guerra civil, as nossas tarefas fundamentais deslocaram-se para o domínio da construção econômica e cultural, tornaram-se mais complexas, parcelaram-se, adquiriram um caráter mais detalhado e, ao que parece, mais "prosaico". Mas, ao mesmo tempo, as nossas lutas anteriores, com o seu cortejo de esforços e de sacrifícios, não encontrarão justificação senão na medida em quê consigamos enunciar corretamente e resolver as tarefas particulares, do dia a dia, aquelas que dependem do "militantismo cultural".
Com efeito, o que é que a classe operária exatamente ganhou, o que é que obteve no decurso das suas anteriores lutas?
A ditadura do proletariado (por intermédio de um Estado operário e camponês dirigido pelo partido comunista).
O Exército Vermelho, como apoio material da ditadura do proletariado.
A nacionalização dos principais meios de produção sem a qual a ditadura do proletariado seria uma forma vazia, sem conteúdo.
O monopólio do comércio externo, condição necessária da construção socialista perante um envolvimento capitalista.
Estes quatro elementos, cuja conquista é definitiva, constituem a armadura de aço de todo o nosso trabalho. Graças a isso, graças a essa armadura, cada um dos nossos êxitos no domínio econômico ou cultural - quando êxito real e não imaginário - tornou-se necessariamente um elemento constitutivo da construção socialista.
Em que consiste hoje a nossa tarefa, que devemos nós aprender em primeiro lugar, em que sentido devemos tender?
Precisamos aprender a bem trabalhar - com precisão, com limpeza, com economia. Temos necessidade de desenvolver a cultura do trabalho, a cultura da vida, a cultura do modo de vida. Após uma longa preparação e graças à alavanca da insurreição armada, derrubamos a supremacia dos exploradores. Mas não existe alavanca que possa de um só golpe elevar a cultura. Um lento processo de auto-educação da classe operária e paralelamente do campesinato, é aqui necessário. O camarada Lênin, num artigo sobre a cooperação, evoca essa mudança de direção da nossa atenção, dos nossos esforços, dos nossos métodos:
"... Somos forçados - diz ele - a reconhecer uma transformação radical do nosso ponto de vista sobre o socialismo. Essa transformação radical provém de que outrora nós colocávamos, e devíamos colocar, o centro de gravidade da nossa atividade no combate político, na revolução, na conquista do poder, etc.. Hoje, esse centro de gravidade variou a tal ponto que se deslocou para um trabalho organizacional, pacífico, cultural. Estaria pronto a dizer que, para nós, o centro de gravidade se deslocou para o militantismo cultural, se não existissem nem as relações internacionais nem a obrigação de defender a nossa situação à escala internacional. Mas se nos abstrairmos disso e nos limitarmos às relações econômicas internas, então hoje o centro de gravidade reduz-se efetivamente ao "militantismo cultural" .
Assim, só o problema da nossa situação internacional nos desvia do militantismo cultural, e isso apenas em parte como em seguida veremos. O fator principal da nossa situação internacional é a defesa nacional, isto é, o Exército Vermelho. Ora, nesse domínio fundamental, as nossas tarefas relacionam-se ainda uma vez mais, em nove décimos, com o militantismo cultural; elevar o nível do exército, levar a bom termo a sua completa alfabetização, ensinar-lhe a utilizar os guias, os livros e as cartas, habituá-lo ao asseio, à exatidão, à pontualidade, à observação. Não há remédio milagroso que permita resolver imediatamente esses problemas. No fim da guerra civil, quando abordávamos uma nova fase da nossa atividade, a tentativa de criar uma "doutrina militar proletária" foi a expressão mais clara e a mais gritante da incompreensão das tarefas da nova época. Os orgulhosos projetos que visam criar uma "cultura proletária" em laboratório, procedem da mesma incompreensão. Nesta busca da pedra filosofal, o nosso desespero perante o nosso atraso une-se a uma crença no milagre, que é ela própria um sinal desse atraso. Mas não temos nenhuma razão de desesperar e é mais do que tempo de nos libertarmos dessa crença nos milagres, dessas práticas pueris de curandeiros, do gênero "cultura proletária" ou doutrina militar proletária. Para robustecer a ditadura do proletariado é necessário desenvolver um militantismo cultural quotidiano, o único a garantir um conteúdo socialista para as conquistas fundamentais da revolução. Quem não tenha compreendido isso, representa um papel reacionário na evolução do pensamento e do trabalho do partido.
Quando o camarada Lênin afirma que as nossas tarefas de hoje não são tanto políticas como culturais, é necessário entendermo-nos sobre a terminologia a fim de não interpretar erradamente o seu pensamento. Num certo sentido, a política domina tudo. O conselho do camarada Lênin de transferir a nossa atenção do domínio político para o domínio cultural, é um conselho político. Quando um partido operário, em tal ou tal país, decide que é necessário num dado momento colocarem em primeiro plano as exigências econômicas e não as políticas, essa decisão tem um caráter "político". É perfeitamente evidente que a palavra "política", é utilizada aqui em dois sentidos diferentes: em primeiro lugar num sentido largo, materialista-dialético, englobando o conjunto das idéias diretivas, dos métodos e dos sistemas que orientam a atividade da coletividade em todos os domínios da vida social; em segundo lugar, num sentido estreito, especializado, caracterizando uma certa parte da atividade social, intimamente ligada à luta pelo poder e oposta ao trabalho econômico, social, etc.. Quando o camarada Lênin escreve que a política é economia concentrada, encara a política no sentido largo, filosófico. Quando o camarada Lênin diz: "um pouco menos de política, um pouco mais de economia", encara a política no sentido estreito e especializado do termo. As duas acepções são igualmente válidas visto que legitimadas pelo uso. Importa apenas compreender bem do que se fala em cada um dos casos.
A organização comunista é um partido político no sentido amplo, histórico, ou, se prefere, filosófico do termo. Os outros partidos atuais são políticos unicamente no sentido em que fazem (pequena) política. Se o nosso partido transfere a sua ação para o domínio cultural, isso de modo nenhum significa que enfraqueça o seu papel político. Historicamente, o papel dirigente (isto é, político) do partido, manifesta-se precisamente nessa deslocação lógica da sua atenção para o domínio cultural. Só após longos anos de atividade socialista, conduzida com êxito no interior e garantida no exterior, é que o partido poderá libertar-se pouco a pouco da sua carapaça "partisan" para se confundir com a comunidade socialista. Mas isso está ainda tão longe que se torna inútil antecipar sobre o futuro... No imediato, o partido deve conservar totalmente as suas características fundamentais: coesão ideológica, centralização, disciplina, e, correlativamente, combatividade. Mas precisamente essas inestimáveis qualidades de "espírito de partido" comunista não podem manter-se e desenvolver-se se não se satisfazem as exigências e as necessidades econômicas e culturais de forma mais completa, mais hábil, mais exata e mais minuciosa. Em conformidade com essas tarefas, que devem desempenhar hoje um papel preponderante na nossa política, o partido reagrupa, distribui as suas forças e educa a jovem geração. Por outras palavras, a grande política exige que na base do trabalho de agitação, de propaganda, de repartição de forças, de instrução e de educação, sejam hoje colocadas tarefas e exigências econômicas e culturais e não exigências "políticas" no sentido estreito do termo.
* * *
A poderosa unidade social que representa o proletariado surge em toda a sua amplitude nas épocas de luta revolucionária intensa. Mas no interior dessa unidade, observamos ao mesmo tempo uma incrível diversidade e mesmo uma grande heterogeneidade. Do pastor obscuro e inculto ao maquinista altamente especializado escalona-se toda uma variedade de qualificações, de níveis culturais, de hábitos de vida. Cada camada social, cada oficina de empresa, cada grupo, é constituído por indivíduos de idade e caráter diferentes, de passado diversificado. Se não existisse essa diversidade, o trabalho do partido comunista no domínio da educação e da unificação do proletariado seria de todo simples. Mas, pelo contrário, o exemplo da Europa prova-nos quanto esse trabalho é na realidade difícil. Pode dizer-se que quanto mais a história de um país, e portanto a própria história da própria classe operária, é rica, mais reminiscências, tradições e hábitos nela se encontram; quanto mais os grupos sociais nela são antigos, mais difícil é realizar a unidade da classe operária. O nosso proletariado quase não tem história nem tradições. Isso facilitou sem dúvida a sua preparação para a Revolução de Outubro. Mas, em contrapartida, isso torna mais difícil a sua construção após Outubro. O nosso operário (com exceção da camada superior) ignora inclusivamente os hábitos culturais mais elementares (desconhece, por exemplo, o asseio e a exatidão, não sabe ler nem escrever, etc.). O operário europeu adquiriu pouco a pouco esses hábitos no quadro do regime burguês: é por isso - vê-se nas camadas superiores - que está tão fortemente ligado a esse regime, com a sua democracia, a sua liberdade de imprensa e outros bens do mesmo gênero. Entre nós, um regime burguês tardio quase nada deu ao operário; foi justamente por isso que, na Rússia, o proletariado pôde romper e derrubar mais facilmente a burguesia. Mas é também pela mesma razão que o nosso proletariado, na sua maioria, é obrigado a adquirir hoje, isto é, no quadro de um governo socialista operário, os mais simples hábitos culturais. A história nada dá gratuitamente: se faz um desconto numa coisa, sobre política, vai recuperá-lo por outro lado, sobre a cultura. Quanto mais fácil foi (relativamente, entenda-se) ao proletariado russo fazer a revolução, tanto mais lhe será difícil realizar a construção socialista. Mas, em compensação, a armadura da nossa nova sociedade, forjada pela revolução e caracterizada pelos quatro elementos fundamentais citados no princípio deste capítulo, imprime um caráter objetivamente socialista a todos os esforços conscientes e nacionais no domínio da economia e da cultura. O operário, em regime burguês, sem o querer e sem mesmo o saber, enriquece a burguesia e enriquece-a tanto mais quanto melhor trabalha. No Estado soviético, o operário consciencioso, mesmo sem nisso pensar nem com tal se preocupar (se é sem-partido e apolítico) realiza um trabalho socialista, aumenta os meios da classe operária. Está aí precisamente todo o sentido da Revolução de Outubro, que a N.E.P. em nada modificou.
Existe um enorme número de operários sem partido, profundamente dedicados à produção, à técnica, à máquina. Deve falar-se com reserva do seu "apolitismo", isto é, da sua ausência de interesse pela política. Nos momentos difíceis e importantes da revolução estiveram ao nosso lado. Na sua grande maioria, Outubro não os assustou, não desertaram nem traíram. Quando da guerra civil, numerosos dentre eles estiveram na frente e outros trabalharam para equipar o exército. Depois regressaram ao trabalho pacífico. Chamou-se-lhes apolíticos, e não sem fundamento, porque colocam o seu trabalho ou o seu interesse familiar mais alto do que o interesse político, pelo menos durante os períodos "calmos". Cada um deles quer tornar-se um bom operário, aperfeiçoar-se, elevar-se a um nível superior, tanto para melhorar a situação da sua fábrica como devido a um amor próprio profissional legítimo. Cada um deles, como já dissemos, realiza um trabalho socialista mesmo que não tenha fixado isso como objetivo. Mas o que nos interessa a nós, partido comunista, é que esses operários-produtores tenham uma clara consciência da ligação existente entre a sua particular produção quotidiana e os fins da construção socialista no seu conjunto. Os interesses do socialismo estarão assim melhor garantidos e esses produtores individuais retirarão disso uma satisfação moral bastante maior.
Mas como chegar a isso? É difícil sustentar com este tipo de operários questões de política pura. Já escutou todos os discursos. Não se sente atraído pelo partido. O seu pensamento só desperta quando está junto da sua máquina e, de momento, aquilo que não o satisfaz é a ordem que existe na oficina, na fábrica, no trust. Esses operários procuram ir tão longe quanto possível na sua reflexão; são freqüentemente reservados; vê-se sair das suas fileiras os inventores autodidatas. Não é de política que se lhes deve falar, não é pelo menos isso que os apaixonará ao primeiro contato, más, em compensação, pode e deve falar-se-lhe de produção e de técnica.
Um dos participantes na reunião dos agitadores moscovitas, o camarada Koltsov (do bairro de Krasnáia Presnia) sublinhou a enorme falta de manuais, de livros de estudo, de obras sobre especialidades técnicas ou outras profissões particulares. Os velhos livros estão esgotados; aliás, alguns dentre eles envelheceram no plano técnico, enquanto que no plano político estão geralmente impregnados dum servil espírito capitalista. Quanto aos novos manuais, existe um ou dois no máximo; é difícil encontrá-los porque foram editados em momentos diferentes por empresas ou serviços diversos, fora de todo o plano geral. Não são sempre tecnicamente válidos: são com freqüência demasiado teóricos e acadêmicos; enquanto que, politicamente, estão em geral não referenciados, não sendo no fundo mais do que a tradução de obras estrangeiras. Temos necessidade de uma série de novos manuais de algibeira: para o serralheiro soviético, para o torneiro soviético, para o eletricista soviético, etc.. Estes manuais devem adaptar-se à nossa técnica e à nossa economia atuais, devem ter em conta a nossa pobreza assim como as nossas imensas possibilidades, devem visar a desenvolver na nossa indústria métodos e hábitos novos muito mais racionais. Devem ainda, numa medida mais ou menos larga, evidenciar as perspectivas socialistas do ponto de vista das necessidades e dos interesses da própria técnica (é aqui que se localizam os problemas de normalização, de eletrificação, de economia planificada). Em tais obras, as idéias e as conclusões socialistas devem integrar-se na teoria prática de tal ou tal setor de atividade. De modo nenhum devem ter caráter de agitação supérflua e inoportuna. É enorme a procura para essas edições, devido à carência de operários qualificados, e ao desejo, por parte dos próprios operários, de elevar a sua qualificação. Essa procura acentua-se pela baixa de produtividade registrada no decurso da guerra civil e imperialista. Temos aqui uma tarefa extremamente importante e útil a realizar.
Não se pode certamente ignorar quanto é difícil redigir esses manuais. Os operários, mesmo os altamente qualificados, não sabem escrever livros. Os escritores especializados que abordam certos problemas ignoram com freqüência os seus aspectos práticos. Finalmente, entre estes, poucos há que possuam um pensamento socialista. No entanto, este problema só pode encontrar uma solução combinada e não "simples", isto é, rotineira. Para escrever um manual, é preciso reunir um grupo de três pessoas (troika) formado por um escritor especialista, tecnicamente informado, que conheça - ou que seja capaz de conhecer - o estado do ramo correspondente da nossa produção, por um operário altamente especializado nesse domínio, de espírito inventivo, e por um escritor marxista, com formação política e com alguns conhecimentos no campo da técnica e no da produção. Quer se utilize esta solução ou outras análogas, permanece a necessidade de pôr em marcha uma biblioteca exemplar de obras técnicas destinadas às oficinas, convenientemente encadernadas, de formato prático e pouco dispendiosas. Semelhante biblioteca desempenharia um duplo papel: favoreceria a elevação da qualificação do trabalho e por conseqüência o êxito da construção socialista; ajudaria, ao mesmo tempo, a reunir um grupo de operários-produtores extremamente válidos para a economia soviética no seu conjunto e, portanto, para o partido comunista.
Sem dúvida que não se pode ter por limite único uma série de manuais de estudo. Se nos detivemos de forma tão detalhada sobre esse particular problema foi porque ele nos oferece, ao que parece, um exemplo bastante evidente da nova abordagem ditada pelos problemas do período atual. A luta pela conquista ideológica dos proletários "apolíticos" pode e deve ser conduzida por meios diversificados. É preciso editar semanários ou mensários científicos e técnicos especializados por sector de produção; é preciso criar sociedades científicas e técnicas destinadas a esses operários. É com vista a eles que, numa boa metade, deve orientar-se a nossa imprensa profissional se de fato não quer ser uma imprensa destinada unicamente ao pessoal dos sindicatos. Mas o argumento político mais convincente para os operários desse tipo consistirá em cada um dos nossos êxitos práticos no domínio industrial, em cada organização real do trabalho na fábrica ou na oficina, em cada esforço ponderado do partido nessa direção.
Pode formular-se da maneira seguinte o ponto de vista político do operário-produtor que presentemente nos interessa e que raramente exprime as suas idéias: "quanto à revolução e ao derrube da burguesia, nada há a opor, houve razão em fazê-lo. Não temos necessidade da burguesia. Não temos também necessidade dos representantes mencheviques ou outros. No que respeita à "liberdade de imprensa?"- isso não é de tanta importância e não é esse o fundo do problema. Mas como ides vós resolver o problema da economia? Vós, comunistas, haveis tomado a direção dos negócios. Os vossos fins e os vossos planos são válidos, sabemo-lo, é inútil repeti-lo, houvemo-los, estamos de acordo, damo-vos o nosso apoio, mas, vejamos, como ides resolver praticamente esses problemas? Até ao presente, não vale a pena escondê-lo, aconteceu-vos com freqüência pôr o dedo onde não era devido. Sabemos que não se pode agir bem à primeira, que é preciso aprender, que os erros são inevitáveis. Sempre assim sucede. E visto que suportamos os crimes da burguesia, suportaremos tanto mais os erros da revolução. Mas isso não durará eternamente. Entre vós, comunistas, existe gente diferente entre si, como aliás também entre nós sucede, pobres pecadores: certos há que estudam realmente, fazem conscienciosamente o seu trabalho, diligenciam chegar a um resultado econômico prático, enquanto que outros se limitam à pantominice. E os pantomineiros são muito prejudiciais, porque o trabalho se lhes escapa por entre os dedos ...". Este tipo de operário, eis o que ele é: torneiro, serralheiro ou fundidor zeloso, hábil e atento ao seu trabalho; não é entusiasta, é antes politicamente passivo, mas reflete, tem espírito crítico; é por vezes um pouco cético, mas mantém-se sempre fiel à sua classe; é um proletário de valor. É em direção a este tipo de operários que o partido deve atualmente dirigir os seus esforços. O nosso grau de implantação nessa camada social - na economia, na produção, na técnica - será o índice mais seguro dos nossos êxitos em matéria de militantismo cultural, encarado no seu sentido mais amplo, no sentido leninista do termo.
Dirigir os nossos esforços para o operário consciencioso, de modo nenhum contradiz, claro está, a tarefa primordial do partido que consiste em enquadrar a jovem geração do proletariado, porque esta jovem geração se desenvolve em condições precisas; forma-se, fortalece-se e endurece-se resolvendo determinados problemas. A jovem geração deve, antes de mais, ser uma geração de operários especializados, altamente qualificados, amantes do seu trabalho. Deve adquirir consciência de que a sua produção serve ao mesmo tempo o socialismo. A atenção dispensada à aprendizagem, o desejo de adquirir uma alta qualificação, aumentará, aos olhos da juventude, a autoridade dos "velhos" operários, que, como já se disse, permanecem na maioria fora do partido. Ao mesmo tempo que dirigimos os nossos esforços para o operário consciencioso e hábil, devemos também aplicar-nos em educar a juventude proletária. Sem isso, seria impossível seguir em frente, rumo ao socialismo.

