Por Liga Bolchevique
Internacionalista
Chegou ao fim neste domingo, 4 de agosto,
a 19ª edição do Foro de São Paulo, evento que reuniu cerca de 300
representantes de partidos e organizações políticas ligadas a centro-esquerda
burguesa de 39 países da América Latina e Caribe.
Tendo o PT como anfitrião, o Foro foi
literalmente atacado pela extrema-direita, com um grupo de 20 nazi-fascistas
protestando contra sua realização, chegando mesmo a ameaçar a integridade
física de seus participantes quando atacaram um restaurante em que estavam se
alimentando delegações do evento.
O fascistizóide Olavo de Carvalho lançou
suas diabrites contra o que chamou do “antro do comunismo mundial”.
O grosso da burguesia latino-americana e
sua mídia, entretanto, tratou o Foro com mais “serenidade” até porque a classe
dominante sabe que “a seu modo” os governos da centro-esquerda cujos partidos
participaram da atividade gerenciam o Estado burguês defendendo os interesses
do grande capital, ainda que com suas políticas tenham em muitas vezes fricções
com o imperialismo ianque.
São justamente estes conflitos com o “amo
do norte” e a aproximação econômica com destes países com os BRICs, além do
controle que seus governos têm do movimento operário, que fazem destas
gerências um “contraponto” político às gestões tradicionais, ainda que estejam
plenamente inseridas no leque de opções que têm na manga a burguesia mundial.
O Foro foi convocado pela primeira vez no ano de 90, em São Paulo, pelo PT do Brasil e o PC cubano com o nome original de “Encontro dos Partidos e Organizações de Esquerda da América Latina e do Caribe”.
O Foro foi convocado pela primeira vez no ano de 90, em São Paulo, pelo PT do Brasil e o PC cubano com o nome original de “Encontro dos Partidos e Organizações de Esquerda da América Latina e do Caribe”.
Já no I Encontro, sob o impacto da queda
do Muro de Berlim, a resolução aprovada afirmava o caráter do Foro, através do
reconhecimento da democracia burguesa como “valor universal”, uma adesão
explícita à falácia imperialista de encobrir a ditadura do capital sobre os
trabalhadores.
Na declaração do II Encontro realizado no
México, que sintomaticamente mudou o nome da atividade para Foro de São Paulo,
essa política ficou ainda mais clara, aprovando que “no âmbito econômico
trata-se de que a organização democrática da sociedade defina as funções do
mercado e a participação do Estado na vida econômica”! Passados 23 anos de sua
fundação, hoje o PCdoB faz um balanço 19ª edição do Foro declarando “a
resolução política aprovada pelo encontro assinala que ‘a influência positiva
do Foro de São Paulo deve-se, entre outros motivos, à nossa diversidade e à
nossa pluralidade interna, e é parte importante do processo de mudança em curso
na América Latina e no Caribe’.
Efetivamente, superando esquematismos e
sectarismos, prevalece no Foro de São Paulo o espírito de unidade, vinculado a
uma metodologia democrática com institucionalidade amadurecida.
O Foro de São Paulo, surgido em 1990, no
auge da ofensiva conservadora e neoliberal, desempenhou um papel significativo
para impulsionar as forças de esquerda que hoje se encontram à frente de
governos democráticos e progressistas em vários países da região e avançam no
quadro das políticas com sentido democrático, patriótico e social que estão
sendo aplicadas.
O
19º Encontro do Foro de São Paulo reafirmou seus princípios e bandeiras de luta
relacionados com o aprofundamento da integração regional justa, soberana e
equitativa, com a consolidação dos mecanismos já existentes, como a União de
Nações Sul-americanas (Unasul), o Mercado Comum do Sul (Mercosul), a
Alternativa Bolivariana para os povos da Nossa América (Alba), a Comunidade de
Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), entre muitos outros”.
Na verdade, o Foro assim como os organismos
governamentais que a centro-esquerda impulsionou nos últimos anos, se
constituem como um cinturão político que exerce o papel de árbitro dos
conflitos, que não questiona seriamente as ordens do imperialismo ianque, como
vimos em Honduras e no Paraguay, mas ao mesmo tempo se apresenta formalmente
como alternativa a desmoralizada OEA.
