25 de Julho de 1939
Caros amigos,
Acontecimentos gigantescos e terríveis se aproximam com uma força implacável. A humanidade vive na expectativa da guerra, que envolverá naturalmente os países coloniais e pesará no seu destino. Os agentes do governo britânico apresentam as coisas como se a guerra vá ser travada em nome dos princípios da "democracia", a qual deveria ser salva do fascismo. Todos os povos deveriam alinhar-se com os governos "pacíficos" e "democráticos" para repelir os agressores fascistas. Então, a "democracia" será salva e a paz estabelecida para sempre. Este evangelho se baseia numa deliberada mentira. Se o governo britânico está realmente interessado no crescimento da democracia, ele teria uma ocasião muito simples para demonstrá-lo, que seria a de dar a liberdade completa para a Índia. O direito à independência nacional é um dos direitos democráticos elementares, mas, na realidade, o governo de Londres está pronto a ceder todas as democracias do mundo em troca de um décimo de suas colônias.
Se o povo indiano não quiser continuar eternamente escravo, ele deve denunciar e rejeitar esses falsos pregadores que afirmam que o fascismo é o único inimigo do povo. Hitler e Mussolini são, sem qualquer dúvida, os piores inimigos dos trabalhadores e dos oprimidos. São carrascos sanguinários que merecem o maior ódio por parte dos trabalhadores e oprimidos do mundo. Mas, eles são, sobretudo, os inimigos do povo alemão e italiano, sobre as costas dos quais estão sentados. As classes e povos oprimidos devem sempre - como nos ensinaram Marx, Engels, Lenin e Liebknecht - buscar seu inimigo principal no seu próprio país, na forma de seus próprios exploradores e opressores. Na Índia, este inimigo é antes de tudo a burguesia inglesa. A derrota do imperialismo inglês seria um golpe terrível para todos os opressores, inclusive os ditadores fascistas. Os imperialismos se diferenciam uns dos outros pela forma - não na sua essência. O imperialismo alemão, desprovido de colônias, se veste com a terrível máscara do fascismo, com seus dentes de sabre na frente. O imperialismo britânico, porque possui imensas colônias, dissimula seus dentes de sabre por trás da máscara da democracia. Mas esta democracia só existe para o centro metropolitano, para 45 milhões de almas ou, de forma mais exata, para a burguesia dominante neste centro. A Índia está privada não só da democracia, mas do direito elementar à independência nacional. A democracia imperialista é esta democracia dos escravistas que se alimentam do sangue das colônias. O que a Índia quer é uma democracia para si, e não tornar-se pastagem dos escravistas.
Os que querem acabar com o fascismo, com a reação e com todas as formas de opressão, devem derrotar o imperialismo. Não há outro caminho. Mas esta tarefa não pode ser cumprida com métodos pacíficos, negociações e promessas. Somente uma luta audaciosa e determinada do povo pela emancipação econômica e nacional poderá libertar a Índia.
A burguesia indiana é incapaz de levar uma luta revolucionária. Ela é ligada em demasia ao imperialismo britânico, ela depende dele. Ela teme pelos seus próprios bens. Ela tem medo das massas. Ela busca um compromisso a qualquer custo com o imperialismo e engana as massas com esperanças de reformas vindas de cima. O chefe e profeta desta burguesia é Gandhi: chefe fabricado e falso profeta! Gandhi e seus compadres desenvolveram a teoria que a situação da Índia vai melhorar sem parar, que suas liberdades vão ampliar-se, que a Índia vai tornar-se, pouco a pouco, um "dominion" na via de reformas pacíficas. Mais tarde, talvez, obtenha a independência. Esta perspectiva é radicalmente falsa. As classes imperialistas só podem fazer concessões no período ascendente do capitalismo, época em que os exploradores podiam contar com o crescimento contínuo de seus lucros. Hoje, esta questão nem mesmo se coloca. O imperialismo mundial está em seu declínio. As condições de todas as nações imperialistas se tornam cada dia mais difíceis, enquanto que as contradições entre elas não deixam de agravar-se. Armamentos monstruosos devoram uma parcela cada vez mais importante das rendas nacionais. Os imperialistas não podem mais fazer concessões sérias, seja para suas próprias massas laboriosas, seja para suas colônias. Eles estão obrigados, pelo contrário, a recorrer a uma exploração ainda mais bestial. É exatamente nisso que se expressa a agonia mortal do capitalismo. Para conservar suas colônias, seus mercados e concessões, contra a Alemanha, a Itália e o Japão, o governo de Londres está pronto a destruir milhões de homens. Poderíamos ter, sem perder a cabeça, a menor esperança que esta oligarquia financeira rapaz e selvagem vai libertar a Índia por sua própria vontade?