Classe - Partido - Direcção

Leão Trotsky
Agosto de 1940

A amplitude do retrocesso que o movimento operário foi obrigado a dar pode ser medida não só pelas condições das organizações de massa, como também pelos agrupamentos ideológicos e pela busca teórica empreendida por numerosas grupos. Em Paris publica-se um jornal, "Que Faire?", que não sei por que motivos se considera marxista, embora, na realidade, se mantenha dentro dos limites empíricos dos intelectuais burgueses de esquerda e daqueles operários isolados que assimilaram todos os seus vícios.
Como todos os grupos carentes de bases científicas, sem programa e sem nenhuma tradição, este pequeno jornal procurou proteger-se sob as saias do POUM que parecia abrir o caminho mais curto às massas e à vitória. O resultado desta ligação com a Revolução espanhola foi que o jornal não avançou, mas pelo contrário, retrocedeu. À primeira vista, este resultado parece completamente inesperado, mas, na realidade, faz parte da natureza das coisas. As contradições entre a pequena burguesia, o conservadorismo e as necessidades da revolução proletária desenvolveram-se ao extremo. É totalmente natural que os defensores e intérpretes da política do POUM se vejam forçados a retroceder, tanto no campo político como no teórico.
O jornal "Que Faire?", em si e por si, carece de importância, mas oferece um interesse sintomático e por isso consideramos proveitoso deter-nos em suas apreciações sobre as causas do colapso da Revolução espanhola, visto que elas revelam graficamente os traços fundamentais que prevalecem agora no flanco do pseudomarxismo.
"Que Faire?"
Começamos por uma citação textual de uma crítica ao folheto "Espanha Traída", do camarada Casanova. Diz "Que Faire?": Por que a Revolução espanhola foi esmagada? Porque, replica Casanova, o Partido Comunista "praticou uma política falsa que, desgraçadamente, foi seguida também pelas massas revolucionárias". Mas por que, com todos os diabos, as massas revolucionárias abandonaram seus antigos dirigentes e seguiram o Partido Comunista? "Porque não existia um autêntico partido revolucionário." Obsequia-nos, então, com uma tautologia pura. Uma falsa política de massas e um Partido imaturo expressam determinadas condições de forças sociais (imaturidade da classe trabalhadora, falta de independência do campesinato), que devem ser explicadas como expressão dos fatos apresentados pelo próprio Casanova ou então passam a ser explicadas como produto das ações de alguns indivíduos ou grupo de indivíduos "malvados", ações que não correspondem aos esforços dos elementos "sinceros", os únicos capazes de salvar a revolução. Depois de andar às cegas pelo primeiro caminho, marxista, Casanova segue pelo segundo, introduzindo-nos no domínio da demonologia. O criminoso responsável pelas derrotas é o Diabo-Chefe, Stálin, apoiado pelos anarquistas e todos os demais diabos menores; desgraçadamente o deus dos revolucionários não enviou à Espanha "um Lenine ou um Trotski, como o fez na Rússia em 1917".
Em seguida vem a conclusão: "isto é o que acontece por tentar a todo o custo encaixar forçadamente os fatos dentro de uma ortodoxia ossificada".
Esta altivez teórica chega a ser solene, se se considera o quão difícil é incluir em tão poucas linhas um número tão grande de banalidades, vulgaridades e erros típicos do filisteu conservador.
O autor da citação acima evita dar uma explicação da derrota da Revolução espanhola; só dá explicações profundas como: "certas condições das forças sociais". A evasiva de toda a explicação não é acidental. Estes críticos do bolchevismo são todos uns covardes teóricos pela simples razão de que não têm nada sólido sob os pés. Para não revelar sua própria decadência, escondem os fatos e divagam em torno das opiniões dos demais. Limitam-se a meias palavras e a pensamentos incompletos, como se não tivessem tempo para mostrar a sua sabedoria. Na realidade, carecem por completo dela. Sua altivez está revestida de charlatanismo intelectual.
Analisemos uma a uma as meias palavras e os pensamentos incompletos do nosso autor. Segundo ele, uma falsa política de massas só pode ser explicada como "manifestação de certas condições de forças sociais" que são a imaturidade da classe operária e a falta de independência do campesinato. Aquele que procura tautologias não poderia encontrar uma mais completa. Uma falsa política para com as massas é explicada pela "imaturidade" das massas. Mas o que é imaturidade das massas?
Evidentemente sua predisposição a uma falsa política. Em que consiste uma falsa política e quem foram seus iniciadores - as massas ou os dirigentes? - nosso autor não explicou. Descarrega a responsabilidade sobre as massas, mediante uma tautologia. Esta clássica fraude de todos os traidores, desertores e seus agentes provoca indignação, particularmente em se tratando do proletariado espanhol.
Sofismas de Traidores
Em julho de 1936 - para não nos referirmos a um período anterior - os operários espanhóis repeliram o assalto dos oficiais que haviam preparado sua conspiração sob a proteção da Frente Popular. As massas improvisaram milícias armadas e criaram comitês operários, os baluartes de sua futura ditadura. As organizações dirigentes do proletariado, por outro lado, ajudaram a burguesia a destruir esses comitês, a reprimir os assaltos dos operários contra a propriedade privada e a subordinar as milícias operárias ao comando da burguesia, além da participação do POUM no governo que assumira a responsabilidade por este trabalho de contra-revolução.
Que significa neste caso "imaturidade" do proletariado? Evidentemente apenas isto: que as massas, apesar de terem escolhido uma linha correta, não puderam romper a coligação de "socialistas", stalinistas, anarquista e do POUM com a burguesia. Esta amostra sofista tomou como ponto de partida o conceito de maturidade absoluta, isto é, uma condição perfeita das massas, onde elas não necessitam de uma direção correta e, mais que isso, são capazes de conquistar o poder contra sua própria direção. Não existe nem pode existir tal maturidade.
Mas por que - objetam nossos sábios - os operários que mostram um instinto revolucionário tão correto e qualidades de luta tão superiores se submetam a uma direção traidora?
Nossa resposta é esta: não houve nenhuma submissão. A linha de ação dos operários separou-se durante todo o tempo da linha da direção, em determinado ângulo. Nos momentos mais críticos, esse ângulo tornou-se 180º. A direção, então, ajudou, direta ou indiretamente, a submeter os operários pela força armada.
Em maio de 1937, os operários da Catalunha levantaram-se não só sem nenhuma direção, mas também contra ela. Os dirigentes anarquistas - patéticos e desprezíveis burgueses, com um disfarce revolucionário barato - repetiram mil vezes em sua imprensa que, se a CNT tivesse desejado tomar o poder em maio e estabelecer sua ditadura, teria conseguido isto sem nenhuma dificuldade. Desta vez os dirigentes anarquistas dizem a pura verdade. Na realidade, a direção do POUM marchava rebocada pela CNT, embora cobrindo sua política com um fraseologia distinta. Graças a isso, e só a isso, é que a burguesia conseguiu esmagar, em maio, o levante do "imaturo" proletariado espanhol. É preciso não compreender absolutamente nada das relações entre a classe e o Partido, entre as massas e a direção, para repetir vaziamente que as massas espanholas se limitaram a seguir seus dirigentes. A única coisa que se pode dizer é que as massas, que procuravam em todos os momentos encontrar um bom caminho, viram que era superior às suas forças estruturar, no próprio fragor da batalha, uma nova direção que correspondesse às exigências da revolução. Temos diante de nós um processo profundamente dinâmico em que as diferentes etapas da revolução se sucedem rapidamente, em que a direção ou alguns de seus setores desertam rapidamente para o campo do inimigo de classe. E nossos sábios se emprenham em uma discussão puramente estática: por que a classe operária em seu conjunto seguiu a má direção?
A Penetração Dialética
Existe um aforismo liberal-evolucionista: cada povo tem o governo que merece. A História, no entanto, demonstra que um mesmo povo pode ter, no transcurso de uma época relativamente curta, diferentes governos (Rússia, Itália, Alemanha, Espanha etc.) e, ainda mais, que a ordem destes governos não segue absolutamente na mesma direção do estadismo à liberdade, como imaginavam os liberal-evolucionistas. O segredo está em que um povo é formado por classes hostis entre si e estas, por sua vez, por camadas diferentes e por vezes antagônicas, cada uma sob uma direção diferente. Além disso, cada povo sofre a influência de outros povos que também são formados por classes. Os governos exprimem a "maturidade" em desenvolvimento de um povo, mas são o produto da luta das diferentes classes e das diferentes camadas dentro de uma mesma classe e, por último, o produto da ação das forças externas (alianças, conflitos, guerras etc.). Deve-se acrescentar a isto quer um governo, uma vez tendo estabelecido, pode durar muito mais que as relações de força que o produziram. É precisamente desta contradição histórica que surgem as revoluções, os golpes de Estado, as contra-revoluções etc.
A mesma penetração dialética é necessária quando se trata da direção de uma classe. Imitando os liberais, nossos sábios aceitam tacitamente o axioma de que cada classe tem a direção que merece. Na realidade, a direção, de nenhum modo, é um simples "reflexo" de uma classe ou o produto de sua própria criação livre. Forja-se a direção no processo dos choques entre diferentes classes e das fricções entre as diferentes camadas dentro de determinada classe. Uma vez assumido seu papel, a direção invariavelmente se eleva acima de sua classe, com o que fica predisposta a sofrer pressões e influências de outras classes. O proletariado pode "tolerar" por longo tempo uma direção que tenha sofrido um processo de completa degeneração interna, contanto que ela não tenha tido a oportunidade de evidenciar essa degeneração diante dos grande acontecimentos. É necessário um grande abalo histórico para aparecer a aguda contradição entre a direção e a classe. Os abalos históricos mais poderosos são as guerras e as revoluções. Precisamente por este motivo é que, com freqüência, a classe operária é pega desprevenida pela guerra e pela revolução. Mas mesmo nos casos em que a velha direção tenha revelado sua corrupção interna, a classe não pode improvisar imediatamente uma nova direção, se não herdou do período anterior sólidos quadros revolucionários, capazes de aproveitar o colapso do velho Partido dirigente. A interpenetração marxista - quer dizer, dialética, e não escolástica - das relações entre uma classe e sua direção não deixa pedra sobre pedra da série de sofismas "vulgares" do nosso autor.
Como Amadureceram os Operários Russos
Casanova concebe a maturidade do proletariado como algo puramente estático. Mas durante uma revolução, a consciência de uma classe é o processo mais dinâmico que determina diretamente o curso da revolução. Era possível, em janeiro de 1917 ou mesmo em março, depois da derrota do tzarismo, responder se o proletariado russo teria "amadurecido" o suficiente para conquistar o poder em oito ou nove meses? A classe operária, nesse tempo, era sumamente heterogênea social e politicamente. Durante os anos de guerra tinha-se renovado em 30 a 40%, mediante o ingresso em suas fileiras de pequeno-burgueses provenientes do campesinato e freqüentemente reacionários, mulheres e jovens. Em março de 1917, o Partido bolchevique continuava sendo uma insignificante minoria da classe operária e. além disso, existiam desacordos dentro do próprio partido. A imensa maioria dos operários apoiava os mencheviques e os "socialistas revolucionários", isto é, os social-patriotas conservadores. A situação ainda era mais desfavorável com respeito ao exército e ao campesinato, devendo acrescentar a isto o baixo nível geral a cultura no campo, a falta de experiência política entre as mais amplas camadas do proletariado, especialmente nas províncias, o que isolou os soldados e os camponeses.
Qual era o "ativo" do bolchevismo? Ao começar a revolução, somente Lenine mantinha uma concepção clara e profunda. Os quadros russos do Partido estavam dispersos e em um considerável grau de confusão, mas o Partido gozava de grande autoridade entre os operários de vanguarda. Lenine gozava de grande autoridade entre os quadros do Partido. A concepção política de Lenine correspondia ao desenvolvimento real da revolução e era forçada por cada novo acontecimento. Estes elementos do :"ativo" operam maravilhas em sua situação revolucionária, quando se torna aguda a luta de classes. O Partido alinhou sua política de acordo com a concepção de Lenine que estava em harmonia com o verdadeiro curso da revolução. Graças a ele, encontrou firme apoio de dezenas de milhares de operários de vanguarda. Baseando-se no desenvolvimento da revolução, o Partido foi capaz de, em poucos meses, convencer a maioria dos operários da justeza de suas propostas. Esta maioria, organizada em Sovietes, foi capaz, por sua vez, de atrair os soldados e os camponeses. Como este processo dinâmico pode ser encerrado e esgotado em uma fórmula sobre a maturidade ou imaturidade do proletariado? Um fator importantíssimo da maturidade do proletariado russo, em fevereiro e março de 1917, foi Lenine. E Lenine não caiu do céu. Personificava a tradição revolucionária da classe operária. Para que os postulados de Lenine pudessem abrir caminho para as massas era necessário que existissem quadros, ainda quer numericamente limitados, no princípio: era necessário que existisse confiança dos quadros em sua direção, uma confiança baseada na experiência passada. Excluir estes cálculo ou substituí-los por uma abstração, a "relação de forças" é simplesmente ignorar a revolução viva. Porque o desenvolvimento da revolução consiste precisamente nas mudanças rápidas e incessantes que sofrem as relações de forças sob o impacto das transformações na consciência do proletariado, na atração que as camadas avançadas exercem sobre as atrasadas, na crescente confiança da classe em sua própria força. A mola vital deste processo é o Partido, assim como a mola vital do Partido é sua direção. O papel e a responsabilidade da direção em uma época revolucionária são enormes.
Relatividade da Maturidade
A vitória de Outubro é um testemunho valioso da "maturidade" do proletariado. Mas esta maturidade é relativa. Poucos anos depois, esse mesmo proletariado permitiu que a revolução fosse estrangulada por uma burocracia surgida de suas próprias fileiras. A vitória, de nenhum modo, é o fruto maduro da "maturidade" do proletariado. A vitória é uma tarefa estratégica. É necessário aproveitar as condições favoráveis que uma crise revolucionária oferece para mobilizar as massas; tomando como ponto de partida o nível de sua "maturidade", é necessário impulsioná-las para a frente, fazê-las compreender que o inimigo não é de maneira nenhuma onipotente, que ele está dilacerado por suas contradições e que, por trás de sua impotente fachada, reina o pânico. Se o Partido Bolchevique tivesse fracassado nesta tarefa, não se poderia nem falar no triunfo da revolução protelaria. Os sovietes teriam sido esmagados pela contra-revolução e os minúsculos sábios de todos os países teriam escrito artigos dizendo que só visionários sem fundamento poderiam sonhar com a ditadura do proletariado na Rússia, sendo a classe operária, como era, tão pequena numericamente e tão imatura.
O Papel Auxiliar dos Camponeses
Igualmente abstrata, pedante e falsa é a referência à "falta de independência" do campesinato. Quando e onde o nosso sábio viu, em uma sociedade capitalista, um campesinato com um programa revolucionário independente ou com capacidade para a iniciativa revolucionária independente? O campesinato pode ter um papel muito importante na revolução, mas só de caráter auxiliar.
Muitas vezes os camponeses espanhóis atuaram com audácia e lutaram valentemente. Mas para despertar toda a massa do campesinato, o proletariado teve de dar o exemplo através de um decidido levante contra a burguesia e inspirar nos camponeses confiança na possibilidade de uma vitória. Entretanto, a iniciativa do proletariado era paralisada a cada passo por suas próprias organizações.
A "imaturidade" do proletariado e a "falta de independência" do campesinato não são fatores decisivos, nem básicos, nos acontecimentos históricos. Por baixo da consciência das classes estão as próprias classes, sua força numérica e seu papel na vida econômica. Por baixo das classes está um sistema específico de produção que, por sua vez, é determinado pelo nível do desenvolvimento das forças produtivas. Por que não dizer, então, que a derrota do proletariado espanhol foi determinada pelo baixo nível da tecnologia?
O Papel da Personalidade
Nosso autor substitui o condicionamento dialético do processo histórico pelo determinismo mecânico. Daí suas digressões baratas sobre o papel dos indivíduos, bons e maus. A História é um processo de luta de classes. Mas as classes não nos deixam sentir o seu peso automática e simultaneamente. No processo da luta, as classes criam diferentes órgãos que exercem um papel importante e independente e estão sujeitos a deformações. Isto também a base para o papel das personalidades na História. Existem, naturalmente, importantes causas objetivas que criaram o governo autocrático de Hitler, mas só os estúpidos pedantes do "determinismo" podem negar hoje o enorme papel histórico de Hitler. A chegada de Lenine a Petrogrado, no dia 13 de abril de 1917, fez virar a tempo o Partido Bolchevique e o capacitou para levar a revolução à vitória. Nossos sábios poderiam dizer que, se Lenine tivesse morrido no estrangeiro em princípios de 1917, a Revolução de Outubro teria ocorrido da mesma maneira. Mas não é verdade. Lenine representava um dos elementos vivos do processo histórico. Personificava a experiência do setor mais ativo do proletariado. Seu oportuno aparecimento na arena da revolução foi necessário para mobilizar a vanguarda e dar oportunidade à classe operária e às massas camponesas. A direção política, nos momentos cruciais de viradas históricas, pode chegar a ser um fator decisivo, como o papel do comando supremo durante os momentos críticos de uma guerra. A História não é um processo automático. Se o fosse, então para que os programas, para que os dirigentes, para que os partidos, para que as lutas teóricas?
O Stalinismo na Espanha
"Mas por que, com todos os diabos - pergunta, com já vimos, o autor - as massas revolucionárias abandonaram seus antigos dirigentes e seguiram o Partido Comunista?"
A questão está falsamente colocada. Não é verdade que as massas revolucionárias tenham abandonado todos os seus antigos dirigentes. Os operários que já estavam vinculados anteriormente às suas organizações específicas seguiram ligadas a elas enquanto observavam e verificavam. Os operários, em geral, não rompem tão facilmente com o Partido que os desperta para uma vida consciente. Além disso, a existência de um acobertamento recíproco das direções na Frente Popular os adormecia: visto que todos estavam de acordo, tudo deveria dar certo. As novas e frescas massas voltavam-se naturalmente para o Comitern, bem como para o Partido que havia realizado a única revolução proletária vitoriosa e do qual esperavam que fosse capaz de garantir armas para a Espanha. Além disso, o Comitern era o maior defensor da idéia da Frente Popular; isto inspirava confiança nas camadas operárias inexperientes. Dentro da Frente Popular, o Comitern era o maior defensor do caráter burguês da revolução; isto inspirava confiança na pequena burguesia e em parte da média. Eis por que as massas seguiram o Partido Comunista.
Nosso autor descreve a situação como se o proletariado estivesse diante de uma loja de calçados, escolhendo um par de sapatos. Mesmo esta simples operação, como se sabe, nem sempre é fácil. Com relação a uma nova direção, a escolha é muito mais limitada. Só gradualmente, tendo por base a própria experiência, mediante diversas etapas, amplas camadas das massas podem chegar a convencer-se de que a nova direção é mais sólida, de maior confiança, mais leal que a anterior. Sem dúvida que durante a revolução, isto é, quando os acontecimentos mudam rapidamente, um partido fraco pode tornar-se poderoso rapidamente, sempre que interprete corretamente o curso da revolução e conte com membros que não fiquem enjoados com frases nem aterrorizados com a repressão. Mas este partido tem de existir antes da revolução, já que o processo de seleção dos membros requer um tempo considerável do qual não se dispõe durante a revolução.
A Traição do POUM
O POUM achava-se à esquerda de todos os partidos da Espanha, pois incluía, indiscutivelmente, elementos proletários revolucionários sem fortes laços anteriores com o anarquismo. Mas foi precisamente este parido quem teve um papel fatal no desenvolvimento da Revolução espanhola. Não pôde chegar a converter-se em um partido de massas porque para isso era necessário destruir primeiro os velhos partidos, e isso só era possível mediante uma luta irreconciliável, mediante uma implacável denúncia de seu caráter burguês. Mesmo criticando os velhos partidos, o POUM subordinou-se a eles em todas as questões fundamentais. Participou do bloco eleitoral "do povo"; fez parte do governo que dissolveu os comitês operários; entregou-se à luta pela reconstituição dessa coligação governamental; capitulou mais de uma vez diante da direção anarquista; seguiu com esta falsa política sindical; tomou uma atitude vacilante e anti-revolucionária no levante de maio de 1937. Do ponto de vista do determinismo em geral, pode-se ver logo que a política do POUM não foi acidental. Tudo tem sua causa. No entanto, a série de causas que engendraram o centrismo do POUM não são, de modo nenhum, simples reflexo das condições do proletariado espanhol ou catalão. Duas causalidades atuaram em oposição uma à outra e, em certos momentos, chegaram a ser conflitantes. Quando se toma a experiência internacional anterior, a influência de Moscou, a influência de uma série de derrotas etc., torna-se possível explicar política e psicologicamente por que o POUM se revelou como um Partido centrista. Mas isto não altera seu caráter centrista, nem altera o fato de que esses Partido atuou invariavelmente como um freio sobre a revolução. Quebra a cabeça a cada instante e pode causar o colapso da revolução. As massas catalãs foram muito mais revolucionárias que o POUM que, por sua vez, era mais revolucionário que sua direção. Nestas condições, descarregar a responsabilidade de uma falsa política sobre a "imaturidade" das massas é entregar-se ao charlatanismo puro ao qual recorrem, invariavelmente, os políticos fracassados.
Responsabilidade da Direção
A falsidade histórica consiste em descarregar a responsabilidade da derrota das massas espanholas sobre as próprias massas e não nos partidos que paralisaram ou ingenuamente esmagaram o movimento revolucionário das massas. Os representantes do POUM simplesmente negam a responsabilidade dos dirigentes para não assumir sua própria responsabilidade. Essas filosofia impotente que procura resignar-se diante das derrotas, como um elo necessário na cadeia da evolução cósmica, é completamente incapaz de reconhecer - e se nega a fazê-lo - que fatores concretos, tais como programas, partidos e personalidades, foram os organizadores da derrota. Esta filosofia do fatalismo e da depressão é diametralmente oposta ao marxismo como teoria da ação revolucionária.
A guerra civil é um processo em que as tarefas políticas se resolvem por meios militares. Suponhamos que o resultado desta guerra estivesse determinado pelas "condições das forças de classe" que servem de fundamento a todos os outros fatores políticos. Ora, assim como o cimento de um edifício não diminui a importância das paredes, janelas, portas e teto, também as "condições das forças de classe" não invalidam a importância do partidos, de sua estratégia, de sua direção. Diluindo o concreto no abstrato, nossos sábios, na realidade, detêm-se na metade do caminho. A solução mais profunda para o problema teria sido declarar que a derrota do proletariado espanhol se deveu ao inadequado desenvolvimento das forças produtivas. esta explicação é acessível a qualquer burro.
Ao reduzir a zero o significado do Partido e da direção, estes sábios negam, em geral, a possibilidade da vitória revolucionária. Porque não existe o menor motivo para esperar condições mais favoráveis; o capitalismo deixou de avançar; o proletariado não cresce numericamente, pelo contrário, é o exército dos desocupados que cresce, isto, em vez de aumentar, reduz a força do proletariado, atuando negativamente sobre sua consciência. Tampouco há motivos para crer que sob o regime capitalista o campesinato seja capaz de adquirir uma consciência revolucionária mais elevada. A conclusão que surge da análise de nosso autor é, pois, um completo pessimismo e afastamento das perspectivas revolucionárias. deve-se dizer, para lhes fazer justiça, que eles mesmos não entendem o que dizem.
De fato, as exigências que formulam a respeito da consciência das massas são completamente fantásticas. Os operários espanhóis, bem como os camponeses deram o máximo do que podiam dar como classe em uma situação revolucionária. Ao dizer classe, estamos pensando em milhões e dezenas de milhões.
"Que Faire?" representa simplesmente uma dessas escolas ou seitas que, assustadas pelo curso da luta de classes e pela investida da reação, publicam seus pequenos jornais e seus estudos teóricos em um canto à margem do desenvolvimento real do pensamento revolucionário, deixando de lado o movimento de massas.
A Repressão da Revolução Espanhola
O proletariado espanhol foi vítima de uma coligação composta por imperialistas, republicanos, socialistas, anarquistas, stalinistas e, mais à esquerda, pelo POUM. Todos eles paralisaram a revolução socialista que o proletariado espanhol havia começado realmente a levar a cabo; não é fácil pôr fim à revolução socialista. Ninguém propôs outros meios que não fossem a repressão impiedosa, o massacre da vanguarda, a execução dos chefes etc. O POUM certamente não queria isto. Queria, por um lado, participar do governo republicano e entrar como uma oposição leal, amante da paz, no bloco geral dos partidos governantes e, por outro lado, estabelecer pacíficas relações de camaradagem, nos momentos em que se tratava de uma implacável guerra civil. Por isso mesmo é que o POUM se tornou vítima das contradições de sua própria política. A política mais consistente, no bloco dos partidos governantes, foi a seguida pelos stalinistas. Eles foram a vanguarda militante da contra-revolução burguesa-republicana.
Queriam eliminar a necessidade do fascismo, demonstrando à burguesia espanhola e do mundo que eles eram capazes, por si mesmos, de estrangular a revolução proletária sob a bandeira da "democracia". Esta foi, em essência, sua política. Os fracassados da Frente Popular espanhol estão procurando agora descarregar a culpa sobre a GPU. Acredito que nós não podemos ser acusados de brandura para com os crimes da GPU. Muito bem, vemos claramente e dizemos aos operários que a GPU atuou neste caso somente como o destacamento mais disposto a serviço da Frente Popular. Ali estava a força da GPU e nisso consistiu o papel histórico de Stálin. Só filisteus ignorantes podem deixar isto de lado, utilizando estúpidas brincadeiras sobre o Diabo-Chefe.
Estes cavalheiros nem sequer se preocuparam com o caráter social da revolução. Os lacaios de Moscou, em benefício da Inglaterra e da França, declararam burguesa a revolução espanhola. Sobre esta fraude erigiu-se a pérfida política da Frente Popular, política que teria sido completamente falsa mesmo que a Revolução espanhola tivesse sido realmente burguesa. Mas, desde o começo, a revolução evidenciou seu caráter proletário de maneira muito mais clara que a Revolução de 1917, na Rússia. Na direção do POUM existem cavalheiros que agora consideram que a política de Andrés Nin foi demasiado "esquerdista" e que o mais correto seria permanecer na esquerda da Frente Popular. A verdadeira desgraça foi que Nin, acobertado pela autoridade de Lenine e da Revolução de Outubro, não pôde ter uma noção da ruptura com a Frente Popular. Victor Serge, que se apressa em comprometer-se com atitudes frívolas diante de questões sérias, disse que Nin não quis submeter-se às ordens de Oslo ou Coyacán.
Uma pessoa séria pode ser capaz realmente de reduzir a vis piadas o conteúdo de classe de uma revolução? Os sábios do "Que Faire?" não têm nenhuma resposta para esta pergunta nem a compreendem. Que significa o fato de o "imaturo" proletariado espanhol ter fundado seus próprios órgãos de poder, ter-se apoderado das fábricas e tratado de regular a produção, enquanto o POUM procurava, por todos os meios, evitar o rompimento com os burgueses anarquistas que, numa aliança com os burgueses republicanos e com os não menos burgueses socialistas e stalinistas, assaltaram e estrangularam a revolução proletária? Semelhantes "bagatelas" só interessam, evidentemente, aos representantes da "ortodoxia ossificada". Em troca, os sábios do "Que Faire?" possuem um aparelho especial que mede a maturidade do proletariado e as relações de força, independentemente de todas as questões de estratégia revolucionária de classe.

