Por Liga Bolchevique Internacionalista
Depois que dezenas de
moradores da periferia de São Paulo atearam fogo em caminhões e ônibus que
trafegavam na Rodovia Fernão Dias em protesto contra o assassinato do jovem
trabalhador Douglas pela PM, em uma clara demonstração de ódio popular contra a
repressão estatal protagonizando ações que muito se assemelhavam com as
“táticas” dos “Black Bloc”, o Ministro da “Justiça”, Eduardo Cardoso (PT)
anunciou uma parceria com os odiados governos Alckmin (PSDB) e Cabral (PMDB)
para perseguir o que chamou de “vândalos”: “Dialoguei durante o dia de ontem e
de hoje com o secretário Fernando Grella, secretário de Segurança Pública de
São Paulo, e, na manhã de hoje, com o secretário Mariano Beltrame, secretário
de Segurança Pública do Rio de Janeiro e nos parece que a situação exige que os
órgãos de Segurança Pública compartilhem informações e tomem ações em conjunto.
Discutiremos medidas de
segurança pública que devem ser tomadas para evitar esses atos de vandalismo”
(G1, 29/10), marcando uma reunião em Brasília para o próximo dia 31 que terá
também representantes da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e da
Secretaria Nacional de Segurança Pública para tomar medidas concretas contra as
manifestações.
Está claro que a
burguesia exige que o governo do PT haja com mão forte diante da radicalização
dos protestos populares, com a mídia murdochiana acusando a revolta do povo
pobre de “vandalismo contra a ordem pública”, ou seja, como uma ameaça à
sacrossanta propriedade privada e a seu Estado.
Após ter se solidarizado com o Coronel Rossi da PM de São Paulo, agredido por “Black Blocs” quando reprimia uma manifestação no centro de São Paulo, Dilma em uma clara jogada de demagogia eleitoral lançou uma mensagem em sua conta no Twitter abordando o caso do assassinato de Douglas, morto no último domingo, 27, pela PM na periferia de SP: “Nessa hora de dor, presto minha solidariedade à família e aos amigos.
Assim como Douglas,
milhares de outros jovens negros da periferia são vitimas cotidianas da
violência. A violência contra a periferia é a manifestação mais forte da
desigualdade no Brasil”.
Demagogia à parte, seu
governo tratou de reforçar o aparato repressivo na região dos protestos: a ida
de policiais rodoviários federais do Rio para São Paulo foi acertada na manhã
desta terça, durante reunião entre a Secretaria de Segurança Pública paulista e
a Polícia Rodoviária Federal. Segundo Cardoso, “A Polícia Rodoviária Federal
deve atuar também com reforço da sua tropa.
Estamos deslocando efetivo do Rio de Janeiro
para São Paulo para fazer uma melhor cobertura daquele trecho. Isso foi objeto
da reunião de hoje [terça] de manhã, onde a distribuição de efetivo, a alocação
de situações deve ter sido planejada e se fará uma ‘análise de inteligência’
sobre os incidentes que têm se repetido durante os protestos” (G1, 29/10).
Lembremos que durante
as “Jornadas de Junho”, o ministro da “justiça” Eduardo Cardoso, figura que
representa a chamada “esquerda” petista no governo (grupo Mensagem ao Partido
apoiado pela DS e outros agrupamentos do PT) já havia oferecido a ajuda da
Polícia Federal para a repressão mais “fina” ao movimento. Blogs “chapa branca”
também saíram a acusar os Black Blocs de fascistas, exigindo sua imediata
prisão.
Luiz Nassif declarou
“Após o espancamento do seu oficial, o que a Polícia Militar deve fazer, daqui
por diante: Identificar os cabeças que comandam o vandalismo nas cidades,
prendê-los e levá-los a julgamento por formação de quadrilha.
E que recebam penas severas. A agressão a um
oficial da PM – ainda mais nas circunstâncias relatadas - é uma quebra de ordem
gravíssima, sim.
“Se não houver punição exemplar, essa
maluquice irá se espalhar como um rastilho de pólvora”.
Esta conduta tem o
apoio de toda a esquerda petista, tanto que a corrente Esquerda Marxista (PT)
lançou novo artigo asqueroso intitulado “Os Black Blocs: rebeldes sem causa” em
que defende abertamente a democracia burguesa: “Entendemos a revolta dos jovens
com essa ‘democracia’, como se expressam os jovens do movimento dos Black
Blocs.
Mas não se justifica um
rechaço da democracia representativa em geral. Fazendo isso só estão
facilitando o caminho de todos aqueles que hoje erguem a voz clamando por um
golpe militar de tipo fascista” (EM, 28/10).
