Para poder lutar, é preciso conservar e reforçar os instrumentos e meios de luta: as organizações, a imprensa, as reuniões, etc. O fascismo os ameaça, direta ou indiretamente. Ainda é muito fraco para lançar-se à luta direta pelo poder; mas é bastante forte para tentar abater as organizações operárias, pedaço a pedaço, para temperar seus grupos nesses ataques, para semear nas fileiras operárias o desalento e a falta de confiança em suas próprias forças. Mais que isso, o fascismo encontra auxiliares inconscientes em todos aqueles que dizem que a "luta física" é inadmissível e sem esperanças, e que reclamam de Doumergue o desarmamento de seus guardas fascistas. Nada é tão perigoso para o proletariado, especialmente nas condições atuais, que o veneno açucarado das falsas esperanças. Nada aumenta tanto a insolência dos fascistas quanto o brando "pacifismo" das organizações operárias. Nada destrói tanto a confiança das classes médias no proletariado quanto a passividade expectante, a ausência de vontade para a luta.
Le Populaire, e particularmente L'Humanité, escreve todos os dias: "A Frente única é uma barreira contra os fascistas", "A Frente única não permitirá...", "Os fascistas não se atreverão", etc. Frases. É preciso se dizer exatamente aos operários, socialistas e comunistas: "Não permitam que os jornalistas e discursadores superficiais e irresponsáveis os adormeçam com frases. Trata-se de nossas cabeças e do futuro do socialismo". Não somos nós que negamos a importância da Frente Única. Nós a exigimos quando os dirigentes dos partidos estavam contra ela. A Frente Única abre enormes possibilidades. Porém, nada mais. A Frente Única, em si mesma, não decide nada. Somente a luta das massas decide. A Frente Única se revelará uma grande coisa quando os destacamentos comunistas socorrerem os destacamentos socialistas - e vice-versa -, no caso de um ataque dos grupos fascistas contra Le Populaire e L'Humanité. Mas, para que isso ocorra, os destacamentos de combate proletários devem existir, educar-se, treinar-se, armar-se. Se não há organização de defesa, isto é, milícia do povo, Le Populaire e L'Humanité poderão escrever tudo o que quiserem sobre a onipotência da Frente Única e estarão indefesos diante do primeiro ataque bem preparado dos fascistas. Tratemos de fazer o exame crítico dos "argumentos" e das "teorias" dos adversários da milícia do povo, que são muitos e bastante influentes nos dois partidos operários.
Necessitamos de autodefesa de massas e não de milícia, nos dizem freqüentemente. Mas, o que é "autodefesa de massas"? Sem organização de combate? Sem quadros especializados? Sem armas? Transferir para as massas não-organizadas, não-equipadas, não-preparadas, entregues a si mesmas, a defesa contra o fascismo, seria representar um papel incomparavelmente mais baixo que o de Pôncio Pilatos. Negar o papel da milícia é negar o papel da vanguarda. Nesse caso, para que um partido? Sem o apoio das massas, a milícia não é nada. Mas, sem destacamentos de combate organizados, as massas mais heróicas serão esmagadas, em debandada, pelos grupos fascistas. Opor a milícia à autodefesa é absurdo. A milícia é o órgão da autodefesa.
Conclamar a organização da milícia é uma "provocação", dizem alguns adversários certamente pouco sérios e pouco honestos. Isto não é um argumento, mas um insulto. Se a necessidade de defender as organizações operárias surge de toda a situação, como é possível não se conclamar a criação de milícias? É possível nos dizer que a criação de milícias "provoca" os ataques dos fascistas e a repressão do governo? Neste caso, trata-se de um argumento absolutamente reacionário. O liberalismo sempre disse aos operários que eles "provocam" a reação, com sua luta de classes. Os reformistas repetiram essa acusação contra os marxistas; os mencheviques contra os bolcheviques. No fim das contas, essas acusações se reduzem a este pensamento profundo: se os oprimidos não se pusessem em movimento, os opressores não seriam obrigados a golpeá-los. É a filosofia de Tolstoi e de Gandhi, mas de modo algum a de Marx e Lênin. Se L'Humanité quer também desenvolver a doutrina da "não-resistência ao mal pela violência", deve tomar com símbolo não a foice e o martelo, emblema da Revolução de Outubro, mas a bondosa cabra que nutre Gandhi com seu leite.
"Mas armar os operários não é oportuno, a não ser em uma situação revolucionária, que ainda não existe." Este argumento profundo significa que os operários devem se deixar espancar até que a situação se torne revolucionária. Os que ontem pregavam o "terceiro período" não querem ver o que se passa diante de seus olhos. A própria questão do armamento só surgiu na prática porque a situação "pacífica", "normal", "democrática", deu lugar a uma situação agitada, crítica, instável, que facilmente pode transformar-se tanto em situação revolucionária quanto contra-revolucionária. Esta alternativa depende, antes de tudo, da resposta a esta questão: os operários de vanguarda se deixarão espancar, impunemente, uns após outros, ou a cada golpe responderão com dois golpes, aumentando a coragem dos oprimidos e unindo-os ao seu redor? Uma situação revolucionária não cai do céu. É criada com a participação ativa da classe revolucionária e do seu partido.
Os stalinistas franceses alegam agora que a milícia não salvou o proletariado alemão da derrota. Até ontem, negavam que tivesse havido derrota na Alemanha, e afirmavam que a política dos stalinistas alemães tinha sido justa do princípio ao fim. Hoje, vêem todo o mal na milícia operária alemã (Rote Front). Assim, de um erro caem no erro oposto, não menos monstruoso. A milícia não resolve a questão por si mesma. Falta uma política correta. A política dos stalinistas na Alemanha ("o social-fascismo é o inimigo principal", a cisão sindical, o flerte com o nacionalismo, o putchismo) conduz fatalmente ao isolamento da vanguarda proletária e a seu desmoronamento. Com uma estratégia totalmente errônea, nenhuma milícia pode salvar a situação.
É uma tolice dizer que a organização da milícia, por si mesma, abre o caminho para aventuras, provoca o inimigo, substitui a luta política pela luta física, etc. Em todas essas frases não há senão covardia política. A milícia, como uma forte organização de vanguarda, é, de fato, o meio mais seguro contra as aventuras, contra o terrorismo individual, contra as sangrentas explosões espontâneas. A milícia é, ao mesmo tempo, o único meio sério de se reduzir ao mínimo a guerra civil que o fascismo impõe ao proletariado. Que os operários, embora não exista uma "situação revolucionária", corrijam ao menos uma vez os "filhinhos de papai" patriotas com seus próprios métodos, e o recrutamento de novos grupos fascistas se tornará, de imediato, incomparavelmente mais difícil.
Mas aqui os estrategistas, confundidos em seu próprio raciocínio, nos lançam argumentos ainda mais surpreendentes. Lemos textualmente: "Se respondemos aos tiros dos grupos fascistas com outros tiros - escreve L'Humaníté, em 23 de outubro -, perdemos de vista que o fascismo é produto do regime capitalista e que, lutando contra o fascismo, enfrentamos todo o sistema." É difícil acumular em tão poucas linhas mais confusão e erros. É impossível defender-se contra os fascistas porque representam "um produto capitalista!" Isto significa que se deve renunciar a toda luta, pois todos os males sociais contemporâneos são "produtos do sistema capitalista".
Quando os fascistas matam um revolucionário ou incendeiam a sede de um jornal proletário, os operários devem contestar filosoficamente: "Ah, os assassinatos e os incêndios são produtos do sistema capitalista", e voltar para casa com a consciência tranqüila. A prostração fatalista substitui a teoria militante de Marx, com vantagem, unicamente, para o inimigo de classe. Certamente, a ruína da pequena burguesia é produto do capitalismo. O crescimento dos grupos fascistas é, por sua vez, produto da ruína da pequena burguesia. Mas, por outro lado, o aumento da miséria e da revolta do proletariado é também, por sua vez, produto do capitalismo, e a milícia, produto da exacerbação da luta de classes. Então, por que para os "marxistas" de L Humanité os grupos fascistas são produto legítimo do capitalismo e a milícia do povo produto ilegítimo... dos trotskistas? Decididamente, não se pode entender nada disso.
Dizem-nos: é necessário enfrentar todo o "sistema". Como? Passando sobre a cabeça de seres humanos? No entanto, os fascistas começaram pelos tiros e terminaram com a destruição de todo o "sistema" das organizações operárias. Como deter a ofensiva armada do inimigo senão por meio de uma defesa armada, para depois passar à ofensiva?
Certamente L'Humanité admite, em palavras, a defesa, mas somente como "autodefesa de massas": a milícia é prejudicial porque, veja você, separa os destacamentos de combate das massas. Mas, então, por que entre os fascistas existem destacamentos armados independentes que não se separam das massas reacionárias, pelo contrário, através de seus golpes bem organizados aumentam a coragem dessas massas e reforçam sua audácia? Ou as massas proletárias são, talvez, por suas qualidades combativas, inferiores à pequena burguesia desqualificada?
Confuso até o fim, L'Humanité começa a hesitar: a autodefesa de massas precisa criar seus "grupos de autodefesa". Em lugar da milícia repudiada se colocam grupos especiais, destacamentos. À primeira vista, parece que a diferença é apenas de nome. Na verdade, sequer o nome proposto por L Humanité vale alguma coisa. Pode-se falar de "autodefesa de massas", mas é impossível falar de "grupos de autodefesa", pois os grupos não têm por objetivo defender-se, e sim as organizações operárias. No entanto, não se trata, certamente, de nome. Os "grupos de autodefesa", segundo L Humanité, devem renunciar ao uso de armas, para não caírem no "putchismo". Estes sábios tratam a classe operária como uma criança em cujas mãos não se deve deixar uma navalha. Além disso, como se sabe, as navalhas são monopólio dos Camelots du Roi que, como legítimo "produto do capitalismo", derrubaram o "sistema" da democracia. Mas, então, como os "grupos de autodefesa" vão se defender contra os revólveres fascistas? "Ideologicamente", é claro. Dito de outro modo: não lhes resta outro remédio que ir dormir. Não tendo em mãos o que lhes falta, devem buscar a "autodefesa" nas pernas. Enquanto isso, os fascistas saquearão impunemente as organizações operárias. Mas, se o proletariado sofrer uma terrível derrota, ao menos não terá sido culpado de "putchismo!" Desgosto e desprezo: isto é o que provoca essa tagarelice de poltrões sob a bandeira do "bolchevismo".