Manifesto da IV Internacional Sobre a Guerra Imperialista e a Revolução Proletária Mundial



Leon Trotsky
Maio de 1940

A conferência de emergência da Quarta Internacional, o partido mundial da revolução socialista, se reúne no momento inicial da segunda guerra imperialista.

Já ficou para trás a etapa de tentativas de aberturas, de preparativos, de relativa inatividade militar. A Alemanha desatou as fúrias do inferno numa ofensiva geral a qual os aliados respondem igualmente com todas as forças destrutivas de que dispõem.

De agora em diante e por muito tempo o curso da guerra imperialista e suas conseqüências econômicas e políticas determinarão a situação da Europa e de toda a humanidade.

A Quarta Internacional considera que este é o momento de dizer aberta e claramente como vê esta guerra e a seus protagonistas, como caracteriza a política a respeito da guerra e as distintas organizações trabalhistas e, o mais importante, qual é o caminho para se conseguir a paz, a liberdade e a abundância.

A Quarta Internacional não se dirige aos governos que arrastaram os povos à matança, nem aos políticos burgueses responsáveis por esses governos, nem à burocracia sindical que apóia a burguesia belicista.

A Quarta Internacional se dirige aos trabalhadores e as trabalhadoras, aos soldados e marinheiros, aos camponeses arruinados e aos povos coloniais escravizados.

A Quarta Internacional não tem nenhuma ligação com os opressores, os exploradores, os imperialistas. É o partido mundial dos trabalhadores, dos oprimidos e explorados.

 Este manifesto é dirigido a eles.

As causas gerais da guerra atual

A tecnologia é hoje infinitamente mais poderosa que em fins da guerra de 1914 a 1918, enquanto que a humanidade é muito mais pobre.

Caiu o nível de vida, num país após o outro. Nos umbrais da guerra atual a situação da agricultura era pior do que quando estourou a guerra anterior.

 Os países agrícolas estão arruinados. Nos países industriais as classes médias caem na ruína econômica e se formou uma subclasse permanente de desempregados, os modernos párias.

O mercado interno estreitou seus limites. Reduziu-se a exportação de capitais. O imperialismo realmente destroçou o mercado mundial, dividindo-o em setores dominados individualmente por países poderosos.

Apesar do considerável incremento da população do planeta, o intercâmbio comercial de cento e nove países do mundo decaiu quase uma quarta parte durante a década anterior a guerra atual. Em alguns países o comércio exterior se reduziu a metade, a terceira ou quarta parte.

Os países coloniais sofrem suas próprias crises internas e as dos centros metropolitanos. Nações atrasadas, que ontem entretanto eram semi-livres, hoje estão escravizadas, (Abissínia, Albânia, China...).

Todos os países imperialistas necessitam possuir fontes de matérias-primas sobretudo para a guerra, ou seja, para uma nova luta por matérias-primas.

 A fim de enriquecerem posteriormente, os capitalistas estão destruindo e devastando o produto do trabalho de séculos inteiros.

O mundo capitalista está superpovoado. A admissão de cem refugiados extras constitui um problema grave para uma potência mundial como os EUA.

Na era da aviação, do telefone, do telégrafo, do rádio e da televisão, os passaportes e os vistos paralisam o deslocamento de um a outro país.

A época da decadência do comércio exterior e interior é, ao mesmo tempo, a da intensificação monstruosa do chauvinismo, especialmente o anti-semitismo.

O capitalismo, quando surgiu, tirou o povo judeu do gueto e o utilizou como um instrumento de sua expansão comercial. Hoje a sociedade capitalista em decadência trata de expulsar, por todos os seus poros, ao povo judeu; entre dois bilhões de pessoas que habitam o globo, dezessete milhões, ou seja, menos de um por cento, já não podem encontram um lugar onde viver!

 Entre as vastas extensões de terras e as maravilhas da tecnologia, que além da terra conquistou os céus para o homem, a burguesia conseguiu converter nosso planeta numa prisão suja.
Lênin e o imperialismo.

Em primeiro de novembro de 1914, no início da última guerra imperialista, Lênin escreveu:
“O imperialismo arrisca o destino da cultura européia.

Depois desta guerra, se não triunfam umas quantas revoluções, virão outras guerras; o conto de fadas de ‘uma guerra que acabará com todas as guerras’ não é mais do que isso, um vazio e pernicioso conto de fadas...”.

Operários, recordai essa predição! A guerra atual, a segunda guerra imperialista, não é um acidente; não é conseqüência da vontade de tal ou qual ditador.

Há muito se a previu. É o resultado inexorável das contradições dos interesses capitalistas internacionais.

 Ao contrário do que afirmam as fábulas oficiais para enganar ao povo, a causa principal da guerra, como de todos os seus outros males sociais (o desemprego, o alto custo de vida, o fascismo, a opressão colonial) é a propriedade privada dos meios de produção e o estado burguês que se apóia neste fundamento.

O nível atual da tecnologia e da capacidade de os operários permite criar condições adequadas para o desenvolvimento material e espiritual de toda a humanidade.

Apenas seria necessário organizar correta, cientifica e racionalmente a economia de cada país e de todo o planeta, seguindo um plano geral.

No entanto, enquanto as principais forças produtivas da sociedade estejam nas mãos dos trustes, ou seja, de camarilhas capitalistas isoladas, enquanto o estado nacional siga sendo uma ferramenta manejada por essas camarilhas, a luta por mercados, as fontes de matérias-primas, a dominação do mundo assumirá inevitavelmente um caráter cada vez mais destrutivo.

Somente a classe operária revolucionária pode arrancar das mãos destas rapaces camarilhas imperialistas o poder do estado e o domínio da economia.

Esse é o sentido da advertência de Lênin de que “se não triunfam umas quantas revoluções” inevitavelmente estalará uma nova guerra imperialista.