Eles consistem em uma tentativa dos
governos burgueses latino-americanos e caribenhos de negociarem com o
imperialismo ianque e europeu melhores condições para suas classes dominantes
nativas, na qualidade de sócias menores, terem acesso a uma fatia do mercado
mundial, incrementando a exploração de seus trabalhadores.
Apesar da retórica nacionalista, da
defesa da “soberania continental”, se pretendem estabelecer um pacto com o
grande capital internacional.
O objetivo da criação de blocos
econômicos e tratados como a CELAC, ALBA, Unasul ou Mercosul não se constituem,
mesmo do ponto de vista burguês, na defesa dos interesses econômicos nacionais
de cada país visando um desenvolvimento não tutelado pelos monopólios
estrangeiros.
Os
interesses econômicos que dão alicerce a estes organismos e que o Foro
representa são associações das empresas nativas aos dos monopólios
imperialistas, que através desta fórmula, teriam maior penetração na região,
sem o temor de “nacionalizações” e serviriam inclusive para impulsionar o
processo de restauração capitalista em Cuba.
Traduzindo, visam estabilizar a região
para garantir mais lucros as empresas transnacionais e seus sócios nativos,
além de catapultar obras que favoreçam estes conglomerados, como ferrovias,
rodovias, pontes e linhas de transmissão.
O modelo de extração de petróleo na Bacia
do Orinoco entre a Chevron/Texaco e a PDVSA promovido pelo governo Chávez foi
uma expressão concreta dessa política agora reproduzida pelo governo de
Cristina Kirchner na Argentina.
Já o PCB analisou que “Tentando afirmar o
Foro como braço regional do neodesenvolvimentismo brasileiro, o PT passa a
privilegiar os processos eleitorais em detrimento das lutas de massas,
procurando em cada país contribuir política e materialmente para a eleição de
governos alinhados com a hegemonia brasileira. Isto significou a
descaracterização do Foro de São Paulo, nascido como uma articulação
anti-imperialista com caráter anticapitalista.
Nessa guinada, gradativamente foi sendo
anulado o protagonismo de organizações revolucionárias e privilegiou-se uma
ampliação quantitativa, heterogênea, policlassista, com ênfase em partidos
socialdemocratas e social-liberais, chegando ao ponto de o Foro ser integrado
hoje por partidos antagônicos e adversários em seus países.
O papel principal passou a ser dos
partidos que participam de governos e os que podem se tornar governo, o que
significa garantia de contratos para empresas brasileiras.
Uma vez tendo se fortalecido na América
Latina, o Foro de São Paulo agora tem o objetivo de se internacionalizar como
uma alternativa mundial reformista, inclusive em contraposição ao movimento
comunista internacional”.
Depois de fantasiar sobre o caráter
“original” do Foro, o PCB não denuncia o fundamental, ou seja, não houve uma
descaracterização do Encontro pelo PT, já que o stalinismo (“movimento
comunista internacional”), sócio da iniciativa desde o começo apoiou e apóia
justamente este processo de integração a democracia dos ricos e ao Estado
burguês levado a cabo pelo reformismo, processo que se aprofundou após a queda
da URSS e do Muro de Berlim (89-91), não por acaso quando foi criado o Foro.
A própria crise do PCB neste período foi
produto desse processo.
Um dos destaques do Foro, foi o apoio
unânime ao chamado “processo de paz” na Colômbia, saudado desde a “direita” do
Encontro até sua “esquerda”.
As “negociações de paz” entre as FARC e o
governo Manuel Santos, saudadas pela esquerda reformista nacional e
internacional como um grande avanço, mostraram sua real face macabra desde que
começaram: mais de 100 guerrilheiros mortos desde o início de setembro de 2012.
As Forças Armadas do país também
prenderam 90 guerrilheiros e outros 30 se desmobilizaram. Em meio aos
“diálogos” o governo anunciou novos investimentos no combate às FARC, tanto que
a proposta de formalizar um cessar-fogo durante as “negociações” foi rechaçada
pelo presidente colombiano, que rejeitou essa possibilidade veementemente.
Como
observamos, trata-se de uma farsa montada justamente para eliminar fisicamente
a guerrilha, como a LBI já denunciava quase isoladamente quando se anunciou o
acordo costurado por Chávez e Fidel entre a guerrilha e o governo capacho do
imperialismo ianque.