Já no tempo do "terceiro período", de feliz memória, quando os estrategistas do L'Humanité tinham o delírio das barricadas, "conquistavam" a rua todos os dias e chamavam de social-fascistas todos os que não compartilhavam de suas extravagâncias, prevíamos: "No momento em que queimarem a ponta dos dedos, se tornarão os piores oportunistas." A profecia se confirmou completamente agora. No momento em que no partido socialista se reforça e cresce o movimento em favor da milícia, os chefes do partido que se chama comunista correm a pegar a mangueira de incêndio para esfriar as aspirações dos operários de vanguarda a formar colunas de combate. É possível imaginar um trabalho mais nefasto e desmoralizante?
É Preciso Construir a Milícia Operária
Nas fileiras do partido socialista, às vezes escuta-se esta objeção: "É necessário formar a milícia, mas não há necessidade de se falar tão alto." Não se pode senão felicitar os camaradas que têm o cuidado de subtrair o lado prático do assunto a olhos e ouvidos indesejáveis. Mas é demasiadamente ingênuo pensar que se pode criar a milícia em segredo, entre quatro paredes. Precisamos de dezenas e, em seguida, de centenas de milhares de combatentes. Eles só virão se milhões de operários e operárias, e atrás deles também os camponeses, compreenderem a necessidade da milícia e criarem, em torno dos voluntários, um clima de ardente simpatia e de apoio ativo. A clandestinidade pode e deve envolver unicamente o lado técnico do assunto. Enquanto campanha política, deve desenrolar-se abertamente nas reuniões, nas fábricas, nas ruas e praças públicas.
Os quadros fundamentais da milícia devem ser os operários fabris, agrupados segundo o lugar de trabalho, uns e outros se conhecendo e sendo capazes de proteger seus destacamentos de combate contra as provocações de agentes inimigos com muito mais facilidade e segurança que os burocratas mais educados. Sem a mobilização aberta das massas, os estados-maiores clandestinos ficarão suspensos no ar no momento do perigo. necessário que todas as organizações operárias ponham mãos à obra. Nesta questão não pode haver uma linha divisória entre os partidos operários e os sindicatos. Ombro a ombro, devem mobilizar as massas. Assim, o êxito da milícia operária estará plenamente assegurado.
"Mas de onde os operários vão tirar armas?" objetam os sérios "realistas", isto é, os filisteus assustados. O inimigo de classe tem os fuzis, os canhões, os tanques, os gases, os aviões; os operários têm apenas revólveres e facas.
Nesta objeção, mistura-se tudo para assustar os operários. Por um lado, nossos sábios identificam o armamento dos fascistas com o armamento do Estado; por outro, se voltam para o Estado, suplicando que desarme os fascistas. Admirável lógica! Na verdade, sua posição é falsa nos dois casos. Na França, os fascistas ainda estão longe de ter-se apoderado do Estado. Em 6 de fevereiro, entraram em confronto armado com sua polícia. Por isso é falso falar de canhões e tanques quando se trata no imediato da luta armada contra os fascistas. Os fascistas, evidentemente, são mais ricos que nós, e podem comprar armas mais facilmente. Contudo, os operários são mais numerosos, mais decididos, mais devotados, ao menos quando contam com uma direção revolucionária firme. Entre outras fontes, os operários podem armar-se à custa dos fascistas, desarmando-os sistematicamente. Atualmente, esta é uma das formas mais sérias de luta contra o fascismo. Quando os arsenais operários começarem a se encher a expensas dos depósitos fascistas, os bancos e os trustes se tornarão mais prudentes ao financiar o armamento de seus guardas assassinos. Pode-se mesmo admitir que nesse caso - mas só nesse caso - as autoridades, alarmadas, começarão realmente a impedir o armamento dos fascistas, para não oferecer uma fonte suplementar de armamento aos operários. Há muito se sabe que somente uma tática revolucionária gera, como produto acessório, "reformas" ou concessões do governo.
Mas como desarmar os fascistas? Naturalmente, é impossível fazê-lo unicamente por meio de artigos nos jornais. É preciso criar esquadras de combate. É preciso criar os estados-maiores da milícia. É preciso instituir um bom serviço de informações. Milhares de informantes e auxiliares voluntários se aproximarão de nós quando compreenderem que encaramos o assunto com seriedade. É necessária uma vontade de ação proletária. [1]
Mas os armamentos fascistas não são, naturalmente, a única fonte. Na França, há mais de um milhão de operários organizados. De um modo geral, é pouco, porém mais que suficiente para iniciar uma milícia operária. Se os partidos e sindicatos armassem somente a décima parte de seus membros, já haveria uma milícia de 100 mil homens. Não há dúvidas de que o número de voluntários, no dia seguinte à convocação da Frente única para se formar a milícia, ultrapassaria de longe esse número. As cotizações dos partidos e dos sindicatos, as coletas e contribuições voluntárias dariam a possibilidade de, em um ou dois meses, assegurar armas a 100 mil ou 200 mil combatentes operários. A canalha fascista colocaria rapidamente o rabo entre as pernas. Toda a perspectiva do momento se tornaria incomparavelmente mais favorável.
Invocar a ausência de armamento ou outras causas objetivas para explicar por que ainda não se começou a criação da milícia é enganar-se a si mesmo e aos demais. O principal obstáculo, pode-se dizer o único, está no caráter conservador e passivo das organizações operárias dirigentes. Os céticos que as chefiam não acreditam na força do proletariado. Colocam sua esperança em todo tipo de milagres vindos do alto, em vez de dar uma saída revolucionária à energia daqui debaixo. Os operários socialistas devem forçar seus chefes, seja a passar imediatamente à criação da milícia do povo, seja a ceder lugar para forças mais jovens e frescas.
O Armamento do Proletariado
Um greve é inconcebível sem propaganda e agitação, mas também sem piquetes que, onde puderem, atuem através da persuasão, e onde se virem obrigados, recorram à força física. A greve é a forma mais elementar da luta de classes, na qual se combinam sempre, em proporções variáveis, os procedimentos "ideológicos" e os físicos. A luta contra o fascismo é, na sua essência, uma luta política, que requer uma milícia do mesmo modo que uma greve exige piquetes. No fundo, o piquete é o embrião da milícia operária. Aquele que pensa ser necessário renunciar à luta física deve renunciar a toda luta, pois o espírito não vive sem a carne.
De acordo com a magnífica expressão do teórico militar Clausewitz, a guerra é a continuação da política por outros meios. Esta definição também se aplica plenamente à guerra civil. A luta física não é senão um dos "outros meios" da luta política. É impossível opor uma à outra, porque é impossível deter arbitrariamente a luta política quando se transforma, pela força de suas necessidades internas, em luta física. O dever de um partido revolucionário é prever a inevitabilidade da transformação da luta política em conflito armado declarado e preparar-se com todas as suas forças para esse momento, como para ele se preparam as classes dominantes.
Os destacamentos da milícia para a defesa contra o fascismo são os primeiros passos no caminho do armamento do proletariado, e não o último. Nossa palavra de ordem é: "Armamento do proletariado e dos camponeses revolucionários". A milícia do povo, no fim das contas, deve abarcar todos os trabalhadores. Não será possível cumprir esse programa completamente, a não ser no Estado operário, para cujas mãos passarão todos os meios de produção e, conseqüentemente, também os meios de destruição, isto é, os armamentos e todas as fábricas que os produzem.
No entanto, é impossível chegar ao Estado operário com as mãos vazias. Somente os políticos inválidos, do tipo de Renaudel, podem falar de uma via pacífica, constitucional, para o socialismo. A via constitucional está cortada por trincheiras ocupadas pelos grupos fascistas. Há muitas dessas trincheiras diante de nós. A burguesia não vacilará em provocar uma dúzia de golpes de Estado para impedir a chegada do proletariado ao poder. Um Estado operário socialista não pode ser criado senão por uma revolução vitoriosa. Toda revolução é preparada pela marcha do desenvolvimento econômico e político, mas é decidida sempre por conflitos armados declarados entre as classes hostis. Uma vitória revolucionária não é possível a não ser graças a uma ampla agitação política, a um amplo trabalho de educação, uma ampla tarefa de organização das massas. Mas o próprio conflito armado também deve ser preparado com muita antecedência. Os operários devem saber que terão de bater-se numa luta de morte. Devem querer armar-se, como garantia de sua liberação. Em uma época tão crítica quanto a atual, o partido da revolução deve pregar aos operários, incansavelmente, a necessidade de armar-se e de fazer tudo o que possam para assegurar, pelo menos, o armamento da vanguarda proletária. Sem isso, a vitória é impossível. [2]
Mas de onde tirar armas para todo o proletariado? objetam novamente os céticos, que tomam sua inconsistência interior por uma impossibilidade objetiva. Esquecem que a mesma questão foi colocada em todas as revoluções ao longo da história. E, apesar de tudo, as revoluções triunfantes marcam etapas importantes no desenvolvimento da humanidade.
O proletariado produz armas, transporta-as, constrói os arsenais em que são depositadas, defende esses arsenais contra si mesmo, serve no exército e cria todo o equipamento deste último. Não são fechaduras nem muros que separam as armas do proletariado, mas o hábito da submissão, a hipnose da dominação de classe, o veneno nacionalista. Basta destruir esses muros psicológicos e nenhum muro de pedra resistirá. Basta que o proletariado queira ter armas e as encontrará. A tarefa do partido revolucionário é despertar no proletariado essa vontade e facilitar sua realização.
Eis porém que Frossard e algumas centenas de parlamentares, jornalistas e funcionários sindicais assustados lançam seu último argumento, o de mais peso: "Podem as pessoas sérias, em geral, pôr suas esperanças no êxito da luta física depois das últimas experiências trágicas da Áustria e da Espanha? Pensai na técnica atual: os tanques! os gases! os aviões!!!" Este argumento demonstra somente que algumas "pessoas sérias" não só não querem aprender nada como, medrosas, esquecem o pouco que aprenderam em outros tempos. A história dos últimos vinte anos demonstra, de modo particularmente claro, que os problemas fundamentais nas relações entre as classes, assim como entre as nações, são resolvidos pela força. Os pacifistas esperaram durante muito tempo que o progresso da técnica militar tornasse a guerra impossível. Durante décadas, os filisteus repetiram que o progresso da técnica militar tornaria impossível a revolução. No entanto, guerras e revoluções seguem seu caminho. Nunca houve tantas revoluções, até mesmo revoluções vitoriosas, como depois da última guerra, que exatamente revelou toda a força da técnica militar.