Os distintos prognósticos e promessas que se fizeram então foram submetidas à prova dos fatos. Comprovou-se que era uma mentira o conto de fadas de “guerra para acabar com todas as guerras”.

A previsão de Lênin converteu-se em uma trágica verdade.
As causas imediatas da guerra.

A causa imediata da guerra atual é a rivalidade entre os velhos impérios coloniais ricos, Grã-Bretanha e França, e os ladrões imperialistas que chegaram atrasados, Alemanha e Itália.

O Século XIX foi a era da hegemonia indiscutida da potência imperialista mais antiga, a Grã-Bretanha. Entre 1815 e 1914 reinou, ainda que não sem explosões militares isoladas, a “paz britânica”.

A frota britânica, a mais poderosa do mundo, jogou o papel de polícia dos mares. Esta era, no entanto, é coisa do passado.

Já no final do Século passado, a Alemanha, armada como uma moderna tecnologia, começou a avançar para o primeiro lugar na Europa. Além do oceano, surgiu um país ainda mais poderoso, uma antiga colônia britânica.

A contradição econômica mais importante que levou à guerra de 1914–1918 foi a rivalidade entre Grã-Bretanha e Alemanha.

Quanto aos EUA, sua participação na guerra foi preventiva; não se podia permitir que a Alemanha submetesse o continente europeu. A derrota levou a Alemanha à impotência total.

Desmembrada, rodeada de inimigos, em bancarrota pelas indenizações, debilitada pelas convulsões da guerra civil, parecia haver ficado fora de circulação por muito tempo, senão para sempre. No continente europeu, o primeiro violino voltou temporariamente às mãos da França.

O balanço da vitoriosa Inglaterra depois da guerra resultou, em última instância, deficitário: independência crescente de seus domínios, movimentos coloniais em favor da libertação, perda da hegemonia naval, diminuição da importância de sua armada pelo grande desenvolvimento da aviação.

Por inércia a Inglaterra, todavia, intentou jogar um papel dirigente na cena mundial durante os primeiros anos que seguiram à vitória. Seus conflitos com os EUA começaram a tornar-se obviamente ameaçadores.

 Parecia que a próxima guerra estouraria entre os dois aspirantes anglo-saxões à dominação do mundo. No entanto, a Inglaterra logo teve que convencer-se de que sua força econômica era insuficiente para competir com o colosso de além oceano.

 Seu acordo com os EUA sobre a igualdade naval significou sua renúncia formal à hegemonia naval que na atualidade já havia perdido.

Sua volta do livre comércio para as tarifas aduaneiras foi a admissão franca da derrota da indústria britânica no mercado mundial.

Sua renúncia à política de “esplêndido isolamento” trouxe como conseqüência a introdução do serviço militar obrigatório. Assim viraram fumaça todas as sagradas tradições.


A França também se caracteriza, ainda que em menor escala, por uma inadequação similar entre seu poderio econômico e sua posição no mundo. Sua hegemonia na Europa se apoiava numa conjuntura circunstancial criada pela aniquilação da Alemanha e as estipulações artificiais do Tratado de Versalhes.

Sua quantidade de habitantes e suas bases econômicas eram demasiado reduzidas para assentar sobre elas sua economia. Quando se dissipou o encantamento da vitória saiu à luz a relação de forças real.

 A França demonstrou ser muito mais débil do que acreditavam tanto seus amigos como seus inimigos.

Ao buscar proteção se converteu, em essência, no último dos domínios conquistados pela Grã-Bretanha.

A regeneração da Alemanha, em base à sua tecnologia de primeira ordem e sua capacidade organizativa, era inevitável.

Ocorreu antes do que se pensava, em grande medida, graças ao apoio da Inglaterra à Alemanha contra a URSS, das pretensões excessivas da França e, mais indiretamente, dos EUA.

A Inglaterra, mais de uma vez, teve êxito nessas manobras internacionais no passado, enquanto era a potência mais forte. Em sua senilidade, demonstrou-se incapaz de dominar os espíritos que ela mesma evocou.

A armada com uma tecnologia mais moderna, mais flexível e de maior capacidade produtiva, a Alemanha começou outra vez a competir com a Inglaterra em mercados muito importantes, especialmente no sudeste da Europa e América Latina.

No Século XIX, a competição entre os países capitalistas se desenvolvia em um mercado mundial em expansão.

Hoje, ao contrário, o espaço econômico de luta se estreita de tal maneira que os imperialistas não têm outra alternativa que a de arrancar-se uns aos outros os pedaços do mercado mundial.

A iniciativa de efetuar uma nova divisão do mundo provém agora, como em 1914, naturalmente, da Alemanha.

 O governo inglês, que foi pego desprevenido, tentou primeiro comprar a possibilidade de ficar à margem da guerra com concessões às custas dos demais (Áustria, Tchecoslováquia).

Mas esta política podia durar pouco. A “amizade” com a Grã-Bretanha foi, para Hitler, somente uma fase tática. Londres já havia lhe concedido mais do que ele havia calculado conseguir.

O acordo de Munique, com o qual Chamberlain esperava selar uma longa amizade com a Alemanha. Serviu, ao contrário, para apressar a ruptura. Hitler já não podia conseguir mais nada de Londres; a expansão posterior da Alemanha golpearia vitalmente à Grã-Bretanha.

Assim foi como “a nova era de paz” proclamada por Chamberlain em outubro de 1938 conduziu, em poucos meses, à mais terrível de todas as guerras.
Os Estados Unidos

Enquanto a Grã-Bretanha fazia todos os esforços possíveis, desde os primeiros meses da guerra, para apropriar-se das posições que a bloqueada Alemanha deixou livres no mercado mundial, os Estados Unidos, quase automaticamente, desalojava a Grã-Bretanha. Dois terços de todo o ouro do mundo concentram-se nos cofres norte-americanos.

O terço restante segue o mesmo caminho. O papel de banqueiro do mundo que desempenhou a Inglaterra já é coisa do passado.

E em outros terrenos as coisas não andam muito melhor. Enquanto a armada e a marinha mercante da Grã-Bretanha estão sofrendo grandes perdas, os estaleiros norte-americanos constroem num ritmo colossal os barcos que garantirão o predomínio da frota norte-americana sobre a britânica e a japonesa.

Os Estados Unidos se preparam, evidentemente, para alcançar o nível das duas potências, (uma armada mais poderosa que as frotas combinadas das duas potências que os seguem).

O novo programa para a frota aérea se propõe a garantir a superioridade dos EUA sobre o resto do mundo.

No entanto, a força industrial, financeira e militar dos EUA, a potência capitalista mais avançada do mundo, não assegura, em absoluto, o florescimento da economia norte-americana.

 Pelo contrário, volta, especialmente maligna e convulsiva, a crise que afeta seu sistema social. Não se pode usar os bilhões em ouro, nem os milhões de desocupados!

Nas teses da Quarta Internacional, A guerra e a Quarta Internacional, publicadas há seis anos, se prognosticava:
“O capitalismo dos Estados Unidos enfrenta-se com os mesmos problemas que em 1914 empurraram a Alemanha à guerra.

Está dividido o mundo? Há que dividi-lo. Para a Alemanha tratava-se de ‘organizar a Europa’. Os Estados Unidos têm que ‘organizar’ o mundo. A história está enfrentando à humanidade com a erupção vulcânica do imperialismo norte-americano”.

O New Deal e a “política de boa vizinhança” foram as últimas tentativas de postergar o estouro, aliviando a crise social com concessões em acordos.

Depois da bancarrota dessa política, que consumiu dezenas de bilhões, ao imperialismo norte-americano não lhe restava outra coisa por fazer do que recorrer ao método do punho de ferro.

Com um ou outro pretexto e com qualquer consigna os Estados Unidos intervirão no tremendo choque para conservar seu domínio do mundo.

A ordem e o momento da luta entre o capitalismo norte-americano e seus inimigos não se conhece ainda; talvez, nem sequer Washington saiba.

A guerra com o Japão teria como objetivo conseguir mais “espaço vital” no Oceano Pacífico. A guerra no Atlântico, ainda que de imediato, se dirija contra a Alemanha seria para conseguir a herança da Grã-Bretanha.

A possível vitória da Alemanha sobre os aliados pende sobre Washington como um pesadelo. Com o continente europeu e os recursos de suas colônias como base, com todas as fábricas de munições e estaleiros europeus a sua disposição, a Alemanha (especialmente se está aliada ao Japão no Oriente) constituiria um perigo mortal para o imperialismo norte-americano.

As titânicas batalhas que acontecem atualmente nos campos da Europa são, neste sentido, episódios preliminares da luta entre a Alemanha e América do Norte. França e Inglaterra são apenas posições fortificadas que possuem o imperialismo norte-americano do outro lado do Atlântico.

Se as fronteiras da Inglaterra chegam até o Reno, como propôs um dos premiers britânicos, os imperialistas norte-americanos poderiam muito bem dizer que as fronteiras dos Estados Unidos chegam até o Tâmisa.

Em sua febril atividade de preparação da opinião pública para a guerra eminente, Washington não deixa de demonstrar uma nobre indignação pela sorte da Finlândia, Dinamarca, Noruega, Holanda, Bélgica...

Com a ocupação da Dinamarca, surgiu inesperadamente a questão da Groenlândia, que “geologicamente” faria parte do Hemisfério Ocidental e, por feliz casualidade, contém depósitos de creolita, indispensável para a produção de alumínio. Tampouco despreza Washington à escravizada China, às indefesas Filipinas, às órfãs Índias Holandesas e as rotas marítimas livres.

Deste modo as simpatias filantrópicas pelas nações oprimidas e até as considerações geológicas estão arrastando os Estados Unidos para a guerra.

As forças armadas norte norte-americanas, no entanto, poderão intervir, com êxito, somente se contam com a França e as Ilhas Britânicas como sólidas bases de apoio.

 Se a França fosse ocupada e as tropas alemãs chegassem até o Tâmisa, a relação e forças se voltaria drasticamente contra os Estados Unidos.

Todas essas considerações obrigam Washington a acelerar o ritmo, mas ao mesmo tempo a considerar o problema de se não deixou passar o momento oportuno.

Contra a posição oficial da Casa Branca levantam-se os ruidosos protestos do isolacionismo norte-americano, que constitui somente uma variante distinta do mesmo imperialismo.

O setor capitalista, cujos interesses estão ligados fundamentalmente ao continente norte-americano, Austrália e o Extremo Oriente considera que, no caso de uma derrota dos aliados, os Estados Unidos, automaticamente, obteria para si o monopólio na América Latina e também no Canadá, Austrália e Nova Zelândia.

Quanto à China, às Índias Holandesas e o Oriente em geral, toda a classe governante dos Estados Unidos está convencida de que, de todo o modo, a guerra com o Japão é inevitável num futuro próximo.

Com o pretexto do isolacionismo e do pacifismo, um setor influente da burguesia prepara um programa para expansão continental na América do Norte e para a luta contra o Japão. De acordo com este plano, a guerra contra Alemanha pela dominação do mundo, apenas fica adiada.

 E quanto aos pacifistas pequeno-burgueses do tipo de Norman Thomas e sua fraternidade são somente os corifeus de um dos planos imperialistas.

Nossa luta contra a intervenção dos Estados Unidos na guerra não tem nada em comum com o isolacionismo e o pacifismo.

Dizemos abertamente aos operários que o governo imperialista não pode deixar de arrastar esse país à guerra. As disputas internas da classe governante são somente em torno de quando entrar na guerra e contra quem abrir fogo primeiro.

Pretender manter os Estados Unidos na neutralidade por meios de artigos jornalísticos e resoluções pacifistas é como tratar de fazer retroceder a maré com uma escova.

 A verdadeira luta contra a guerra implica a luta de classe contra o imperialismo e a denúncia implacável do pacifismo pequeno-burguês.

Só a revolução poderá evitar que a burguesia norte-americana intervenha na segunda guerra imperialista ou comece a terceira. Qualquer outro método é nada mais que charlatanismo ou estupidez, ou uma combinação de ambos.

A defesa da “pátria”
Há quase cem anos, quando o estado nacional ainda constituía um fator relativamente progressista, o Manifesto Comunista proclamou que os proletários não têm pátria. Seu único objetivo é a criação da pátria dos trabalhadores, que abarca o mundo inteiro.

Até o final do século XIX o estado burguês, com seus exércitos e suas tarifas aduaneiras, transformou-se no maior freio ao desenvolvimento das forças produtivas, que exigem um campo de ação muito mais extenso.

 O socialista que hoje sai em defesa da “pátria” faz o mesmo papel reacionário que os camponeses da Vendée, que saíram em defesa do regime feudal, ou seja, das suas próprias correntes.

Nos últimos anos, e mesmo nos meses mais recentes, o mundo viu com assombro com que facilidade desaparecem do mapa da Europa os estados: Áustria, Tchecoslováquia, Albânia, Polônia, Dinamarca, Noruega, Holanda, Bélgica...

Nunca antes se transformou o mapa político com tanta rapidez, salvo na época das guerras napoleônicas. Naquela época tratava-se de estados feudais que haviam sobrevivido e tinham que dar passagem ao estado nacional burguês.

Hoje se trata de estados burgueses sobreviventes que devem dar passagem à federação de povos socialistas. A corrente, como sempre, se rompe no seu elo mais frágil.

A luta dos bandidos imperialistas deixa tão pouco espaço aos pequenos estados independentes com a luta viciosa dos trustes e dos cartéis aos pequenos manufatureiros e comerciantes independentes.

Por sua posição estratégica, para a Alemanha é mais proveitoso atacar seus inimigos fundamentais através dos países pequenos e neutros. Grã-Bretanha e França, pelo contrário, se beneficiam mais cobrindo-se com a neutralidade dos estados pequenos e deixando que a Alemanha, com seus ataques, os arraste ao campo dos aliados “democráticos”.

 O nó da questão não muda por esta diferença nos métodos estratégicos. Os pequenos satélites viram pó entre as trituradoras dos grandes países imperialistas.

A “defesa” das pátrias maiores faz necessária a liquidação de uma dezena de países pequenos e médios.


Mas o que interessa à burguesia dos grandes estados não é em absoluto a defesa da pátria, mas a dos mercados, das concessões estrangeiras, das fontes de matérias-primas e das esferas de influência. A burguesia nunca defende a pátria pela pátria em si. Defende a propriedade privada, os privilégios, os lucros.

Quando estes sagrados valores se vêem ameaçados a burguesia, imediatamente, se volta para o derrotismo.

 Foi o que ocorreu com a burguesia russa, cujos filhos, depois da Revolução de Outubro, lutaram e estão dispostos a lutar uma vez mais em todos os exércitos do mundo contra sua própria antiga pátria.

Para salvar seu capital, a burguesia espanhola pediu ajuda a Mussolini e a Hitler contra seu próprio povo. A burguesia norueguesa colaborou na invasão de Hitler a seu país. Assim foi e assim será sempre.

O patriotismo oficial é uma máscara que encobre os interesses dos exploradores. Os operários com consciência de classe jogam por terra, com desprezo, esta máscara.

Não defendem a pátria burguesa, mas os interesses dos trabalhadores e oprimidos de seu país e do mundo inteiro.

As teses da Quarta Internacional afirmam:
“Contra a consigna reacionária da ‘defesa nacional’ é necessário propor a consigna da destruição revolucionária do estado nacional.

É necessário opor à loucura da Europa capitalista o programa dos Estados Socialistas Unidos da Europa como etapa prévia em direção aos Estados Socialistas Unidos do Mundo”.

A “luta pela democracia”

Não é menor o engano da consigna da guerra pela democracia contra o fascismo. Como se os operários tivessem esquecidos que o governo britânico ajudou a subir ao poder a Hitler e sua horda de verdugos!

 As democracias imperialistas são na realidade as maiores aristocracias da história. Inglaterra, França, Holanda e Bélgica se apóiam na escravização dos povos coloniais.

A democracia dos Estados Unidos se apóia na apropriação das vastas riquezas de todo um continente. Estas “democracias” orientam todos os seus esforços no sentido de preservar sua posição privilegiada.

 Descarregam boa parte do peso da guerra sobre suas colônias. Obriga-se os escravos a entregar seu sangue e seu ouro para garantir a seus amos a possibilidade de continuar a serem amos.

As pequenas democracias capitalistas sem colônias são satélites dos grandes impérios e levam uma fatia de seus lucros coloniais. As classes governantes desses estados estão dispostas a renunciar à democracia em qualquer momento para conservar seus privilégios.

No caso da minúscula Noruega, se revelou uma vez mais ante ao mundo a mecânica interna da democracia decadente.

A burguesia norueguesa apelou simultaneamente ao governo social-democrata e à polícia, aos juízes e aos oficiais fascistas. Ao primeiro impacto sério, foram varridos os dirigentes democráticos e a burocracia fascista, que imediatamente encontrou uma linguagem comum com Hitler, se adonou da situação.

 Com distintas variantes, segundo cada país, já se havia levado a cabo o mesmo experimento na Itália, Alemanha, Áustria, Polônia, Tchecoslováquia e uma quantidade de países.

 Nos momentos de perigo a burguesia sempre pode livrar de travas democráticas ao verdadeiro aparelho de governo, instrumento direto do capital financeiro.

Só um cego contumaz pode crer que os generais e almirantes britânicos e franceses estão fazendo uma guerra contra o fascismo!A guerra não deteve o processo de transformação das democracias em ditaduras reacionárias; pelo contrário, está levando a esta conclusão ante nossos próprios olhos.

