Por Liga Bolchevique Internacionalista
O escândalo envolvendo os governos do PSDB de São Paulo, desde Mário
Covas até Alckmin, passando por Serra, tem como principal saldo político o
fortalecimento de Marina Silva como principal porta-voz da oposição
conservadora nas eleições de 2014.
Além das pesquisas de opinião já
indicarem esta tendência, o fato do tucanato ser alvo de denúncias de desvio de
mais de 500 milhões em um esquema de superfaturamento em 30% das obras e
compras de trens do Metrô paulista reforça que a candidata eco-capitalista e sua
“Rede” vêm pouco a pouco se firmando como a opção preferencial do imperialismo
ianque e de um setor da burguesia nativa, apesar da fragilidade da estrutura
partidária que a cerca.
O amplo espaço que a Folha de São Paulo, Estadão e os órgãos de imprensa
ligados à “famiglia” Marinho estão dando ao fato revela que o PIG decidiu
centrar seus esforços em uma alternativa política mais “antenada” com a
realidade nacional de desgaste do governo Dilma após as jornadas de junho, onde
Marina aparece como “ética” e portadora de uma aura de independência diante dos
desgastes dos grandes partidos políticos burgueses.
O mais sintomático é que o escândalo
envolvendo o tucanato venha à tona via investigação do Cade (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica) em que a multinacional alemã Siemens
aparece como denunciante em acordo de leniência, uma espécie de delação
premiada em troca de não ser processada.
Longe de apenas expressar uma disputa entre
grandes empresas imperialistas que vieram à tona, os detalhes demonstram que o
alvo das denúncias foi envolver o conjunto dos governos do PSDB.
Óbvio que o PT vai tentar tirar
dividendos dos fatos revelados, mas no geral fica a impressão de que é
necessário romper a polaridade PT versus PSDB, ambos mergulhados no mar de lama
de corrupção.
Os contratos fraudulentos tiveram
sobrepreço de 30% do valor para cobrirem propinas para executivos das empresas,
diretores do Metrô e da CPTM e políticos do PSDB.
Segundo a Isto É e a Folha, entre os
“contratos em que o Cade detectou flagrante sobrepreço está o de fornecimento e
instalação de sistemas para transporte sobre trilhos da fase 1 da Linha 5 Lilás
do metrô paulista.
A licitação foi vencida pelo consórcio
Sistrem, formado pela empresa francesa Alstom, pela alemã Siemens juntamente
com a ADtranz (da canadense Bombardier) e a espanhola CAF”.
A Folha conta que a multinacional
entregou às autoridades brasileiras documentos nos quais diz que o governo do
PSDB em São Paulo soube e autorizou a formação de cartel para licitações de
obras do metrô no Estado.
A Siemens delatou no mês passado a existência
do esquema, do qual fazia parte. A empresa afirma que o cartel para a linha 5
do metrô de São Paulo começou em 2000, na gestão de Mario Covas.
O Cade, que investiga o caso, afirma
que o conluio continuou no governo de Geraldo Alckmin (2001-2006) e no primeiro
ano do governo de José Serra (2007), ou seja, em uma tacada só desgasta o PSDB
e atinge Serra que vinha ensaiando ser novamente candidato a presidente.
Como já advertimos, a mídia “murdochiana”
quando coloca a nu estes escândalos tem objetivos precisos e em nada está
preocupada com a chamada “moralidade pública” que tanto insuflou para desgastar
o governo do PT nos protestos de junho. Não temos dúvida que o PIG está se
voltando para a candidatura de Marina, assim como os banqueiros dirigidos pelo
clã Setubal.
Esses setores da classe dominante já deixaram
clara sua avaliação de que a candidatura de Aécio é fadada ao fracasso e que o
PSDB está profundamente desgastado, não capitalizando a crise do governo da
frente popular.
Dia 14 de agosto o MPL convocou uma
manifestação contra Alckmin e o escândalo do Metrô, vejamos como o PIG vai
cobrir estes protestos, mas desde já não temos dúvidas que fritará o tucanato
como parte da operação midiática para catapultar ainda mais Marina como a
candidata que pode bater Dilma.
Não por acaso, há poucos dias Marina deu
entrevista à revista Exame, na qual menciona que entre os economistas que ela
vem se encontrando para formular sua plataforma de campanha está André Lara
Resende, um dos pais do “Plano Real”.
Na mesma matéria ela afirmou: “Quem
viveu os tempos da inflação sabe que esse é um assunto que deve ser levado a
sério, nenhum governo pode descuidar ou deixar que sua ansiedade por resultados
de curto prazo afrouxem a vigilância.
Mas, hoje, talvez a queda de
popularidade esteja preocupando mais a presidente e o PT do que deveria. Há uma
pauta de problemas e uma agenda de mudanças e reformas estruturais que o
governo deve enfrentar.
Não se pode governar com os olhos fixos
nas próximas eleições.
O governo ficou refém de suas promessas
de crescimento econômico e insistiu em estratégias de crédito e desonerações
que têm limites e, se usadas indiscriminadamente, geram sinais contraditórios e
descompasso, por exemplo, entre política fiscal e monetária.
Baixo crescimento com alta inflação é
um cenário ruim para qualquer economia”, ou seja, o mesmo discurso do tucanato
vindo da boca da eco-capitalista!
Sintonizado com este processo o próprio
FHC insta a oposição a se unificar nos ataques a Dilma, sinalizando uma aliança
para o segundo turno: “Se as oposições pretenderem sobreviver ao cataclismo, a
hora é agora. O Brasil quer e precisa mudar.
Chegou o momento de as vozes oposicionistas se
comprometerem com um novo estilo de política e de assim procederem. Escutando e
interpretando o significado do protesto popular”(O Estado de S.Paulo, 04/08).
O fato de a burguesia estar buscando
novas alternativas políticas ao governo do PT demonstra que estamos diante de
uma etapa de reorientação no interior da classe dominante quanto à disputa em
2014.
Sob a maquiagem da defesa da ecologia e
de uma “nova política” setores da burguesia ianque pretendem utilizar Marina
para estreitar os vínculos econômicos de dependência do país à economia
norte-americana, descontentes com uma relativa guinada que os governos da
frente popular operaram em relação a China e seu cinturão de relações
comerciais.
O Brasil tem hoje nos BRICs sua
principal corrente de transações econômicas, incluindo exportações de
commodities para a Ásia e investimentos diretos no país, fato que tem irritado
a Casa Branca.
Marina tem recebido uma forte logística do
imperialismo para se postular como uma alternativa de poder aos governos do PT,
ainda mais reforçada com a falência precoce da oposição demo-tucana sem nenhuma
chance eleitoral para 2014, realidade que só se aprofunda com os escândalos do
Metrô.
Não foi pela “defesa da floresta da
Amazônia” que Marina foi o destaque político da abertura das olimpíadas de
Londres em 2012 e tampouco é a “luta ecológica” o móvel do pesado financiamento
internacional recebido pelo “Rede”.
O escândalo do Metrô vai fortalecer em muito
esta tendência, com o PIG forçando tudo para levar a disputa das eleições
presidenciais para o segundo turno com o objetivo de depois unificar o conjunto
da oposição burguesa em torno de Marina.
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