Sob a forma de novidades, Frossard e Cia. apresentam velhos esquemas: se limitam a invocar, em lugar de fuzis automáticos e metralhadoras, tanques e aviões de bombardeio. Respondemos: atrás de cada máquina há homens, e esses homens não são apenas instrumentos técnicos, mas possuem também laços sociais e políticos. Quando o desenvolvimento histórico coloca diante da sociedade uma tarefa revolucionária inadiável, como questão de vida ou morte, quando existe uma classe progressiva a cuja vitória se encontra ligada a salvação da sociedade, a própria marcha da luta política abre diante dela as possibilidades mais diversas: assim que paralisar a força militar do inimigo, apoderar-se dela, ao menos parcialmente. Na consciência de um filisteu, essas possibilidades se apresentam sempre como "êxitos ocasionais", devidos ao acaso, que nunca mais se repetirão. De fato, em toda grande revolução verdadeiramente popular, abre-se todo tipo de possibilidade, nas combinações mais inesperadas, porém no fundo completamente naturais. Mas, apesar de tudo, a vitória não se produz por si mesma. Para utilizar as possibilidades favoráveis, é preciso uma vontade revolucionária, uma firme resolução de vencer, uma direção sólida e audaciosa.
L'Humanité admite, em palavras, a bandeira "armamento dos operários", mas só para renunciar a ela na prática. Atualmente, neste período, é inadmissível lançar uma palavra de ordem que não é oportuna senão em "plena crise revolucionária". É perigoso carregar o fuzil, diz o caçador excessivamente "prudente", enquanto não vê a presa. Mas, quando a avista, é tarde demais para carregar o fuzil. Os estrategistas de L'Humanité pensam que, "em plena crise revolucionária" poderão, sem preparação, mobilizar e armar o proletariado? Para conseguir muitas armas é preciso ter ao menos algumas. É preciso quadros militares. É preciso que as massas tenham o desejo invencível de apoderar-se das armas. É preciso um trabalho preparatório ininterrupto, não só nas salas de ginástica, mas indissoluvelmente ligado à luta cotidiana das massas. Isto quer dizer: é preciso construir imediatamente a milícia e, ao mesmo tempo, fazer propaganda em favor do armamento geral dos operários e dos camponeses revolucionários.
Mas as Derrotas da Áustria e da Espanha...
A impotência do parlamentarismo nas condições de crise total do sistema social do capitalismo é tão evidente que os democratas vulgares no campo operário (Renaudel, Frossard e seus imitadores) não encontram um argumento para defender seus preconceitos petrificados. Com maior razão, estão dispostos a brandir todos os fracassos e derrotas sofridos no caminho revolucionário. O desenvolvimento do seu pensamento é o seguinte: se o parlamentarismo puro não oferece saída, com a luta armada não se melhora a situação. As derrotas das insurreições proletárias da Áustria e da Espanha, para eles, são agora o argumento preferido, é claro. De fato, na crítica do método revolucionário, a inconsistência teórica e política dos democratas vulgares aparece ainda mais claramente que em sua defesa dos métodos da democracia burguesa em apodrecimento.
Ninguém disse que o método revolucionário assegura automaticamente a vitória. O decisivo não é o método em si mesmo, mas sua aplicação correta, a orientação marxista nos acontecimentos, uma organização poderosa, a confiança das massas conquistada através de uma ampla experiência, uma direção perspicaz e ousada. O resultado de todo combate depende do momento e das condições do conflito, da relação de forças. O marxismo está bem longe de pensar que o conflito armado é o único método revolucionário, uma espécie de panacéia que vale para todas as situações. O marxismo, em geral, não conhece fetiches, sejam eles Parlamento ou insurreição. Tudo é bom, em seu tempo e lugar. Mas, o que se pode dizer, para começar, é que, pela via parlamentar, o proletariado socialista nunca e em nenhum lugar conquistou o poder; sequer se aproximou dele. Os governos de Scheidemann, Hermann Müller, Mac Donald nada tinham em comum com o socialismo. A burguesia não permitiu aos social-democratas e trabalhistas chegar ao poder senão sob a condição de que defendessem o capitalismo contra seus inimigos. E eles cumpriram escrupulosamente esta condição. O socialismo puramente parlamentar, anti-revolucionário, nunca e em nenhuma parte tornou realidade um ministério socialista; ao contrário, conseguiu criar desprezíveis renegados que exploraram o partido operário para fazer uma carreira ministerial: Millerand, Briand, Viviani, Laval, Paul-Boncour, Marquet.
Por outro lado, a experiência histórica demonstrou que o método revolucionário pode conduzir à conquista do poder pelo proletariado: na Rússia em 1917, na Alemanha e na Áustria em 1918, na Espanha em 1930. Na Rússia, havia um poderoso partido bolchevique, que durante longos anos preparou a revolução e que soube se apoderar do poder solidamente. Os partidos reformistas da Alemanha, Áustria e Espanha não prepararam nem dirigiram a revolução, mas a sofreram. Espantados com o poder que havia caído em suas mãos, contra sua vontade, cederam-no benevolamente à burguesia. Deste modo, minaram a confiança do proletariado em si mesmo e, mais que isso, a confiança da pequena burguesia no proletariado. Prepararam as condições de crescimento da reação fascista de que foram vítimas.
Citando Clausewitz, dissemos que a guerra civil é a continuação da política por outros meios. Isto significa: o resultado da guerra civil depende somente 1/4, para não dizer 1/10, da marcha da própria guerra civil, de seus meios técnicos, da direção meramente militar, e os 3/4 restantes, senão 9/10, da preparação política. Em que consiste essa preparação? Na coesão revolucionária das massas, em sua liberação das esperanças servis na clemência, generosidade e lealdade dos escravistas "democráticos", na educação de quadros revolucionários que saibam desafiar a opinião pública oficial e que sejam capazes de exibir diante da burguesia, quanto mais não seja, uma décima parte da implacabilidade que a burguesia exibe diante dos trabalhadores. Sem esta têmpera, a guerra civil, quando as condições a impõem - e sempre terminam por impô-la -, se desenvolverá em condições mais desfavoráveis para o proletariado, dependerá em maior medida de acasos; e mesmo em caso de vitória militar, o poder poderá escapar das mãos do proletariado. Quem não vê que a luta de classes conduz inevitavelmente a um conflito armado é um cego. Mas não é menos cego quem, após o conflito armado e seu desenlace, não vê toda a política anterior das classes em luta.
Na Áustria, quem sofreu a derrota não foi o método da insurreição, mas o austro-marxismo; na Espanha, o reformismo parlamentar sem princípios. Em 1918, a social-democracia austríaca, nas costas do proletariado, deu à burguesia o poder que este havia conquistado. Em 1927, não só se afastou covardemente da insurreição proletária que tinha todas as possibilidades de vencer, como dirigiu a Schutzbund operária contra as massas insurgentes. Desse modo, preparou a vitória de Dolfuss. Bauer e Cia. diziam: "Queremos uma evolução pacífica, mas se o inimigo perde a cabeça e nos ataca, então..." Esta fórmula parecia ser muito "sábia" e muito "realista". É sobre o modelo austro-marxista que Marceau Pivert constrói também seus raciocínios: "Se... então...". De fato, esta fórmula é uma armadilha para os operários: tranqüiliza-os, adormece-os, engana-os. "Se" quer dizer: as formas de luta dependem da boa vontade da burguesia e não da impossibilidade de conciliar os interesses de classes. "Se" quer dizer: se somos pacíficos, prudentes, conciliadores, a burguesia será leal e tudo seguirá pacificamente. Correndo atrás do fantasma "se", Otto Bauer e outros chefes da social-democracia austríaca retrocederam passivamente ante a reação, cederam a ela uma posição após outra, desmoralizaram as massas, voltaram a retroceder, até o momento em que se encontraram, finalmente, metidos em um beco sem saída; ali, no último reduto, aceitaram a batalha... e a perderam. [1*]
Na Espanha, os acontecimentos seguiram outro caminho, mas no fundo as causas da derrota são as mesmas. O partido socialista, como os "socialista-revolucionários" e os mencheviques russos, compartilhou o poder com a burguesia republicana para impedir que os operários levassem a revolução até o final. Durante dois anos, os socialistas no poder ajudaram a burguesia a desembaraçar-se das massas através de migalhas de reformas agrárias, sociais e nacionais. Contra as camadas mais revolucionárias do povo, os socialistas utilizaram a repressão. O resultado foi duplo. O anarco-sindicalismo, que com uma política correta de partido operário se teria fundido como a cera no fogo da revolução, na realidade se reforçou de fato e uniu em torno de si as camadas mais combativas do proletariado. Em outro pólo, a demagogia social-católica explorou habilmente o descontentamento das massas com o governo burguês-socialista. Quando o partido socialista estava suficientemente comprometido, a burguesia o tirou do poder e passou à ofensiva em toda a linha. O partido socialista viu-se obrigado a defender-se nas condições extremamente desfavoráveis em que sua própria política anterior o havia deixado. A burguesia já tinha apoio de massa à direita. Os chefes anarco-sindicalistas, que no curso da revolução cometeram todos os erros próprios desses confusionistas profissionais, se negaram a apoiar a insurreição dirigida pelos "políticos" traidores. O movimento não teve caráter geral, mas esporádico. O governo pôde dirigir seus golpes sobre todas as casas do tabuleiro. A guerra civil assim imposta pela reação terminou com a derrota do proletariado.
Da experiência espanhola não é difícil tirar uma conclusão contra a participação socialista em um governo burguês. A conclusão é em si mesma indiscutível, mas absolutamente insuficiente. O pretendido "radicalismo" austro-marxista não é melhor que o ministerialismo espanhol. A diferença entre eles é técnica, e não política. Ambos esperavam que a burguesia retribuísse "lealdade" com "lealdade". E ambos levaram o proletariado a catástrofes. Na Espanha como na Áustria, não foram os métodos da revolução que fracassaram, mas os métodos oportunistas usados em uma situação revolucionária. Não é a mesma coisa!