Dentro de cada país e no plano mundial, a guerra fortaleceu imediatamente aos grupos e instituições mais reacionárias.

Passam a frente dos estados maiores gerais, esses ninhos de conspiração bonapartista, as feras malignas da polícia, os patriotas mercenários, as igrejas de todos os credos. Todos, especialmente o protestante presidente Roosevelt, adula a corte do Papa, o centro do obscurantismo e ódio entre homens.

 A decadência material e espiritual sempre trás junto a opressão policial e uma demanda cada vez maior do ópio religioso.

Para lograr as vantagens que lhes proporciona o regime totalitário, as democracias imperialistas encaram sua própria defesa com uma ofensiva redobrada contra a classe operária e a perseguição das organizações revolucionárias.

Utilizam o perigo da guerra e agora a guerra mesmo, primeiro e antes de mais nada, para aplastar aos seus inimigos internos. A burguesia segue invariável e firmemente a regra de que “o inimigo fundamental está dentro do próprio país”.

Como sucede sempre, os mais débeis são os que mais sofrem. Nesta matança dos povos, os mais débeis são os inumeráveis refugiados de todos os países, entre eles os exilados revolucionários.

O patriotismo burguês se manifesta, antes de mais nada, na maneira brutal com que se tratam aos estrangeiros indefesos.

Antes que se construíssem campos de concentração para os prisioneiros de guerra, já todas as democracias haviam construído campos de concentração para os revolucionários exilados.

Os governos de todo o mundo, e especialmente o da URSS, escreveram a página mais negra de nossa época pelo tratamento que infligem aos refugiados, os exilados, os sem lar.

Enviamos nossas mais cálidas saudações aos irmãos presos e perseguidos e lhes dizemos que não desanimem. Das prisões e dos campos de concentração capitalistas sairá a maior parte dos líderes do mundo de amanhã!

As consignas de guerra dos nazis

As consignas gerais de Hitler não são dignas de consideração. Já faz muito que se demonstrou que a luta pela “unificação nacional” é uma mentira, já que Hitler converte o estado nacional em um estado de muitas nações, pisoteando a liberdade e a unidade dos demais povos.

A luta pelo espaço vital não é mais que uma camuflagem da expansão imperialista, ou seja, da política de anexações e pilhagem.

A justificativa racial desta expansão é uma mentira; o nacional-socialismo muda suas simpatias e antipatias raciais segundo suas considerações estratégicas.

 Um elemento, algo mais estável da propaganda fascista é, talvez, o anti-semitismo, o que Hitler conferia formas zoológicas, pondo a nu que a verdadeira linguagem da “raça” e do “sangue”:

O latido do cão e o grunhido do porco. Por algum motivo Engels chamava o anti-semitismo de “socialismo dos idiotas”!

O único traço verdadeiro do fascismo é sua vontade de poder, submetimento e saque. O fascismo é a destilação quimicamente pura da cultura imperialista.

Os governos democráticos, que a seu momento saudaram em Hitler um cruzado contra o bolchevismo, agora fazem dele uma espécie de Satã, inesperadamente escapado das profundezas do inferno, que viola a santidade das fronteiras, dos tratados, dos regulamentos e das leis.

Se não fosse por Hitler o mundo capitalista floresceria como um jardim.

Que mentira miserável! Este epilético alemão com uma máquina de calcular no cérebro e um poder ilimitado nas mãos não caiu do céu nem ascendeu dos infernos; não é mais que a personificação de todas as forças destrutivas do imperialismo, Gengis Khan e Tamerlane pareceriam aos povos pastores mais débeis como os destruidores açoites de Deus, enquanto que na realidade não expressavam outra coisa que a necessidade de mais terras de pastagem, que tinham em todas as tribos, para o qual saqueavam as terras cultivadas.

Do mesmo modo Hitler, ao abalar até seus fundamentos às velhas potências coloniais, nada mais faz que oferecer a expressão mais acabada da vontade imperialista de poder.

Com Hitler, o capitalismo mundial, atirado ao desespero pelo seu próprio impasse, começou a cravar em suas entranhas uma adaga afiada.

Os carniceiros da segunda guerra imperialista não lograrão transformar Hitler no bode expiratório de seus próprios pecados.

Todos os governantes atuais comparecerão ante o tribunal do proletariado. Hitler não fará mais que o ocupar o primeiro posto entre todos os réus criminosos.

A preponderância da Alemanha.

Seja qual for o resultado da guerra, a preponderância da Alemanha já ficou claramente demonstrada. Indubitavelmente Hitler não possui nenhuma “nova arma secreta”.

Mas a perfeição de todas as armas existentes e a combinação bem coordenada destas armas (sobre a base de uma indústria altamente racionalizada) conferem ao militarismo alemão um peso enorme.

A dinâmica militar está estreitamente ligada com os traços peculiares de todo regime totalitário; vontade unificada, iniciativa concentrada, preparativos secretos, execução súbita.

A paz de Versalhes, no entanto, rendeu um fraco favor aos aliados.

Depois de quinze anos de desarme alemão, Hitler viu-se obrigado a construir um exército do nada, e graças a isso o exército está livre da rotina, da técnica e dos apetrechos obsoletos tradicionais.

O treinamento tático das tropas se inspira nas novas idéias que surgem da tecnologia mais moderna. Aparentemente, só os Estados Unidos podem superar a máquina mortífera dos alemães.

A debilidade da França e Grã-Bretanha não é uma surpresa. As teses da Quarta Internacional (1934) declaram:

“O colapso da Liga das Nações está indissoluvelmente ligado ao começo do colapso da hegemonia francesa no continente europeu”.

Este documento programático declara logo que “a Inglaterra dirigente tem cada vez menos êxito na concretização de seus astutos desígnios”, que a burguesia britânica está “aterrorizada pela desintegração de seu império, pelo movimento revolucionário da Índia, pela instabilidade de suas posições na China”.

Nisto reside a força da Quarta Internacional, em que seu programa é capaz de passar pela prova dos grandes acontecimentos.

A indústria da Inglaterra e da França, devido à influência segura de superlucros coloniais, ficou atrasada tanto tecnológica como organizativamente.

Ademais, a chamada “defesa da democracia” dos partidos socialistas criou para as burguesias britânica e francesa uma situação política extremamente privilegiada. Os privilégios sempre trazem juntos o atraso e o estancamento. Se hoje a Alemanha faz gala de um predomínio tão colossal sobre a França e Inglaterra, a responsabilidade fundamental cabe aos defensores social-patriotas, que evitaram que o proletariado arrancasse oportunamente da atrofia à Inglaterra e França, realizando a revolução socialista.

“O programa de paz”
Em troca da escravização dos povos, Hitler promete implantar na Europa uma “paz alemã” que durará séculos. Milagre impossível! A “paz britânica”, depois da vitória sobre Napoleão, pôde durar um século – não um milênio! – somente porque a Inglaterra era a pioneira de uma nova tecnologia e de um sistema de produção progressista. Apesar da potência de sua indústria, a atual Alemanha, como seus inimigos, é o caudilho de um sistema social condenado.

 O triunfo de Hitler, na realidade, não traria a paz senão no começo de uma série de choques sangrentos em escala mundial.

 Se derruba o império britânico reduz a França ao nível da Bohemia e Moravia, se se apóia no continente europeu e suas colônias, indubitavelmente a Alemanha se transformará na primeira potência mundial. Junto com ela, Itália, quando muito, e não por muito tempo, controlará a bacia do Mediterrâneo.

 Mas, ser a primeira potência não implica em ser a única. Somente se entraria numa nova etapa da “luta por espaço vital”.

A “nova ordem” que o Japão prepara-se para estabelecer, apoiando-se no triunfo alemão, tem como perspectiva a extensão do domínio japonês sobre a maior parte do continente asiático.

 A União Soviética se veria aprisionada entre uma Europa germanizada e uma Ásia japonizada. As três Américas, assim como a Austrália e Nova Zelândia cairiam nas mãos dos Estados Unidos.

 Se também tomamos em consideração o império provincial italiano, o mundo ficaria circunstancialmente dividido em cinco “espaços vitais”. Mas o imperialismo, por natureza, abomina a divisão de poderes.

 Para ter as mãos livres contra a América, Hitler teria que ajustar contas sangrentas com seus amigos de ontem, Stálin e Mussolini. Japão e Estados Unidos não ficariam observando desinteressadamente a nova luta. A terceira guerra imperialista não se daria entre estados nacionais nem entre impérios à velha moda, mas entre continentes inteiros.

O triunfo de Hitler na guerra atual não significaria, portanto, mil anos de “paz alemã”, senão muitas décadas de muitos séculos de caos sangrento.

Mas um triunfo aliado não traria conseqüências mais brilhantes. Uma França vitoriosa só poderia estabelecer sua posição de grande potência desmembrando a Alemanha, restaurando os Habsburgos, balcanizando a Europa.

 A Grã-Bretanha só poderia ocupar um papel dirigente nos assuntos europeus restabelecendo sua tática de mover-se com as contradições que opõem por um lado a Alemanha e a França e por outro lado a Europa e a América do Norte.

Isto significaria uma nova edição, dez vezes pior, da paz de Versalhes, com efeitos infinitamente mais prejudiciais sobre o debilitado organismo europeu.

A isto há que acrescentar que é improvável uma vitória aliada sem a assistência norte-americana, e desta vez os Estados unidos exigiriam pela sua ajuda um preço muito maior que na última guerra.

A Europa invilecida e exausta, o objetivo da filantropia de Herbert Hoover, se transformaria no devedor em bancarrota de seu salvador transoceânico.

Finalmente, se supomos a variante menos provável, a conclusão da paz pelos adversários exaustos de acordo com a fórmula pacifista “nem vencedores, nem vencidos”, isto significaria a restauração do caos internacional anterior à guerra, mas dessa vez baseado em sangrentas ruínas, no esgotamento, na amargura.

 Em um breve lapso sairiam à luz novamente, com explosiva violência, os velhos antagonismos e estourariam novas convulsões internacionais.

A promessa dos aliados de criar, esta vez, uma federação européia democrática é a mais grosseira de todas as mentiras pacifistas.

 O estado não é uma abstração, mas o instrumento do capitalismo monopolista. Enquanto não se expropriem aos trustes e bancos em benefício do povo, a luta entre os estados é tão inevitável como a luta entre os mesmos trustes.

A renúncia voluntária por parte do estado mais forte às vantagens que lhe proporciona sua força é uma utopia tão ridícula como a divisão voluntária do capital entre os trustes.

Enquanto se mantém a propriedade capitalista, uma “federação democrática” não seria mais do que uma má repetição da Liga das Nações, com todos os seus vícios e sem nenhuma das suas antigas ilusões.


Em vão os senhores imperialistas do destino tentam reviver um programa de salvação que ficou totalmente desacreditado pela experiência das últimas décadas.

 Em vão seus lacaios pequeno-burgueses inventam panacéias pacifistas que há muito tempo se converteram em sua própria caricatura. Os operários não se deixarão enganar.

As forças que agora fazem a guerra não levarão à paz. Os operários e soldados forjarão seu próprio programa de paz!
Defesa da URSS
A aliança de Stálin com Hitler, que levantou o pano de fundo sobre a guerra mundial, levou diretamente à escravização do povo polonês. Foi uma conseqüência da debilidade da URSS e do pânico do Kremlin frente à Alemanha.

O único responsável por essa debilidade é o mesmo Kremlin, por sua política interna, que abriu um abismo entre a casta governante e o povo; por sua política exterior, que sacrificou os interesses da revolução mundial aos da camarilha stalinista.

A conquista da Polônia oriental, presente da aliança com Hitler e garantia contra Hitler, foi acompanhada da nacionalização da propriedade semi-feudal e capitalista na Ucrânia Ocidental e na Rússia Branca Ocidental. Sem isto o kremlin não poderia haver incorporado à URSS ao território ocupado.

A Revolução de Outubro, estrangulada e profanada, deu mostras de estar viva ainda.

Na Finlândia o Kremlin não conseguiu concretizar uma mudança social similar.A mobilização pelos imperialistas da opinião mundial “em defesa da Finlândia”, a ameaça da intervenção direta da Inglaterra e França, a impaciência de Hitler, que tinha de apropriar-se da Dinamarca e da Noruega antes que as tropas francesas e britânicas pisassem em terras escandinavas; tudo isso obrigou ao Kremlin a renunciar à sovietização da Finlândia e a limitar-se à conquista de posições estratégicas indispensáveis.

É indubitável que a invasão da Finlândia suscitou uma profunda condenação na população soviética. No entanto, os operários avançados compreenderam que, pese os crimes da oligarquia do Kremlin, segue em pé a questão da existência da URSS.

 A derrota na guerra mundial não só significaria a derrocada da burocracia totalitária mas a liquidação das novas formas de propriedade, o colapso da primeira experiência de economia planificada, a transformação de todo o país numa colônia, ou seja, a entrega ao imperialismo dos recursos naturais colossais que lhe daria um fôlego até a terceira guerra mundial. Nem os povos da URSS, nem a classe operária de todo o mundo tem interesse nessa saída.

A resistência da Finlândia à URSS foi, apesar de todo o seu heroísmo, nada mais que um ato de defesa da independência nacional similar à resistência que posteriormente a Noruega opôs à Alemanha.

 O mesmo governo de Helsinki não compreendeu quando preferiu capitular ante a URSS do que transformar a Finlândia numa base militar da Inglaterra e França.

Nosso sincero reconhecimento do direito de todas as nações a sua autodeterminação não altera o feito de que na guerra atual este direito pesa tanto como uma pluma. Temos que determinar nossa linha política fundamental de acordo com os fatores básicos, não aos de décima ordem. As teses da Quarta Internacional afirmam:

“A concepção da defesa nacional, especialmente quando coincide com a defesa da democracia, pode facilmente enganar aos operários dos países pequenos e neutros (Suíça, Bélgica parcialmente, os países escandinavos...). [...]

Só um burguês desesperadamente tonto de uma aldeia Suíça esquecida da mão de Deus (como Robert Grimm) pode crer seriamente que a guerra mundial, na qual está metido é feita em defesa da independência da Suíça.”

Estas palavras adquirem hoje um significado especial. De nenhum modo são superiores ao social-patriota suíço Robert Grimm esses pequenos burgueses pseudo-revolucionários que crêem que se pode determinar a estratégia proletária com respeito a defesa da URSS com base em episódios táticos como a invasão da Finlândia pelo Exército Vermelho.

Extremamente eloqüente, por sua unanimidade e sua fúria, foi a campanha da burguesia mundial sobre a guerra soviético-finlandesa.

A perfídia e a violência que, até então, havia dado mostrar o kremlin nunca haviam despertado tal indignação na burguesia, pois toda a história da política mundial se escreve com perfídia e violência.

O que despertou seu terror e indignação foi a perspectiva de que na Finlândia se produzisse uma mudança social como a que provocou o Exército Vermelho na Polônia Oriental. Estava em jogo uma ameaça real à propriedade capitalista.

A campanha anti-soviética, classista da cabeça aos pés, revelou uma vez mais que a URSS em virtude dos fundamentos sociais impostos pela Revolução de Outubro, dos quais depende em última instância a existência da mesma burocracia, segue sendo um estado operário que aterroriza à burguesia de todo o mundo.

Os acordos episódicos entre a burguesia e a URSS não desmentem o fato de que “tomado a escala histórica, o antagonismo entre o imperialismo mundial e a União Soviética é infinitamente mais profundo que os antagonismos que separam entre si os países capitalistas”.

Muitos radicais pequeno-burgueses até ontem estavam de acordo em consideram que a União Soviética como um possível eixo de agrupamento das forças “democráticas” contra o fascismo. Agora descobriram subitamente, quando seus países estão ameaçados por Hitler, que Moscou, que não acudiu em sua ajuda, segue uma política imperialista e que não há diferença entre a URSS e os países fascistas.

Mentiras! Responderá todo o operário com consciência de classe; Há uma diferença. A burguesia compreende essa diferença social melhor e mais profundamente que os charlatães radicais.

É certo que a nacionalização dos meios de produção em um país, e ainda mais se se trata de um país atrasado, não garante, todavia, a construção do socialismo.

Mas pode avançar no requisito fundamental do socialismo, ou seja, o desenvolvimento planificado das forças produtivas.

 Não levar em conta a nacionalização dos meios de produção em função de que, por si mesma, não assegura o bem-estar das massas é o mesmo que condenar à destruição um alicerce de granito em função de que é impossível viver sem paredes e sem teto.

Um operário com consciência de classe sabe que é impossível alcançar êxito na luta pela emancipação completa sem a defesa das conquistas já obtidas, por modestas que sejam.

Tanto mais obrigatória, portanto, é a defesa de uma conquista tão colossal como a economia planificada contra a restauração das relações capitalistas. Aqueles que não são capazes de defender as velhas posições não poderão conquistar outras novas.

A Quarta Internacional só pode defender à URSS com os métodos da luta revolucionária de classes. Ensinar os operários a compreenderem corretamente o caráter de classe do estado – imperialista, colonial, operários – assim como suas contradições internas, permitirá que os operários extraiam as conclusões práticas corretas em cada situação determinada.

Enquanto trava uma luta incansável contra a oligarquia de Moscou, a Quarta Internacional rechaça decididamente qualquer política que ajude ao imperialismo contra a URSS.

A defesa da URSS coincide, em principio, com a preparação da revolução proletária mundial. Rechaçamos categoricamente a teoria do socialismo num só país, esse engendro cerebral do stalinismo ignorante e reacionário.