É verdade que um governo do pretenso Partido Trabalhista pode tomar o lugar de um governo conservador. Mas isso não mudará nada. O Partido Trabalhista - como testemunham todo o seu passado e seu programa atual - não se diferencia em nada dos "tories" (conservadores, NDT) na questão colonial. O Partido Trabalhista expressa, na realidade, não os interesses da classe operária, mas apenas os interesses da burocracia e da aristocracia operária britânicas. É a esta camada que a burguesia pode jogar migalhas, graças ao fato que ela explora impiedosamente as colônias e a própria Índia. A burocracia operária britânica - tanto no Partido Trabalhista, como nos sindicatos - está diretamente interessada na exploração das colônias. Ela não deseja, nem de longe, a emancipação da Índia. Esses senhores - o major Attlee, sir Walter Crivine e companhia - estão prontos para a qualquer instante denunciar o movimento revolucionário do povo indiano como uma "traição", a apresentá-lo como uma ajuda a Hitler e Mussolini e a recorrer a medidas militares para liquidá-lo.
A política atual da Internacional Comunista não vai melhor. Há vinte anos, é certo, a 3ª Internacional, a Internacional Comunista, foi fundada como uma autêntica organização revolucionária. Uma de suas tarefas mais importantes era a liberação dos povos coloniais. Hoje em dia, não restam desse programa senão lembranças. Os dirigentes da IC, há muito tempo, tornaram-se simples instrumentos da burocracia de Moscou, que sufocou as massas operárias soviéticas e se transformou numa nova aristocracia. Nas fileiras dos partidos comunistas dos diferentes países - inclusive a Índia - há incontestavelmente muitos operários, estudantes, etc, honestos; mas não são eles que determinam a política do Comintern. A decisão pertence ao Krêmlin, que não está guiado pelos interesses dos oprimidos, mas por aqueles da nova aristocracia que o ocupa.
Em favor de uma aliança com os governos imperialistas, Stalin e sua camarilha abandonaram completamente o programa revolucionário da emancipação das colônias. No último congresso do partido, em março, em Mosco u, isto foi abertamente reconhecido por Manuilsky, um dos dirigentes do Comintern, que declarou:
"os comunistas (...) exigem dos governos imperialistas das "democracias burguesas" que eles decretem uma melhoria imediata (sic) e radical (!) das condições de vida das massas laboriosas nas colônias e que outorguem amplos direitos e liberdades democráticas às colônias" (Pravda nº 70, 12 de março de 1939).
Em outras palavras, no que diz respeito às colônias da Inglaterra e da França, o Comintern passou para a posição de Gandhi e da burguesia colonial conciliadora em geral. O Comintern abandonou completamente a luta revolucionária pela independência da Índia. Ele pede ("de joelhos") ao imperialismo britânico que outorgue "liberdades democráticas" à Índia. As palavras "melhoria imediata e radical das condições de vida" ressoam de maneira particularmente falsa e cínica. O capitalismo moderno - declinante, gangrenado, decomposto - está cada vez mais obrigado a agravar a situação dos operários no próprio centro metropolitano. Como ele poderia melhorar a dos trabalhadores das colônias, os quais ele é obrigado a espremer todo o suco para manter seu próprio equilíbrio? A melhoria das condições das massas laboriosas nas colônias só é possível na via da derrubada total do imperialismo.