Com os recentes acordos celebrados entre
Santos e a OTAN fica cada vez mais claro que a única “paz” que sairá destas
negociações apoiada pelo Foro de São Paulo é a dos cemitérios, já que
desgraçadamente as vidas dos heróicos combatentes das FARC estão sendo
sacrificadas em nome de uma política que em nada serve para a luta
revolucionária e, muito menos, para libertar a Colômbia do domínio da burguesia
e do imperialismo.
Não há dúvida de que estamos
presenciando, com o aval vergonhoso do Foro de São Paulo, uma farsa montada
justamente para eliminar fisicamente a guerrilha.
As “negociações de paz” têm como conseqüência
direta e prática não só o enfraquecimento político da guerrilha, mas a sua
completa exterminação física, tendo em vista a experiência das próprias FARC,
que na década de 80 deslocou parte de seus quadros para a constituição da
Unidade Patriótica e impulsionou um partido político legal, tendo como
resultado o assassinato de cerca cinco mil dirigentes pelas forças de repressão
do Estado, pilar-mestre da democracia bastarda colombiana.
Essa tragédia teve como base as mesmas
ilusões reformistas hoje patrocinadas pela direção da guerrilha e o conjunto da
esquerda.
Apesar de todas nossas críticas aos
governos da centro-esquerda burguesa alertamos que o imperialismo ianque deseja
derrotá-los não só nas urnas, com suas marionetes de direita, mas também
através de golpes cívico-militares (agora chamados de “constitucionais”) como
ocorreu em Honduras e no Paraguay. Foi esta realidade que nos fez decidir, por
exemplo, pelo apoio crítico à candidatura de Maduro nas eleições deste ano na
Venezuela.
O resultado eleitoral demonstrou que
houve um avanço da contrarrevolução na Venezuela, com a burguesia nativa e a
Casa Branca partindo para uma dura ofensiva diante da aberta polarização
política e social, que definitivamente não se revolverá no terreno eleitoral.
Este quadro político dramático que
dividiu a Venezuela ao meio confirmou plenamente o acerto da posição
principista da LBI de convocar o apoio crítico a Maduro, com total
independência do chavismo e seu programa nacionalista burguês.
Os bolcheviques leninistas acertaram
plenamente, nesta nova conjuntura aberta na Venezuela, em depositar pela
primeira vez o apoio crítico ao chavismo, tendo como foco de análise o brutal
avanço da ofensiva imperialista mundial detonada após a derrubada do regime
burguês nacionalista líbio pelas forças da OTAN.
Se
o triunfo ou derrota histórica da classe operária venezuelana e
latino-americana não se definirá no terreno eleitoral, um resultado desastroso
nestas eleições poderia significar um “start” para a intervenção militar ianque
aberta, já bem encaminhada com os golpes de estado em Honduras e Paraguay.
No Brasil, durante as “jornadas de
junho”, observamos claramente esta dinâmica, estivemos muito longe de
atravessar uma autêntica rebelião de massas como quiseram fazer crer os
revisionistas; muito pelo contrário, de uma mobilização contra a opressão
capitalista organizada a partir do MPL, o movimento foi se transformando no centro
das demandas da classe média reacionária que pregam alternativas
“pseudodemocráticas” balizadas pela direita como a “ética na política”, “faxina
no Congresso” a serviço da oposição demo-tucana.
Por isto, declaramos que a LBI, corrente que
faz o combate sem trégua aos governos do PT durante os três mandatos da frente
popular, inclusive identificando os ataques de Lula e Dilma ao movimento
operário como responsável por abrir caminho para a reação em nosso país, não
vimos nada de progressivo no rumo que tomaram os protestos e no chamado ao
“Fora Dilma” por setores de direita e reacionários, já que tais demandas, se
adotadas nesta conjuntura, só favorecem a reação no Brasil e no conjunto da
América Latina.
Frente a este quadro dramático, mais do
que nunca está colocado construir como alternativa revolucionária do Foro de
São Paulo e para barrar o retorno da direita reacionária, um partido mundial da
revolução socialista, para nós a IV Internacional!
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