Não nos deteremos aqui sobre a política da Internacional Comunista na Áustria e na Espanha; remetemos o leitor às coleções da La Veríté dos últimos anos e a uma série de folhetos.
Em uma situação política excepcionalmente favorável, os partidos comunistas austríaco e espanhol, prostrados pela teoria do "terceiro período", do "social-fascismo", etc., se condenaram a um completo isolamento. Comprometendo os métodos da revolução pela autoridade de "Moscou", fecharam assim a via para uma política verdadeiramente marxista, verdadeiramente bolchevique. A característica da revolução é submeter a um exame rápido e implacável todas as doutrinas e métodos. O castigo se segue quase imediatamente ao crime. A responsabilidade da Internacional Comunista nas derrotas do proletariado na Alemanha, na Áustria e na Espanha é incalculável. Não basta ter uma política "revolucionária" em palavras. preciso ter uma política correta. Ninguém encontrou ainda outro segredo para a vitória.
A Frente Única e a Luta Pelo Poder
Já dissemos: a Frente Única dos partidos socialista e comunista tem grandiosas possibilidades. Basta querer seriamente e será amanhã a dona da França. Mas deve querê-lo.
O fato de Jouhaux e, em geral, a burocracia da CGT se manterem fora da Frente única, conservando sua "independência", parece contradizer o que dizemos. Mas somente à primeira vista. Em uma época de grandes tarefas e de grandes perigos que põem ás massas de pé, desaparecem de fato os limites entre as organizações-políticas e sindicais do proletariado. Os operários querem saber como salvar-se do desemprego e do fascismo, como conquistar sua independência diante do capital, e não se preocupam nem um pouco com a "independência" de Jouhaux em relação à política proletária (porque Jouhaux, lamentavelmente, é muito dependente da política burguesa). Se a vanguarda proletária, representada pela Frente única, traça corretamente o caminho da luta, todos os obstáculos levantados pela burocracia sindical serão varridos pela torrente viva do proletariado. A chave da situação, hoje, está na Frente única dos dois partidos. Se não utilizar essa chave, desempenhará o lamentável papel que a Frente única dos "social-revolucionários" e mencheviques teria inevitavelmente desempenhado na Rússia de 1917... se os bolcheviques não o tivesse impedido.
Não falamos dos partidos socialista e comunista em separado, pois, politicamente, ambos renunciaram a sua independência em favor da Frente única. Desde o momento em que os dois partidos operários, que competiam vivamente no passado, renunciaram a criticar-se mutuamente e a conquistar, cada um, os adeptos do outro, por essa mesma circunstância deixaram de existir como partidos distintos. Invocar "divergências de princípios" que se mantêm não muda nada. Desde que as divergências de princípios não se manifestem aberta e ativamente num momento tão cheio de responsabilidades como o atual, deixam de existir politicamente; são como tesouros que dormem no fundo do mar. O trabalho comum terminará ou não em fusão? Não queremos fazer previsões. Mas, neste momento decisivo para o destino da França, a Frente única dos dois partidos atua como um partido incompleto, que seria construído sobre o princípio federativo.
O que quer a Frente única? Não o disse às massas até agora. A luta contra o fascismo? Mas até agora não explicou sequer como pensa lutar contra o fascismo. Além disso, o bloco puramente defensivo contra o fascismo poderia bastar somente se, em todo o resto, os partidos conservassem uma completa independência. Mas não, temos uma Frente única que abrange quase toda a atividade política dos partidos e exclui sua luta recíproca para conquistar a maioria do proletariado. É necessário extrair todas as conseqüências desta situação. A primeira, e mais importante, é que é preciso lutar pelo poder. O objetivo da Frente Única dos partidos socialista e comunista não pode ser outro que um governo desta Frente, isto é, um governo socialista-comunista, um ministério Blum-Cachin. É preciso dizê-lo abertamente. Se a Frente única toma a si mesma seriamente - e esta é a única condição para que seja tomada a sério pelas massas populares -, não pode furtar-se à palavra de ordem de conquista do poder. Por quais meios? Por todos os meios que conduzam a esse objetivo, a Frente Única não renuncia à luta parlamentar. Mas utiliza o Parlamento antes de tudo para demonstrar a impotência deste e explicar ao povo que o governo burguês atual tem uma base extraparlamentar e que não se pode derrotá-lo a não ser com um poderoso movimento de massas. A luta pelo poder significa a utilização de todas as possibilidades oferecidas pelo regime bonapartista semiparlamentar, para derrotá-lo mediante uma investida revolucionária; para substituir o Estado burguês por um Estado operário.
As últimas eleições cantonais revelaram um crescimento dos votos socialistas, e sobretudo comunistas. Em si mesmo, este fato nada significa. O partido comunista alemão teve, na véspera do seu desmoronamento, uma afluência incomparavelmente mais impetuosa de votos. Novas e amplas camadas de oprimidos são empurradas para a esquerda por toda a situação, independentemente mesmo da política dos partidos que estão nos extremos. O partido comunista francês ganhou mais votos porque, apesar de sua atual política conservadora, continua sendo "a extrema esquerda", por tradição. As massas manifestaram desse modo sua tendência a dar um impulso à esquerda aos partidos operários, pois elas estão enormemente mais à esquerda que seus partidos. O estado de ânimo revolucionário da juventude Socialista também dá testemunho disso. [2*] É preciso não esquecer que a juventude representa o barômetro sensível de toda classe e sua vanguarda! Se a Frente única não sai da passividade ou, pior ainda, começa um indigno romance com os radicais, os anarco-sindicalistas, os anarquistas e outros grupos de desagregação política começarão a fortalecer-se à esquerda da Frente única. Ao mesmo, a indiferença, precursora da catástrofe, se fortalecerá. Ao contrário, se a Frente Única, protegendo sua retaguarda e seus flancos dos grupos fascistas, deslancha uma grande ofensiva política sob a palavra de ordem de conquista do poder, encontrará um eco tão poderoso que superará as expectativas mais otimistas. Só não podem compreender isso os tagarelas, para quem os grandes movimentos de massas sempre serão um livro fechado com sete selos.
Um Programa de Revolução, e Não de Passividade
A luta pelo poder deve partir da idéia fundamental de que, embora seja possível opor-se a um agravamento da situação das massas no terreno do capitalismo, não se pode conceber nenhuma melhora real da situação sem uma incursão revolucionária contra o direito de propriedade capitalista. A campanha da Frente única deve apoiar-se sobre um programa de transição bem elaborado, isto é, sobre um sistema de medidas que - com um governo operário e camponês - deve assegurar a transição do capitalismo ao socialismo [3].
Ora, se é necessário um programa, não é para tranqüilizar a própria consciência, mas para conduzir uma ação revolucionária. De que vale o programa, se é letra morta? O partido operário belga, por exemplo, adotou o pomposo plano De Man, com todas as "nacionalizações"; mas que sentido tem esse plano, se não quiseram mover o dedo mínimo por sua realização? Os programas do fascismo são fantásticos, mentirosos, demagógicos. Mas o fascismo trava uma luta raivosa pelo poder. O socialismo pode lançar o programa mais sábio, mas seu valor será igual a zero se a vanguarda do proletariado não desenvolver uma audaciosa luta para apoderar-se do Estado. A crise social, em sua expressão política, é a crise do poder. O velho amo faliu. É preciso um novo. Se o proletariado revolucionário não se tornar o dono do poder, o fascismo, inevitavelmente, se tornará!
Um programa de reivindicações transitórias para as "classes médias" pode ter grande importância, naturalmente, se esse programa responder, por um lado, às necessidades reais das classes médias e, por outro, às exigências da marcha para o socialismo [4]. Contudo, uma vez mais, o centro de gravidade não se encontra, atualmente, neste ou naquele programa particular. As "classes médias" já viram e ouviram muitos programas. O que precisam é ter confiança no programa que será realizado. No momento em que o camponês disser: "Desta vez, parece que o partido operário não vai retroceder", a causa do socialismo estará ganha. Mas, para isso, é necessário mostrar, através de fatos, que estamos firmemente dispostos a eliminar todos os obstáculos de nosso caminho.
Não é preciso inventar meios de luta; eles já foram dados pela história do movimento operário mundial: uma campanha da imprensa operária, orquestrada, atacando um mesmo ponto; discursos autenticamente socialistas nas tribunas parlamentares, não de deputados domesticados, mas de dirigentes do povo; utilização de todas as campanhas eleitorais para a propaganda revolucionária; reuniões freqüentes a que as massas compareçam não somente para escutar os oradores, mas para receber as palavras de ordem e as diretrizes do momento; criação e fortalecimento da milícia operária; manifestações bem organizadas que varram das ruas os grupos reacionários; greves de protesto; campanha aberta pela unificação e aumento das fileiras sindicais sob o signo de uma decidida luta de classes; ações obstinadas e bem calculadas para atrair o exército para a causa do povo; greves mais amplas; manifestações mais poderosas; greve geral dos trabalhadores da cidade e do campo; ofensiva geral contra o governo bonapartista pelo poder dos operários e camponeses. Ainda há tempo para preparar a vitória. O fascismo ainda não se converteu em um movimento de massas. No entanto, a inevitável decomposição do capitalismo significará o estreitamento da base do bonapartismo, o crescimento dos campos extremos e a aproximação do desenlace. Não se trata de anos, mas de meses. Esse prazo, evidentemente, não está escrito em parte alguma. Depende da luta das forças vivas e, em primeiro lugar, da política do proletariado e de sua Frente única. As forças potenciais da revolução superam em muito as forças do fascismo e, em geral, as de toda a reação unida Os céticos que pensam que tudo está perdido devem ser implacavelmente expulsos das fileiras operárias. As camadas mais profundas respondem com um eco vibrante a cada palavra audaciosa, a cada palavra de ordem verdadeiramente revolucionária. As massas querem a luta.