Mas a IC foi ainda mais longe na via da traição. Os comunistas, segundo Manuilsky, "subordinam a realização desse direito à secessão (...) aos interesses da vitória contra o fascismo". Em outras palavras, no caso de uma guerra entre a Inglaterra e a França pelas colônias, o povo indiano deveria apoiar seus atuais escravistas, os imperialistas britânicos. O que quer dizer que ele deveria derramar sangue, não pela sua própria emancipação, mas para preservar o reino da City sobre a Índia. E esses canalhas que não valem um tostão furado ainda ousam citar Marx e Lenin! Seu mestre, de fato, não é outro senão Stalin, o chefe da nova aristocracia burocrática, o carrasco do Partido Bolchevique, o estrangulador de operários e camponeses.
No caso em que a burguesia indiana seja obrigada a dar, nem que seja, um pequeno passo na via da luta contra a dominação arbitrária da Grã-Bretanha, o proletariado apoiaria naturalmente essa iniciativa. Mas o faria com seus próprios métodos: reuniões de massa, palavras de ordem corajosas, greves, manifestações e ações de combate mais decisivas, em função da relação de forças e das circunstâncias. É exatamente para poder fazer isso, que o proletariado deve ter suas mãos livres. Para o proletariado é indispensável uma total independência diante da burguesia, sobretudo para poder influenciar os camponeses, a massa predominante da população da Índia. Somente o proletariado pode avançar um programa revolucionário agrário corajoso, levantar e reunir as dezenas de milhões de camponeses e conduzi-los à luta contra os opressores indígenas e o imperialismo britânico. A aliança dos operários e camponeses é a única aliança honesta e segura que pode garantir a vitória final da revolução indiana.
Os stalinistas escondem sua política de submissão aos imperialismos britânico, francês e americano, com a fórmula da Frente Popular. Que zombaria para o povo! A "Frente Popular" não passa de um novo nome para a velha política de colaboração de classe, de aliança do proletariado com a burguesia. Em qualquer aliança similar, a direção acaba inevitavelmente nas mãos da direita, isto é, da classe dominante. A burguesia indiana, como já indicamos, quer uma boa negociação, não a luta. A aliança com a burguesia leva o proletariado a renunciar à luta contra o imperialismo. A política da coalizão implica patinar, contemporizar, alimentar falsas esperanças e engajar-se em manobras e intrigas vãs. O resultado dessa política é o aparecimento da desilusão nas massas trabalhadoras, enquanto os camponeses viram as costas ao proletariado e recaem na sua apatia. A revolução alemã, a revolução austríaca, a revolução chinesa e a revolução espanhola foram todas derrotadas como resultado de uma política de coalizão. É o mesmo perigo que hoje ameaça também a revolução indiana, quando os stalinistas opõe a ela, sob o disfarce de "Frente Popular", uma política de subordinação do proletariado à burguesia. Isso significa, na ação, a rejeição do programa agrário revolucionário, do armamento do proletariado, da luta pelo poder, a rejeição da revolução.
Todas as questões dos tempos de paz conservam plena força nos tempos de guerra, mas elas terão uma expressão mais aguda. Em primeiro lugar, a exploração das colônias será intensificada de modo importante. Não apenas as metrópoles vão arrancar das colônias produtos alimentares e matérias primas, mas vão também mobilizar um grande número de escravos coloniais, que vão morrer pelos seus mestres nos campos de batalha. Enquanto isso, a burguesia colonial enfiará seu focinho nas encomendas de guerra, renunciando naturalmente à oposição em nome do patriotismo e dos lucros. Gandhi já está preparando o terreno para esta política. Esses senhores vão continuar a rufar tambores: "Devemos esperar pacientemente o fim da guerra, então Londres vai nos agradecer por nossa ajuda."