Somente a revolução mundial poderá salvar à URSS para o socialismo. Mas a revolução mundial implicará inevitavelmente na desaparição da oligarquia do Kremlin.

Pela derrocada revolucionária da camarilha bonapartista de Stálin.

Depois de adular durante cinco anos às “democracias”, o Kremlin revelou um cínico desprezo pelo proletariado mundial ao concluir uma aliança com Hitler e ajudá-lo a estrangular o povo polonês.

 Se jactou de um vergonhoso chauvinismo em vésperas da invasão à Finlândia e demonstrou uma incapacidade militar não menos vergonhosa na luta posterior.

Fez ruidosas promessas de “emancipar” dos capitalistas ao povo finlandês e logo capitulou covardemente ante Hitler. Esta foi a atuação do regime stalinista nestas horas críticas da história.

Os julgamentos de Moscou já haviam demonstrado que a oligarquia totalitária transformou-se num obstáculo absoluto para o desenvolvimento do país.

O crescente nível das necessidades econômicas, cada vez mais complexas, já não pode tolerar o estrangulamento burocrático.

No entanto, o bando de parasitas não está disposto a fazer nenhuma concessão. Ao lutar por manter sua posição, destrói o melhor do país. Não se pode supor que o povo, que realizou três revoluções em doze anos, tenha, subitamente, se tornado estúpido. Está aplastado e desorientado, mas observa e pensa.

A burocracia está presente em cada dia de sua existência com seu governo arbitrário, sua opressão, sua rapinagem e sua sangrenta sede de vingança. Os operários semi-famintos e os camponeses das granjas coletivas comentam entre si, murmurando seu ódio, os custosos caprichos dos comissários raivosos.

Para o sexagésimo aniversário de Stálin obrigaram aos operários dos Urais a trabalhar durante um ano e meio no gigantesco retrato do odiado “pai dos povos” feito de pedras preciosas, empresa digna de um Xeque persa ou de uma Cleópatra egípcia. Um regime capaz de cair em tais abominações inevitavelmente granjeará o ódio das massas.


A política exterior corresponde com a política interna. Se o governo do Kremlin expressasse os verdadeiros interesses do estado operário, se a Comintern servisse à causa da revolução mundial, as massas populares da diminuta Finlândia inevitavelmente se inclinariam para a URSS e a invasão do Exército Vermelho, ou não teria sido, em absoluto, necessária ou teria sido aceita imediatamente pelo povo finlandês como uma emancipação revolucionária.

Na realidade, toda a política anterior do Kremlin afastou da URSS aos operários e camponeses finlandeses.

Enquanto que Hitler, nos países neutros que invade, pôde contar com a ajuda da chamada “quinta coluna”, Stálin não encontrou nenhum apoio na Finlândia em que pese a tradição da insurreição de 1918 e a existência, desde há muito tempo, do Partido Comunista Finlandês.

Nestas condições a invasão do Exército Vermelho assumiu um caráter de violência militar direta e aberta. A responsabilidade desta violência cai total e unicamente sobre a oligarquia de Moscou.

A guerra constitui uma amarga prova para todo regime. Como conseqüência da primeira etapa da guerra, a posição internacional da URSS, apesar de seus êxitos pouco importantes obviamente piorou.

A política exterior do Kremlin afastou da URSS amplos setores da classe operária mundial e os povos oprimidos. As bases estratégicas de apoio que conquistou Moscou representarão um fator de terceira ordem no conflito mundial de forças.

Enquanto a Alemanha obteve a zona mais importante industrializada da Polônia e uma fronteira comum com a URSS, ou seja, uma saída para o leste. Através da Escandinávia, a Alemanha domina o Mar Báltico, transformando ao golfo da Finlândia numa garrafa fortemente fechada.

A amargada Finlândia ficou sob o controle direto de Hitler. Em lugar de débeis estados neutros, a URSS agora tem após sua fronteira de Leningrado à poderosa Alemanha. Ficou evidente em todo o mundo a debilidade do Exército Vermelho decapitado por Stálin. Se intensificaram dentro da URSS as tendências nacionalistas centrífugas.

 Declinou o prestígio da direção do Kremlin. A Alemanha no Ocidente e o Japão no Oriente sentem-se agora infinitamente mais seguros que antes da aventura finlandesa do Kremlin.

Stálin não encontrou no seu magro arsenal mais que só uma resposta à detestavel advertência dos acontecimentos: substituiu Voroshilov por uma nulidade ainda mais oca, Timoshenko.

 Como sempre nesses casos, o objetivo da manobra é afastar a ira do povo e do exército do principal e criminoso responsável pelas desgraças e colocar à cabeça do exército um indivíduo cuja insignificância garante que se possa confiar nele.

O Kremlin revelou-se mais uma vez como centro do derrotismo. Somente destruindo este centro se colocará a salvo a segurança da URSS.

A preparação da derrota revolucionária da casta dirigente de Moscou constitui uma das tarefas fundamentais da Quarta Internacional. Não é uma tarefa simples, nem fácil. Exige heroísmo e sacrifício.

No entanto, a época de grandes convulsões em que entrou a humanidade assestará golpe após golpe à oligarquia do Kremlin, destruirá seu aparelho totalitário, elevará a confiança em si mesmas das massas trabalhadoras e, portanto, facilitará a formação da secção soviética da Quarta Internacional. Os acontecimentos trabalharão a nosso favor, se somos capazes de ajudá-los!

Os povos coloniais na guerra.

Ao criar enormes dificuldades e perigos aos centros metropolitanos imperialistas, a guerra abre amplas possibilidades aos povos oprimidos. O troar do canhão na Europa anuncia que se aproxima a hora de sua libertação.

Se é utópico um programa de transformações sociais pacíficas para os países avançados, o é duplamente o programa de libertação pacífica das colônias. Por outro lado, fomos testemunhas da escravização dos últimos países atrasados semi-livres (Etiópia, Albânia, China...).

A guerra atual está voltada sobre as colônias. Alguns perseguem sua possessão; outros as possuem e se recusam a soltá-las.

 Ninguém tem a menor intenção de liberá-las voluntariamente.

Os centros metropolitanos em decadência se vêem obrigados a extrair todo o possível das colônias e devolver-lhes o menos possível. Somente a luta revolucionária direta e aberta dos povos escravizados pode aplainar o caminho para a sua emancipação.

Nos países coloniais e semi-coloniais a luta por um estado nacional independente, e em conseqüência a “defesa da pátria”, é em princípio diferente da luta dos países imperialistas.

 O proletariado revolucionário de todo o mundo apóia incondicionalmente a luta da China ou da Índia por sua independência, porque esta luta “ao fazer romper os povos atrasados com o asiatismo, o sectarismo ou os laços com o estrangeiro [...] golpeia poderosamente aos estados imperialistas”.

Ao mesmo tempo a Quarta Internacional sabe desde já, e adverte abertamente às nações atrasadas, que seus estados nacionais tardios já não poderão contar com um desenvolvimento democrático independente.

Rodeada pelo capitalismo decadente e submergida nas contradições imperialistas, a independência de um país atrasado será inevitavelmente semi-fictícia. Seu regime político, sob a influência das contradições internas de classe e a repressão externa, inevitavelmente cairá na ditadura contra o povo.

Assim é o regime do Partido “do Povo” na Turquia; e do Kuomitang na China; assim será amanhã o regime de Gandhi na Índia. A luta pela independência nacional das colônias é, desde o ponto de vista do proletariado, somente uma etapa transicional no caminho que levará os países atrasados à revolução socialista internacional.

A Quarta Internacional não estabelece compartimentos estanques entre os países atrasados e avançados, entre as revoluções democráticas e as socialistas.

As combina e as subordina à luta mundial dos oprimidos contra os opressores. Assim como a única força genuinamente revolucionária de nossa época é o proletariado internacional, o único programa com o qual lealmente se liquidará toda opressão, social e nacional, é o programa da revolução permanente.

A grande lição da China

A trágica experiência da China constitui uma grande lição para os povos oprimidos. A revolução chinesa de 1925 a 1927 tinha todas as possibilidades de triunfar. Uma China unificada e transformada seria neste momento uma poderosa fortaleza da liberdade no Extremo Oriente.

A sorte da Ásia, em certa medida a de todo o mundo, poderia ter sido diferente.

Mas o Kremlin, que não tinha confiança nas massas chinesas e buscava a amizade dos generais, utilizou todo o seu peso para subordinar o proletariado chinês à burguesia, ajudando assim Chiang Kai-Shek a aplastar a revolução chinesa.

Desiludida, desunida e debilitada, a China ficou aberta à invasão japonesa.

Como todo regime condenado, a oligarquia stalinista já é incapaz de aprender com as lições da história. Ao começo da guerra Sino-japonesa, o Kremlin novamente ligou o partido comunista à Chiang Kai-Shek, aplastando, desde seu nascimento, a iniciativa revolucionária do proletariado chinês.

Essa guerra, que já dura cerca de três anos, poderia ter terminado há muito numa verdadeira catástrofe para o Japão se a China a houvesse a levado adiante como uma genuína guerra popular apoiada numa revolução agrária, abraçando em sua chama aos soldados japoneses.

Mas a burguesia chinesa teme mais as suas próprias massas armadas do que aos invasores japoneses. Se Chiang Kai-Shek, o sinistro verdugo da revolução chinesa, se vê obrigado pelas circunstâncias a entrar numa guerra, seu programa seguirá sendo a opressão de seus próprios trabalhadores e o compromisso com os imperialistas.

A guerra na Ásia Oriental se entrelaçará, cada vez mais, com a guerra imperialista mundial.

O povo chinês logrará a independência somente sob a direção de seu jovem e abnegado proletariado, que recobrará a indispensável confiança em si mesmo com o ressurgimento da revolução mundial.

Ele marcará com firmeza a linha a seguir.

O curso dos acontecimentos torna indispensável o desenvolvimento de nossa secção chinesa num poderoso partido revolucionário.

Tarefas da revolução indiana.

Nas primeiras semanas da guerra as massas indianas pressionaram, com força crescente, aos dirigentes “nacionais” oportunistas, obrigando-os a utilizar uma linguagem desacostumada.

Mas ai do povo indiano se deposita sua confiança nas palavras altissonantes!

 Ocultando-se atrás da consigna da independência nacional, Gandhi já se apressou em proclamar que se nega a criar dificuldades à Grã-Bretanha durante a severa crise atual.

Como se em algum lugar ou em algum momento os oprimidos houvessem podido libertar-se de outro modo que não explorando as dificuldades de seus opressores.

O rechaço “moral” de Gandhi à violência reflete simplesmente o temor da burguesia indiana às suas próprias massas.

Tem bons fundamentos sua previsão de que o imperialismo britânico arrastará também a eles em seu colapso. Londres, por sua parte, prevê que a primeira ameaça de desobediência aplicará “todas as medidas necessárias”, incluindo, evidentemente, a força aérea, que na frente ocidental é deficiente.

 Há uma divisão do trabalho claramente delimitada entre a burguesia colonial e o governo britânico: Gandhi necessita das ameaças de Chamberlain e Churchill para paralisar com mais êxito o movimento revolucionário.

O antagonismo entre as massas indianas e a burguesia promete agudizar-se, num futuro próximo, à medida em que a guerra imperialista se converte cada vez mais numa gigantesca empresa comercial para a burguesia indiana.

A abertura de um mercado excepcionalmente favorável para as matérias-primas pode promover rapidamente a indústria indiana.

 Se a destruição completa do império britânico rompe o cordão umbilical que liga ao capital indiano com a City de Londres, a burguesia nacional buscará rapidamente em Wall Street o seu novo patrão. Os interesses materiais da burguesia determinam sua política com a mesma força das leis da gravitação.

Enquanto o movimento de libertação estiver controlado pela classe exploradora seguirá metido num beco sem saída. A única coisa que pode unificar a Índia é a revolução agrária, realizada sob as bandeiras da libertação nacional.

 A revolução conduzida pelo proletariado estará dirigida não só contra o domínio britânico, mas também contra os príncipes indianos, as concessões estrangeiras, o estrato superior da burguesia nacional e os dirigentes do Congresso Nacional e da Liga Muçulmana.

É a tarefa fundamental da Quarta Internacional criar uma secção estável e poderosa na Índia.

A traidora política de colaboração de classes, com a que o Kremlin vem ajudando há cinco anos aos governos capitalistas a preparar a guerra, foi abruptamente liquidada pela burguesia enquanto deixou de necessitar disfarçar-se de pacifista.

 Mas nos paises coloniais e semi-coloniais – não somente na China e na Índia, mas também na América Latina – a fraude das “frentes populares” segue paralisando as massas trabalhadoras, convertendo-as em bucha de canhão da burguesia “progressista”, criando desta maneira uma base política nativa ao imperialismo.

O futuro da América Latina.

O monstruoso crescimento do armamentismo nos Estados Unidos prepara uma solução violenta das complexas contradições que afligem ao Hemisfério Ocidental. Logo se colocará na ordem do dia, como problema imediato, o destino dos países latino-americanos.

O interlúdio da política de “boa vizinhança” está chegando ao seu fim. Roosevelt ou quem o suceda, em breve lapso, tirarão as luvas de pelica e mostrarão o punho de ferro. As teses da Quarta Internacional declaram:

“América do Sul e Central só poderão romper com o atraso e a escravidão unindo a todos seus estados numa poderosa federação. Mas não será a atrasada burguesia sul-americana, agente totalmente venal do imperialismo estrangeiro, quem cumprirá este objetivo, mas o jovem proletariado sul-americano, destinado a dirigir as massas oprimidas.

 A consigna que presidirá a luta contra a violência e as intrigas do imperialismo mundial e contra a sangrenta exploração das camarilhas compradoras nativas será, portanto: Pelos estados unidos soviéticos da América do Sul e Central”.

Escritas há seis anos, estas linhas adquirem agora uma candente atualidade.
Somente sob sua própria direção revolucionária o proletariado das colônias e das semi-colônias poderá lograr a colaboração firme do proletariado dos centros metropolitanos e da classe operária mundial.

Somente esta colaboração poderá levar os povos oprimidos à sua emancipação final e completa com a derrocada do imperialismo em todo o mundo.

Um triunfo do proletariado internacional livraria os países coloniais de um longo e trabalhoso período de desenvolvimento capitalista, abrindo-lhes a possibilidade de chegar ao socialismo junto com o proletariado dos países avançados.

A perspectiva da revolução permanente não significa de nenhuma maneira que os países atrasados tenham que esperar dos adiantados o sinal de partida, nem que os povos coloniais tenham que aguardar pacientemente que o proletariado dos centros metropolitanos os libere.

O que se ajuda consegue ajuda. Os operários devem desenvolver a luta revolucionária em todos os países coloniais ou imperialistas, onde existam condições favoráveis, e assim dar o exemplo aos trabalhadores dos demais países.

Só a iniciativa e a atividade, a decisão e a valentia poderão materializar realmente a consigna “operários do mundo, uni-vos!”.

A responsabilidade que cabe pela guerra aos dirigentes traidores.

O triunfo da revolução espanhola poderia ter aberto uma era de mudanças revolucionárias em toda a Europa e assim teria evitado a guerra atual.

 Mas essa revolução heróica, que abrigava em seu seio todas as possibilidades de triunfo, dissipou-se no abraço da segunda e terceira internacional, com a colaboração ativa dos anarquistas. O proletariado internacional empobrece-se com a perda de outra grande esperança e se enriquecem com as lições de outra traição monstruosa.

A poderosa mobilização que realizou o proletariado francês em junho de 1936 revelou condições excepcionalmente favoráveis para a conquista revolucionária do poder.

Uma república soviética francesa imediatamente obteria a hegemonia revolucionária na Europa, teria repercutido em todos os países, derrubado aos regimes totalitários, e desta forma teria salvo a humanidade da atual matança imperialista com suas inumeráveis vítimas.

Mas a política totalmente covarde e traidora de Leon Blum e Leon Jouhaux, apoiada ativamente pela secção francesa da Comintern, levou ao desastre um dos movimentos mais promissores da década passada.

No umbral da guerra atual se localizam dois fatos trágicos: o estrangulamento da revolução espanhola e a sabotagem da ofensiva proletária na França.

 A burguesia se convenceu de que com tais “dirigentes dos trabalhadores” a sua disposição podia dar-se ao luxo de qualquer coisa, até de uma nova matança dos povos.

Os dirigentes da Segunda Internacional impediram que o proletariado derrubasse a burguesia ao final da primeira guerra imperialista. Os dirigentes da Segunda e da Terceira Internacional ajudaram a burguesia a desatar uma segunda guerra imperialista. Que estes fatos se constituam em sua tumba política!

A Segunda Internacional

A guerra de 1914-1918 dividiu imediatamente a Segunda Internacional em dois bandos separados pela trincheira. Cada partido social-democrata defendeu sua pátria.

Somente vários anos depois da guerra se reconciliaram os traidores irmãos inimizados e proclamaram a anistia mútua.

Hoje a situação da Segunda Internacional mudou muito, superficialmente.

Todas as suas seções, sem exceção, apóiam politicamente a um dos bandos similares, o dos aliados: alguns porque são partidos dos países democráticos, outros porque são emigrados das nações beligerantes ou neutras.

A social-democracia alemã, que seguiu uma desprezível política chauvinista durante a primeira guerra sob o estandarte dos Hohenzollern, é hoje um partido “derrotista” a serviço da França e da Inglaterra. Seria imperdoável crer que estes lacaios endurecidos se tornaram revolucionários.