O único fator progressivo da história hoje não é o espírito de combinação dos deputados e jornalistas: é o ódio legítimo criador dos oprimidos contra os opressores. É preciso voltar para as massas, para suas camadas mais profundas. É preciso fazer um chamado a sua razão e a sua paixão. É preciso rejeitar essa "prudência" mentirosa, que serve de pseudônimo à covardia e que, nas grandes viradas históricas, equivale a traição. A Frente Única deve tornar como lema a fórmula de Danton: "De l'audatoujours de l'audace, et encore de l'audace [3*].
Compreender bem a situação e extrair todas as conclusões práticas - ousadamente, sem temor, até o fim - é assegurar a vitória do socialismo.
Le Populaire, e particularmente L'Humanité, escreve todos os dias: "A Frente única é uma barreira contra os fascistas", "A Frente única não permitirá...", "Os fascistas não se atreverão", etc. Frases. É preciso se dizer exatamente aos operários, socialistas e comunistas: "Não permitam que os jornalistas e discursadores superficiais e irresponsáveis os adormeçam com frases. Trata-se de nossas cabeças e do futuro do socialismo". Não somos nós que negamos a importância da Frente Única. Nós a exigimos quando os dirigentes dos partidos estavam contra ela. A Frente Única abre enormes possibilidades. Porém, nada mais. A Frente Única, em si mesma, não decide nada. Somente a luta das massas decide. A Frente Única se revelará uma grande coisa quando os destacamentos comunistas socorrerem os destacamentos socialistas - e vice-versa -, no caso de um ataque dos grupos fascistas contra Le Populaire e L'Humanité. Mas, para que isso ocorra, os destacamentos de combate proletários devem existir, educar-se, treinar-se, armar-se. Se não há organização de defesa, isto é, milícia do povo, Le Populaire e L'Humanité poderão escrever tudo o que quiserem sobre a onipotência da Frente Única e estarão indefesos diante do primeiro ataque bem preparado dos fascistas. Tratemos de fazer o exame crítico dos "argumentos" e das "teorias" dos adversários da milícia do povo, que são muitos e bastante influentes nos dois partidos operários.
Necessitamos de autodefesa de massas e não de milícia, nos dizem freqüentemente. Mas, o que é "autodefesa de massas"? Sem organização de combate? Sem quadros especializados? Sem armas? Transferir para as massas não-organizadas, não-equipadas, não-preparadas, entregues a si mesmas, a defesa contra o fascismo, seria representar um papel incomparavelmente mais baixo que o de Pôncio Pilatos. Negar o papel da milícia é negar o papel da vanguarda. Nesse caso, para que um partido? Sem o apoio das massas, a milícia não é nada. Mas, sem destacamentos de combate organizados, as massas mais heróicas serão esmagadas, em debandada, pelos grupos fascistas. Opor a milícia à autodefesa é absurdo. A milícia é o órgão da autodefesa.
Conclamar a organização da milícia é uma "provocação", dizem alguns adversários certamente pouco sérios e pouco honestos. Isto não é um argumento, mas um insulto. Se a necessidade de defender as organizações operárias surge de toda a situação, como é possível não se conclamar a criação de milícias? É possível nos dizer que a criação de milícias "provoca" os ataques dos fascistas e a repressão do governo? Neste caso, trata-se de um argumento absolutamente reacionário. O liberalismo sempre disse aos operários que eles "provocam" a reação, com sua luta de classes. Os reformistas repetiram essa acusação contra os marxistas; os mencheviques contra os bolcheviques. No fim das contas, essas acusações se reduzem a este pensamento profundo: se os oprimidos não se pusessem em movimento, os opressores não seriam obrigados a golpeá-los. É a filosofia de Tolstoi e de Gandhi, mas de modo algum a de Marx e Lênin. Se L'Humanité quer também desenvolver a doutrina da "não-resistência ao mal pela violência", deve tomar com símbolo não a foice e o martelo, emblema da Revolução de Outubro, mas a bondosa cabra que nutre Gandhi com seu leite.
"Mas armar os operários não é oportuno, a não ser em uma situação revolucionária, que ainda não existe." Este argumento profundo significa que os operários devem se deixar espancar até que a situação se torne revolucionária. Os que ontem pregavam o "terceiro período" não querem ver o que se passa diante de seus olhos. A própria questão do armamento só surgiu na prática porque a situação "pacífica", "normal", "democrática", deu lugar a uma situação agitada, crítica, instável, que facilmente pode transformar-se tanto em situação revolucionária quanto contra-revolucionária. Esta alternativa depende, antes de tudo, da resposta a esta questão: os operários de vanguarda se deixarão espancar, impunemente, uns após outros, ou a cada golpe responderão com dois golpes, aumentando a coragem dos oprimidos e unindo-os ao seu redor? Uma situação revolucionária não cai do céu. É criada com a participação ativa da classe revolucionária e do seu partido.
Os stalinistas franceses alegam agora que a milícia não salvou o proletariado alemão da derrota. Até ontem, negavam que tivesse havido derrota na Alemanha, e afirmavam que a política dos stalinistas alemães tinha sido justa do princípio ao fim. Hoje, vêem todo o mal na milícia operária alemã (Rote Front). Assim, de um erro caem no erro oposto, não menos monstruoso. A milícia não resolve a questão por si mesma. Falta uma política correta. A política dos stalinistas na Alemanha ("o social-fascismo é o inimigo principal", a cisão sindical, o flerte com o nacionalismo, o putchismo) conduz fatalmente ao isolamento da vanguarda proletária e a seu desmoronamento. Com uma estratégia totalmente errônea, nenhuma milícia pode salvar a situação.
É uma tolice dizer que a organização da milícia, por si mesma, abre o caminho para aventuras, provoca o inimigo, substitui a luta política pela luta física, etc. Em todas essas frases não há senão covardia política. A milícia, como uma forte organização de vanguarda, é, de fato, o meio mais seguro contra as aventuras, contra o terrorismo individual, contra as sangrentas explosões espontâneas. A milícia é, ao mesmo tempo, o único meio sério de se reduzir ao mínimo a guerra civil que o fascismo impõe ao proletariado. Que os operários, embora não exista uma "situação revolucionária", corrijam ao menos uma vez os "filhinhos de papai" patriotas com seus próprios métodos, e o recrutamento de novos grupos fascistas se tornará, de imediato, incomparavelmente mais difícil.
Mas aqui os estrategistas, confundidos em seu próprio raciocínio, nos lançam argumentos ainda mais surpreendentes. Lemos textualmente: "Se respondemos aos tiros dos grupos fascistas com outros tiros - escreve L'Humaníté, em 23 de outubro -, perdemos de vista que o fascismo é produto do regime capitalista e que, lutando contra o fascismo, enfrentamos todo o sistema." É difícil acumular em tão poucas linhas mais confusão e erros. É impossível defender-se contra os fascistas porque representam "um produto capitalista!" Isto significa que se deve renunciar a toda luta, pois todos os males sociais contemporâneos são "produtos do sistema capitalista".
Quando os fascistas matam um revolucionário ou incendeiam a sede de um jornal proletário, os operários devem contestar filosoficamente: "Ah, os assassinatos e os incêndios são produtos do sistema capitalista", e voltar para casa com a consciência tranqüila. A prostração fatalista substitui a teoria militante de Marx, com vantagem, unicamente, para o inimigo de classe. Certamente, a ruína da pequena burguesia é produto do capitalismo. O crescimento dos grupos fascistas é, por sua vez, produto da ruína da pequena burguesia. Mas, por outro lado, o aumento da miséria e da revolta do proletariado é também, por sua vez, produto do capitalismo, e a milícia, produto da exacerbação da luta de classes. Então, por que para os "marxistas" de L Humanité os grupos fascistas são produto legítimo do capitalismo e a milícia do povo produto ilegítimo... dos trotskistas? Decididamente, não se pode entender nada disso.
Dizem-nos: é necessário enfrentar todo o "sistema". Como? Passando sobre a cabeça de seres humanos? No entanto, os fascistas começaram pelos tiros e terminaram com a destruição de todo o "sistema" das organizações operárias. Como deter a ofensiva armada do inimigo senão por meio de uma defesa armada, para depois passar à ofensiva?
Certamente L'Humanité admite, em palavras, a defesa, mas somente como "autodefesa de massas": a milícia é prejudicial porque, veja você, separa os destacamentos de combate das massas. Mas, então, por que entre os fascistas existem destacamentos armados independentes que não se separam das massas reacionárias, pelo contrário, através de seus golpes bem organizados aumentam a coragem dessas massas e reforçam sua audácia? Ou as massas proletárias são, talvez, por suas qualidades combativas, inferiores à pequena burguesia desqualificada?
Confuso até o fim, L'Humanité começa a hesitar: a autodefesa de massas precisa criar seus "grupos de autodefesa". Em lugar da milícia repudiada se colocam grupos especiais, destacamentos. À primeira vista, parece que a diferença é apenas de nome. Na verdade, sequer o nome proposto por L Humanité vale alguma coisa. Pode-se falar de "autodefesa de massas", mas é impossível falar de "grupos de autodefesa", pois os grupos não têm por objetivo defender-se, e sim as organizações operárias. No entanto, não se trata, certamente, de nome. Os "grupos de autodefesa", segundo L Humanité, devem renunciar ao uso de armas, para não caírem no "putchismo". Estes sábios tratam a classe operária como uma criança em cujas mãos não se deve deixar uma navalha. Além disso, como se sabe, as navalhas são monopólio dos Camelots du Roi que, como legítimo "produto do capitalismo", derrubaram o "sistema" da democracia. Mas, então, como os "grupos de autodefesa" vão se defender contra os revólveres fascistas? "Ideologicamente", é claro. Dito de outro modo: não lhes resta outro remédio que ir dormir. Não tendo em mãos o que lhes falta, devem buscar a "autodefesa" nas pernas. Enquanto isso, os fascistas saquearão impunemente as organizações operárias. Mas, se o proletariado sofrer uma terrível derrota, ao menos não terá sido culpado de "putchismo!" Desgosto e desprezo: isto é o que provoca essa tagarelice de poltrões sob a bandeira do "bolchevismo".