De fato, os imperialistas vão dobrar e triplicar a exploração dos trabalhadores nos seus países e sobretudo nas colônias, para restaurar seu país depois da carnificina e as destruições da guerra. Nessas condições nem se coloca a questão de novas reformas sociais nas metrópoles, ou de outorga de liberdade às colônias. Cadeias duplas de escravidão, eis o que será a inevitável consequência da guerra, se as massas da Índia seguirem a política de Gandhi, dos stalinistas e seus amigos.
A guerra, contudo, pode trazer à Índia e outras colônias não uma escravidão redobrada, mas uma liberdade total. A condição para tanto é uma política revolucionária justa. O povo indiano deve separar o seu destino, desde o começo, do destino do imperialismo britânico. Os opressores e os oprimidos estão em lados opostos das trincheiras. Nenhuma ajuda para os escravistas. É preciso, ao contrário, utilizar as dificuldades criadas pela onda da guerra para dar um golpe mortal em todas as classes dirigentes.
É por isso que as classes oprimidas e os povos de todos os países devem passar à ação, independentemente do fato dos senhores imperialistas usarem uma máscara democrática ou fascista.
Para realizar uma tal política é necessário um partido revolucionário, baseado na vanguarda do proletariado. Ele não existe ainda na Índia. A 4ª Internacional oferece a este partido o seu programa, sua experiência e sua colaboração. As condições de base para este partido são: independência completa diante da democracia imperialista, independência completa diante das 2ª e 3ª Internacionais, e independência completa diante da burguesia nacional indiana.
Existem já seções da 4ª Internacional em países coloniais e semi-coloniais, e elas progridem de modo substancial. O primeiro lugar entre elas pertence, sem dúvida, à nossa seção na Indochina francesa, que leva uma luta irreconciliável contra "o imperialismo francês e as mistificações da Frente Popular". "Os dirigentes stalinistas, escreve o jornal dos operários de Saigon, A Luta, de 7 de abril de 1939, deram mais um passo no caminho da traição. Tirando suas máscaras de revolucionários, tornaram-se os campeões do imperialismo e falam abertamente contra a emancipação dos povos coloniais oprimidos." Por causa de sua corajosa política revolucionária, os proletários de Saigon, membros da 4ª Internacional, obtiveram uma brilhante vitória contra o bloco do partido governante com os stalinistas nas eleições de abril último para o conselho colonial.
É exatamente a mesma política que devem Ter os operários avançados da Índia britânica. É preciso abandonar todas as falsas esperanças e falsos amigos. É preciso depositar nossas esperanças apenas em nós mesmos, em nossas próprias forças revolucionárias. A luta pela independência nacional, pela república indiana independente, está indissoluvelmente ligada à revolução agrária, à nacionalização dos bancos e trustes, ao lado de outras medidas econômicas para elevar o nível de vida do país e a transformar as massas laboriosas donas de seu destino. Somente o proletariado, aliado ao campesinato, é capaz de cumprir estas tarefas. Na sua primeira etapa o partido revolucionário terá nas suas fileiras apenas uma pequena minoria. Mas, ao contrário dos outros partidos, ele prestará claramente contas da situação e marchará sem medo para seu grande objetivo. É indispensável criar grupos operários sob a bandeira da 4ª Internacional em todos os centros e cidades industriais. Neles, apenas os intelectuais que tenham passado totalmente para o lado do proletariado podem ser admitidos. Os marxistas operários revolucionários, totalmente alheios ao sectarismo que se dobra sobre si próprio, devem participar ativamente no trabalho dos sindicatos, das sociedades de educação, do Partido Socialista do Congresso e, em geral, em todas as organizações de massa. Eles continuam em toda a parte na extrema-esquerda, em toda a parte dão o exemplo de coragem na ação, em toda a parte, de forma paciente e camarada, explicam seu programa aos operários e camponeses, aos intelectuais revolucionários. Acontecimentos iminentes virão em auxílio dos bolcheviques-leninistas indianos, revelando às massas a justeza de nossa rota. O partido crescerá rapidamente e será temperado pelo fogo. Permitam-me expressar minha firme esperança que a luta revolucionária pelaancipação da Índia se desenvolverá sob a bandeira da 4ª Internacional.