Há uma explicação mais simples. A Alemanha de Guilherme II oferecia aos reformistas suficientes oportunidades de obter benefícios pessoais nos corpos parlamentares, municípios, sindicatos e outros lugares.

 Defender a Alemanha imperial implicava defender um poço bem repleto no qual a burocracia trabalhista conservadora metia o focinho.

 “A social-democracia seguirá sendo patriótica enquanto o regime político lhe garanta seus ganhos e privilégios”, preveniam nossas teses há seis anos.

Os mencheviques e narodiniks russos eram patriotas na época do czar, quando tinham suas frações sindicais, seus jornais, seus funcionários sindicais e esperavam avançar mais longe nesta direção. Agora que perderam tudo isso tem uma posição derrotista a respeito da URSS.

Em conseqüência, o que explica a atual “unanimidade” da Segunda Internacional é que todas as suas secções esperam que os aliados mantenham os postos e as rendas da burocracia trabalhista dos países democráticos e lhes devolvam os que perderam a dos países totalitários.

A social-democracia não acalenta ilusões inúteis sobre a proteção da burguesia “democrática”. Estes inválidos políticos são totalmente incapazes de lutar mesmo quando vêem ameaçados seus interesses pessoais.

Isto se revelou muito claramente na Escandinávia que aparecia como o santuário mais seguro da Segunda Internacional; os três países estiveram governados durante anos pela soberba, realista, reformista e pacifista social-democracia.

Estes cavalheiros chamavam socialismo a democracia monárquica conservadora, mais a Igreja estatal, mais as insignificantes reformas sociais que durante um tempo foram possíveis graças aos limitados gastos militares.

Apoiados pela Liga das Nações e protegido pelo escudo da “neutralidade”, os governos escandinavos especulavam com gerações de tranqüilo e pacífico desenvolvimento.

Mas os amos imperialistas não prestaram atenção a seus cálculos. Viram-se obrigados a eludir os golpes do destino.

Quando a URSS invadiu a Finlândia os três governos escandinavos se declararam neutros no que diz respeito a esse país.

Quando a Alemanha invadiu a Dinamarca e a Noruega, a Suécia se declarou neutra com relação às vítimas da agressão. Dinamarca tratou inclusive de declarar-se neutra a respeito de si mesma. Noruega, sob a boca dos canhões da sua guardiã Inglaterra, somente tentou alguns gestos simbólicos de auto defesa.

 Estes heróis estão muito dispostos a viver às expensas da pátria democrática, mas muito pouco dispostos a morrer por ela. A guerra que não previram derrubou, ao passar, suas esperanças de uma evolução pacífica presidida pelo Rei e Deus.

 O paraíso escandinavo, refúgio final das esperanças da Segunda Internacional, transformou-se num minúsculo setor do inferno imperialista geral.

Os oportunistas social-democratas não conhecem mais que uma política, adaptação passiva.
 Nas condições do capitalismo decadente nada lhes resta mais que a rendição de suas posições uma após outra, o esquecimento de seu já miserável programa, o rebaixamento de suas exigências, a renúncia de toda a demanda, a retirada permanente cada vez mais e mais atrás até que não lhes reste lugar onde retirar-se, salvo algum ninho de ratos.

 Mas também ali chega a mão implacável do imperialismo e os arrasta tirando-os pelo rabo. Esta é a história resumida da Segunda Internacional. A guerra atual a está matando pela segunda vez e, esperamos, agora será para sempre.

A Terceira Internacional

A política da degenerada Terceira Internacional – uma mescla de cru oportunismo e aventureirismo desenfreado – exerce uma influência sobre a classe operária, ainda – se cabe – mais desmoralizadora que a de sua irmã maior, a Segunda Internacional.

 O partido revolucionário constrói toda a sua política sobre a consciência de classe dos trabalhadores; À Comintern nada lhe preocupa mais que contaminar e envenenar esta consciência de classe.

Os propagandistas oficiais de cada um dos setores beligerantes denunciam, às vezes bastante corretamente, os crimes do lado opositor. Há muito de verdade no que diz Göebbels sobre a violência britânica na Índia.

A imprensa francesa e inglesa refletem com muita penetração a política exterior de Hitler e Stálin. No entanto, esta propaganda unilateral constitui o pior veneno chauvinista. As meias verdades são as mentiras mais perigosas.


Toda a propaganda atual da Comintern entra nesta categoria. Depois de cinco anos de adulação descarada às democracias, durante os quais todo o seu “comunismo” se reduzia a monótonas acusações contra os agressores fascistas, a Comintern subitamente descobriu, no outono de 1939, ao imperialismo criminoso das democracias ocidentais, giro completo!

Desde então, nem uma palavra de condenação sobre a destruição da Tchecoslováquia e Polônia, a conquista da Dinamarca e Noruega e a chocante bestialidade dos bandos de Hitler contra os povos polonês e judeu! Hitler passou a ser um vegetariano amante da paz continuamente provocado pelos imperialistas ocidentais.

A imprensa da Comintern chamava a aliança anglo-francesa “o bloco imperialista contra o povo alemão”. Nem mesmo Göebbels podia ter produzido algo melhor!

O Partido Comunista Alemão exilado ardia em chamas de amor à pátria. E como a pátria alemã não deixara de ser fascista, a posição do Partido Comunista Alemão resultava... social-fascista. Por fim chegou a hora em que se concretizou a teoria stalinista do social-fascismo.

A primeira vista a atitude das secções francesa e inglesa da Internacional Comunista parecia diametralmente oposta.

Diferente dos alemães, viam-se obrigados a atacar seu próprio governo. Mas este súbito derrotismo não era internacionalismo, mas uma variedade distorcida de patriotismo; estes cavalheiros consideram que sua pátria é o Kremlin, do qual depende sua prosperidade.

Muitos stalinistas franceses demonstraram uma coragem inegável ao serem perseguidos. Mas o conteúdo dessa coragem se viu ensombrecido pelo seu embelezamento da política de rapina do bando inimigo. Que pensarão disso os operários franceses?

A reação sempre apresentou os internacionalistas revolucionários como agentes de um inimigo estrangeiro. A situação que criou a Comintern para as suas secções francesa e inglesa deu todos os pretextos para essa acusação, e em conseqüência empurrou forçosamente os operários ao patriotismo ou condenou-os à confusão e à passividade.

A política do Kremlin é simples: vendeu a Hitler a Comintern junto com o petróleo e o manganês. Mas o servilismo canino com que esta gente se deixou vender atesta irrefutavelmente a corrupção interna da Comintern.

Aos agentes do Kremlin não lhes resta princípios, nem honra, nem consciência; só uma coluna vertebral flexível. Mas os espinhaços flexíveis até agora nunca dirigiram uma revolução.
A amizade de Stálin com Hitler não será eterna, nem sequer durará muito tempo.

 Pode ser que antes que nosso manifesto chegue às massas a política exterior do Kremlin dê um novo giro. Neste caso também mudará a propaganda da Comintern.

Se o Kremlin se aproxima das democracias, a Comintern novamente desenterrará de seus arquivos o Livro Marrom dos crimes nacional-socialistas.

Mas isto não significa que sua propaganda assumirá um caráter revolucionário. Mudará os rótulos, mas seguirá tão servil como antes.

A política revolucionária exige, antes de tudo, que se diga a verdade às massas. Mas a Comintern mente sistematicamente. Nós lhes dizemos aos operários de todo o mundo: não creiam nos mentirosos!

Os social-democratas e os stalinistas nas colônias

Os partidos ligados aos exploradores e interessados em obter privilégios são organicamente incapazes de seguir uma política honesta para com as camadas mais exploradas dos trabalhadores e dos povos oprimidos.

Mas as características da Segunda e da Terceira Internacional revelam-se com especial claridade em sua atitude para com as colônias.

A Segunda Internacional, que atua como representantes dos escravistas e como acionista da empresa da escravidão, não tem secções próprias nas colônias, se excetuarmos os grupos casuais de funcionários coloniais, predominantemente maçons franceses, e em geral os oportunistas de esquerda que aplastam a população nativa.

 Como renunciou oportunamente a pouco patriótica concepção da necessidade de levantar a população colonial contra a “pátria democrática”, a Segunda Internacional ganhou o privilégio de proporcionar à burguesia ministros para as colônias, quer dizer capatazes de escravos (Sidney Webb, Marius Moutet e outros).

A Terceira Internacional, que começou fazendo um valente chamado revolucionário a todos os povos oprimidos, também se prostituiu completamente num breve lapso no que concerne à questão colonial. Não faz muitos anos, quando Moscou viu a oportunidade de uma aliança com as democracias imperialistas, a Comintern propôs a consigna da emancipação nacional não só para a Abissínia e Albânia, mas também para a Áustria.

Mas, a respeito das colônias da Grã-Bretanha e França, limitou-se modestamente a desejar-lhes reformas “razoáveis”.

Nesse momento a Comintern não defendeu a Índia contra a Grã-Bretanha senão contra os possíveis ataques do Japão e a Tunis contra Mussolini. Agora a situação mudou abruptamente. Independência total da Índia, Egito, Argélia!, Dimitrov não aceitará menos.

Os árabes e os negros encontraram outra vez em Stálin o seu melhor amigo, sem contar, certamente, a Mussolini e a Hitler.

A secção alemã da Comintern, com o descaramento que caracteriza este bando de parasitas, defende a Polônia e a Tchecoslováquia contra os complôs do imperialismo britânico.

 Esta gente é capaz de tudo e está disposta a tudo! Se o Kremlin muda novamente de orientação no sentido das democracias ocidentais, outra vez solicitarão respeitosamente a Londres e a Paris que garantam reformas liberais para suas colônias.

Diferentemente da Segunda Internacional, a Comintern, graças a sua grande tradição, exerce uma indubitável influência nas colônias.

 Mas sua base social mudou de acordo com sua evolução política. Na atualidade, nos países coloniais a Comintern se apóia nos setores que constituem a base tradicional da Segunda Internacional nos centros metropolitanos.

Com as migalhas dos superlucros que obtém dos países coloniais e semi-coloniais, o imperialismo criou nestes algo similar a uma aristocracia trabalhista nativa.

Esta, insignificante em comparação com seu modelo das metrópoles, se destaca, no entanto, sobre o pano de fundo da pobreza geral e se aferra tenazmente a seus privilégios.

A burocracia e a aristocracia trabalhista dos países coloniais e semi-coloniais, junto com os funcionários estatais, provêem de elementos especialmente servis aos “amigos” do Kremlin.

Na América Latina um dos representantes mais repulsivos dessa espécie é o advogado mexicano Lombardo Toledano, cujos serviços especiais o Kremlin retribuiu elevando-o ao decorativo posto de presidente da Federação Sindical Latino-Americana.

A colocar, de forma candente, os problemas da luta de classes, a guerra cria para estes prestidigitadores e falsos profetas a uma situação cada vez mais difícil, que os bolcheviques verdadeiros têm que utilizar para varrer para sempre a Comintern dos países coloniais.
Centrismo e anarquismo

Ao pôr a prova tudo o que existe e descartar tudo o que está podre, a guerra representa um perigo mortal para as Internacionais que lhe sobrevivem.

 Um setor considerável da burocracia da Comintern, especialmente no caso de que a União Soviética sofra alguns revezes, inevitavelmente se voltará para suas pátrias imperialistas.

 Os operários, pelo contrário, vão cada vez mais para a esquerda. Nessa situação são inevitáveis as divisões e as rupturas.

Há uma quantidade de sintomas que indicam a possibilidade de que também rompa a ala “esquerda” da Segunda Internacional.

Surgirão grupos centristas de distintas origens, romperão, criarão novas “frentes”, “bandos”, etc. Nossa época descobrirá, no entanto, que não pode tolerar a existência do centrismo.

O papel patético e trágico que desempenhou o POUM, a mais séria e honesta das organizações centristas, na revolução espanhola ficará sempre na memória do proletariado avançado como uma terrível advertência.

Mas a história gosta de repetições. Não está excluída a possibilidade de que haja novas tentativas de construir uma organização internacional do tipo da Internacional Dois e Meia ou, desta vez, a Internacional Três e Um Quarto.

 Esses balbuciares somente merecem atenção como reflexos de processos muito mais profundos pelos que atravessam as massas trabalhadoras.

 Mas desde já se pode afirmar com segurança que as “frentes”, “bandos” e “Internacionais” centristas, por carecer de fundamentos teóricos, tradição revolucionária e um programa acabado só serão efêmeros. Lhes ajudaremos criticando implacavelmente sua indecisão e ambigüidade.


Este esquema de bancarrota das velhas organizações da classe operária ficaria incompleto se não mencionarmos o anarquismo.

 Sua decadência constitui o fenômeno mais irrefutável de nossa época. Já antes da primeira guerra imperialista os anarco-sindicalistas franceses lograram converter-se nos piores oportunistas e servidores diretos da burguesia.

A maior parte dos dirigentes anarquistas internacionais se fez patriota na última guerra. No apogeu da guerra civil na Espanha os anarquistas ocuparam cargos de ministros da burguesia. Os predicadores anarquistas negam o estado enquanto este não necessite deles.

 No momento de perigo, igual aos social-democratas, transformam-se em agentes da classe capitalista.

Os anarquistas entraram na guerra atual sem um programa, sem uma só idéia e com uma bandeira manchada por sua traição ao proletariado espanhol.

 Hoje a única coisa que são capazes de oferecer aos operários é uma desmoralização patriótica mesclada com lamentos humanitários.

Ao buscar uma aproximação com os operários anarquistas que estejam realmente dispostos a lutar pelos interesses da sua classe, lhes exigiremos, ao mesmo tempo, que rompam completamente com esses dirigentes que tanto na guerra como na revolução só servem de mandaletes da burguesia.

Os sindicatos e a guerra

Enquanto os magnatas do capitalismo monopolista se colocam acima do poder estatal, controlando-o desde as alturas, os dirigentes sindicais oportunistas rondam os umbrais do poder estatal tratando de conseguir que as massas operárias lhes dêem seu apoio.

 É impossível cumprir esta suja tarefa se se mantém a democracia operária dentro dos sindicatos.

 O regime interno dos sindicatos, seguindo o exemplo do regime dos estados burgueses, está se tornando cada vez mais autoritário. Em épocas de guerra a burocracia sindical transforma-se definitivamente na polícia militar do estado maior do exército dentro da classe operária.

Mas por mais que se empenhe, não tem salvação.

 A guerra significa a morte e destruição dos atuais sindicatos reformistas. Os sindicalistas na flor da idade são mobilizados para a matança.

São substituídos pelos rapazes, mulheres e velhos, ou seja, os menos capacitados para resistir.

Todos os países sairão da guerra tão arruinados que o nível dos trabalhadores retrocederá um século. Os sindicatos reformistas só são possíveis sob o regime da democracia burguesa.

Mas o que desaparecerá primeiro com a guerra será a democracia, completamente putrefata.

 Em sua derrubada definitiva arrastará consigo a todas as organizações operárias que lhe serviram de apoio. Não haverá espaço para os sindicatos reformistas.

A reação capitalista os destruirá cruelmente.

É necessário prevenir disso aos operários, imediatamente e em voz bem alta, para que todos ouçam.
Uma época nova exige métodos novos.

 Os métodos novos exigem líderes novos. Há uma só maneira de salvar os sindicatos: transformá-los em organizações de lutas que tenham como objetivo o triunfo sobre a anarquia capitalista e a bandidagem imperialista.

Os sindicatos terão um papel enorme na construção da economia socialista, mas a condição prévia para lográ-la é o derrubamento da classe capitalista e a nacionalização dos meios de produção. Somente tomando o caminho da revolução socialista poderão os sindicatos escapar ao destino de ficar enterrados sob as ruínas da guerra.

A Quarta Internacional

A vanguarda proletária é o inimigo irreconciliável da guerra imperialista. Mas não teme a esta guerra. Aceita dar combate no terreno escolhido pelo inimigo de classe. Entra nesse terreno com suas bandeiras tremulando ao vento.

A Quarta Internacional é a única organização que previu corretamente o curso geral dos acontecimentos mundiais, que predisse a inevitabilidade de uma nova catástrofe imperialista, que denunciou as fraudes pacifistas dos democratas burgueses e dos aventureiros pequeno-burgueses da escola stalinista, que lutou contra a política de colaboração de classes conhecida como “frente popular”, que questionou o papel traidor da Comintern e dos anarquistas na Espanha, que criticou irreconciliavelmente as ilusões centristas do POUM, que continuou fortalecendo incessantemente seus quadros no espírito da luta de classes revolucionária.

Nossa política na guerra é apenas a continuação concentrada de nossa política na paz.

A Quarta Internacional constrói seu programa sobre os fundamentos teóricos do marxismo, sólidos como granito. Rechaça o desprezível ecletismo que predomina nas fileiras da burocracia trabalhista oficial de diferentes grupos, e que muito freqüentemente serve de indicador da capitulação ante a democracia burguesa.
Nosso programa está formulado em uma série de documentos acessíveis a todo o mundo. Seu eixo pode-se resumir em três palavras: ditadura do proletariado.

Nosso programa baseado no bolchevismo

A Quarta Internacional se apóia completa e sinceramente sobre os fundamentos de tradição revolucionária do bolchevismo e seus métodos organizativos.

Que os radicais pequeno-burgueses chorem contra o centralismo.

Um operário que tenha participado, ainda que seja uma vez, em uma greve sabe que nenhuma luta é possível sem disciplina e uma direção firme.

 Toda nossa época está imbuída do espírito do centralismo.

O capitalismo monopolista levou até seus últimos limites a centralização econômica.