Já no tempo do "terceiro período", de feliz memória, quando os estrategistas do L'Humanité tinham o delírio das barricadas, "conquistavam" a rua todos os dias e chamavam de social-fascistas todos os que não compartilhavam de suas extravagâncias, prevíamos: "No momento em que queimarem a ponta dos dedos, se tornarão os piores oportunistas." A profecia se confirmou completamente agora. No momento em que no partido socialista se reforça e cresce o movimento em favor da milícia, os chefes do partido que se chama comunista correm a pegar a mangueira de incêndio para esfriar as aspirações dos operários de vanguarda a formar colunas de combate. É possível imaginar um trabalho mais nefasto e desmoralizante?
É Preciso Construir a Milícia Operária
Nas fileiras do partido socialista, às vezes escuta-se esta objeção: "É necessário formar a milícia, mas não há necessidade de se falar tão alto." Não se pode senão felicitar os camaradas que têm o cuidado de subtrair o lado prático do assunto a olhos e ouvidos indesejáveis. Mas é demasiadamente ingênuo pensar que se pode criar a milícia em segredo, entre quatro paredes. Precisamos de dezenas e, em seguida, de centenas de milhares de combatentes. Eles só virão se milhões de operários e operárias, e atrás deles também os camponeses, compreenderem a necessidade da milícia e criarem, em torno dos voluntários, um clima de ardente simpatia e de apoio ativo. A clandestinidade pode e deve envolver unicamente o lado técnico do assunto. Enquanto campanha política, deve desenrolar-se abertamente nas reuniões, nas fábricas, nas ruas e praças públicas.
Os quadros fundamentais da milícia devem ser os operários fabris, agrupados segundo o lugar de trabalho, uns e outros se conhecendo e sendo capazes de proteger seus destacamentos de combate contra as provocações de agentes inimigos com muito mais facilidade e segurança que os burocratas mais educados. Sem a mobilização aberta das massas, os estados-maiores clandestinos ficarão suspensos no ar no momento do perigo. necessário que todas as organizações operárias ponham mãos à obra. Nesta questão não pode haver uma linha divisória entre os partidos operários e os sindicatos. Ombro a ombro, devem mobilizar as massas. Assim, o êxito da milícia operária estará plenamente assegurado.
"Mas de onde os operários vão tirar armas?" objetam os sérios "realistas", isto é, os filisteus assustados. O inimigo de classe tem os fuzis, os canhões, os tanques, os gases, os aviões; os operários têm apenas revólveres e facas.
Nesta objeção, mistura-se tudo para assustar os operários. Por um lado, nossos sábios identificam o armamento dos fascistas com o armamento do Estado; por outro, se voltam para o Estado, suplicando que desarme os fascistas. Admirável lógica! Na verdade, sua posição é falsa nos dois casos. Na França, os fascistas ainda estão longe de ter-se apoderado do Estado. Em 6 de fevereiro, entraram em confronto armado com sua polícia. Por isso é falso falar de canhões e tanques quando se trata no imediato da luta armada contra os fascistas. Os fascistas, evidentemente, são mais ricos que nós, e podem comprar armas mais facilmente. Contudo, os operários são mais numerosos, mais decididos, mais devotados, ao menos quando contam com uma direção revolucionária firme. Entre outras fontes, os operários podem armar-se à custa dos fascistas, desarmando-os sistematicamente. Atualmente, esta é uma das formas mais sérias de luta contra o fascismo. Quando os arsenais operários começarem a se encher a expensas dos depósitos fascistas, os bancos e os trustes se tornarão mais prudentes ao financiar o armamento de seus guardas assassinos. Pode-se mesmo admitir que nesse caso - mas só nesse caso - as autoridades, alarmadas, começarão realmente a impedir o armamento dos fascistas, para não oferecer uma fonte suplementar de armamento aos operários. Há muito se sabe que somente uma tática revolucionária gera, como produto acessório, "reformas" ou concessões do governo.
Mas como desarmar os fascistas? Naturalmente, é impossível fazê-lo unicamente por meio de artigos nos jornais. É preciso criar esquadras de combate. É preciso criar os estados-maiores da milícia. É preciso instituir um bom serviço de informações. Milhares de informantes e auxiliares voluntários se aproximarão de nós quando compreenderem que encaramos o assunto com seriedade. É necessária uma vontade de ação proletária. [1]
Mas os armamentos fascistas não são, naturalmente, a única fonte. Na França, há mais de um milhão de operários organizados. De um modo geral, é pouco, porém mais que suficiente para iniciar uma milícia operária. Se os partidos e sindicatos armassem somente a décima parte de seus membros, já haveria uma milícia de 100 mil homens. Não há dúvidas de que o número de voluntários, no dia seguinte à convocação da Frente única para se formar a milícia, ultrapassaria de longe esse número. As cotizações dos partidos e dos sindicatos, as coletas e contribuições voluntárias dariam a possibilidade de, em um ou dois meses, assegurar armas a 100 mil ou 200 mil combatentes operários. A canalha fascista colocaria rapidamente o rabo entre as pernas. Toda a perspectiva do momento se tornaria incomparavelmente mais favorável.
Invocar a ausência de armamento ou outras causas objetivas para explicar por que ainda não se começou a criação da milícia é enganar-se a si mesmo e aos demais. O principal obstáculo, pode-se dizer o único, está no caráter conservador e passivo das organizações operárias dirigentes. Os céticos que as chefiam não acreditam na força do proletariado. Colocam sua esperança em todo tipo de milagres vindos do alto, em vez de dar uma saída revolucionária à energia daqui debaixo. Os operários socialistas devem forçar seus chefes, seja a passar imediatamente à criação da milícia do povo, seja a ceder lugar para forças mais jovens e frescas.
O Armamento do Proletariado
Um greve é inconcebível sem propaganda e agitação, mas também sem piquetes que, onde puderem, atuem através da persuasão, e onde se virem obrigados, recorram à força física. A greve é a forma mais elementar da luta de classes, na qual se combinam sempre, em proporções variáveis, os procedimentos "ideológicos" e os físicos. A luta contra o fascismo é, na sua essência, uma luta política, que requer uma milícia do mesmo modo que uma greve exige piquetes. No fundo, o piquete é o embrião da milícia operária. Aquele que pensa ser necessário renunciar à luta física deve renunciar a toda luta, pois o espírito não vive sem a carne.
De acordo com a magnífica expressão do teórico militar Clausewitz, a guerra é a continuação da política por outros meios. Esta definição também se aplica plenamente à guerra civil. A luta física não é senão um dos "outros meios" da luta política. É impossível opor uma à outra, porque é impossível deter arbitrariamente a luta política quando se transforma, pela força de suas necessidades internas, em luta física. O dever de um partido revolucionário é prever a inevitabilidade da transformação da luta política em conflito armado declarado e preparar-se com todas as suas forças para esse momento, como para ele se preparam as classes dominantes.
Os destacamentos da milícia para a defesa contra o fascismo são os primeiros passos no caminho do armamento do proletariado, e não o último. Nossa palavra de ordem é: "Armamento do proletariado e dos camponeses revolucionários". A milícia do povo, no fim das contas, deve abarcar todos os trabalhadores. Não será possível cumprir esse programa completamente, a não ser no Estado operário, para cujas mãos passarão todos os meios de produção e, conseqüentemente, também os meios de destruição, isto é, os armamentos e todas as fábricas que os produzem.
No entanto, é impossível chegar ao Estado operário com as mãos vazias. Somente os políticos inválidos, do tipo de Renaudel, podem falar de uma via pacífica, constitucional, para o socialismo. A via constitucional está cortada por trincheiras ocupadas pelos grupos fascistas. Há muitas dessas trincheiras diante de nós. A burguesia não vacilará em provocar uma dúzia de golpes de Estado para impedir a chegada do proletariado ao poder. Um Estado operário socialista não pode ser criado senão por uma revolução vitoriosa. Toda revolução é preparada pela marcha do desenvolvimento econômico e político, mas é decidida sempre por conflitos armados declarados entre as classes hostis. Uma vitória revolucionária não é possível a não ser graças a uma ampla agitação política, a um amplo trabalho de educação, uma ampla tarefa de organização das massas. Mas o próprio conflito armado também deve ser preparado com muita antecedência. Os operários devem saber que terão de bater-se numa luta de morte. Devem querer armar-se, como garantia de sua liberação. Em uma época tão crítica quanto a atual, o partido da revolução deve pregar aos operários, incansavelmente, a necessidade de armar-se e de fazer tudo o que possam para assegurar, pelo menos, o armamento da vanguarda proletária. Sem isso, a vitória é impossível. [2]
Mas de onde tirar armas para todo o proletariado? objetam novamente os céticos, que tomam sua inconsistência interior por uma impossibilidade objetiva. Esquecem que a mesma questão foi colocada em todas as revoluções ao longo da história. E, apesar de tudo, as revoluções triunfantes marcam etapas importantes no desenvolvimento da humanidade.
O proletariado produz armas, transporta-as, constrói os arsenais em que são depositadas, defende esses arsenais contra si mesmo, serve no exército e cria todo o equipamento deste último. Não são fechaduras nem muros que separam as armas do proletariado, mas o hábito da submissão, a hipnose da dominação de classe, o veneno nacionalista. Basta destruir esses muros psicológicos e nenhum muro de pedra resistirá. Basta que o proletariado queira ter armas e as encontrará. A tarefa do partido revolucionário é despertar no proletariado essa vontade e facilitar sua realização.
Eis porém que Frossard e algumas centenas de parlamentares, jornalistas e funcionários sindicais assustados lançam seu último argumento, o de mais peso: "Podem as pessoas sérias, em geral, pôr suas esperanças no êxito da luta física depois das últimas experiências trágicas da Áustria e da Espanha? Pensai na técnica atual: os tanques! os gases! os aviões!!!" Este argumento demonstra somente que algumas "pessoas sérias" não só não querem aprender nada como, medrosas, esquecem o pouco que aprenderam em outros tempos. A história dos últimos vinte anos demonstra, de modo particularmente claro, que os problemas fundamentais nas relações entre as classes, assim como entre as nações, são resolvidos pela força. Os pacifistas esperaram durante muito tempo que o progresso da técnica militar tornasse a guerra impossível. Durante décadas, os filisteus repetiram que o progresso da técnica militar tornaria impossível a revolução. No entanto, guerras e revoluções seguem seu caminho. Nunca houve tantas revoluções, até mesmo revoluções vitoriosas, como depois da última guerra, que exatamente revelou toda a força da técnica militar.