Acontecimentos gigantescos e terríveis se aproximam com uma força implacável. A humanidade vive na expectativa da guerra, que envolverá naturalmente os países coloniais e pesará no seu destino. Os agentes do governo britânico apresentam as coisas como se a guerra vá ser travada em nome dos princípios da "democracia", a qual deveria ser salva do fascismo. Todos os povos deveriam alinhar-se com os governos "pacíficos" e "democráticos" para repelir os agressores fascistas. Então, a "democracia" será salva e a paz estabelecida para sempre. Este evangelho se baseia numa deliberada mentira. Se o governo britânico está realmente interessado no crescimento da democracia, ele teria uma ocasião muito simples para demonstrá-lo, que seria a de dar a liberdade completa para a Índia. O direito à independência nacional é um dos direitos democráticos elementares, mas, na realidade, o governo de Londres está pronto a ceder todas as democracias do mundo em troca de um décimo de suas colônias.
Se o povo indiano não quiser continuar eternamente escravo, ele deve denunciar e rejeitar esses falsos pregadores que afirmam que o fascismo é o único inimigo do povo. Hitler e Mussolini são, sem qualquer dúvida, os piores inimigos dos trabalhadores e dos oprimidos. São carrascos sanguinários que merecem o maior ódio por parte dos trabalhadores e oprimidos do mundo. Mas, eles são, sobretudo, os inimigos do povo alemão e italiano, sobre as costas dos quais estão sentados. As classes e povos oprimidos devem sempre - como nos ensinaram Marx, Engels, Lenin e Liebknecht - buscar seu inimigo principal no seu próprio país, na forma de seus próprios exploradores e opressores. Na Índia, este inimigo é antes de tudo a burguesia inglesa. A derrota do imperialismo inglês seria um golpe terrível para todos os opressores, inclusive os ditadores fascistas. Os imperialismos se diferenciam uns dos outros pela forma - não na sua essência. O imperialismo alemão, desprovido de colônias, se veste com a terrível máscara do fascismo, com seus dentes de sabre na frente. O imperialismo britânico, porque possui imensas colônias, dissimula seus dentes de sabre por trás da máscara da democracia. Mas esta democracia só existe para o centro metropolitano, para 45 milhões de almas ou, de forma mais exata, para a burguesia dominante neste centro. A Índia está privada não só da democracia, mas do direito elementar à independência nacional. A democracia imperialista é esta democracia dos escravistas que se alimentam do sangue das colônias. O que a Índia quer é uma democracia para si, e não tornar-se pastagem dos escravistas.
Os que querem acabar com o fascismo, com a reação e com todas as formas de opressão, devem derrotar o imperialismo. Não há outro caminho. Mas esta tarefa não pode ser cumprida com métodos pacíficos, negociações e promessas. Somente uma luta audaciosa e determinada do povo pela emancipação econômica e nacional poderá libertar a Índia.
A burguesia indiana é incapaz de levar uma luta revolucionária. Ela é ligada em demasia ao imperialismo britânico, ela depende dele. Ela teme pelos seus próprios bens. Ela tem medo das massas. Ela busca um compromisso a qualquer custo com o imperialismo e engana as massas com esperanças de reformas vindas de cima. O chefe e profeta desta burguesia é Gandhi: chefe fabricado e falso profeta! Gandhi e seus compadres desenvolveram a teoria que a situação da Índia vai melhorar sem parar, que suas liberdades vão ampliar-se, que a Índia vai tornar-se, pouco a pouco, um "dominion" na via de reformas pacíficas. Mais tarde, talvez, obtenha a independência. Esta perspectiva é radicalmente falsa. As classes imperialistas só podem fazer concessões no período ascendente do capitalismo, época em que os exploradores podiam contar com o crescimento contínuo de seus lucros. Hoje, esta questão nem mesmo se coloca. O imperialismo mundial está em seu declínio. As condições de todas as nações imperialistas se tornam cada dia mais difíceis, enquanto que as contradições entre elas não deixam de agravar-se. Armamentos monstruosos devoram uma parcela cada vez mais importante das rendas nacionais. Os imperialistas não podem mais fazer concessões sérias, seja para suas próprias massas laboriosas, seja para suas colônias. Eles estão obrigados, pelo contrário, a recorrer a uma exploração ainda mais bestial. É exatamente nisso que se expressa a agonia mortal do capitalismo. Para conservar suas colônias, seus mercados e concessões, contra a Alemanha, a Itália e o Japão, o governo de Londres está pronto a destruir milhões de homens. Poderíamos ter, sem perder a cabeça, a menor esperança que esta oligarquia financeira rapaz e selvagem vai libertar a Índia por sua própria vontade?