O centralismo estatal no marco do fascismo assumiu um caráter totalitário. As democracias tentam cada vez mais emular este exemplo.

 A burocracia sindical defende com assanhamento sua maquinaria poderosa.
A Segunda e a Terceira Internacional utilizam descaradamente o aparato estatal na luta contra a revolução.

Nestas condições a garantia mais elementar de êxito reside na contraposição do centralismo revolucionário ao centralismo da reação.

É indispensável contar com uma organização da vanguarda proletária unificada por uma disciplina de ferro, um verdadeiro núcleo seleto de revolucionários temperados dispostos ao sacrifício e inspirados por uma indomável vontade de vencer.

Só um partido que não engana a si mesmo será capaz de preparar sistemática e afanosamente a ofensiva para, quando soe a hora decisiva, colocar no campo de batalha toda a força da classe sem vacilar.
Os céticos superficiais deleitam-se em assinalar a degeneração em burocratismo do centralismo bolchevique. Como se todo o curso da história dependesse da estrutura de um partido!

Na verdade, é o destino do partido que depende do curso da luta de classes. Mas de todas as maneiras o Partido Bolchevique foi o único que demonstrou na ação sua capacidade de realizar a revolução proletária.

É precisamente um partido assim o que necessita agora o proletariado internacional. Se o regime burguês sai impune da guerra todos os partidos revolucionários degenerarão.

 Se a revolução proletária conquista o poder, desaparecerão as condições que provocam a degeneração.

Com a reação triunfante a desilusão e a fadiga das massas, numa atmosfera política envenenada pela decomposição maligna das organizações tradicionais da classe operária, em meio a dificuldades e obstáculos que se acumularam, o desenvolvimento da Quarta Internacional necessariamente era lento.

Os centristas que desdenhavam nossos esforços, fizeram mais de uma vez tentativas isoladas e à primeira vista muito mais amplos e prometedores de unificação da esquerda. Todos eles, no entanto, viraram pó antes de que as massas tivessem uma possibilidade de lembrar sequer de seus nomes. Só a Quarta Internacional com valentia, persistência e êxito cada vez maiores se mantém nadando contra a corrente.

Passamos na prova!

O que caracteriza uma genuína organização revolucionária é, sobretudo, a seriedade com a que trabalha e põe à prova sua linha política a cada novo giro dos acontecimentos. Seu centralismo frutifica em democracia.

Sob o fogo da guerra nossas secções discutem apaixonadamente todos os problemas da política proletária, comprovando a validade de nossos métodos e varrendo de passagem os elementos instáveis que somente se uniram a nós por causa de sua oposição à Segunda e Terceira Internacional.

A separação dos companheiros de rota que não são de total confiança é o preço inevitável que se tem que pagar pela formação de um verdadeiro partido revolucionário.

A imensa maioria dos camaradas dos diferentes países saíram airosos da primeira prova a que os submeteu a guerra. Este fato é de inestimável significado para o futuro da Quarta Internacional.

 Cada membro da base de nossa organização tem, não só o direito, mas também o dever de considerar-se mais um oficial do exército revolucionário que se criará ao calor dos acontecimentos.

A entrada das massas na luta revolucionária porá de manifesto imediatamente a insignificância dos programas dos oportunistas, pacifistas e centristas.

 Um só revolucionário verdadeiro numa fábrica, numa mina, num sindicato, num regimento, num barco de guerra vale infinitamente mais do que cem pseudo-revolucionários pequeno-burgueses que se cozinham em seu próprio molho.

Os políticos da grande burguesia entendem muito melhor o papel da Quarta Internacional que nossos pedantes pequeno-burgueses.

Na véspera da ruptura das relações diplomáticas, o embaixador francês Coulonder e Hitler, que buscavam em sua entrevista final assustar-se reciprocamente com as conseqüências da guerra, estavam de acordo em que “o único vencedor real” seria a Quarta Internacional.

Quando da declaração das hostilidades contra a Polônia a grande imprensa da França, Dinamarca e outros países publicou notícias que informavam que nos bairros operários de Berlim apareceram cartazes que diziam “Abaixo Stálin, viva Trotsky!”. Isto significa: “Abaixo a Terceira Internacional, viva Quarta Internacional!”.

Quando os operários e estudantes mais resolutos de Praga organizaram uma manifestação no aniversário da independência nacional, o “Protetor”, Barão Neurath, fez uma declaração oficial atribuindo a responsabilidade desta manifestação aos “trotskistas” Tchecos.

 A correspondência desde Praga publicada pelo jornal editado por Benes, o ex-presidente da República Tcheco-Eslovaca, confirma o fato de que os operários tchecos estão tornando-se “trotskistas”.

No entanto, estes são apenas sintomas. Mas indicam inequivocamente as tendências do processo. A nova geração de operários que a guerra empurrará para o caminho da revolução tomará nosso estandarte.

A revolução proletária

A experiência histórica estabeleceu as condições básicas para o triunfo da revolução proletária, que foram esclarecidas teoricamente:

o impasse da burguesia e a conseqüente confusão da classe dominante;

a aguda insatisfação e o desejo por mudanças decisivas nas fileiras da pequena burguesia, sem cujo apoio a grande burguesia não pode manter-se;

a consciência do intolerável da situação e a disposição para as ações revolucionárias nas fileiras do proletariado;

um programa claro e uma direção firme da vanguarda proletária. Estas são as quatro condições para o triunfo da revolução proletária.

A razão principal da derrota de muitas revoluções radica no fato de que estas quatro condições raramente alcançam ao mesmo tempo o necessário grau de maturidade. Muitas vezes na história a guerra foi a mãe da revolução, precisamente porque sacode até suas próprias bases os regimes já obsoletos, debilita a classe governante e acelera o crescimento da indignação revolucionária entre as classes oprimidas.

Já são intensas a desorientação da burguesia, o alarme e a insatisfação das massas populares, não só nos países beligerantes, mas também nos neutros; estes fenômenos se intensificarão a cada mês da guerra que passe.

É certo que nos últimos vinte anos o proletariado sofreu uma derrota após outra, cada uma mais grave que a precedente, desiludiu-se com os velhos partidos e a guerra indubitavelmente o encontrou deprimido.

No entanto, não se deve superestimar a estabilidade ou duração desses estados de ânimo. Foram produzidos pelos acontecimentos, estes os dissiparão.

A guerra, assim como a revolução, a fazem, principalmente, as gerações mais jovens. Milhões de jovens que não puderam ingressar na indústria começaram suas vidas como desocupados e, portanto, ficaram à margem da política.

Hoje estão encontrando sua localização ou a encontrarão amanhã; o estado os organiza em regimentos e por esta mesma razão lhes abre a possibilidade de sua unificação revolucionária. Sem dúvida a guerra também sacudirá a apatia das gerações mais velhas.

O problema da direção

Permanece em pé o problema da direção. Não será traída a revolução outra vez, já que existem duas Internacionais a serviço do imperialismo enquanto que os elementos genuinamente revolucionários constituem uma minúscula minoria?

 Em outras palavras: Conseguiremos preparar a tempo um partido capaz de dirigir a revolução proletária? Para responder corretamente esta pergunta é necessário propô-la corretamente. Naturalmente, tal ou qual insurreição terminará seguramente em derrota devido a imaturidade da direção revolucionária.

Mas não se trata de uma insurreição isolada. Trata-se de toda uma época revolucionária.

O mundo capitalista já não tem saída, a menos que se considere saída a uma agonia prolongada.

É necessário preparar-se para longos anos, senão décadas, de guerras, insurreições, breves intervalos de trégua, novas guerras e novas insurreições.

 Um partido revolucionário jovem tem que apoiar-se nesta perspectiva. A história lhe dará suficientes oportunidades de provar-se, acumular experiência e amadurecer.

Quanto mais rapidamente se unifique a vanguarda mais breve será a etapa das convulsões sangrentas, menor a destruição que sofrerá nosso planeta. Mas o grande problema histórico não se resolverá de, nenhuma maneira, até que um partido revolucionário se ponha à frente do proletariado.

O problema dos ritmos e dos intervalos é de enorme importância, mas não altera a perspectiva histórica geral nem a orientação da nossa política.

A conclusão é simples: há que se levar adiante a tarefa de organizar e educar a vanguarda proletária com uma energia multiplicada por dez. Este é precisamente o objetivo da Quarta Internacional.


O maior erro cometem aqueles que, buscando justificar suas conclusões pessimistas, referem-se simplesmente as tristes conseqüências da última guerra.

Em primeiro lugar, da última guerra nasceu a Revolução de Outubro, cujas lições estão vivas no movimento operário de todo o mundo.

Em segundo lugar, as condições da guerra atual diferem profundamente das de 1914. A situação econômica dos estados imperialistas, incluindo os Estados Unidos, hoje é infinitamente pior, e o poder destrutivo da guerra infinitamente maior que há um quarto de século.

Há, portanto, razões suficientes para supor que desta vez a reação por parte dos operários e exército será muito mais rápida e decisiva.

A experiência da primeira guerra não passou sem afetar profundamente as massas. A Segunda Internacional extraiu suas forças das ilusões democráticas e pacifistas que estavam quase intactas nas massas. Os operários acreditavam seriamente que a guerra de 1914 seria a última.

 Os soldados se deixavam matar para evitar que seus filhos tivessem que sofrer uma nova carnificina. Esta esperança foi o que permitiu aos homens suportar a guerra durante mais de quatro anos. Hoje não resta quase nada das ilusões democráticas e pacifistas.

Os povos sofrem a guerra atual sem crer mais nela, sem esperar dela outra coisa que novos grilhões. Isto também se aplica aos estados totalitários.

A geração operária mais velha, que levou sobre suas costas a carga da primeira guerra imperialista e não esqueceu suas lições, está longe ainda de ter sido eliminada da cena.

Ainda soam nos ouvidos da geração seguinte àquela, a que ia a escola durante a guerra, as falsas consignas de patriotismo e pacifismo.

 A inestimável experiência política desses setores, agora aplastados pelo peso da maquinaria bélica se revelará em toda sua plenitude quando a guerra impulsionar as massas trabalhadoras a pôr-se abertamente contra seus governos.

Socialismo ou escravidão

Nossas teses, A Guerra e a Quarta Internacional (1934), afirmam que:

“o caráter completamente reacionário, putrefato e saqueador do capitalismo moderno, a destruição da democracia, o reformismo e o pacifismo, a necessidade urgente e candente que tem o proletariado de encontrar uma saída segura do desastre eminente põe na ordem do dia, com forças renovadas, a revolução internacional”.

Hoje já não se trata, como no século XIX, de garantir simplesmente um desenvolvimento econômico mais rápido e sadio; hoje se trata de salvar a humanidade do suicídio.

É precisamente a agudez do problema histórico o que faz tremer os alicerces dos partidos oportunistas.

O partido da revolução, pelo contrário, encontra uma reserva inesgotável de forças em sua consciência de ser o produto de uma necessidade histórica inexorável.

Mais ainda; é inadmissível colocar a atual vanguarda revolucionária no mesmo nível daqueles internacionalistas isolados que elevaram suas vozes quando estourou a guerra anterior. Somente o partido dos bolcheviques russos representava então uma força revolucionária.

 Mas mesmo este, em sua imensa maioria, excetuando um pequeno grupo de emigrados que rodeavam Lênin, não conseguiu superar sua estreiteza nacional e elevar-se à perspectiva da revolução mundial.

A Quarta Internacional, pelo número de seus militantes e especialmente por sua preparação, conta com vantagens infinitas sobre seus predecessores da guerra anterior.

A Quarta Internacional é a herdeira direta do melhor do bolchevismo. A Quarta Internacional assimilou a tradição da Revolução de Outubro e transformou em teoria a experiência do período histórico mais rico entre as duas guerras imperialistas. Tem fé em si mesma e em seu futuro.

A guerra, recordemos uma vez mais, acelera enormemente o desenvolvimento político. Esses grandes objetivos que ontem não mais nos pareciam estar tão longe, senão há décadas de distância, podem delinear-se a nós diretamente nos próximos dois ou três anos, ou ainda antes.

 Os programas que se apóiam nas condições habituais das épocas de paz inevitavelmente ficarão suspensos no ar.

Por outro lado, os programas de consignas transicionais da Quarta Internacional, que lhes parecia tão “irreal” aos políticos que não enxergavam além dos seus narizes, revelará toda sua importância no processo de mobilização das massas pela conquista do poder.

Quando começar a nova revolução os oportunistas tratarão uma vez mais, como fizeram há um quarto de século, de inspirar aos operários a idéia de que é impossível construir o socialismo sobre as ruínas e a desolação. Como se o proletariado tivesse liberdade para escolher!

Terá que construir sobre os fundamentos que proporciona a história.

A Revolução Russa demonstrou que o governo operário pode tirar da pobreza mais profunda até um país muito atrasado. Muito maiores são os milagres que poderá realizar o proletariado dos países avançados. A guerra destrói estruturas, ferrovias, fábricas, minas; mas não pode destruir a tecnologia, a ciência, a capacidade.

Depois de criar seu próprio estado, organizar corretamente suas fileiras, aportar a força de trabalho qualificada herdada do regime burguês e organizar a produção de acordo com um plano unificado, o proletariado não só restaurará em uns anos tudo que foi destruído pela guerra, mas também criará as condições para um grande florescimento da cultura sobre as bases da solidariedade.
Que fazer
A conferência de emergência da Quarta Internacional vota este manifesto no momento em que, depois de abater a Holanda e a Bélgica e aplastar a resistência inicial das tropas aliadas, o exército alemão avança como um rolo compressor para Paris e o Canal. Em Berlim já se apressam em celebrar a vitória.

No setor aliado propaga-se um alarme no limite com o pânico. Aqui não temos possibilidades nem necessidade de internar-nos em especulações estratégicas sobre as próximas etapas da guerra.

 De todo modo, a tremenda preponderância de Hitler põe neste momento sua marca sobre a fisionomia política de todo o mundo.

“Não está obrigada a classe operária, nas condições atuais, a ajudar às democracias em sua luta contra o fascismo alemão?” Assim propõe a questão amplos setores pequeno-burgueses para quem o proletariado é sempre uma ferramenta auxiliar de tal ou qual setor da burguesia. Rechaçamos com indignação essa política.

Naturalmente há diferenças entre os distintos regimes políticos da sociedade burguesa, assim num trem há vagões mais confortáveis que outros.

Mas quando todo o trem está se precipitando em um abismo, a diferença entre a democracia decadente e o fascismo assassino desaparece ante o colapso de todo o sistema capitalista.

Os triunfos e as bestialidades de Hitler provocam naturalmente o ódio exasperado dos operários de todo o mundo. Mas entre este ódio legitimo dos operários e a ajuda a seus inimigos mais fracos, mas não menos reacionários, há uma grande distância.

O triunfo dos imperialistas da Grã-Bretanha e França não seria menos terrível para a sorte da humanidade que o de Hitler e Mussolini. Não se pode salvar a democracia burguesa. Ajudando as suas burguesias contra o fascismo estrangeiro os operários só acelerarão o triunfo do fascismo em seu próprio país.

 A tarefa colocada pela história não é apoiar uma parte do sistema imperialista contra outra, mas terminar com o conjunto do sistema.

Os operários têm que aprender a técnica militar

A militarização das massas se intensifica dia a dia. Rechaçamos a grotesca pretensão de evitar esta militarização com ocos protestos pacifistas.

 Na próxima etapa todos os grandes problemas se decidirão com as armas na mão. Os operários não devem ter medo das armas; pelo contrário, têm que aprender a usá-las.

Os revolucionários não se afastam do povo nem na guerra nem na paz.

Um bolchevique trata não só de converter-se no melhor sindicalista, mas também no melhor soldado.

Não queremos permitir à burguesia que leve aos soldados sem treinamento ou semi-treinados a morrer no campo de batalha.

Exigimos que o estado ofereça imediatamente aos operários e aos desocupados a possibilidade de aprender a manejar o rifle, a granada de mão, o fuzil, o canhão, o aeroplano, o submarino e os demais instrumentos de guerra.

Fazem falta escolas militares especiais estreitamente relacionada com os sindicatos para que os operários possam transformar-se em especialistas qualificados na arte militar, capazes de ocupar postos de comandante.

Esta não é nossa guerra!

Ao mesmo tempo, não nos esqueçamos nem por um momento de que esta guerra não é nossa guerra. Diferentemente da Segunda e Terceira Internacional a Quarta Internacional não constrói sua política em função das mudanças militares dos estados capitalistas, mas a transformação da guerra imperialista numa guerra dos operários contra os capitalistas, do derrubamento da classe dominante em todos os países, da revolução socialista mundial.

As mudanças que se produzem na frente, a destruição dos capitais nacionais, a ocupação de territórios, a queda de alguns estados, desde este ponto de vista só constituem trágicos episódios no caminho da reconstrução da sociedade moderna.

Independentemente do curso da guerra, cumprimos nosso objetivo básico: explicamos aos operários que seus interesses são irreconciliáveis com os do capitalismo sedento de sangue; mobilizamos os trabalhadores contra o imperialismo; propagandeamos a unidade dos operários de todos os países beligerantes e neutros; chamamos a confraternização entre os operários e soldados dentro de cada país e entre os soldados que estão em lados opostos das trincheiras no campo de batalha; mobilizamos as mulheres e os jovens contra a guerra; preparamos constante, persistente e incansavelmente a revolução nas fábricas, moinhos, aldeias, quartéis, no front e na frota.


Este é o nosso programa. Proletários do mundo, não há outra saída que unir-se sob o estandarte da Quarta Internacional!