Sob a forma de novidades, Frossard e Cia. apresentam velhos esquemas: se limitam a invocar, em lugar de fuzis automáticos e metralhadoras, tanques e aviões de bombardeio. Respondemos: atrás de cada máquina há homens, e esses homens não são apenas instrumentos técnicos, mas possuem também laços sociais e políticos. Quando o desenvolvimento histórico coloca diante da sociedade uma tarefa revolucionária inadiável, como questão de vida ou morte, quando existe uma classe progressiva a cuja vitória se encontra ligada a salvação da sociedade, a própria marcha da luta política abre diante dela as possibilidades mais diversas: assim que paralisar a força militar do inimigo, apoderar-se dela, ao menos parcialmente. Na consciência de um filisteu, essas possibilidades se apresentam sempre como "êxitos ocasionais", devidos ao acaso, que nunca mais se repetirão. De fato, em toda grande revolução verdadeiramente popular, abre-se todo tipo de possibilidade, nas combinações mais inesperadas, porém no fundo completamente naturais. Mas, apesar de tudo, a vitória não se produz por si mesma. Para utilizar as possibilidades favoráveis, é preciso uma vontade revolucionária, uma firme resolução de vencer, uma direção sólida e audaciosa.
L'Humanité admite, em palavras, a bandeira "armamento dos operários", mas só para renunciar a ela na prática. Atualmente, neste período, é inadmissível lançar uma palavra de ordem que não é oportuna senão em "plena crise revolucionária". É perigoso carregar o fuzil, diz o caçador excessivamente "prudente", enquanto não vê a presa. Mas, quando a avista, é tarde demais para carregar o fuzil. Os estrategistas de L'Humanité pensam que, "em plena crise revolucionária" poderão, sem preparação, mobilizar e armar o proletariado? Para conseguir muitas armas é preciso ter ao menos algumas. É preciso quadros militares. É preciso que as massas tenham o desejo invencível de apoderar-se das armas. É preciso um trabalho preparatório ininterrupto, não só nas salas de ginástica, mas indissoluvelmente ligado à luta cotidiana das massas. Isto quer dizer: é preciso construir imediatamente a milícia e, ao mesmo tempo, fazer propaganda em favor do armamento geral dos operários e dos camponeses revolucionários.
Mas as Derrotas da Áustria e da Espanha...
A impotência do parlamentarismo nas condições de crise total do sistema social do capitalismo é tão evidente que os democratas vulgares no campo operário (Renaudel, Frossard e seus imitadores) não encontram um argumento para defender seus preconceitos petrificados. Com maior razão, estão dispostos a brandir todos os fracassos e derrotas sofridos no caminho revolucionário. O desenvolvimento do seu pensamento é o seguinte: se o parlamentarismo puro não oferece saída, com a luta armada não se melhora a situação. As derrotas das insurreições proletárias da Áustria e da Espanha, para eles, são agora o argumento preferido, é claro. De fato, na crítica do método revolucionário, a inconsistência teórica e política dos democratas vulgares aparece ainda mais claramente que em sua defesa dos métodos da democracia burguesa em apodrecimento.
Ninguém disse que o método revolucionário assegura automaticamente a vitória. O decisivo não é o método em si mesmo, mas sua aplicação correta, a orientação marxista nos acontecimentos, uma organização poderosa, a confiança das massas conquistada através de uma ampla experiência, uma direção perspicaz e ousada. O resultado de todo combate depende do momento e das condições do conflito, da relação de forças. O marxismo está bem longe de pensar que o conflito armado é o único método revolucionário, uma espécie de panacéia que vale para todas as situações. O marxismo, em geral, não conhece fetiches, sejam eles Parlamento ou insurreição. Tudo é bom, em seu tempo e lugar. Mas, o que se pode dizer, para começar, é que, pela via parlamentar, o proletariado socialista nunca e em nenhum lugar conquistou o poder; sequer se aproximou dele. Os governos de Scheidemann, Hermann Müller, Mac Donald nada tinham em comum com o socialismo. A burguesia não permitiu aos social-democratas e trabalhistas chegar ao poder senão sob a condição de que defendessem o capitalismo contra seus inimigos. E eles cumpriram escrupulosamente esta condição. O socialismo puramente parlamentar, anti-revolucionário, nunca e em nenhuma parte tornou realidade um ministério socialista; ao contrário, conseguiu criar desprezíveis renegados que exploraram o partido operário para fazer uma carreira ministerial: Millerand, Briand, Viviani, Laval, Paul-Boncour, Marquet.
Por outro lado, a experiência histórica demonstrou que o método revolucionário pode conduzir à conquista do poder pelo proletariado: na Rússia em 1917, na Alemanha e na Áustria em 1918, na Espanha em 1930. Na Rússia, havia um poderoso partido bolchevique, que durante longos anos preparou a revolução e que soube se apoderar do poder solidamente. Os partidos reformistas da Alemanha, Áustria e Espanha não prepararam nem dirigiram a revolução, mas a sofreram. Espantados com o poder que havia caído em suas mãos, contra sua vontade, cederam-no benevolamente à burguesia. Deste modo, minaram a confiança do proletariado em si mesmo e, mais que isso, a confiança da pequena burguesia no proletariado. Prepararam as condições de crescimento da reação fascista de que foram vítimas.
Citando Clausewitz, dissemos que a guerra civil é a continuação da política por outros meios. Isto significa: o resultado da guerra civil depende somente 1/4, para não dizer 1/10, da marcha da própria guerra civil, de seus meios técnicos, da direção meramente militar, e os 3/4 restantes, senão 9/10, da preparação política. Em que consiste essa preparação? Na coesão revolucionária das massas, em sua liberação das esperanças servis na clemência, generosidade e lealdade dos escravistas "democráticos", na educação de quadros revolucionários que saibam desafiar a opinião pública oficial e que sejam capazes de exibir diante da burguesia, quanto mais não seja, uma décima parte da implacabilidade que a burguesia exibe diante dos trabalhadores. Sem esta têmpera, a guerra civil, quando as condições a impõem - e sempre terminam por impô-la -, se desenvolverá em condições mais desfavoráveis para o proletariado, dependerá em maior medida de acasos; e mesmo em caso de vitória militar, o poder poderá escapar das mãos do proletariado. Quem não vê que a luta de classes conduz inevitavelmente a um conflito armado é um cego. Mas não é menos cego quem, após o conflito armado e seu desenlace, não vê toda a política anterior das classes em luta.
Na Áustria, quem sofreu a derrota não foi o método da insurreição, mas o austro-marxismo; na Espanha, o reformismo parlamentar sem princípios. Em 1918, a social-democracia austríaca, nas costas do proletariado, deu à burguesia o poder que este havia conquistado. Em 1927, não só se afastou covardemente da insurreição proletária que tinha todas as possibilidades de vencer, como dirigiu a Schutzbund operária contra as massas insurgentes. Desse modo, preparou a vitória de Dolfuss. Bauer e Cia. diziam: "Queremos uma evolução pacífica, mas se o inimigo perde a cabeça e nos ataca, então..." Esta fórmula parecia ser muito "sábia" e muito "realista". É sobre o modelo austro-marxista que Marceau Pivert constrói também seus raciocínios: "Se... então...". De fato, esta fórmula é uma armadilha para os operários: tranqüiliza-os, adormece-os, engana-os. "Se" quer dizer: as formas de luta dependem da boa vontade da burguesia e não da impossibilidade de conciliar os interesses de classes. "Se" quer dizer: se somos pacíficos, prudentes, conciliadores, a burguesia será leal e tudo seguirá pacificamente. Correndo atrás do fantasma "se", Otto Bauer e outros chefes da social-democracia austríaca retrocederam passivamente ante a reação, cederam a ela uma posição após outra, desmoralizaram as massas, voltaram a retroceder, até o momento em que se encontraram, finalmente, metidos em um beco sem saída; ali, no último reduto, aceitaram a batalha... e a perderam. [1*]
Na Espanha, os acontecimentos seguiram outro caminho, mas no fundo as causas da derrota são as mesmas. O partido socialista, como os "socialista-revolucionários" e os mencheviques russos, compartilhou o poder com a burguesia republicana para impedir que os operários levassem a revolução até o final. Durante dois anos, os socialistas no poder ajudaram a burguesia a desembaraçar-se das massas através de migalhas de reformas agrárias, sociais e nacionais. Contra as camadas mais revolucionárias do povo, os socialistas utilizaram a repressão. O resultado foi duplo. O anarco-sindicalismo, que com uma política correta de partido operário se teria fundido como a cera no fogo da revolução, na realidade se reforçou de fato e uniu em torno de si as camadas mais combativas do proletariado. Em outro pólo, a demagogia social-católica explorou habilmente o descontentamento das massas com o governo burguês-socialista. Quando o partido socialista estava suficientemente comprometido, a burguesia o tirou do poder e passou à ofensiva em toda a linha. O partido socialista viu-se obrigado a defender-se nas condições extremamente desfavoráveis em que sua própria política anterior o havia deixado. A burguesia já tinha apoio de massa à direita. Os chefes anarco-sindicalistas, que no curso da revolução cometeram todos os erros próprios desses confusionistas profissionais, se negaram a apoiar a insurreição dirigida pelos "políticos" traidores. O movimento não teve caráter geral, mas esporádico. O governo pôde dirigir seus golpes sobre todas as casas do tabuleiro. A guerra civil assim imposta pela reação terminou com a derrota do proletariado.
Da experiência espanhola não é difícil tirar uma conclusão contra a participação socialista em um governo burguês. A conclusão é em si mesma indiscutível, mas absolutamente insuficiente. O pretendido "radicalismo" austro-marxista não é melhor que o ministerialismo espanhol. A diferença entre eles é técnica, e não política. Ambos esperavam que a burguesia retribuísse "lealdade" com "lealdade". E ambos levaram o proletariado a catástrofes. Na Espanha como na Áustria, não foram os métodos da revolução que fracassaram, mas os métodos oportunistas usados em uma situação revolucionária. Não é a mesma coisa!
Não nos deteremos aqui sobre a política da Internacional Comunista na Áustria e na Espanha; remetemos o leitor às coleções da La Veríté dos últimos anos e a uma série de folhetos.