É verdade que um governo do pretenso Partido Trabalhista pode tomar o lugar de um governo conservador. Mas isso não mudará nada. O Partido Trabalhista - como testemunham todo o seu passado e seu programa atual - não se diferencia em nada dos "tories" (conservadores, NDT) na questão colonial. O Partido Trabalhista expressa, na realidade, não os interesses da classe operária, mas apenas os interesses da burocracia e da aristocracia operária britânicas. É a esta camada que a burguesia pode jogar migalhas, graças ao fato que ela explora impiedosamente as colônias e a própria Índia. A burocracia operária britânica - tanto no Partido Trabalhista, como nos sindicatos - está diretamente interessada na exploração das colônias. Ela não deseja, nem de longe, a emancipação da Índia. Esses senhores - o major Attlee, sir Walter Crivine e companhia - estão prontos para a qualquer instante denunciar o movimento revolucionário do povo indiano como uma "traição", a apresentá-lo como uma ajuda a Hitler e Mussolini e a recorrer a medidas militares para liquidá-lo.
A política atual da Internacional Comunista não vai melhor. Há vinte anos, é certo, a 3ª Internacional, a Internacional Comunista, foi fundada como uma autêntica organização revolucionária. Uma de suas tarefas mais importantes era a liberação dos povos coloniais. Hoje em dia, não restam desse programa senão lembranças. Os dirigentes da IC, há muito tempo, tornaram-se simples instrumentos da burocracia de Moscou, que sufocou as massas operárias soviéticas e se transformou numa nova aristocracia. Nas fileiras dos partidos comunistas dos diferentes países - inclusive a Índia - há incontestavelmente muitos operários, estudantes, etc, honestos; mas não são eles que determinam a política do Comintern. A decisão pertence ao Krêmlin, que não está guiado pelos interesses dos oprimidos, mas por aqueles da nova aristocracia que o ocupa.
Em favor de uma aliança com os governos imperialistas, Stalin e sua camarilha abandonaram completamente o programa revolucionário da emancipação das colônias. No último congresso do partido, em março, em Mosco u, isto foi abertamente reconhecido por Manuilsky, um dos dirigentes do Comintern, que declarou:
"os comunistas (...) exigem dos governos imperialistas das "democracias burguesas" que eles decretem uma melhoria imediata (sic) e radical (!) das condições de vida das massas laboriosas nas colônias e que outorguem amplos direitos e liberdades democráticas às colônias" (Pravda nº 70, 12 de março de 1939).
Em outras palavras, no que diz respeito às colônias da Inglaterra e da França, o Comintern passou para a posição de Gandhi e da burguesia colonial conciliadora em geral. O Comintern abandonou completamente a luta revolucionária pela independência da Índia. Ele pede ("de joelhos") ao imperialismo britânico que outorgue "liberdades democráticas" à Índia. As palavras "melhoria imediata e radical das condições de vida" ressoam de maneira particularmente falsa e cínica. O capitalismo moderno - declinante, gangrenado, decomposto - está cada vez mais obrigado a agravar a situação dos operários no próprio centro metropolitano. Como ele poderia melhorar a dos trabalhadores das colônias, os quais ele é obrigado a espremer todo o suco para manter seu próprio equilíbrio? A melhoria das condições das massas laboriosas nas colônias só é possível na via da derrubada total do imperialismo.
