Atos secretos, nepotismo, corrupção, tráfico de influência e, o mais importante que pouco vem à tona, as grandes e nebulosas transações da República por meio de gordas comissões... Nada disso é novidade no balcão de negócios que é o parlamento burguês e, particularmente, o Senado Federal, hoje alvo das denúncias que tem como centro o presidente da malfadada instituição, o oligarca José Sarney.
Na verdade, o mar de lama exposto em vídeos e gravações por uma mídia cinicamente escandalizada expressa nada mais, nada menos, que a disputa entre as frações burguesas na Casa. Hoje o PSDB e o DEM encontram-se completamente subservientes ao governo Lula, devido aos acordos estabelecidos entre o Planalto e o PMDB. Marginalizados das benesses dos negócios bilionários do Estado, lançam-se como porta-vozes, auxiliados pelo PSOL, das denúncias que clamam por “moralização” no Senado.
Vale lembrar que como “resposta” à ofensiva demo-tucana, Renan Calheiros já entrou com representação contra o líder do PSDB, Arthur Virgilio, por este ter se beneficiado dos atos secretos. Nos bastidores, o PMDB anunciou que o senador que abrir a boca contra Sarney no Conselho de Ética será chamado a dar explicações porque também recorreu ao mesmo expediente corrupto utilizado pelo denunciado.
Todo esse movimento orquestrado pela oposição conservadora, com o providencial auxílio da Veja e do Estadão, visa tencionar internamente o PMDB. Este “partido”, sempre dividido por seus interesses regionais e oligárquicos, é alvo da disputa dos dois pólos burgueses que pleiteiam a conquista do governo federal em 2010. Tucanos e petistas lutam por ter controle da legenda loteada por figuras sinistras como Sarney, Renan, Quércia, Temer e Geddel... Nesse cenário, as alianças pelos governos estaduais, particularmente em estados como Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Bahia estão causando fricções na base do apoio da Frente Popular, já que Lula deseja sacrificar as candidaturas próprias petistas nos estados em nome da aliança presidencial do PMDB com Dilma Rousseff. Porém, setores petistas resistem porque desejam controlar diretamente o aparato estatal nos estados, como comprova a indicação de Tarso Genro como pré-candidato ao governo gaúcho. Nesse meio de campo, surgiram as “singelas” denúncias contra Sarney...
Caso caia Sarney e adentre outra figura de confiança do governo Lula ou mesmo, o que é praticamente impossível, um homem próximo à oposição conservadora demo-tucana, nada se altera do ponto de vista dos interesses da classe trabalhadora, porque todas essas velhas raposas burguesas estão unidas na ofensiva patronal contra as massas, em um marco onde o espantalho da crise econômica começa a perder força para desespero da esquerda reformista que vendeu “o fim do capitalismo” por obra e graça do crash em Wall Street. Basta ver que a burguesia, apesar dessas turbulências paroquiais no Senado, avança em seus projetos no parlamento de ataque às conquistas das massas.
A patética luta do PSOL pela moralização do parlamento encaixa-se como uma luva nos objetivos da burguesia em distrair o movimento operário de suas reais tarefas. Em sua representação contra Sarney, assinada por Heloísa Helena e o senador José Nery, o PSOL reclama que “Não bastasse a obrigação de zelar pelos atos da Mesa Diretora, o representado se beneficiou da não publicação de determinações – nomeações e contratos – que criaram obrigação pecuniária para o Senado Federal e prestígio ao seu presidente e seus diretores. O representado foi, diretamente ou não, beneficiado com a nomeação irregular de pessoas” (Sítio PSOL). As motivações do tragicômico “Fora Sarney” não servem como móvel de mobilização de massas justamente porque são completamente distantes das necessidades fundamentais da vida dos trabalhadores. Se esse escândalo deixa lições para os explorados é justamente no sentido contrário do que prega o PSOL: ele coloca um pouco a nu o funcionamento das carcomidas instituições burguesas, demonstrando que a corrupção não é um acidente produto da ação “antiética” de um político burguês isoladamente, mas um modus operandi inerente ao capitalismo e seus negócios via o Estado. Que o diga os 14 anos de Agaciel Maia à frente da diretoria-geral do Senado, subordinado não só a Sarney, mas a figuras de proa do DEM, PSDB, PMDB e mesmo do PT, que presidiu a Casa interinamente.