Em uma situação política excepcionalmente favorável, os partidos comunistas austríaco e espanhol, prostrados pela teoria do "terceiro período", do "social-fascismo", etc., se condenaram a um completo isolamento. Comprometendo os métodos da revolução pela autoridade de "Moscou", fecharam assim a via para uma política verdadeiramente marxista, verdadeiramente bolchevique. A característica da revolução é submeter a um exame rápido e implacável todas as doutrinas e métodos. O castigo se segue quase imediatamente ao crime. A responsabilidade da Internacional Comunista nas derrotas do proletariado na Alemanha, na Áustria e na Espanha é incalculável. Não basta ter uma política "revolucionária" em palavras. preciso ter uma política correta. Ninguém encontrou ainda outro segredo para a vitória.
A Frente Única e a Luta Pelo Poder
Já dissemos: a Frente Única dos partidos socialista e comunista tem grandiosas possibilidades. Basta querer seriamente e será amanhã a dona da França. Mas deve querê-lo.
O fato de Jouhaux e, em geral, a burocracia da CGT se manterem fora da Frente única, conservando sua "independência", parece contradizer o que dizemos. Mas somente à primeira vista. Em uma época de grandes tarefas e de grandes perigos que põem ás massas de pé, desaparecem de fato os limites entre as organizações-políticas e sindicais do proletariado. Os operários querem saber como salvar-se do desemprego e do fascismo, como conquistar sua independência diante do capital, e não se preocupam nem um pouco com a "independência" de Jouhaux em relação à política proletária (porque Jouhaux, lamentavelmente, é muito dependente da política burguesa). Se a vanguarda proletária, representada pela Frente única, traça corretamente o caminho da luta, todos os obstáculos levantados pela burocracia sindical serão varridos pela torrente viva do proletariado. A chave da situação, hoje, está na Frente única dos dois partidos. Se não utilizar essa chave, desempenhará o lamentável papel que a Frente única dos "social-revolucionários" e mencheviques teria inevitavelmente desempenhado na Rússia de 1917... se os bolcheviques não o tivesse impedido.
Não falamos dos partidos socialista e comunista em separado, pois, politicamente, ambos renunciaram a sua independência em favor da Frente única. Desde o momento em que os dois partidos operários, que competiam vivamente no passado, renunciaram a criticar-se mutuamente e a conquistar, cada um, os adeptos do outro, por essa mesma circunstância deixaram de existir como partidos distintos. Invocar "divergências de princípios" que se mantêm não muda nada. Desde que as divergências de princípios não se manifestem aberta e ativamente num momento tão cheio de responsabilidades como o atual, deixam de existir politicamente; são como tesouros que dormem no fundo do mar. O trabalho comum terminará ou não em fusão? Não queremos fazer previsões. Mas, neste momento decisivo para o destino da França, a Frente única dos dois partidos atua como um partido incompleto, que seria construído sobre o princípio federativo.
O que quer a Frente única? Não o disse às massas até agora. A luta contra o fascismo? Mas até agora não explicou sequer como pensa lutar contra o fascismo. Além disso, o bloco puramente defensivo contra o fascismo poderia bastar somente se, em todo o resto, os partidos conservassem uma completa independência. Mas não, temos uma Frente única que abrange quase toda a atividade política dos partidos e exclui sua luta recíproca para conquistar a maioria do proletariado. É necessário extrair todas as conseqüências desta situação. A primeira, e mais importante, é que é preciso lutar pelo poder. O objetivo da Frente Única dos partidos socialista e comunista não pode ser outro que um governo desta Frente, isto é, um governo socialista-comunista, um ministério Blum-Cachin. É preciso dizê-lo abertamente. Se a Frente única toma a si mesma seriamente - e esta é a única condição para que seja tomada a sério pelas massas populares -, não pode furtar-se à palavra de ordem de conquista do poder. Por quais meios? Por todos os meios que conduzam a esse objetivo, a Frente Única não renuncia à luta parlamentar. Mas utiliza o Parlamento antes de tudo para demonstrar a impotência deste e explicar ao povo que o governo burguês atual tem uma base extraparlamentar e que não se pode derrotá-lo a não ser com um poderoso movimento de massas. A luta pelo poder significa a utilização de todas as possibilidades oferecidas pelo regime bonapartista semiparlamentar, para derrotá-lo mediante uma investida revolucionária; para substituir o Estado burguês por um Estado operário.
As últimas eleições cantonais revelaram um crescimento dos votos socialistas, e sobretudo comunistas. Em si mesmo, este fato nada significa. O partido comunista alemão teve, na véspera do seu desmoronamento, uma afluência incomparavelmente mais impetuosa de votos. Novas e amplas camadas de oprimidos são empurradas para a esquerda por toda a situação, independentemente mesmo da política dos partidos que estão nos extremos. O partido comunista francês ganhou mais votos porque, apesar de sua atual política conservadora, continua sendo "a extrema esquerda", por tradição. As massas manifestaram desse modo sua tendência a dar um impulso à esquerda aos partidos operários, pois elas estão enormemente mais à esquerda que seus partidos. O estado de ânimo revolucionário da juventude Socialista também dá testemunho disso. [2*] É preciso não esquecer que a juventude representa o barômetro sensível de toda classe e sua vanguarda! Se a Frente única não sai da passividade ou, pior ainda, começa um indigno romance com os radicais, os anarco-sindicalistas, os anarquistas e outros grupos de desagregação política começarão a fortalecer-se à esquerda da Frente única. Ao mesmo, a indiferença, precursora da catástrofe, se fortalecerá. Ao contrário, se a Frente Única, protegendo sua retaguarda e seus flancos dos grupos fascistas, deslancha uma grande ofensiva política sob a palavra de ordem de conquista do poder, encontrará um eco tão poderoso que superará as expectativas mais otimistas. Só não podem compreender isso os tagarelas, para quem os grandes movimentos de massas sempre serão um livro fechado com sete selos.
Um Programa de Revolução, e Não de Passividade
A luta pelo poder deve partir da idéia fundamental de que, embora seja possível opor-se a um agravamento da situação das massas no terreno do capitalismo, não se pode conceber nenhuma melhora real da situação sem uma incursão revolucionária contra o direito de propriedade capitalista. A campanha da Frente única deve apoiar-se sobre um programa de transição bem elaborado, isto é, sobre um sistema de medidas que - com um governo operário e camponês - deve assegurar a transição do capitalismo ao socialismo [3].
Ora, se é necessário um programa, não é para tranqüilizar a própria consciência, mas para conduzir uma ação revolucionária. De que vale o programa, se é letra morta? O partido operário belga, por exemplo, adotou o pomposo plano De Man, com todas as "nacionalizações"; mas que sentido tem esse plano, se não quiseram mover o dedo mínimo por sua realização? Os programas do fascismo são fantásticos, mentirosos, demagógicos. Mas o fascismo trava uma luta raivosa pelo poder. O socialismo pode lançar o programa mais sábio, mas seu valor será igual a zero se a vanguarda do proletariado não desenvolver uma audaciosa luta para apoderar-se do Estado. A crise social, em sua expressão política, é a crise do poder. O velho amo faliu. É preciso um novo. Se o proletariado revolucionário não se tornar o dono do poder, o fascismo, inevitavelmente, se tornará!
Um programa de reivindicações transitórias para as "classes médias" pode ter grande importância, naturalmente, se esse programa responder, por um lado, às necessidades reais das classes médias e, por outro, às exigências da marcha para o socialismo [4]. Contudo, uma vez mais, o centro de gravidade não se encontra, atualmente, neste ou naquele programa particular. As "classes médias" já viram e ouviram muitos programas. O que precisam é ter confiança no programa que será realizado. No momento em que o camponês disser: "Desta vez, parece que o partido operário não vai retroceder", a causa do socialismo estará ganha. Mas, para isso, é necessário mostrar, através de fatos, que estamos firmemente dispostos a eliminar todos os obstáculos de nosso caminho.
Não é preciso inventar meios de luta; eles já foram dados pela história do movimento operário mundial: uma campanha da imprensa operária, orquestrada, atacando um mesmo ponto; discursos autenticamente socialistas nas tribunas parlamentares, não de deputados domesticados, mas de dirigentes do povo; utilização de todas as campanhas eleitorais para a propaganda revolucionária; reuniões freqüentes a que as massas compareçam não somente para escutar os oradores, mas para receber as palavras de ordem e as diretrizes do momento; criação e fortalecimento da milícia operária; manifestações bem organizadas que varram das ruas os grupos reacionários; greves de protesto; campanha aberta pela unificação e aumento das fileiras sindicais sob o signo de uma decidida luta de classes; ações obstinadas e bem calculadas para atrair o exército para a causa do povo; greves mais amplas; manifestações mais poderosas; greve geral dos trabalhadores da cidade e do campo; ofensiva geral contra o governo bonapartista pelo poder dos operários e camponeses. Ainda há tempo para preparar a vitória. O fascismo ainda não se converteu em um movimento de massas. No entanto, a inevitável decomposição do capitalismo significará o estreitamento da base do bonapartismo, o crescimento dos campos extremos e a aproximação do desenlace. Não se trata de anos, mas de meses. Esse prazo, evidentemente, não está escrito em parte alguma. Depende da luta das forças vivas e, em primeiro lugar, da política do proletariado e de sua Frente única. As forças potenciais da revolução superam em muito as forças do fascismo e, em geral, as de toda a reação unida Os céticos que pensam que tudo está perdido devem ser implacavelmente expulsos das fileiras operárias. As camadas mais profundas respondem com um eco vibrante a cada palavra audaciosa, a cada palavra de ordem verdadeiramente revolucionária. As massas querem a luta.
O único fator progressivo da história hoje não é o espírito de combinação dos deputados e jornalistas: é o ódio legítimo criador dos oprimidos contra os opressores. É preciso voltar para as massas, para suas camadas mais profundas. É preciso fazer um chamado a sua razão e a sua paixão. É preciso rejeitar essa "prudência" mentirosa, que serve de pseudônimo à covardia e que, nas grandes viradas históricas, equivale a traição. A Frente Única deve tornar como lema a fórmula de Danton: "De l'audatoujours de l'audace, et encore de l'audace [3*].
Compreender bem a situação e extrair todas as conclusões práticas - ousadamente, sem temor, até o fim - é assegurar a vitória do socialismo.
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