Mas a IC foi ainda mais longe na via da traição. Os comunistas, segundo Manuilsky, "subordinam a realização desse direito à secessão (...) aos interesses da vitória contra o fascismo". Em outras palavras, no caso de uma guerra entre a Inglaterra e a França pelas colônias, o povo indiano deveria apoiar seus atuais escravistas, os imperialistas britânicos. O que quer dizer que ele deveria derramar sangue, não pela sua própria emancipação, mas para preservar o reino da City sobre a Índia. E esses canalhas que não valem um tostão furado ainda ousam citar Marx e Lenin! Seu mestre, de fato, não é outro senão Stalin, o chefe da nova aristocracia burocrática, o carrasco do Partido Bolchevique, o estrangulador de operários e camponeses.
No caso em que a burguesia indiana seja obrigada a dar, nem que seja, um pequeno passo na via da luta contra a dominação arbitrária da Grã-Bretanha, o proletariado apoiaria naturalmente essa iniciativa. Mas o faria com seus próprios métodos: reuniões de massa, palavras de ordem corajosas, greves, manifestações e ações de combate mais decisivas, em função da relação de forças e das circunstâncias. É exatamente para poder fazer isso, que o proletariado deve ter suas mãos livres. Para o proletariado é indispensável uma total independência diante da burguesia, sobretudo para poder influenciar os camponeses, a massa predominante da população da Índia. Somente o proletariado pode avançar um programa revolucionário agrário corajoso, levantar e reunir as dezenas de milhões de camponeses e conduzi-los à luta contra os opressores indígenas e o imperialismo britânico. A aliança dos operários e camponeses é a única aliança honesta e segura que pode garantir a vitória final da revolução indiana.
Os stalinistas escondem sua política de submissão aos imperialismos britânico, francês e americano, com a fórmula da Frente Popular. Que zombaria para o povo! A "Frente Popular" não passa de um novo nome para a velha política de colaboração de classe, de aliança do proletariado com a burguesia. Em qualquer aliança similar, a direção acaba inevitavelmente nas mãos da direita, isto é, da classe dominante. A burguesia indiana, como já indicamos, quer uma boa negociação, não a luta. A aliança com a burguesia leva o proletariado a renunciar à luta contra o imperialismo. A política da coalizão implica patinar, contemporizar, alimentar falsas esperanças e engajar-se em manobras e intrigas vãs. O resultado dessa política é o aparecimento da desilusão nas massas trabalhadoras, enquanto os camponeses viram as costas ao proletariado e recaem na sua apatia. A revolução alemã, a revolução austríaca, a revolução chinesa e a revolução espanhola foram todas derrotadas como resultado de uma política de coalizão. É o mesmo perigo que hoje ameaça também a revolução indiana, quando os stalinistas opõe a ela, sob o disfarce de "Frente Popular", uma política de subordinação do proletariado à burguesia. Isso significa, na ação, a rejeição do programa agrário revolucionário, do armamento do proletariado, da luta pelo poder, a rejeição da revolução.
Todas as questões dos tempos de paz conservam plena força nos tempos de guerra, mas elas terão uma expressão mais aguda. Em primeiro lugar, a exploração das colônias será intensificada de modo importante. Não apenas as metrópoles vão arrancar das colônias produtos alimentares e matérias primas, mas vão também mobilizar um grande número de escravos coloniais, que vão morrer pelos seus mestres nos campos de batalha. Enquanto isso, a burguesia colonial enfiará seu focinho nas encomendas de guerra, renunciando naturalmente à oposição em nome do patriotismo e dos lucros. Gandhi já está preparando o terreno para esta política. Esses senhores vão continuar a rufar tambores: "Devemos esperar pacientemente o fim da guerra, então Londres vai nos agradecer por nossa ajuda."