O mesmo declara o PSTU,
nas palavras da vereadora Amanda Gurgel: “Participarmos das legítimas
manifestações populares, mas não concordamos com quebra-quebra e depredação de
prédios públicos, muitas vezes inclusive realizados por agentes infiltrados da
repressão nas manifestações e que acabam justificando a ação policial contra as
manifestações da juventude e dos trabalhadores.
Somos contrários às
ações isoladas de indivíduos, pois acreditamos que somente a organização
coletiva dos trabalhadores e estudantes fortalece a democracia e o movimento”
cinicamente deixando a porta aberta para se acusar os “Black Blocs” de
“infiltrados da repressão” (site PSTU, 28/10).
Em resumo, estes
canalhas revisionistas se somam ao coro do PT, da esquerda “chapa branca” e dos
governos da direita tradicional que apregoam serem os movimentos legítimos
desde que pacíficos, ordeiros, respeitando a ordem burguesa e desde que não
recorram à autodefesa!
Quem na verdade abre
caminho para o recrudescimento do regime político e sua militarização é o
governo da frente popular, que recorreu à Força Nacional para reprimir os
manifestantes ao Leilão de Libra e aciona a PF para monitorar os lutadores
sociais, mascarados ou não.
Não por acaso, Cardoso
organiza neste momento uma ação conjunta com os governos do PSDB e PMDB,
comandados por figuras sinistras e fascistizantes.
Só o movimento de
massas pode barrar o curso de ataque à liberdade de manifestação e resposta a
sua ação direta por parte da repressão policial.
Sobre o argumento
cínico da burguesia e seus papagaios de “esquerda” acerca do vandalismo do povo
pobre e da tática dos “Black Blocs” que provocariam a reação da polícia vejamos
o que nos diz Trotsky sobre questão análoga no capítulo intitulado
sintomaticamente “A Milícia Operária e seus Adversários” do livro “Aonde Vai a
França?”: “Conclamar a organização da milícia é uma ‘provocação’, dizem alguns
adversários certamente pouco sérios e pouco honestos. Isto não é um argumento,
mas um insulto.
Se a necessidade de
defender as organizações operárias surge de toda a situação, como é possível
não se conclamar a criação de milícias?
É possível nos dizer
que a criação de milícias ‘provoca’ os ataques dos fascistas e a repressão do
governo? Neste caso, trata-se de um argumento absolutamente reacionário.
O liberalismo sempre
disse aos operários que eles ‘provocam’ a reação, com sua luta de classes. Os
reformistas repetiram essa acusação contra os marxistas; os mencheviques contra
os bolcheviques.
No fim das contas, essas acusações se reduzem
a este pensamento profundo: se os oprimidos não se pusessem em movimento, os
opressores não seriam obrigados a golpeá-los”.
Os revisionistas que se
dizem a favor da “violência revolucionária” em abstrato, mas que agora não
seria o momento porque facilitaria um golpe fascista, recorrendo a um cinismo
sem igual para defender a democracia burguesa, também são desmascarados pelo
velho Bolchevique que alerta: “‘Mas armar os operários não é oportuno, a não
ser em uma situação revolucionária, que ainda não existe’. Este argumento
profundo significa que os operários devem se deixar espancar até que a situação
se torne revolucionária.
A própria questão do
armamento só surgiu na prática porque a situação ‘pacífica’, ‘normal’,
‘democrática’, deu lugar a uma situação agitada, crítica, instável, que
facilmente pode transformar-se tanto em situação revolucionária quanto
contrarrevolucionária.
Esta alternativa
depende, antes de tudo, da resposta a esta questão: os operários de vanguarda
se deixarão espancar, impunemente, uns após outros, ou a cada golpe responderão
com dois golpes, aumentando a coragem dos oprimidos e unindo-os ao seu redor?
Uma situação revolucionária não cai do céu. É
criada com a participação ativa da classe revolucionária e do seu partido”
(Idem).
Como observamos, mais
do nunca devemos defender incondicionalmente a autodefesa dos trabalhadores, a
revolta “bárbara” do povo pobre e a ação dos “Black Bloc”.
A revolta popular contra o assassinato do
jovem trabalhador Douglas em São Paulo foi mais uma demonstração de que o
chamado “vandalismo” tão apregoado pela mídia venal e os governos burgueses de
todos os matizes não é obra de minorias e sim uma justa reação à selvageria
policial.
A esse coro reacionário
se somou a “esquerda” do PT e o PSTU!
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