Além do PSOL, a esquerda reformista tem adotado uma conduta podre e no mínimo hilária diante da crise no Senado. Como não poderia deixar de ser, “O Trabalho” lança um novo apelo patético: “O PT deve exigir do governo: defenda o emprego e não Sarney” (OT 660) e complementa: “Qual petista não se envergonhou vendo o líder do PT no senado aceitar a ordem do governo e, de forma humilhante, defender a ‘estabilidade’ para Sarney, em nome da ‘governabilidade’?” (Idem). Esses pilantroscos só são superados pelos seus ex-companheiros da “Esquerda Marxista” que, em meio à turbulência política, tenta livrar a cara do senador petista Tião Viana: “O PT, que muitas vezes dobrou-se e redobrou-se para manter a ‘base aliada’ unificada, traindo cada vez mais a classe, em diferentes votações contrárias ao interesse dos trabalhadores, encheu-se de brios e resolveu mostrar ao que veio, tendo lançado um candidato para ‘renovar’ o Senado... Reconheça-se que o Senador Tião Viana (PT) teve pouco tempo para mudar qualquer coisa, pois assumiu sendo vice de Renan Calheiros e foi substituído por Garibaldi Alves, sendo o seu mandato interino enquanto não se realizava nova eleição” (Esquerda Marxista, 27/06).
Já o PCdoB, aliado de Sarney no Maranhão e no Congresso Nacional, foi categórico diante da vacilação da bancada de senadores petistas que inicialmente pediu o afastamento do presidente da Casa. Usando o surrado fantasma do “golpe da direita”, hilariamente agora aplicado na crise envolvendo nada menos que o velho e oligarca direitista, os neo-comunistas de cara-lavada afirmaram: “O argumento que convence os senadores petistas é o temor de enfrentar a má vontade midiática nos 14 meses até as eleições de 2010. Convertida em principal partido da oposição conservadora, e agindo como uma matilha, a mídia corporativa fechou questão que Sarney tem de sair. E chantageia despudoradamente os senadores, a começar por Mercadante, que passará pelo crivo das urnas” (Vermelho, 30/07).
Não vamos nos estender em outros exemplos porque estes já embrulham o estômago dos trabalhadores, ainda perplexos com o efusivo abraço de Lula em Collor durante cerimônia recente em Alagoas e antes de partir para a incondicional defesa da “biografia” de Sarney e do perigo das denúncias contra este para as instituições republicanas!!!
A classe operária deve tiras às lições desses episódios। A superação da Frente Popular enquanto instrumento de conciliação de classes habilmente utilizado pela burguesia para estabilizar seu regime corrupto somente se dará com a derrota do governo Lula pela ação direta das massas em luta por suas reivindicações mais sentidas, dotando suas mobilizações de um caráter político de luta pela conquista do poder. Como parte desse tarefa, o combate de classe pela liquidação do Estado burguês e suas carcomidas instituições republicanas será obra da ação consciente do proletariado pela revolução socialista, organizado em um partido comunista marxista-leninista. Devemos e podemos usar a “crise nas alturas” para debilitar e combater a burguesia de conjunto, enquanto classe, através de sua ação independente de uma plataforma proletária, como dizia Lênin, mas clamar pela moralização do Senado e pela “ética na política” não faz parte dessa estratégia. Colocar a nu as podres entranhas desse sistema falido e fazer propaganda revolucionária pela sua destruição e não pela sua regeneração, esta sim é a tarefa central dos bolcheviques em meio à crise que sacode as estruturas do fétido Senado Federal. http://www.lbiqi.org/
Muito bom texto!
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