De fato, os imperialistas vão dobrar e triplicar a exploração dos trabalhadores nos seus países e sobretudo nas colônias, para restaurar seu país depois da carnificina e as destruições da guerra. Nessas condições nem se coloca a questão de novas reformas sociais nas metrópoles, ou de outorga de liberdade às colônias. Cadeias duplas de escravidão, eis o que será a inevitável consequência da guerra, se as massas da Índia seguirem a política de Gandhi, dos stalinistas e seus amigos.
A guerra, contudo, pode trazer à Índia e outras colônias não uma escravidão redobrada, mas uma liberdade total. A condição para tanto é uma política revolucionária justa. O povo indiano deve separar o seu destino, desde o começo, do destino do imperialismo britânico. Os opressores e os oprimidos estão em lados opostos das trincheiras. Nenhuma ajuda para os escravistas. É preciso, ao contrário, utilizar as dificuldades criadas pela onda da guerra para dar um golpe mortal em todas as classes dirigentes.
É por isso que as classes oprimidas e os povos de todos os países devem passar à ação, independentemente do fato dos senhores imperialistas usarem uma máscara democrática ou fascista.
Para realizar uma tal política é necessário um partido revolucionário, baseado na vanguarda do proletariado. Ele não existe ainda na Índia. A 4ª Internacional oferece a este partido o seu programa, sua experiência e sua colaboração. As condições de base para este partido são: independência completa diante da democracia imperialista, independência completa diante das 2ª e 3ª Internacionais, e independência completa diante da burguesia nacional indiana.
Existem já seções da 4ª Internacional em países coloniais e semi-coloniais, e elas progridem de modo substancial. O primeiro lugar entre elas pertence, sem dúvida, à nossa seção na Indochina francesa, que leva uma luta irreconciliável contra "o imperialismo francês e as mistificações da Frente Popular". "Os dirigentes stalinistas, escreve o jornal dos operários de Saigon, A Luta, de 7 de abril de 1939, deram mais um passo no caminho da traição. Tirando suas máscaras de revolucionários, tornaram-se os campeões do imperialismo e falam abertamente contra a emancipação dos povos coloniais oprimidos." Por causa de sua corajosa política revolucionária, os proletários de Saigon, membros da 4ª Internacional, obtiveram uma brilhante vitória contra o bloco do partido governante com os stalinistas nas eleições de abril último para o conselho colonial.
É exatamente a mesma política que devem Ter os operários avançados da Índia britânica. É preciso abandonar todas as falsas esperanças e falsos amigos. É preciso depositar nossas esperanças apenas em nós mesmos, em nossas próprias forças revolucionárias. A luta pela independência nacional, pela república indiana independente, está indissoluvelmente ligada à revolução agrária, à nacionalização dos bancos e trustes, ao lado de outras medidas econômicas para elevar o nível de vida do país e a transformar as massas laboriosas donas de seu destino. Somente o proletariado, aliado ao campesinato, é capaz de cumprir estas tarefas. Na sua primeira etapa o partido revolucionário terá nas suas fileiras apenas uma pequena minoria. Mas, ao contrário dos outros partidos, ele prestará claramente contas da situação e marchará sem medo para seu grande objetivo. É indispensável criar grupos operários sob a bandeira da 4ª Internacional em todos os centros e cidades industriais. Neles, apenas os intelectuais que tenham passado totalmente para o lado do proletariado podem ser admitidos. Os marxistas operários revolucionários, totalmente alheios ao sectarismo que se dobra sobre si próprio, devem participar ativamente no trabalho dos sindicatos, das sociedades de educação, do Partido Socialista do Congresso e, em geral, em todas as organizações de massa. Eles continuam em toda a parte na extrema-esquerda, em toda a parte dão o exemplo de coragem na ação, em toda a parte, de forma paciente e camarada, explicam seu programa aos operários e camponeses, aos intelectuais revolucionários. Acontecimentos iminentes virão em auxílio dos bolcheviques-leninistas indianos, revelando às massas a justeza de nossa rota. O partido crescerá rapidamente e será temperado pelo fogo. Permitam-me expressar minha firme esperança que a luta revolucionária pelaancipação da Índia se desenvolverá sob a bandeira da 4ª Internacional.
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