Por Celso Lungaretti*
É alvissareiro e reconfortante que a tramóia contra Julian Assange esteja dando com os burros n'água. Outro Cesare Battiti foi arrancado das garras dos inquisidores. Devemos nos orgulhar --e muito!-- destas vitórias improváveis que estamos conseguindo obter, contra as piores forças políticas do planeta e a incessante lavagem cerebral efetuada pela grande imprensa.
Porque, na verdade, é monstruoso em sua essência e benigno apenas na aparência forjada e impingida pela indústria cultural.
Estes trechos de uma notícia deste domingo (1º), que Andrea Murta enviou de Washington, dão uma boa idéia da malignidade do monstro:
É alvissareiro e reconfortante que a tramóia contra Julian Assange esteja dando com os burros n'água. Outro Cesare Battiti foi arrancado das garras dos inquisidores. Devemos nos orgulhar --e muito!-- destas vitórias improváveis que estamos conseguindo obter, contra as piores forças políticas do planeta e a incessante lavagem cerebral efetuada pela grande imprensa.
Mas,
no Caso Wikileaks, falta ainda a tarefa principal: salvarmos Bradley Manning da
destruição psicológica a que o estão submetendo. Não podemos descansar enquanto
ele estiver em prisões militares que mais parecem masmorras medievais.
Para
reavivar a memória dos companheiros, eis o artigo que escrevi sobre ele há 15
meses, O heróico Bradley Manning está sofrendo terríveis retaliações.
Nada mudou. Continuamos devendo-lhe esforços mais incisivos, proporcionais ao
extraordinário serviço que ele prestou à causa do resgate da verdade, com
depreendimento, arrojo e coragem.
A ISTO ficou reduzido...
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Os
filmecos de tribunal com que Hollywood fetichiza a justiça estadunidense são
uma comprovação da frase de Joseph Goebbels, de que, de tanto se martelar uma
mentira, ela acaba passando por verdade.
É
claro que, em meio a centenas (quiçá milhares, incluindo os seriados de TV) de
fitas medíocres e enganadoras, podemos pinçar alguns clássicos, a
cumprirem o papel de exceções que só servem para confirmar a regra.
De
pronto, lembrei-me de 12 homens e uma sentença (1957) e O
Veredicto (1982), do grande Sidney Lumet; O sol é para todos(1962),
de Robert Mulligan; Testemunha de Acusação (1957), de Billy
Wilder; Anatomia de um crime (1959), de Otto Preminger;Julgamento
em Nuremberg (1961), de Stanley Kramer; e Justiça para todos(1979),
de Norman Jewison.
Acrescentados
os que não me tenham ocorrido, os salvos do incêndio deverão totalizar uma
dezena, no máximo duas. O resto não passa de tralha cinematográfica
mesmerizante.
Eu era muito jovem quando, lendo A tragédia de Sacco e Vanzetti (1953), de Howard Fast, cai na real: o grotesco linchamento com tinturas legais dos dois anarquistas italianos era a realidade; e a infabilidade das sentenças estadunidenses, na qual seriados comoPerry Mason tanto nos queriam fazer crer, não passava de piada de mau gosto.
Eu era muito jovem quando, lendo A tragédia de Sacco e Vanzetti (1953), de Howard Fast, cai na real: o grotesco linchamento com tinturas legais dos dois anarquistas italianos era a realidade; e a infabilidade das sentenças estadunidenses, na qual seriados comoPerry Mason tanto nos queriam fazer crer, não passava de piada de mau gosto.
...este saudável soldado de 23 anos.
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Depois,
ao longo da minha vida adulta, fui tomando conhecimento de muitos outros
exemplos, com destaque para as aberrações jurídicas do macartismo e para o
premeditado assassinato de dois pobres laranjas (o casal
Rosenberg) como bodes expiatórios de um delito cujos principais responsáveis só
poderiam ser cientistas.
A
partir do atentado contra o WTC, multiplicaram-se as arbitrariedades contra os
acusados que os EUA despejaram no centro de torturas de Guantánamo, para
tratá-los como animais longe das vistas de seus respeitáveis cidadãos.
Graças
ao heróico soldado Bradley Manning, que forneceu ao Wikileaks as provas dos
podres, o mundo ficou sabendo, p. ex., que cerca de 150 pessoas inocentes
ficaram presas durante períodos variáveis (até por vários anos) em Guantánamo,
sem julgamento nem nada, apenas por terem a ascendência errada ou haverem sido
encontradas perto do lugar errado e na hora errada, sem nenhum motivo concreto
respaldando as suspeitas de envolvimento com ações terroristas.
É a
razão de estado falando mais alto do que a justiça e os direitos humanos -- exatamente
a acusação que os EUA sempre fizeram aos países do chamado socialismo
real. Nada como um dia depois do outro.
O CALVÁRIO DE MANNING
E,
por haver escancarado a nudez do rei, o próprio Manning está sofrendo terríveis
retaliações -- como, aliás, sempre aconteceu nas ditaduras apoiadas pelos EUA
no mundo inteiro. O serviço sujo volta a ser feito também em casa.
É
esta a face que o império mostra para os que ousam confrontá-lo ou atingir seus
interesses; o dr. Jekyll não precisa de poção nenhuma para virar mr. Hyde.
Sim, passada a eleição, ele pode...
dar uma banana p/ direitos humanos |
Porque, na verdade, é monstruoso em sua essência e benigno apenas na aparência forjada e impingida pela indústria cultural.
Estes trechos de uma notícia deste domingo (1º), que Andrea Murta enviou de Washington, dão uma boa idéia da malignidade do monstro:
"Durante
o tempo encarcerado, Manning, 23, foi submetido ao que seus defensores
classificam como punição extrema pré-julgamento.
O
soldado ainda não teve sua primeira audiência, agendada para ocorrer em junho e
ficou confinado em solitárias, sem exposição à interação humana, a exercícios e
à luz do sol.
Na
semana passada, ele finalmente foi transferido para uma prisão no Kansas, onde
poderá conviver com outras pessoas.
...segundo
o 'Free Bradley Manning', uma rede de apoio que paga a defesa do soldado, há
várias razões para maus-tratos.
A
primeira seria que os militares sabem que o caso contra Bradley não é tão forte
quanto anunciam e, caso ele seja inocentado, querem garantir alguma punição que
sirva de alerta a outros no futuro', disse (...)
Jeff Paterson, porta-voz do grupo.
O
ex-porta-voz do Departamento de Estado PJ Crowley (...) disse que o tratamento
dado a Manning é 'ridículo, contraproducente e estúpido'. Ele renunciou pouco
depois.
O
presidente [Obama] também sofreu o constrangimento de ver um ex-professor
assinar um manifesto de juristas criticando as condições da detenção. Um
representante da ONU foi outro a protestar.
Paterson
diz que o soldado já não é o mesmo. 'Quando recebe visitas, leva um tempo até
que a parte do cérebro ligada à interação social volte ao normal e ele se
lembre de como conversar. Isso não faz mais parte de sua rotina.'"
O
martírio do último herói estadunidense está prestes a completar um ano. Para
quem quiser saber o que ele sofreu durante os (felizmente findos!) 11 meses de
detenção no DOI-Codi... quer dizer, numa base dos fuzileiros navais na
Virgínia, recomendo a leitura de A prisão infernal
de Bradley Manning.
(*) Jornalista e Escritor
Disponível em http://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2012/08/falta-salvarmo-bradley-manning-o-ultimo.html
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